terça-feira, março 06, 2018

Uma cidade do Mundo para o Mundo - Amesterdão

Quando se fala em turismo, para a grande maioria da população, a primeira associação que inevitavelmente se desencadeia é de férias e lazer. Talvez o turismo seja o fado de uma vida de reformado perfeita ou apenas o desejo de uma primeira viagem de avião. Mas o turismo é bem mais do que isso. O turismo está longe de ser apenas uns dias de visita a outro país ou a semana de alívio de um ano de trabalho. É necessário pensar um pouco mais além e começar a ponderar a importância do turismo para o desenvolvimento regional, nacional e internacional.
Nem sempre se atribui a importância adequada ao turismo, algo que deriva, também, da simplicidade de culpabilizar os que vêm de fora por problemas internos que não conseguimos resolver e ou dar resposta. O que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que o turismo é o 3º maior setor no que toca à empregabilidade, superado apenas pelos setores do retalho e da agricultura. O que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que o turismo representa perto de 10% do PIB mundial. O que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que 1 em cada 11 empregados no mundo está ligado ao turismo. O que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que o turismo gera empregos, empresas, infraestruturas, receitas e, em suma, é sinónimo de desenvolvimento. É fundamental reter que o turismo está presente nas coisas mais pequenas: o turismo está associado à diversidade que permite a cada um de nós alargar conhecimentos, conhecer novas culturas, adotar novas perspetivas e evoluir enquanto pessoas. Mas toda a regra tem a sua exceção e, apesar de todos os benefícios do turismo, existem consequências associadas ao mesmo que eventualmente temos de aprender a lidar com elas. Não adianta promover o turismo se não se reunirem condições a nível de estruturas e serviços para lidar com o mesmo?! Facilmente, uma cidade de eleição turística passa a uma mera cidade se não conseguir oferecer condições e bem-estar aqueles que a visitam!
Uma vez retratado o impacto do turismo no mundo e quotidiano das pessoas, a questão que se impõe é como estão as cidades mais visitadas do mundo a dar resposta à crescente evolução do turismo? Existem estruturas para dar resposta a estes turistas? Qual o impacto do turismo no quotidiano dos que já vivem nessas cidades de eleição? O que se pode fazer mais e melhor para que os turistas desfrutem do local que visitam sem ficarem presos em grandes filas ou para que o aspeto financeiro não seja constantemente a maior preocupação dos mesmos?
Amesterdão, ao contrário de grandes cidades como Barcelona, parece estar perto de uma solução ideal ou, pelo menos, tenta dar resposta, com conforto e condições, a quem visita a cidade. Barcelona e Veneza, nos últimos tempos, colocaram limitações ao número de turistas por não conseguirem gerar condições para a quantidade absurda de pessoas que visitam as cidades. Mas, então, o que distingue Amesterdão de Barcelona ou até de Veneza?  Este destino holandês procurou ser criativo e não proibitivo no que toca ao excesso do turismo. Assim, primeiramente, os responsáveis por supervisionar o turismo deste país estudaram os turistas e o seu comportamento, procuraram perceber quais os destinos que os turistas visitam de manhã e quais procuram durante a tarde. Posto isto, de forma subtil, tentaram alterar esses hábitos nos turistas, exibindo as filas do tão famoso Museu de Van Gogh de manhã e incentivando os turistas a visitá-lo da parte de tarde, uma vez que ao longo dos anos verificaram que a procura deste museu era bastante maior da parte da manhã. Se, por outro lado, os turistas preferiam os passeios de barco da parte da tarde, foram incentivados a fazê-lo de manhã, entre muitas outras medidas. Em suma, procurou-se alterar os hábitos dos turistas de forma subtil para que a procura pelos lugares de renome da cidade fosse melhor distribuída, o que leva a benefícios para quem oferece os serviços mas, e mais importante ainda, também, para os turistas que agradecem o facto de pouparem tempo que numa curta visita a um país pode ser precioso.
Outra medida que, na minha opinião, merece especial destaque, tomada para o caso de Amesterdão, foi a de dar diferentes nomes a alguns lugares de forma a cativar os turistas pelo nome do local. Saliento o caso de Zandvoort, que fica a 30km do centro de Amesterdão e que, por isso, não era visto como um lugar a visitar mas que, agora, renomeado de “A Praia de Amesterdão”,  passou a ser um ponto de interesse por parte dos turistas pela curiosidade que lhes desperta o nome. A tecnologia é, também, ferramenta fundamental quando aliada à criatividade, o que levou à criação de uma aplicação denominada de “Discover the city”, que lança alertas de notificações para os utilizadores quando determinada atração está mais “cheia” que o normal.
Em suma, é evidente que a forma de lidar com o turismo excessivo gera algumas divergências de opiniões, visível nas medidas tomadas por alguns países. Se, por um lado, Barcelona lançou uma medida que proíbe a emissão de licenças para a construção de novos alojamentos turísticos, Amesterdão parece querer continuar a atrair mais turistas e procura desenvolver medidas que o permitam. A criatividade pode ser a solução, mas às vezes medidas simples podem resolver problemas maiores. Apesar de não ser muito comum em Portugal, pequenas taxas turísticas podem ser um importante meio para o investimento em infraestruturas que suportam o turismo. Eventualmente, uma melhor distribuição da procura dos pontos de interesse por parte dos turistas pode passar pela oferta de transporte gratuito para determinadas atrações menos procuradas de forma a incentivar mais turistas a visitar esses pontos, de modo a não sobrelotar sempre os mesmos pontos de interesse.
As portas do mundo devem estar abertas para que todos possam entrar e passear no mesmo livremente, sem que ninguém tenha a capacidade de as fechar e, como Geerte Udo, diretora do marketing estratégico da cidade de Amesterdão, disse um dia “Não se pode fechar uma cidade”.


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