sábado, março 31, 2018

Da ficção à realidade - a influência das séries televisivas no turismo

Apesar de não ser uma novidade no mundo do turismo, a influência dos filmes e das séries televisivas têm aumentado exponencialmente nos últimos anos, levando os espectadores a lugares totalmente novos e fazendo com que se sintam parte de todo o envolvente. As possibilidades são infinitas para quando e onde um filme ou uma série nos pode levar.
Uma técnica bastante utilizada pelos cineastas passa por encontrar o cenário perfeito para as filmagens num local real, o que, inevitavelmente, vai levar a despertar interesse pelo público e transformá-lo numa referência turística.
O turismo cinéfilo, que leva os amantes do cinema a visitarem as cidades onde as suas cenas preferidas foram filmadas, já era conhecido e bastante explorado na área turística. Mas o turismo relativo às séries de TV está a mover ainda mais turistas, substancialmente porque uma série televisiva atrai e “prende” mais espectadores durante mais tempo, levando o público a criar ligações mais fortes com as personagens e os cenários do que num filme.
Este fenómeno, como era de esperar, está a ser aproveitado como recurso turístico pelas localidades afetadas, movendo milhões de turistas a escolher lugares onde alguma série tenha sido gravada. As organizações de marketing turístico apercebem-se do interesse demonstrado por pelos espectadores e tentam converter esta procura em reservas de viagens. Séries como “The Office” levaram a 3500 visitas a monumentos referidos ao longo da série. Highclere Castle, onde se localizam as gravações de “Downton Abbey” recebe 1500 visitantes por dia e em Dallas, onde é filmada a série “Dallas”, são recebidos 500 000 visitantes por ano.
Dentro das cidades e a cargo das operadoras turísticas são criados roteiros personalizados e adaptados às series televisivas com o intuito de oferecer a experiência de entrar e viver dentro das suas séries preferidas. É o caso da On Location Tours, que criou uma rota de autocarro onde são seguidos os passos de Carrie Bardshaw e as suas amigas ao longo de mais de 40 paragens emblemáticas da série “O Sexo e a Cidade”. A mesma operadora oferece roteiros para outras séries tais como “Friends”, “Os Sopranos” e “Gossip Girl”.
Esta tendência apresenta vantagens para os destinos turísticos pois oferece uma oportunidade de promoção a partir das séries de ficção com um elevado número de espectadores e, consequentemente, potenciais visitantes. Para as séries, é aqui encontrada uma forma de aumentar o seu valor, acrescentando filmagens em zonas que se tornem atrativas para o público exatamente por serem reais e criarem uma ligação especial para quem está do outro lado do ecrã.
Mas apesar das vantagens que fui mencionado, nem sempre estes eventos trazem benefícios para os locais. “The Beach”, um filme britânico que foi filmado nas ilhas Phi Phi, na Tailândia, moveu bastantes turistas para esta ilha paradisíaca. Embora os seus habitantes tenham ficado satisfeitos com a prosperidade que o filme trouxe, algumas mudanças na ilha, como a degradação ambiental e a sobrelotação, não lhes agradou tanto. A permissão para gravar nos seus parques nacionais foi protestada por alguns ambientalistas locais visto que foi necessário desbastar algumas áreas de vegetação de forma a que a produção e as gravações fossem possíveis.
Nas séries televisas, é em Dubrovnik, na Croácia, local onde foram filmadas várias cenas de “Game of Thrones” (A Guerra dos Tronos) que as consequências já se começam a notar. Considerada património da humanidade, e local que já resistiu a terramotos e às bombas lançadas na guerra pela independência da Croácia, agora tem de lidar com um aglomerado insustentável de visitantes atraídos a este local devido à sua série preferida. Nos últimos anos, o número de turistas mais que duplicou e atualmente há mais procura do que oferta, visto que se trata de uma região pequena e já não pode suportar a quantidade de visitantes que a procuram. Os habitantes receiam que o valor histórico e cultural desta cidade conhecida como” Pedra do Adriático” seja perdido e por isso pretendem implementar medidas como a promoção da cidade noutras épocas do ano de forma a controlar a sobrelotação, que é inevitável, mas não esquecendo que 70% da economia local se centra no turismo.
Numa atualidade onde as séries televisas estão, cada vez mais, a atrair bastantes espectadores, é um fenómeno que vai continuar a evoluir e a influenciar cidades em todo o mundo, simultaneamente. Como nem sempre quantidade é qualidade, é importante saber gerir esta voga, de forma a melhorar o turismo local sem comprometer as suas caraterísticas iniciais e a sua essência.

Maria Miguel Oliveira Costa

Referências
https://screenrant.com/movies-tv-shows-create-tourism-booms/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

