Quando
se fala em turismo, para a grande maioria da população, a primeira associação
que inevitavelmente se desencadeia é de férias e lazer. Talvez o turismo seja o
fado de uma vida de reformado perfeita ou apenas o desejo de uma primeira
viagem de avião. Mas o turismo é bem mais do que isso. O turismo está longe de
ser apenas uns dias de visita a outro país ou a semana de alívio de um ano de
trabalho. É necessário pensar um pouco mais além e começar a ponderar a
importância do turismo para o desenvolvimento regional, nacional e
internacional.
Nem
sempre se atribui a importância adequada ao turismo, algo que deriva, também,
da simplicidade de culpabilizar os que vêm de fora por problemas internos que
não conseguimos resolver e ou dar resposta. O que muitas vezes as massas
populacionais não entendem é que o turismo é o 3º maior setor no que toca à
empregabilidade, superado apenas pelos setores do retalho e da agricultura. O
que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que o turismo
representa perto de 10% do PIB mundial. O que muitas vezes as massas
populacionais não entendem é que 1 em cada 11 empregados no mundo está ligado
ao turismo. O que muitas vezes as massas populacionais não entendem é que o
turismo gera empregos, empresas, infraestruturas, receitas e, em suma, é
sinónimo de desenvolvimento. É fundamental reter que o turismo está presente
nas coisas mais pequenas: o turismo está associado à diversidade que permite a
cada um de nós alargar conhecimentos, conhecer novas culturas, adotar novas
perspetivas e evoluir enquanto pessoas. Mas toda a regra tem a sua exceção e,
apesar de todos os benefícios do turismo, existem consequências associadas ao
mesmo que eventualmente temos de aprender a lidar com elas. Não adianta
promover o turismo se não se reunirem condições a nível de estruturas e
serviços para lidar com o mesmo?! Facilmente, uma cidade de eleição turística
passa a uma mera cidade se não conseguir oferecer condições e bem-estar aqueles
que a visitam!
Uma
vez retratado o impacto do turismo no mundo e quotidiano das pessoas, a questão
que se impõe é como estão as cidades mais visitadas do mundo a dar resposta à
crescente evolução do turismo? Existem estruturas para dar resposta a estes
turistas? Qual o impacto do turismo no quotidiano dos que já vivem nessas
cidades de eleição? O que se pode fazer mais e melhor para que os turistas
desfrutem do local que visitam sem ficarem presos em grandes filas ou para que
o aspeto financeiro não seja constantemente a maior preocupação dos mesmos?
Amesterdão,
ao contrário de grandes cidades como Barcelona, parece estar perto de uma
solução ideal ou, pelo menos, tenta dar resposta, com conforto e condições, a
quem visita a cidade. Barcelona e Veneza, nos últimos tempos, colocaram
limitações ao número de turistas por não conseguirem gerar condições para a quantidade
absurda de pessoas que visitam as cidades. Mas, então, o que distingue
Amesterdão de Barcelona ou até de Veneza?
Este destino holandês procurou ser criativo e não proibitivo no que toca
ao excesso do turismo. Assim, primeiramente, os responsáveis por supervisionar
o turismo deste país estudaram os turistas e o seu comportamento, procuraram
perceber quais os destinos que os turistas visitam de manhã e quais procuram
durante a tarde. Posto isto, de forma subtil, tentaram alterar esses hábitos
nos turistas, exibindo as filas do tão famoso Museu de Van Gogh de manhã e
incentivando os turistas a visitá-lo da parte de tarde, uma vez que ao longo
dos anos verificaram que a procura deste museu era bastante maior da parte da manhã.
Se, por outro lado, os turistas preferiam os passeios de barco da parte da
tarde, foram incentivados a fazê-lo de manhã, entre muitas outras medidas. Em
suma, procurou-se alterar os hábitos dos turistas de forma subtil para que a
procura pelos lugares de renome da cidade fosse melhor distribuída, o que leva
a benefícios para quem oferece os serviços mas, e mais importante ainda,
também, para os turistas que agradecem o facto de pouparem tempo que numa curta
visita a um país pode ser precioso.
Outra
medida que, na minha opinião, merece especial destaque, tomada para o caso de
Amesterdão, foi a de dar diferentes nomes a alguns lugares de forma a cativar
os turistas pelo nome do local. Saliento o caso de Zandvoort, que fica a 30km
do centro de Amesterdão e que, por isso, não era visto como um lugar a visitar
mas que, agora, renomeado de “A Praia de Amesterdão”, passou a ser um ponto de interesse por parte
dos turistas pela curiosidade que lhes desperta o nome. A tecnologia é, também,
ferramenta fundamental quando aliada à criatividade, o que levou à criação de
uma aplicação denominada de “Discover the city”, que lança alertas de
notificações para os utilizadores quando determinada atração está mais “cheia”
que o normal.
Em
suma, é evidente que a forma de lidar com o turismo excessivo gera algumas
divergências de opiniões, visível nas medidas tomadas por alguns países. Se,
por um lado, Barcelona lançou uma medida que proíbe a emissão de licenças para
a construção de novos alojamentos turísticos, Amesterdão parece querer
continuar a atrair mais turistas e procura desenvolver medidas que o permitam.
A criatividade pode ser a solução, mas às vezes medidas simples podem resolver
problemas maiores. Apesar de não ser muito comum em Portugal, pequenas taxas
turísticas podem ser um importante meio para o investimento em infraestruturas
que suportam o turismo. Eventualmente, uma melhor distribuição da procura dos
pontos de interesse por parte dos turistas pode passar pela oferta de transporte
gratuito para determinadas atrações menos procuradas de forma a incentivar mais
turistas a visitar esses pontos, de modo a não sobrelotar sempre os mesmos
pontos de interesse.
As
portas do mundo devem estar abertas para que todos possam entrar e passear no
mesmo livremente, sem que ninguém tenha a capacidade de as fechar e, como
Geerte Udo, diretora do marketing estratégico da cidade de Amesterdão, disse um
dia “Não se pode fechar uma cidade”.
José Luís Fernandes da Cunha
https://viagem.uol.com.br/noticias/2017/08/17/barcelona-veneza-e-mais-veja-lugares-que-estao-de-saco-cheio-de-turistas.htm
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
https://viagem.uol.com.br/noticias/2017/08/17/barcelona-veneza-e-mais-veja-lugares-que-estao-de-saco-cheio-de-turistas.htm
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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