La île de Corse foi outrora uma
ilha italiana, que viu nascer Napoleão Bonaparte. É hoje território francês, intitulada
de Île de Beauté. Continua a ser um
lugar de paisagens salvagens e acolhedoras, de água quente e azul. Contudo, a
sua beleza natural é vítima do seu próprio sucesso. Desde manifestações contra
o turismo, à incompreensão por parte das entidades políticas, o debate sobre a
sustentabilidade turística nunca atingiu tamanhas proporções em França.
Segundo
dados do INSEE, durante 2016, a Córsega, constituída por cerca de 330 000
habitantes, acolheu 7,73 milhões de visitantes nos portos e aeroportos.
Efetivamente, os dados comprovam que o número de turistas tem aumentado de
forma permanente, muito devido às campanhas de promoção nos transportes e ao
aparecimento de companhias “low-cost”. Apesar do aumento do turismo provocar um
aumento das receitas da região, e da sua exposição face ao mundo, a população
local é vista como arrogante, pouco acolhedora, e até “bárbara” face aos
turistas. As manifestações à frente da Assembleia Regional por parte do povo
corso já não são tabu. Mas o que movimenta, e alimenta, essa corrente de
pensamento que não vê os turistas como uma mais-valia para a região?
Os
depoimentos que recolhi de amigos, familiares e vizinhos relatam o porquê dessas contestações, e são talvez
os mais genuínos, visto que nasceram lá, vivem lá e, desta forma, acompanharam
todo o processo evolutivo desta ilha. Relembro calorosamente as velhas fotos que
um vizinho fez questão de me mostrar. As paisagens verdejantes deram lugar a
parques de estacionamento, a parques de campismo (legais e ilegais), hotéis e
motéis, condomínios de luxo e casas de férias de pessoas que só lá vão nos
meses quentes do ano. Os pescadores e as pequenas embarcações foram
substituídos pelos iates, e pelos “monstros gigantes” que “vomitam” pessoas –
pessoas essas que pouco contribuem para a economia local. Compram um postal,
bebem um café e voltam a embarcar. Nem falemos dos comentários desagradáveis
por parte dos mesmos para com os pequenos comerciantes, nomeadamente quando
dizem que são eles “que dão ao povo corso o ganha-pão”. Efetivamente, o turismo
representa cerca de 20% do PIB corso; contudo, nada justifica tais comentários.
Todos
estes fatores contribuem para a criação de um clima de insatisfação e levam os
corsos a apostar cada vez mais numa política independentista, pois estão
conscientes que a metrópole – França – nada fará por eles para combater este
turismo insustentável. Em Dezembro 2016, o movimento “Pè a Corsica” obteve
45,36% dos votos nas eleições territoriais e constitui hoje uma parte
importante da nova assembleia corsa. O hemiciclo constata a revolta popular,
inspira-se em políticas externas, levando à Assembleia Regional propostas de
leis para controlar o fluxo de turistas. Na mesa, discute-se o aumento da taxa
turística, a implementação de quotas turísticas, a redução do número de
embarcações de cruzeiros, a proibição ou redução de licenças de construção,
entre outras medidas de combate a este tipo de turismo descontrolado e
prejudicial para os nativos da ilha.
Em
suma, as infraestruturas da ilha não permitem o acolhimento da imensa massa
turística que hoje visita a Córsega. No entanto, o voto contestatário a favor
da independência da ilha não me parece uma ideia inteligente para acabar com
estes problemas, mas sim constitui prova de uma revolta popular crescente. O
futuro é incerto, todavia, é necessário trabalhar em conjunto para possibilitar
à Île de Beauté um desenvolvimento
sustentável e encontrar um equilíbrio entre ambiente, cultura, qualidade de
vida e turismo.
Octávio David Carvalho Rodrigues
Bibliografia
-- www.insee.fr (Dossier Corse, nº 7, Mai 2017)
-- www.sudouest.fr – notícia de 4 de dezembro 2017 disponível em http://www.sudouest.fr/2017/12/04/elections-territoriales-en-corse-victoire-ecrasante-des-nationalistes-4003757-710.php consultada no dia 13 de Março 2018
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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