segunda-feira, março 26, 2018

IMPORTÂNCIA DA QUALIFICAÇÃO E FORMAÇÃO NO SETOR DO TURISMO

O Turismo apresenta-se hoje como uma atividade económica de referência, e tem assumido um papel cada vez mais importante e influente. É um setor estratégico para a economia Portuguesa que contribui para gerar riqueza e impulsionar a criação de novas oportunidades de emprego. Dado o elevado nível de competitividade que enfrentamos neste mercado, e a necessidade de nos afirmarmos como um destino turístico sustentável, é exigida uma aposta no nível de qualidade dos serviços que são prestados a cada um dos visitantes. Segundo o relatório realizado pela World Travel & Tourism Council, ECONOMIC IMPACT 2017 PORTUGAL, o setor de Viagens e Turismo gerou 371.500 empregos diretamente, em 2016, o que corresponde a 8,1% do total de empregos, e prevê-se um crescimento de 3,4% em 2017, para 384.000.
   Assim, a formação dos recursos Humanos neste setor é evidente, visto que, para alcançarmos um serviço de excelência, é exigida uma melhoria no nível de formação e especialização dos profissionais de atividade turística. Este reforço pode constituir um fator diferenciador, permitindo que Portugal se posicione como destinto turístico e pronto para responder a novos desafios. O sucesso depende da capacidade de atrair turistas, mas fundamentalmente da aptidão para responder às suas necessidades e expetativas.
    O Turismo é um setor bastante complexo, que apresenta caraterísticas muito próprias e que abrange uma diversidade de subsetores. É um “nicho” de serviços e produtos com uma forte componente ao nível de recursos humanos, e que implica uma especialização em áreas distintas, mas que no fundo se complementam, tais como a restauração, a hotelaria, os transportes e as agências de viagens. Mas a qualidade do Turismo não é determinada apenas pela qualidade das infraestruturas, como bons hotéis, bons restaurantes e instâncias balneares, mas, em grande parte, pelas lideranças fortes, especialização, preparação e pela continua atualização de conhecimentos, dado que a realidade de hoje não é a mesma de amanhã, e os clientes são cada vez mais exigentes.
De forma a atender às transformações do desenvolvimento no ecossistema turístico, é primordial a definição de estratégias de gestão que promovam práticas turísticas mais responsáveis e sustentáveis, a atenuação de impactos negativos, um melhor ordenamento e uso dos territórios, pelo que recorrer a recursos humanos habilitados é fundamental. “Um dos problemas recorrentes do turismo e hotelaria é a falta de qualificação dos profissionais, portanto, apostar na qualificação é urgente. Os clientes tornam-se mais exigentes, sendo fundamental o sector acompanhar essa evolução, ser capaz de responder aos desafios que o mercado coloca”, refere Susana Silva, professora do mestrado em Direção Hoteleira do Politécnico do Porto.
Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), grande parte dos funcionários envolvidos em atividades turísticas tem formação deficiente. Apontando que na categoria alojamento, que inclui hotéis e outros locais de hospedagem, cerca de 25% dos profissionais não passaram do nono ano do ensino básico, e os que concluíram a faculdade representam 6% do total. No setor de alimentação, apenas 1,8% concluíram o ensino superior, enquanto quase 24% só estudaram até à última etapa do ensino básico.
    Posto isto, estar ao nível do crescimento turístico do país aparece como uma das prioridades, nomeadamente quando a formação dos agentes deste setor apresenta ainda algumas lacunas. Em Portugal, a evolução da qualificação e formação em turismo tem sido notória, e a constante procura de novos e melhores profissionais tem-se refletido na oferta de diferentes níveis de ensino, com especial enfoque para o ensino profissional e técnico. Neste sentido, o Turismo de Portugal tem apostado na formação de jovens e de profissionais do setor através da sua rede de Escolas de Hotelaria e Turismo, presentes em todo o país.
As Escolas do Turismo de Portugal asseguram uma formação de qualidade numa rede de 14 escolas, espalhadas por todo o país, oferecendo formação em todas as temáticas do setor. Porém, longe vão os tempos em que a formação de turismo estava restrita às escolas profissionais de hotelaria. Também este setor atualmente usufrui de ciclos de estudo em Portugal, entre mestrados, pós-graduações, cursos e programas avançados.
   Contudo, apesar de alguns bons exemplos de instituições formativas em Portugal, e toda a aposta no ensino que se tem verificado, a definição de requisitos de formação e qualificação dos recursos humanos do turismo ainda é principiante. Exigindo-se, deste modo, um proveito das sinergias na área do turismo e outras dependentes que permitam estabelecer requisitos de qualificação dos recursos humanos adequados à complexidade e especificidade das diversas áreas do turismo, de forma a conseguir acompanhar o desenvolvimento e as exigências deste setor.

Maria Madalena Vieira Morais

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

O Renascer dos Mercados Municipais Portugueses

Atualmente, o conceito dos mercados municipais tem vindo a sofrer algumas transformações. Com toda a evolução tanto a nível de grandes superfícies como a nível de turistas, surgiu a necessidade das cidades começarem a pensar mais alto, ou seja, disporem de um sítio que não deixe de ter os melhores produtos de cada região mas passe a apresentar algo mais. Desse modo, Portugal apresenta-nos dois mercados que passaram de tradicionais para um novo conceito, conceito esse que concilia tanto uma grande variedade de oferta gastronómica como também cultural. Assim, os grandes destaques a nível de mercados municipais são: o Mercado do Bom Sucesso, no Porto; e o Mercado da Ribeira, em Lisboa.
O Mercado do Bom Sucesso nasceu na sequência da construção do Mercado Municipal de Matosinhos, em 1949, onde posto isto a Câmara Municipal do Porto achou por bem a construção de um novo Mercado Municipal para a cidade. Assim sendo, em 1952, inaugurou-se o Mercado Bom Sucesso. Situado no centro da cidade, mais propriamente na Boavista, foi construído sob uma antiga parte da Quinta do Bom Sucesso, de onde resulta o nome do mesmo. A sua construção surge como forma de dar resposta ao crescente desenvolvimento da cidade.
Trata-se de um dos mais antigos mercados tradicionais da cidade que ainda se encontra em atividade. Uma das suas principais caraterística é possuir uma arquitetura única. Uma vez que na sua construção encontra-se uma imensidade de vidros, estes permitem que este espaço seja completamente arejado, entrando de certo modo a luz natural. O edifício encontrava-se divido em três pisos, sendo que a ideia era criar uma espécie de separação zonal, ou seja, num nível inferior deparávamo-nos com a peixaria, de forma a permitir um melhor arejamento. Posteriormente, no piso acima encontrávamos as bancadas e, no primeiro piso, uma galeria que rodeava todo o mercado, dando esta acesso a outras lojas, como padarias, talhos, etc.
Contudo, com o forte crescimento comercial a nível de grandes superfícies, os residentes começaram a perder a prática de apenas comprar nos mercados tradicionais. Assim, em 2013, após uma requalificação do espaço, nasce uma nova versão do Mercado Bom Sucesso, um Urban Concept. Atualmente, esta nova versão trata-se de um novo conceito comercial, onde encontramos 44 bancas no centro do mesmo que acolhem um pouco de tudo, 14 lojas nos corredores e 11 espaços dedicados à venda de produtos frescos. Podemos ainda encontrar um hotel, o Hotel da Música, e uma área de escritórios ocupados pela fundação António Mota, fundador da Mota-Engil (atual gerente do mercado).
O outro mercado que aposta num conceito diferente é então o Mercado da Ribeira, também conhecido no século XIX por Mercado 24 de Julho. A sua inauguração ocorreu em 1882, sofrendo posteriormente algumas mudanças a nível de espaço físico causadas por eventuais acontecimentos. A sua construção inicial foi algo muito comentado, uma vez que estavam presentes elementos que outrora se tinham visto na época. Tratava-se de um edifício em ferro, no qual os vendedores deparavam-se com um amplo corredor central onde estava inserida água em abundância, sendo que com esta medida o Mercado da Ribeira foi o primeiro mercado a ter em conta os cuidados de higiene. Mais tarde foi introduzida a cúpula e o relógio, peças que para a época foram consideradas de luxo.
Nos primeiros anos, este funcionava como um mercado grossitas, onde se avistavam vendedores de peixe, legumes, flores, entre outros, mas mais tarde houve a necessidade de se alterar essa vertente, passando o Mercado da Ribeira a funcionar apenas como retalhista. Posteriormente, tal como aconteceu no Mercado Bom Sucesso, o Mercado da Ribeira também evolui no seu conceito. Assim, em 2014, o mercado passou a pertencer à revista “Time Out Lisboa e o seu nome renasce para “Time Out Market”. O “Time Out Market” é um espaço em que se, de um lado, turistas/residentes podem encontrar uma variedade de vendedores dos mais belos produtos portugueses, do outro, o espaço apresenta uma área com cerca de 24 restaurantes, alguns espaços comerciais, 8 bares, uma sala de eventos, uma escola de cozinha e uma diversificada oferta cultural (concertos, exposições, teatro).
No que toca a prémios em relação a estes mercados portugueses, o Mercado Bom Sucesso foi um dos quatro vencedores europeus dos Global Awards for Excellence do Urban Land Institut, de Nova Iorque, em 2014. Já o antigo Mercado da Ribeira, atual “Time Out Market”, sagrou-se em Março do presente ano vencedor de um dos prémios mais cobiçados da Europa no que toca ao setor da restauração, o Hamburg Food Service Award, prémio esse que é considerado como o “óscar” europeu do setor. A conquista deste prémio vem da inovação e qualidade que o “Time Out Market” apresenta, o que não é de admirar já que neste espaço podemos encontrar 24 restaurantes, sendo que na constituição de três deles fazem parte chefs com estrelas Michelin.
Na minha opinião, foi fundamental os municípios/cidades terem a perceção de que havia algo a ser feito. Teriam de criar algo que se destacasse para que de certa forma, a longo prazo, este tipo de antiguidades trouxesse ainda mais turistas e que estes pudessem levar para as suas terras um pouco do bom de Portugal.

