Geograficamente
localizada no norte de Portugal, a vila de Caldas das Taipas (também designada
de Caldelas) encontra-se situada no meio de duas das cidades mais importantes do
norte do país, Braga (a 15km de distância) e Guimarães (a cerca de 8km), e em
2011 contava com cerca de 6 000 habitantes.
Sendo uma realidade
relativamente desconhecida da maioria da população da região, as Caldas das
Taipas têm uma importância na economia da região, consequentemente ao nível
nacional, através do seu panorama industrial: a indústria da Cutelaria. A atual
indústria da Cutelaria está representada por várias empresas situadas naquela
vila e nas zonas envolventes, sendo que algumas dessas empresas, como a Hedmar,
a Cutipol e a Dalper, são lideres europeus na produção de cutelarias de mesa.
Concentram nesta área (Caldas das Taipas e as freguesia adjacentes como vila de
Brito, São Clemente de Sande e S. João de Ponte) algumas das empresas de maior relevo
nacional deste ramo, tornando-se assim um dos principais polos produtores desta
indústria.
Segundo Lopes Cordeiro, é nos inícios do século XX que aparecem
as primeiras fábricas industriais de cutelarias nas Caldas das Taipas, muito à
custa do desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico: em 1908, António da Silva
Fertuzinhos e J.F Carvalho & Cª Lda. fundam as primeiras fábricas nas
Caldas das Taipas e, em 1911, funda-se nas Caldas das Taipas a Marca 11, de
Manuel Marques (futura e atual Herdmar) e, em 1925, a Marca 2, de António Faria
da Silva.
Paralelamente ao crescimento das cutelarias, desenvolve-se a
preocupação em utilizar a energia hidráulica, que se verifica fundamental para
o funcionamento das próprias fábricas, tendo-se muitas delas posicionado junto
a caudais do Rio Ave, aproveitando a força da água. Em 1943, António da Silva
Fertuzinhos, “solicita a instalação de um dínamo de moinho”, com o intuito de produzir energia elétrica quer para a sua
habitação, quer para a sua oficina.
No período do Estado Novo, o panorama cuteleiro muda não só
na zona das Caldas das Taipas mas no centro da cidade de Guimarães e em Creixomil
devido ao panorama político mas, também, à falta de consciencialização
sindical. É neste contexto que se cria, em 1934,
o “Sindicato Nacional dos Operários Garfeiros do Distrito de Braga”, com sede
em Sande S. Martinho, e no ano seguinte cria-se o “Sindicato Nacional dos
Operários da Indústria de Cutelarias do Distrito de Braga, com sede em
Guimarães”, levando à sua fusão em 1944.
Na
década de 60, o panorama tende a mudar muito à custa da adesão de Portugal à
EFTA, que faz com que se abram novas perspetivas para a indústria, já que o
mercado era essencialmente para Portugal Continental e para as colónias. Durante
este período chega-se a ponderar, face à grande dispersão de unidades fabris e
à crise que muitas delas estavam a passar, a criação de um grande complexo
industrial entre os dois pólos principais do conselho de Guimarães, Caldas das
Taipas e Creixomil, revelando-se, porém, um fracasso.
A
progressão do sector cutileiro leva a que a CUTAL - Cutelarias Artísticas, Lda.
(1965), a A. Fertuzinhos Cª Lda. (1966),
a Chromolit Portugal (1967) e as empresas que até então existiam (Augusto
Mendes & Sobrinho, Lda., a BELO INOX Lda., a CUTIPOL – Cutelarias
Portuguesas, Lda, a João Baptista Sampaio Lda., a Manuel Machado & Cª Lda, a Herdmar- Manuel Marques & Herdeiros, a
MARCAL – Martins Caldas & Marques e a Serafim da Silva Fertuzinhos) experimentem
uma expansão da sua produção, o que lhes permite um maior investimento e
melhoramento do equipamento de trabalho. É então a partir daqui que as Caldas das
Taipas se começam a destacar “como o núcleo mais importante, com 20 unidades”.
Com a queda do antigo
regime, muitos dos seus órgãos corporativos caíram ou foram substituídos,
situação que se verifica com o Grémio Nacional de Indústrias de Cutelarias
(composto à época por empresas da zona de Caldas das Taipas), que mais tarde
resultará, em outubro de 1974, na criação da “ANIC-Associação Nacional dos Industriais
das Cutelarias”, onde são integrantes as empresas da zona das Caldas das
Taipas.
Desde a entrada de Portugal para a UE que as empresas têm
apostado num grande investimento não só a nível técnico como também apostando
nas novas tendências comunicativas através do marketing e design, consolidando assim o seu lugar no mundo. Não obstante a
extinção em 2011 da ANIC, as cutelarias vimaranenses, e em particular as da
zona das Caldas das Taipas, são nos dias de hoje o “principal produtor de
cutelarias de mesa da Europa”,
chegando a 10% dos europeus, e, em 2009, o seu volume de encomendas “ultrapassou os 26 milhões de Euros”.
No entanto, apesar deste
panorama industrial situado nas Caldas das Taipas não existe um aproveitamento
do território, neste caso, a vila de Caldas das Taipas, para se promover
internacional e nacionalmente e usar como “bandeira” a Capital da Cutelaria.
Apesar, dos esforços feitos pela autarquia, as associações de cutelaria não
conseguiram unir as diversas empresas em prol do setor e da região. Assim, o
desconhecimento da população desta região sobre este panorama industrial e o
peso na economia das cutelarias das Caldas das Taipas deve-se sobretudo aquilo
já referido. Os produtos são feitos na região, mas, no entanto, não têm uma
identidade.
Na minha opinião, através
de uma marca registada que identificava o produto feito naquela região, uma
maior propaganda dessa mesma marca e criação, por exemplo, do museu das
Cutelarias poder-se-ia desenvolver um efeito catalisador de outros sectores da
economia, como o Turismo, ainda sobretudo devido a sua ótima localização
Braga-Guimarães.
Marcelo Silva
Bibliografia:
CORDEIRO, José Manuel Lopes.
Guimarães: A Tradição das Cutelarias. In MARTINS, Manuel. Guimarães: a tradição das Cutelarias”, Guimarães: Associação
Comercial e Industria de Guimarães, 2014; p.25-102.
FERREIRA, João António
Carvalho. A memória e futuro do
património industrial de Caldas das Taipas: Projecto para o Centro
Interpretativo da Cutelaria. Dissertação de Mestrado em Arquitetura.
Guimarães, Universidade do Minho, 2017.
MARQUES, Carlos & MARQUES, Maria José (cord.), Herdmar 1911-2011: 100 anos de paixão de uma
família; Caldas das Taipas; Junho 2011.
http://caldasdastaipas.com/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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