O processo de ocupação efetivo do
Brasil ainda na condição de colônia de exploração de Portugal, no século XVI,
marca fundamentalmente o uso e ocupação do solo em uma faixa relativamente estreita
e pontual do seu litoral, em detrimento da vastidão do seu território. Uma nova
reconfiguração Geopolítica do Espaço ocorre a partir da transferência da
capital da colônia de São Salvador para a cidade do Rio de Janeiro, no século
XVII. Obviamente, o deslocamento do eixo do poder deveu-se à descoberta do ouro
em Minas Gerais, e nesse sentido a nova capital atendia às demandas da
metrópole lusitana, por ser uma cidade com potencial portuário para o
escoamento aurífero.
Nessa perspectiva, acentuaram-se os
fluxos migratórios internos que convergiam para a nova capital da colônia cuja
mobilidade antrópica contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de outras
monoculturas, além do cultivo da cana de açúcar, pecuária bovina e também a continuidade
da extração do Pau-Brasil e da exploração mineral. Com efeito, a economia
escravocrata dá início à cafeicultura, e com o apoio profícuo governamental
lança o Brasil no cenário internacional como um grande produtor e exportador do
setor agrícola e vocacionado para as atividades agropastoris.
Entretanto, houve um incremento político
e intencional no processo de urbanização do país, que foi territorialmente
seletivo (ABREU, 1987), cujo modelo de desenvolvimento econômico, que excedeu a
colônia, o Império e a República, centrado na exportação agrária, irradiou do Rio de Janeiro para o estado de São Paulo.
Instalou-se, daí, um novo paradigma da
economia nacional, territorializando as bases fundamentais de um conjunto de
redes de infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias protagonizadas
pelo capital estatal, objetivado a atender aos clamores dos “barões do café”,
bem como ampliar as trocas comerciais com o mercado externo (BELLO, 1969).
Uma conjunção de fatores econômicos,
políticos, naturais, sociais e culturais concentrou em apenas uma área do
território (o Sudeste) as potencialidades técnicas para o desenvolvimento econômico
nacional, em detrimento das demais regiões brasileiras (SANTOS, 1993). O IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já nas primeiras décadas do
século XX foi o órgão do Governo Federal responsável pela regionalização do
país. Com isso, buscavam-se novos estudos e implementações de políticas
públicas que dirimissem as disparidades econômicas existentes entre as regiões
do país, porém, tal não surtiu efeito a curto prazo.
Com o advento da grande crise
econômica internacional de 1929, o Brasil não passou incólume diante desse
fato. Portanto, as providências emergenciais tomadas pelo Estado tinham como
meta estancar a crise interna. Para tanto, substituiu a produção em escala do
café pela implantação da indústria de base nacional, e utilizou as redes de
infraestruturas que já haviam sido criadas, impondo dessa forma ao Sudeste
brasileiro mais um protagonismo desenvolvimentista, marcando fortemente a
passagem de um país Agrário-Exportador para Urbano-Industrial.
Contudo, os fluxos de migrações
internas intensificaram-se do Nordeste para o Sudeste, majoritariamente pela
busca de empregos e melhor qualidade de vida. Porém, isso ampliou as mazelas
socioeconômicas vividas nas grandes cidades do país, principalmente no eixo
Rio-São Paulo, sobretudo para uma grande parcela da população que não foi
absorvida pelos mercados de empregos.
Ressalta-se que desde as posses coloniais
de latifúndios e das práticas monocultoras, o Brasil cresceu economicamente
desigual, no âmbito das disparidades regionais, criando “arquipélagos
econômicos” (ARAÚJO, 2000), conforme o que conclui ELIAS (2002, apud, SANTOS,
1988), “há vários Brasis dentro de um só”.
Essas reflexões demonstravam
claramente uma carência de infraestruturas, planeamento e logísticas, visto que
internamente as regiões brasileiras não mantinham uma relação de troca entre
si, fato que acirrava e ainda mantém as distâncias socioeconômicas no seio da
sociedade brasileira, mediante a sua localização geográfica.
O pós Segunda Guerra Mundial inaugura
não só em âmbito global mas também na perspectiva brasileira um aprofundamento
das técnicas e disseminação das novas tecnologias voltadas ao setor produtivo,
e assim promove o desenraizamento das grandes corporações globais que passam a
instalar os seus parques industriais nos terrenos baratos e com bolsões de
mão-de-obra abundantes nos países do antigo Terceiro Mundo.
No Brasil, esse momento de grande
surto de inovação industrial, o qual (SANTOS, 2003) nomeou de Técnico-Científico
e Informacional, não ocorreu de forma simétrica, sobrepondo o Sudeste
brasileiro a categoria de “região concentrada”. Inclusive, as primeiras
multinacionais a se instalarem em território nacional foram às automotoras, o que
definitivamente contribuiu para uma política pública de transportes e de
mobilidade urbana centrada no rodoviarismo.
As manchas urbanas foram
horizontalmente alargando-se em grande escala, embora os conglomerados
industriais ainda estivessem centrados nos territórios adjacentes às metrópoles
nacionais: São Paulo e Rio de Janeiro – nessa ordem ou escala hierárquica.
Outras regiões do Brasil não acompanhavam esse modelo de desenvolvimento que
ultrapassava além do econômico, pois havia o status cultural do consumo e o acesso aos bens e serviços seletivos.
Como não dispunham da mesma
qualificação e inovação profissional comparados ao trabalhador do centro
dinâmico do país, as regiões Norte, Sul, Nordeste e Centro-Oeste mantinham-se
cativas de uma economia majoritariamente agrária, pastoril e têxtil. As
disparidades econômicas intra e inter-regional diminuíram nas últimas décadas
no Brasil, porém ainda cabe ao Sudeste brasileiro, composto apenas por quatro
estados da União Federativa, o maior volume
econômico do PIB, e este também é detentor da maior concentração populacional
do país.
Hércules
Paes Lima
Referências
bibliográficas:
ABREU, Maurício de. A evolução urbana
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO; Zahar, 1987.
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios
sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências.
Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000.
BELLO, José Maria. História da
República 1889-1954. Síntese de sessenta e cinco anos de vida brasileira. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.
ELIAS, D. "Milton Santos: a
construção da geografia cidadã". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton
Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales,
Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de
2002.http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm [ISSN: 1138-9788]
SANTOS, Milton. A natureza do espaço:
técnica e tempo, razão e emoção.São Paulo: HUCITEC, 1996.
SANTOS, Milton. Por uma outra
globalização: do pensamento único; 6ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
SANTOS, Milton. A Urbanização
Brasileira. Ed; HUCITEC. São Paulo. 1993.
WWW.ibge.gov.br
( Fonte: IBGE, diretoria de Pesquisa – DPE – Coordenação de População e
Indicadores Sociais – COPIS.)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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