Ana Rita Figueiredo Costa

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

domingo, março 25, 2018

O AGUDIZAR DAS ASSIMETRIAS REGIONAIS E O PROPALADO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: O CASO DE LUTCHAZES

Lutchazes, com cerca de 43 mil quilómetros quadrados de extensão, é um dos 9 municípios da província do Moxico, por sinal a mais extensa de Angola, com 1 habitante por quilómetro quadrado. É um dos municípios de Angola mais afectado pelas assimetrias regionais, cujos propalados projetos/planos de desenvolvimento sustentável são imensuráveis quanto à sua materialização.
Com cerca de 337 km de distância de Luena (capital da província do Moxico) a Lutchazes, foi um dos principais palcos de luta para a independência nacional e da guerra civil em Angola (SERRA, 2000). Atualmente, é notório observar a passividade da pessoa coletiva pública responsável pela satisfação das necessidades básicas e essenciais da população, num contexto marcado pela ausência de equipamentos (escolas, centros médicos, centros comerciais, etc.) e infra-estruturas (estradas, redes de transportação de eletricidade e água potável, etc.), uma população privada de direitos e garantias fundamentais (CRA, 2010). Importa lembrar que o município em tempo de conflito armado, que durou quase 3 décadas, era considerado território estratégico da força que venceu a batalha que opunha a UNITA e o MPLA, e que conduziu ao alcance da paz efectiva a 4 de Abril de 2002 (PINTO, 2012).
Localizada numa zona geográfica de clima tropical húmido, a região tem potencialidades de desenvolver diversas atividades, como a agricultura, a indústria transformadora e madeira e, com isto, propiciar rendimento local e gerar um entramado de serviços e a consequente distribuição da renda local.
Entretanto, ao estabelecer uma comparação superficial entre Lutchazes e os 8 municípios, notam-se claramente assimetrias abismais no que concerne as questões de bem-estar e, de forma geral, a aspetos socioeconómicos pois os indicadores inerentes às realizações a nível de investimentos. A província, em si, já apenas recebe uma fasquia do Produto Interno Bruto (PIB) bastante residual, mas ainda assim as verbas consignadas ao município dos Lutchazes são bastante insipientes tendo em conta a grandiosidade da província como tal. O modelo de redistribuição da mesma riqueza no contexto do território é bastante desequilibrado, facto que resulta na degradante situação da população de Lutchazes, com o declinar substancial dos índices de desenvolvimento humano.
De entre as principais causas destaca-se a má formulação de políticas públicas, que não respondem as necessidades e prioridades reais. Aliás, a construção de aeroportos internacionais nos municípios do Luau e Moxico, que nunca receberam voos internacionais, a construção do aviário de Sacassaji e a vala de irrigação no casco urbano são alguns dos investimentos mal direcionados e concomitantemente sem retornos e reflexos percetíveis na população. O complexo da paz edificado na capital da província, equipamento que melhor seria se fosse erguido no município de Lutchazes por ser o território anfitrião da independência e da paz, onde efetivamente tombou o líder de uma das forças que se opunham ao longo do conflito armado, para que deste modo se alcançasse a paz, serviria de atrcção turística para a região.
Um outro aspecto que faz espécie é o facto de o município de Lutchazes possuir parte significativa dos recursos florestais, e não só, a nível da província, cuja exploração, nomeadamente a madeira, é feita de forma discriminada fundamentalmente pelos chineses, país com o qual Angola tem enormes acordos de cooperação bilateral pouco conhecidos pela população em geral, devido ao imperativo da legislação n.º 10/02, de 16 de Agosto, sobre Segredo de Estado, exploração esta que em contrapartida pouco ou nada injeta nos cofres do estado e, em particular, do respetivo município.
Ora, a subjugação social que se assiste naquela região, para além de agudizar as assimetrias regionais e fragmentar os discursos/objetivos de desenvolvimento sustentável, que de forma geral são desígnios que os países que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU) ratificaram, acarretam enormes consequências que num futuro breve podem descambar em conflitos étnico e político.
Em síntese, a elaboração de estudos profícuos e a mobilização dos povos na tomada de uma postura mais consciente e ativa na escolha de projetos governativos melhor preparados constituem vias tendentes à inversão do paradigma de desenvolvimento do município em referência, e é, sem sombra de dúvidas, uma das saídas do marasmo que assola a localidade, rumo a uma agricultura mecanizada e uma indústria transformadora moderna, por serem por excelência factores decisivos e objetos da diversificação da economia local. O setor turístico também pode desempenhar um papel dado o que o município representa na história de Angola.

Capalo Gabriel Katumbi

Bibliografia
Constituição da República de Angola (2010)
Lei do Segredo de Estado (Lei nº 10/02 de 16 de Agosto), da República de Angola
PINTO, Tatiana Pereira Leite (2012), Dissertação de mestrado Niterói.
SERRA. Carlos (Org). Racismo, etnicidade e poder – Um estudo em cinco cidades de Moçambique. Maputo: Ed. Livraria Universitária, 2000.

