Sessão de Homenagem ao Professor António Simões Lopes
ISEG, Lisboa, 19 de janeiro de 2017
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Caros colegas,
O 19º Congresso da Associação Portuguesa
para o Desenvolvimento Regional (APDR), que organizámos em Braga em 2015,
incluiu uma sessão que pretendeu ser de homenagem ao Professor António Simões
Lopes. As três comunicações aí apresentadas foram entretanto publicadas na Revista
Portuguesa de Estudos Regionais, por minha iniciativa. Quis, com isso, que
ficasse registo escrito dessa homenagem e, sobretudo, dar-lhe uma expressão
pública maior, que o homenageado, inquestionavelmente, merecia.
Os textos publicados no Nº 42 da Revista
Portuguesa de Estudos Regionais (RPER) têm a autoria dos Professores José da
Silva Costa e de Tomaz Dentinho, também aqui presentes, e de João Ferrão.
Subscrevo tudo o que escreveram sobre o contributo científico e cívico do distinto
académico António Simões Lopes e identifico-me com as considerações que
produziram sobre os atributos pessoais do homenageado. Significativamente, o
texto assinado por João Ferrão (2016), Geógrafo de formação, intitula-se “Uma
ciência com ética, um cientista humanista”.
João Ferrão abre o seu texto com o
parágrafo seguinte: “Há pessoas que, sem o saberem, mudam as nossas vidas. O Prof. António
Simões Lopes contribuiu para alterar a vida de muitas pessoas. Foi o que
sucedeu comigo” (Ferrão, 2016, p. 77). Foi o que sucedeu comigo, do mesmo modo.
Há pessoas que nos marcam. Há pessoas que são referências
nas nossas vidas. António Simões Lopes foi a principal referência que tive na vida
académica, sem que alguma vez me tenha desapontado. Referência de
atitude/postura e referência em matéria de pensamento científico. Desde o
primeiro contacto com ele que me ficou a ecoar no cérebro a noção de que o
espaço (cito) “não é uma simples página em branca sobre que se inscrevem as
acções dos grupos e das instituições”, que retomou de Castells (1972) e que
ouvi dele e li no livro que acabara de publicar: “Desenvolvimento Regional: Problemática,
Teoria, Modelos” (Fundação Calouste Gulbenkian, 1ª Edição, 1979).
Se ligarmos esta noção de espaço à de desenvolvimento
que avança também nessa mesma obra, e que foi reiterando em sucessivos outros
textos, “desenvolvimento
[pensado] em termos de acesso das pessoas, onde estão, aos bens e serviços e às
oportunidades que lhes permitam satisfazer as suas necessidades básicas”
(Simões Lopes, 2002, pp. 18-19), não custa reconhecer a sua filiação no
paradigma territorialista do desenvolvimento regional então a despontar. Veio-me daí a filiação em matéria de paradigma de
pensamento científico que mantenho ainda hoje.
Como escreve José Costa na nota final do artigo já
invocado (2016, p. 75), “António Simões Lopes foi, a par de outros ilustres
professores portugueses, um defensor de grandes causas, muitas das vezes vistas
como utópicas. Foi um lutador incansável pelas suas ideias e por isso mesmo,
para lá da figura do cientista regional e do académico ilustre, emerge com grandeza
o cidadão comprometido com o bem-estar do Homem no seu espaço. Em suma, António
Simões Lopes ao longo da sua vida foi um verdadeiro humanista”;
Como escreve João Ferrão também no seu texto de homenagem
(2016, p. 78), “Uma ciência a favor da sociedade, com a sociedade. Foi assim
que ele sempre pensou a ciência regional, foi com esta perspetiva que ele ensinou
e praticou o planeamento e o desenvolvimento regional”;
Como escreve Tomaz Dentinho (2016, p. 79), por sua vez, “A
componente mais marcante da ciência regional […] é a que trata do estudo da
interação humana no espaço e com o espaço. Linha que se fundamenta em
metodologias e políticas orientadas para o desenvolvimento regional. Não creio
que o pensamento do Professor António Simões Lopes tenha estado muito longe
desta linha estruturante da Ciência Regional”.
O Professor António Simões Lopes foi, como deixei dito, a
minha principal referência de académico. Acompanhou-me desde os primeiros
passos que dei no mundo académico, como docente e investigador. Aliás, veio
dele a sugestão de que eu considerasse a possibilidade de desenvolver um percurso
profissional na Universidade. Orientou o meu doutoramento e esteve em todas as
provas e concursos académicos que realizei, aparte outros momentos de interação
pessoal e profissional, particularmente no contexto da APDR e seus congressos,
e na Ordem dos Economistas.
A última vez que o vi foi no Congresso da APDR que se
realizou na Universidade do Algarve alguns meses antes da sua morte. Lembra-me
de ter comentado com ele que me parecia estar especialmente bem em matéria de
bem-estar aparente. Nessa data, a Universidade do Algarve agraciou Peter
Nijkamp com o título de Doutor Honoris
Causa, tendo cabido ao Professor António Simões Lopes fazer a apresentação
e o elogio do candidato. Fê-lo com o brilhantismo e eloquência habituais. Mais
uma vez, não descuidou o trabalho de casa na preparação do seu discurso.
Foi muito bom ter ficado com essa memória pessoal dele.
Conheci-o como um grande Académico e um grande Homem. Despedi-me dele na mesma
condição de grande Académico e de grande Homem. Continuarei seu discípulo
enquanto viver.
J. Cadima Ribeiro
(jcadima@eeg.uminho.pt)
Referências:
Simões Lopes, A. (1979), Desenvolvimento Regional: Problemática, Teoria, modelos, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1ª Edição.
Simões Lopes, A. (2002), “Globalização e Desenvolvimento
Regional”, Gestão e Desenvolvimento, Nº 11, pp. 9-25.
Costa, José Silva (2016), “António Simões Lopes: O
Cientista Regional e o Humanista”, Revista Portuguesa de Estudos
Regionais, Nº
42, 2º Quadrimestre, pp. 71-76.
Dentinho, Tomaz (2016), “António Simões Lopes, Sempre
Atual e Sempre Atuante”, Revista Portuguesa de Estudos
Regionais, Nº
42, 2º Quadrimestre, pp. 79-80.
Ferrão, João (2016), “Uma Ciência com Ética, um Cientista
Humanista”, Revista Portuguesa de Estudos
Regionais, Nº
42, 2º Quadrimestre, pp. 77-78.
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