terça-feira, setembro 23, 2025

Apesentação pública do livro ´O Desafio Crítico da Sustentabilidade`: intervenção na cerimónia

Boa tarde!

 

As primeiras palavras que quero aqui deixar são de agradecimento ao Professor José Mendes e à Fundação Mestre Casais por se terem disponibilizado para o patrocinar e financiar a respetiva edição em papel. Agradeço-lhes, também, a organização desta sessão de apresentação pública.

 

Agradeço, ainda, aos autores que quiseram/puderam associar-se a este evento, entre os quais identifiquei a presença na sala, para além do Prof. José Mendes, que também é autor, dos Profs. José Vieira, Rui Alexandre Castanho e Ivo Oliveira, aparte o Prof. José Mendes, que também é autor.

 

Muito obrigado a todos os presentes!

 

 

Em breves palavras, gostaria de vos dizer que o que me levou a avançar com esta edição prende-se com o momento atual do debate sobre Sustentabilidade, nas suas expressões ambiental, económica e social, mas resulta igualmente de referências longínquas que mantenho sobre este debate.

 

Essas referências remontam a 1972 e 1973, e ao meu ingresso na Universidade Técnica de Lisboa, ocasião em que vários elementos marcantes do debate então gerado foram sendo trazidos para o contexto da minha formação académica.

 

No momento em que o essencial do meu percurso académico, se encerrou, com a minha aposentação recente, achei que fazia sentido recuperar essas referências e ajudar a fazer um ponto de situação do que que foi ocorrendo ao longo de várias décadas.

 

Quando menciono o ano de 1972, quero, obviamente, invocar o livro “Os Limites do Crescimento”, de Meadows et al. (1972), do qual, como principal conclusão, se podia extrair que o Homem estava à beira de uma catástrofe ecológica, a menos que se conseguisse reduzir para uma taxa zero a evolução da população mundial e da produção industrial.

 

Com é geralmente sabido, o livro captou enorme atenção e desencadeou grande controversa sobre os resultados a que se chegou e as hipóteses de partida que foram assumidas.

 

Uma premissa base era a de que o crescimento infinito era impossível num planeta finito.

 

Dos estudos que então fiz enquanto estudante de Economia, percebi que o risco de catástrofe para a humanidade que o trabalho de Meadows et al. (1972) enunciava tinha muito de paralelo com o que fora proclamado cerca de cento e setenta anos antes por Thomas R. Malthus, no seu “Ensaio sobre o Princípio da População”.

 

Aí, Malthus (1826) dizia que as pessoas tenderiam a multiplicar-se exponencialmente enquanto a provisão de alimentos, na melhor das hipóteses, tenderia a aumentar a uma taxa constante.

 

Daí retirava a “profecia” de que tenderiam a ser a fome e a guerra a corrigir os desequilíbrios de ajustamento entre crescimento demográfico e disponibilidade de recursos naturais que viessem a gerar-se, periodicamente.

 

Embora com fundamento diferente do de Thomas Malthus, e sem o dramatismo enunciado por aquele, também em David Ricardo (1975[1817]), um dos fundadores da Economia Política, podem encontrar-se preocupações com a dinâmica de crescimento das economias, a longo-prazo.

 

Na perspetiva de Ricardo (1975[1817]), mais cedo ou mais tarde, o rendimento nacional deixaria de crescer ou atingiria um estado estacionário.

 

Para tal tenderiam a contribuir a queda tendencial da taxa de lucro e a estagnação do progresso técnico.

 

O combate à estagnação do progresso técnico poderia, entretanto, e por algum tempo, ser feito através da mecanização e das descobertas que pudessem ser conseguidas na agricultura que se traduzissem em aumento do rendimento das terras, assim como através do recurso à importação de bens agrícolas (Ricardo, 1975[1817]).

 

Retornando ao texto “Os Limites do Crescimento”, o facto de nas décadas seguintes terem ocorrido grandes avanços tecnológicos e de terem sido descobertas novas reservas de energia fóssil acabou por afastar a problemática da sustentabilidade do debate público corrente, aparecendo as iniciativas da ONU sobre o ambiente como o grande contraponto a esse “esquecimento”.

 

Esse debate alargado só voltou a emergir mais tarde, quando graves problemas sociais e ambientais, com consequências económicas incontornáveis, se tornaram fenómenos recorrentes.

 

No rescaldo do debate lançado no início da década de setenta, na década seguinte, a ideia de desenvolvimento “sustentável”, em leitura que integra as dimensões ecológica, social e económica, foi progressivamente fazendo percurso.

 

O lançamento do Relatório Brundtland (1987) (Brundtland, 1988[1987]), da iniciativa da Comissão sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidos (ONU), é a expressão mais conhecida desse trajeto.

 

É daí (Brundtland, 1988[1987]) que resultou o conceito de desenvolvimento sustentável, apresentado como a forma pela qual as atuais gerações satisfazem as suas necessidades sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as delas.

 

Obrigado!

 

J. Cadima Ribeiro

Braga, Hotel Meliã, 23 de setembro de 2025

“A Sustentabilidade tem que ser um compromisso de todos!”