Webgrafia
http://www.un.org/
http://www.who.int/en/
http://jornaldeangola.sapo.ao/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

quinta-feira, março 22, 2018

Abrir portas, mantendo a identidade

Conforme a notícia do Turismo de Portugal ,a 11 de Dezembro de 2017:
“Portugal vence prémio de Melhor Destino Turístico do Mundo nos World Travel Awards 2017, depois de, em setembro, ter ganho o prémio de melhor destino europeu, sendo a primeira vez que um país europeu ganha esta distinção.”
Assim é inegável que a notoriedade de Portugal está cada vez maior, como destino turístico, e que Portugal tem crescido a vários níveis como um destino de qualidade e de escolha para vários turistas de várias nacionalidades.
Chegámos a um ponto de introspeção onde devemos considerar e avaliar como tem sido este crescimento, ou seja, mais do que olhar as estatísticas, e fazer considerar a parte analítica do que o turismo nos tem trazido. Devemos perceber para onde ele nos vai levar. Considerando que existem vários tipos de turismo, deve-se então perceber qual é o que nós desejamos para o nosso país.
No fundo, os números de visitas a Portugal tem crescido ano apos ano, e temos igualmente assistido a uma proliferação de alojamentos de sharing, que provavelmente atrairá turistas, por exemplo de short city break, ou de baixo poder económico, e não há nada de errado com isso, pois devemo-nos orgulhar de termos o mundo de olhos em nos, e de tantas pessoas estarem interessadas em visitar-nos. No entanto, deve-se perceber que uma das maiores virtudes que temos, e que nos é até apontada por vários dos turistas que recebemos, é a nossa cultura, hospitalidade e identidade.
Com tudo isto, chega-se ao ponto fulcral da questão: será que um crescimento desmedido no número de visitantes poderá resultar numa desvirtuação do destino turístico que é Portugal, sem termos o mesmo crescimento nas receitas turísticas?
Não se quer dizer que Portugal se deveria posicionar com um destino turístico estritamente de luxo, pois é um mercado difícil, e podemos não estar dotados de todas as ferramentas para ai competir. Assim, deve-se fazer uma análise do seguinte cenário: o que seria preferível? Ter 10 turistas que gastam 25 euros cada um ou ter 20 turistas a gastar 10 euros cada um? Com um número menor de turistas será mais fácil Portugal manter a sua identidade e cultura, o que faz de si um destino turístico único, já para não considerar que facilita imenso a preservação dos monumentos, por exemplo, ou até, manter a ordem e segurança.
Sinto que é de enorme importância que os turistas que recebemos continuem a sentir que quando nos visitam estão a visitar Portugal e não um país com alguns monumentos e bonitas paisagens, que sintam a língua, que sintam a gastronomia, que sintam os edifícios, e que sintam o nosso quotidiano. Ainda mais importante que isto é que os portugueses continuem a sentir que estão em Portugal, e que o país continua seu, que não se vende a todos os estrangeirismos para se vender melhor.
Também, neste sentido, tal não implica que se deva rejeitar o turismo menos gastador: é um turismo que ajuda a crescer, cria muito emprego e sustenta muitos pequenos negócios. Apenas terá de haver uma forma de alojar todo este turismo que estamos a receber de forma a preservar tudo o que há de bom para mostrar.
Mas assim surge mais um problema: como vamos atrair e conservar turistas de “luxo”? Acreditando que as infraestruturas já são as apropriadas (embora muitas vezes sabemos que não o são), e que já há uma aposto de players importantes nos mercados de luxo a investir cada vez mais em Portugal, quer seja na hotelaria, restauração ou até moda. A solução do dilema cinge-se fundamentalmente aos recursos humanos. Perceber que o cliente de luxo não é mais um, nem o quer ser. Temos de estar preparados para oferecer serviços de qualidade a este turista, pois tudo menos que isso é inaceitável, e fará com que não se conserve esta segmentação de mercado.
Há um fator importantíssimo para atingir estes níveis de performance, que é a formação. Deve haver um foco não só em formar muito para dar resposta ao crescimento turístico mas também em formar com qualidade. Este ponto é de importância colossal, pois não bastará termos gestores formados e focados em colher frutos da aposta neste turismo. Todos os níveis do serviço devem estar preparados para oferecer qualidade, desde o diretor do hotel até ao rececionista, ou desde o chef até aos empregados de mesa.
Claro que esta é uma problemática que implica imensos fatores, e aqui está uma análise simplificada de um assunto imensamente mais complicado. Não nos devemos tentar posicionar em nenhum dos extremos entre o turismo de “luxo” ou de “massas” mas sim termos presente que devemos continuar com um crescimento sustentável, focados em manter a nossa identidade, em manter o nosso país, em manter a nossa cultura, nunca caindo no limite de nos fecharmos, mas assim conservando tudo o que faz de Portugal um destino especial, e partilhá-lo com os turistas.

André Rodrigues Gomes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

terça-feira, março 20, 2018

Turismo para todos

Como é de conhecimento geral, o património português é rico e diversificado. Portugal conquistou a independência em 1143, o que historicamente proporciona um oceano de riqueza cultural e patrimonial ao longo de quase um milénio de existência de cultura portuguesa. Entre 1580 e 1640, Portugal esteve sob domínio espanhol, mas, com exceção deste período, desde 1297 que Portugal mantém as suas fronteiras.
Portugal desde sempre teve uma localização geográfica por excelência, ao possuir acesso terreno à Europa, e à América e ao continente africano por via marítima. Aliás, essas explorações marítimas encetadas em 1415 foram determinantes na influência da cultura portuguesa, não só ao nível do património histórico e bélico como também a nível literário (os mares nunca antes navegados que inspiraram Camões, por exemplo), gastronómico (as especiarias vindas do Brasil), cultural, pecuniário (ouro e diamantes), educacional, arqueológico, arquitetónico e artístico, até pela presença no território de povos como os Visigodos, Árabes, Romanos e Celtas.
Esta expansão mundial permite que hoje a língua portuguesa seja uma das línguas mais faladas em todo o mundo, marca incontornável decorrente da influência portuguesa nas ex-colónias, compreendidas nos continentes asiático, africano e americano, pelo que é justo afirmar que a presença e vestígios lusitanos por todo o mundo são um sinal inegável.
Não obstante toda as prerrogativas históricas, atualmente encontramos em Portugal uma adesão turística intensa, motivada também por fatores geográficos. O sol e toda a extensão da costa litoral portuguesa oferecem um conjunto de atrações sazonais que movimenta milhões de turistas todos os anos. Também a imensa variedade de serras e montanhas, e até as maravilhosas paisagens bucólicas nacionais, oferecem razões mais que suficientes para que Portugal seja um fruto turístico com um suco maravilhoso de se colher ao longo de todo o ano.
Não obstante todas as vantagens supramencionadas, há um problema dececionante no turismo que é inveterado, o que acaba por reduzir o potencial turístico em grande escala: a inadaptação do turismo a pessoas especiais, sejam pessoas de mobilidade reduzida ou com problemas visuais, auditivos, neuro-sensoriais, entre outros. Como foi evidenciado anteriormente, embora haja mil e uma razões para visitar Portugal, se os espaços culturais, como os museus, castelos, igrejas, muralhas, pelourinhos, entre outros artefactos, não se encontrarem adaptados para um público especial, isto é, de mobilidade mais reduzida, tal pode constranger os lesados, levando à não adesão do público-alvo aos nossos meios turísticos.
Também no acesso a praias, redes fluviais, centros históricos, serras, música (como o fado ou o Cante Alentejano) e o acesso à nossa cultura devem ser observado na perspetiva de e atendendo às necessidades do potencial utilizador mais carenciado, como fator de inclusão para combater a descriminação turística de exclusão ainda muito presente em Portugal.
Para melhor ilustrar um modelo a seguir, iremos usar o exemplo de inclusão social presente no museu de história natural de Senckenberg, em Frankfurt, na Alemanha. Este museu de história natural está apetrechado com condições para pessoas portadoras do mais variado género de limitações. Tem elevadores adaptados para pessoas com mobilidade reduzida (que necessitem de cadeiras de rodas ou andarilhos, por exemplo) e ainda uma ala reservada ao público portador de deficiência visual, através de descrições de textos em braile e também a existência de bustos feitos de materiais salientes e acessíveis ao toque, cuja finalidade é adaptar-se às necessidades do portador da deficiência visual, o que permite que estes experienciem diversos estímulos sensoriais, que de outra forma não seriam capazes de os experienciar.
Ainda que este campo tenha um futuro com muito trabalho por desenvolver em Portugal, já existem algumas empresas que oferecem serviços e sugestões de rotas e programas turísticos adaptadas a este público com necessidades especiais, como a Go Gal – Access Portugal ou a Places 4 all.
Por fim, podemos concluir que trabalhar nesta área, na área da inclusão socio-turística, é uma aposta patriótica, porque é apostar no nosso crescimento e no nosso futuro. Apostar no bem-estar do outro é apostar no nosso bem-estar.

Ana Beatriz Peixoto

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

segunda-feira, março 19, 2018

Rota do românico

O projeto da Rota do Românico insere-se num vasto conceito de património cultural e constitui um itinerário que leva os seus visitantes a descobrir o património das terras do Vale de Sousa, do Douro e do Tâmega. Esse itinerário leva os visitantes a conhecer mosteiros, capelas, castelos, pontes, torres que foram construídas entre o século XII e XIV e que caraterizam a paisagem da região. A Rota do românico é um protejo que visa contribuir para o desenvolvimento do Tâmega e do Sousa cujo seu objetivo é promover o território através da valorização do património.
O projeto teve o seu início em 1998, com a seleção de 21 monumentos na zona do Vale de Sousa, e em 2003 deu-se a concretização do projeto com ações de restauro, de conservação e de valorização dos monumentos. Para além dos monumentos, o património imaterial também foi inserido na rota. O projeto foi apresentado ao público em 2008, já com várias estratégias de marketing, como guia turístico, brochuras, um website, vídeos promocionais e outros. Em 2009, a Rota do Românico torna-se membro da TRANSROMANICA, a maior rede europeia de destinos românicos, sedeada na Alemanha, e em 2010 a rota já ligava 58 elementos patrimoniais românicos. Desde a sua criação, a Rota do Românico já ganhou vários prémios turísticos e assume-se como uma presença constante em várias feiras de turismo, tanto nacionais como internacionais. Com toda esta dinâmica, a rota tem ajudado a criar atividades económicas e postos de emprego nas regiões que se inserem na rota, dando destaque a hotéis, restaurantes e até empresas de animação turística.
Foi realizado por António Duarte de Sousa Araújo Pinheiro, autor da dissertação de mestrado em Património e Turismo Cultural “O perfil do turista no destino da rota do românico”, em 2012, um inquérito para traçar um perfil sobre os turistas da Rota do Românico. Foram realizados 91 inquéritos com base no estado civil, sexo, idade, país de origem, localidade, habilitações literárias, situação profissional, rendimento familiar, despesa média por dia e por pessoa, com quem viajou, número de vezes que visitou destinos culturais nos últimos 3 anos, fatores que influenciaram a decisão, motivo da viagem, transporte utilizado para chegar ao destino, meios de organização da viagem, visitas anteriores e modalidade de alojamento. Verificou-se que cerca 52,7% dos turistas são casados e que turistas solteiros detêm uma percentagem de 27,5%. Em questões de gênero, verificou-se uma maior afluência de turistas do sexo feminino, ocupando cerca de 60,4% dos turistas, enquanto que relativamente ao sexo masculino verificou-se um valor aproximado aos 38,5%.
Em relação à idade, registou-se um maior número nas faixas etárias compreendidas entre os 25/34 anos (24,2%) e 55/64 anos (23,1%). Os inquéritos foram respondidos por turistas de 10 países, sendo que os que apresentaram mais participantes foram: Portugal (72,5%), Espanha (6,6%) e França (4,4%).
Nas habilitações académicas, vimos que há mais pessoas com ensino superior, ou seja, turistas que detêm o grau de licenciado correspondem a 32,97%, enquanto que relativamente ao ensino secundário o valor ronda os 19,78% e bacharelato os 14,29%. Ao todo, a soma de turistas com um grau de ensino superior, bacharelato, licenciatura, mestrado e doutoramento faz um total de 61,54%, o que significa que mais de metade dos inquiridos tem curso superior.
Quanto à ocupação profissional, 45,1%, dos questionados trabalha por conta de outrem, enquanto 36,3% são trabalhadores por contra própria, sendo 11% reformados.
Verificou-se que 36,26% viajou com a família e 20,88% com o companheiro(a), e apenas 7,69% viajaram sozinhos. De acordo com os inquéritos os turistas, nos últimos 3 anos, 20,9% visitaram 2 vezes destinos culturais, 11% visitaram 3 e, ainda, 70% viajaram para esse tipo de sítios 5 ou menos vezes. Apenas 5,5% não visitaram algum destino cultural. Nos fatores que influenciaram a tomada de decisão de visita à região destaca-se a internet.
A grande maioria alojou-se em Hotéis, 59,34%, e 12,09% preferiu Turismo de Habitação. Outras modalidades de alojamento utilizadas foram aldeamentos, residência e casa de familiares.
Após a análise dos critérios, conclui-se que mais de metade dos turistas vieram em uma viagem de lazer e os motivos para visitar a região foram: a possibilidade de conhecer a gastronomia da região, conhecer a história e visitar locais de interesse histórico-cultural e, por último, pela simpatia das pessoas.

Isa Micaela Guimarães da Silva

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Caldas das Taipas, o epicentro da Cutelarias Nacional - Capital das Cutelarias?

Geograficamente localizada no norte de Portugal, a vila de Caldas das Taipas (também designada de Caldelas) encontra-se situada no meio de duas das cidades mais importantes do norte do país, Braga (a 15km de distância) e Guimarães (a cerca de 8km), e em 2011 contava com cerca de 6 000 habitantes.
Sendo uma realidade relativamente desconhecida da maioria da população da região, as Caldas das Taipas têm uma importância na economia da região, consequentemente ao nível nacional, através do seu panorama industrial: a indústria da Cutelaria. A atual indústria da Cutelaria está representada por várias empresas situadas naquela vila e nas zonas envolventes, sendo que algumas dessas empresas, como a Hedmar, a Cutipol e a Dalper, são lideres europeus na produção de cutelarias de mesa. Concentram nesta área (Caldas das Taipas e as freguesia adjacentes como vila de Brito, São Clemente de Sande e S. João de Ponte) algumas das empresas de maior relevo nacional deste ramo, tornando-se assim um dos principais polos produtores desta indústria.
Segundo Lopes Cordeiro, é nos inícios do século XX que aparecem as primeiras fábricas industriais de cutelarias nas Caldas das Taipas, muito à custa do desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico: em 1908, António da Silva Fertuzinhos e J.F Carvalho & Cª Lda. fundam as primeiras fábricas nas Caldas das Taipas e, em 1911, funda-se nas Caldas das Taipas a Marca 11, de Manuel Marques (futura e atual Herdmar) e, em 1925, a Marca 2, de António Faria da Silva.
Paralelamente ao crescimento das cutelarias, desenvolve-se a preocupação em utilizar a energia hidráulica, que se verifica fundamental para o funcionamento das próprias fábricas, tendo-se muitas delas posicionado junto a caudais do Rio Ave, aproveitando a força da água. Em 1943, António da Silva Fertuzinhos, “solicita a instalação de um dínamo de moinho”, com o intuito de produzir energia elétrica quer para a sua habitação, quer para a sua oficina.
No período do Estado Novo, o panorama cuteleiro muda não só na zona das Caldas das Taipas mas no centro da cidade de Guimarães e em Creixomil devido ao panorama político mas, também, à falta de consciencialização sindical. É neste contexto que se cria, em 1934, o “Sindicato Nacional dos Operários Garfeiros do Distrito de Braga”, com sede em Sande S. Martinho, e no ano seguinte cria-se o “Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Cutelarias do Distrito de Braga, com sede em Guimarães”, levando à sua fusão em 1944.
Na década de 60, o panorama tende a mudar muito à custa da adesão de Portugal à EFTA, que faz com que se abram novas perspetivas para a indústria, já que o mercado era essencialmente para Portugal Continental e para as colónias. Durante este período chega-se a ponderar, face à grande dispersão de unidades fabris e à crise que muitas delas estavam a passar, a criação de um grande complexo industrial entre os dois pólos principais do conselho de Guimarães, Caldas das Taipas e Creixomil, revelando-se, porém, um fracasso.
A progressão do sector cutileiro leva a que a CUTAL - Cutelarias Artísticas, Lda. (1965), a A. Fertuzinhos  Cª Lda. (1966), a Chromolit Portugal (1967) e as empresas que até então existiam (Augusto Mendes & Sobrinho, Lda., a BELO INOX Lda., a CUTIPOL – Cutelarias Portuguesas, Lda, a João Baptista Sampaio Lda., a Manuel Machado & Cª Lda,  a Herdmar- Manuel Marques & Herdeiros, a MARCAL – Martins Caldas & Marques e a Serafim da Silva Fertuzinhos) experimentem uma expansão da sua produção, o que lhes permite um maior investimento e melhoramento do equipamento de trabalho. É então a partir daqui que as Caldas das Taipas se começam a destacar “como o núcleo mais importante, com 20 unidades”.
Com a queda do antigo regime, muitos dos seus órgãos corporativos caíram ou foram substituídos, situação que se verifica com o Grémio Nacional de Indústrias de Cutelarias (composto à época por empresas da zona de Caldas das Taipas), que mais tarde resultará, em outubro de 1974, na criação da “ANIC-Associação Nacional dos Industriais das Cutelarias”, onde são integrantes as empresas da zona das Caldas das Taipas.
Desde a entrada de Portugal para a UE que as empresas têm apostado num grande investimento não só a nível técnico como também apostando nas novas tendências comunicativas através do marketing e design, consolidando assim o seu lugar no mundo. Não obstante a extinção em 2011 da ANIC, as cutelarias vimaranenses, e em particular as da zona das Caldas das Taipas, são nos dias de hoje o “principal produtor de cutelarias de mesa da Europa, chegando a 10% dos europeus, e, em 2009, o seu volume de encomendas ultrapassou os 26 milhões de Euros”.
No entanto, apesar deste panorama industrial situado nas Caldas das Taipas não existe um aproveitamento do território, neste caso, a vila de Caldas das Taipas, para se promover internacional e nacionalmente e usar como “bandeira” a Capital da Cutelaria. Apesar, dos esforços feitos pela autarquia, as associações de cutelaria não conseguiram unir as diversas empresas em prol do setor e da região. Assim, o desconhecimento da população desta região sobre este panorama industrial e o peso na economia das cutelarias das Caldas das Taipas deve-se sobretudo aquilo já referido. Os produtos são feitos na região, mas, no entanto, não têm uma identidade.
Na minha opinião, através de uma marca registada que identificava o produto feito naquela região, uma maior propaganda dessa mesma marca e criação, por exemplo, do museu das Cutelarias poder-se-ia desenvolver um efeito catalisador de outros sectores da economia, como o Turismo, ainda sobretudo devido a sua ótima localização Braga-Guimarães.

Marcelo Silva

Bibliografia:
CORDEIRO, José Manuel Lopes. Guimarães: A Tradição das Cutelarias. In MARTINS, Manuel. Guimarães: a tradição das Cutelarias”, Guimarães: Associação Comercial e Industria de Guimarães, 2014; p.25-102.
FERREIRA, João António Carvalho. A memória e futuro do património industrial de Caldas das Taipas: Projecto para o Centro Interpretativo da Cutelaria. Dissertação de Mestrado em Arquitetura. Guimarães, Universidade do Minho, 2017.
MARQUES, Carlos & MARQUES, Maria José (cord.), Herdmar 1911-2011: 100 anos de paixão de uma família; Caldas das Taipas; Junho 2011.
http://caldasdastaipas.com/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Braga Barroca na cidade

Braga é uma cidade que tem ao longo do ano as mais diversas festividades, de religiosas a profanas. Aí encontramos desde o Romano ao Barroco, um leque de património, tradição e cultura que tornam esta cidade de uma beleza e riqueza ímpares. No entanto, nem todas elas são dotadas da mesma importância e visibilidade, e se temos uma Semana Santa que é das mais belas e imponentes da Europa, quiçá do mundo, ou um S. João, que é a maior romaria de Portugal, também temos uma Braga Barroca que está ainda um pouco menosprezada no cerne nacional de cultura, não por falta de património, arte e riqueza, mas porque ainda não foi devidamente tida em conta.
Fruindo da importância religiosa que possuía a nível Ibérico, Braga veio a tornar-se nos séculos XVII e XVIII no centro por excelência das manifestações barrocas em Portugal, em muito por influência dos arcebispos D. Rodrigo de Moura Teles e D. José de Bragança e artistas como André Soares, Frei José Vilaça e Marceliano de Araújo. Assim surgiu o evento “Braga Barroca”, que permite reviver este período áureo da cidade, assim como toda a agitação económica, cultural religiosa e social que existia na época, a partir das atividades diversas que são organizadas. Desde saraus, música e danças, concertos, espetáulos, encenações, visitas aos palácios e igrejas, não faltam expressões genuínas civis e religiosas do Barroco na cidade dos Arcebispos.
Este evento, “Braga Barroca”, está em crescimento, cada vez mais, graças a parcerias com associações, empresas e entidades que visam levar mais longe o nome da cidade relativamente ao Barroco, conseguindo assim reforçar a identidade e aumentar a consciencialização de todos os cidadãos para a proteção e preservação do património que se pretende que seja visitado e conhecido. Em conjunto, todas estas entidades têm contribuído e conseguido melhorar e diversificar a oferta cultural deste evento, ano após ano, com programas mais ricos e ecléticos, uma vez que “a estratégia de promoção cultural do Município de Braga tem sido baseada numa maior aposta de divulgação da história local”.
É importante ter em conta que este evento não surgiu por mero acaso, pois ele integra uma estratégia de valorização patrimonial, dada a importância da cidade ao nível do período Barroco em Portugal. Desde o santuário do Bom Jesus do Monte, ao Palácio dos Biscainhos, passando pelo aqueduto das Sete Fontes, encontramos inúmeras infraestruturas desse período na cidade. Com isto, conclui-se que o barroco não era apenas arte, não era apenas riqueza, mas que foi também útil socialmente para os que viviam nessa época. E muito certamente sem este evento, sem estes dias que ano após ano se têm vindo a repetir, a maior parte dos bracarenses e seus turistas não teriam hipótese de conhecer, visitar, contemplar, um grande número de coisas que existem na cidade e que são história, história local que deve ser divulgada e conhecida.
Neste sentido, a realização do “Braga Barroca” é de suma importância para a cidade e, apesar de se fazerem continuamente esforços nesse sentido, merece ser mais valorizado e conhecido, pois da mesma forma que foi romana, Braga também foi Barroca e é preciso levar longe esse belo período da história, dignificá-lo e sobretudo vivê-lo. O património é cultura de todos, pertença e propriedade de todos, pelo que a responsabilidade de promover este evento não cabe apenas à organização, nem ao governo local. Todo o Bracarense tem responsabilidade de levar mais longe e uma vez mais elevar o nome da sua cidade.

Artur Jorge Fernandes Marquez

Bibliografia consultada
·        https://www.correiodominho.pt/noticias/programa-do-braga-barroca-2017-cresce-em-eventos-e-parcerias/104718
·        https://www.dn.pt/lusa/interior/festival-braga-barroca-de-regresso-para-celebrar-periodo-aureo-da-cidade-8779808.html
·        https://www.cm-braga.pt/pt/1301/home/agenda/item/item-1-6518
·        https://webraga.pt/blog/arte-barroca-em-braga-e-mundo/
·        https://webraga.pt/blog/braga-cidade-do-barroco-roteiro-11-locais/
·        http://www.pressminho.pt/braga-barroca-contribui-arranca-esta-quarta-feira-para-valorizar-patrimonio-e-reforcar-identidade-da-cidade/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

As disparidades entre os Municípios de Amares e de Braga

     Portugal, apesar de ter uma dimensão pequena, ainda apresenta várias desigualdades acentuados ao longo do território. Estas disparidades são refletidas tanto a nível económico, como a nível social e de meios de transportes. Muitas vezes pensamos que as disparidades só existem no interior. Mas acontecem disparidades entre Braga e o Município de Amares. Muitas das vezes, para as áreas mais rurais só existem meios de transporte de hora em hora nos períodos escolares. Quando as crianças se encontram de férias o tempo de espera já é mais longo.
         Embora o Município de Amares fique afastado mais ou menos 30 Km de Braga, considerando a última freguesia que é Bouro Santa-Maria, as áreas são predominantemente rurais e a população mais envelhecida encontra-se depois da Vila de Amares. Esta população mantém níveis de analfabetismo muito elevados e não tem acesso ao serviço médico nem uma vez por semana nas suas freguesias. A farmácia mais perto é em Amares. O centro de saúde de Amares não consegue acolher todos os utentes, principalmente durante o inverno, mandando-os assim para o hospital central. Muitas das vezes, estes mesmos idosos não têm meios de transportes diretos ao hospital e optam para ir outra vez para casa doentes.
         Os motivos que levaram a maior parte dos jovens a sair destas aldeias, muitas das vezes, é por estas ficarem longe dos bens essenciais. As crianças também têm que se deslocar para Centro Escolar de Amares. Muitas das vezes, estes jovens emigram para outros países à procura de uma vida melhor ou, alternativamente, mudam-se para Braga.
         No Município de Amares também não se encontram muitas ofertas de emprego. Devido à crise, muitas empresas fecharam. Uma das maiores empregadoras de construção civil, os Eusébios, em Amares, foi a falência com a crise.
         Para não ter uma discrepância tão grande entre o Município de Amares e o de Braga seria necessário criar meios de transportes que levassem a população mais envelhecida às consultas nos hospitais, diretamente, dar incentivos às empresas para se localizar neste Município e dar prioridade aos residentes do município nas ofertas de trabalho quando estas se encontrassem no próprio município.
        Amares também poderia viver muito do seu turismo, já que apresenta patrimónios histórico, cultural e paisagístico muito valiosos. Temos uma Aldeia de Portugal, chamada Urjal, onde temos muitos moinhos e azenhas. Temos também vários produtos típicos de Amares em termos gastronómicos e vinhateiros aos quais poderíamos fazer várias visitas guiadas durante todo o ano. Poderíamos dar mais vitalidade à população envelhecida usando o know-how desta população para ensinar os mais jovens a valorizar a cultura de Amares.
         Amares, se fosse bem planeado em termos turísticos, gastronomia, festividades, poderia fixar mais jovens e trazer outras pessoas para se fixarem. Para tanto, importaria não fazer isto de período sazonal, mas ao longo de todo o ano. Importaria dar uma maior vitalidade a este município e dar melhores condições de vida aos nossos idosos, os quais se encontram afastados de quase tudo.

Maria da Conceição Veloso Cerdeira

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

“Braga Barroca”: um ex-libris modesto

Braga é comumente associada à sua fundação romana. A sua história fundacional e a importância que detinha como Município Romano são aspetos fortemente exaltados no evento da “Braga Romana”. Contudo, Braga encerra em si uma herança bem demarcada da Era Barroca, sendo ainda mais patente a visibilidade do seu património edificado, ao contrário da carência de edificações romanas.
A arte Barroca prima por uma confusão agradável de elementos decorativos. Um cabal exagero cénico que nos transporta para uma Era de teatralidade materializada nas artes. É de facto com o barroco que assistimos a um exacerbar da arte e dos artistas. O embelezamento dos espaços torna-se uma prioridade. O novo gosto arquitetónico propõe um espetáculo do sensível, permitindo um modo de vivência humana focado na estética e naquilo que é belo e sumptuoso. Braga não foi indiferente e abriu portas a tal, deixando-se embeber por este atrativo estético da arte barroca ao ponto de hoje ser conhecida como a Capital do Barroco, “Portas” estas abertas graças, sobretudo, a D. José de Bragança e ao magnífico arquiteto e artista bracarense André Soares.
Foi exatamente por este motivo que em Setembro de 2014 a cidade decidiu, finalmente, apostar no evento “Braga Barroca”. Tal pretende glorificar este passado de grandioso esplendor e expressão artística, de quotidianos próprios e únicos de uma moda extravagante e sumptuosa.
A agenda cultural da “Braga Barroca” é promissora: o evento em si tem gerado excelentes críticas. A caraterização dos participantes e a performance dos atores, que encenam a vivência da época, são excelentes e com grande dignidade de reprodução histórica. Quanto aos vários conjuntos arquitetónicos da cidade alusivos ao barroco, estes têm sido, de forma geral, bem aproveitados sempre com o maior dos rigores e cuidados necessários para evitar exageros descomedidos e fantasias.
Apesar de tudo, o evento não têm grande destaque mediático, a afluência turística e o impacto económico é diminuto, se comparado com outros eventos da cidade. Tendo em conta a preenchida agenda que possuí, durante os cinco dias do evento, e estando ciente que a “Braga Barroca” sobressai pelo louvor a uma época de teatralidade, estravagância, imponência e verdadeira sprezzatura, seria de esperar que o evento fizesse jus a tal, contudo mantêm-se comedido, quase abafado, por outros eventos já existentes.
Trata-se de um acontecimento bastante recente e deve ser dado o espaço necessário para que cresça, se desenvolva e assuma uma derradeira posição no calendário cultural da cidade. Para tal, são necessárias algumas mudanças primordiais, que na minha opinião caso se não se efetuarem não vão permitir a devida expansão.
A primeira mudança deve ocorrer ao nível da sua calendarização. Setembro não me parece um período por excelência que justifique um acontecimento como este. A meteorologia é incerta, a época um tanto baixa para o turismo e a cidade está a meio gás - alguns ainda de férias, outros no começo das suas atividades laborais. Sendo assim, seria mais oportuna a escolha de outro período do ano para o posicionamento da “Braga Barroca”, de modo a atrair os curiosos e os interessados.
Uma segunda mudança passaria pela questão do cortejo. À semelhança da “Braga Romana”, também aqui se faz um cortejo onde personagens históricas se passeiam pelas ruas mostrando aos bracarenses o modo de vida e as roupas da época. No entanto, este cortejo barroco em nada se compara à amplitude, mediatização e afluência do público do cortejo romano, muito por culpa de uma imensa falta de divulgação. Para muitos, o facto deste se realizar durante a tarde não é conveniente, pois é sabido que para este tipo de atividades é mais propenso o horário noturno. Contudo, não é possível de todo a mudança visto que tal iria contra o rigor histórico, dado que neste momento é encenada a entrada triunfal de D. José de Bragança na cidade, um ato de consolidação do seu cargo como Arcebispo, sendo assim impensável essa mudança. Porém existem soluções que apaziguam aqueles que pretende uma maior dinamização noturna, que passariam pela participação em recriações de festas nos jardins dos palacetes ou mesmo em jardins públicos ou, quem sabe, um pequeno cortejo noturno onde as figuras se passeiem como em jeito de se dirigirem a um concerto ou uma festa social.
A época em si é recheada o bastante para que se dê azo à criatividade. São inúmeras as possibilidades de montagem de cenários da sociabilidade barroca, e a própria arquitetura bracarense é riquíssima e permite um fácil recuo a esses tempos excêntricos, possibilitando, assim, a todos os que assistem uma fácil associação entre o tempo e o espaço. Apenas é necessário exigir uma maior divulgação junto da população.

Andreia Margarida Fernandes Pacheco de Azevedo

Bibliografia[1]

Cabrerizo, Félix Alonso. «Braga Barroca: um evento de relevância», Correio do Minho, 8 de Novembro, 2017.
Loureiro, Joana. «Braga Barroca, uma herança recordada em cinco dias», Visão, 21 de Setembro, 2016.
Oliveira, Eduardo Pires de. Estudos sobre o século XVIII em Braga. Braga: Edições APPACDM Distrital de Braga, 1993.
Pereira, José Fernandes. Arquitetura Barroca em Portugal. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992.
Serrão, Vítor. História da Arte em Portugal – O Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003.
Smith, Robert C. André Soares: arquitecto do Minho. Lisboa: Livros Horizonte, 1973.



[1] Sob a norma de Chicago.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)