As
festas de São João em Braga são um evento com uma dimensão excecional, evento
este que assume um papel de destaque no calendário dos bracarenses. No entanto,
não são só os bracarenses que conhecem esta festividade nem são os únicos que a
praticam. Em todo o país se festeja o São João. No entanto, é a celebração
minhota que assume destaque, uma vez que este evento tem uma semana de duração.
Na realidade, são muitas as pessoas que conhecem e que já tiveram o gosto de
ver uma vez na vida a celebração minhota. As festas de São João em Braga são
marcadas pelas tradições e pelo “envolvimento comunitário” dos bracarenses e
estas são o espelho autêntico das caraterísticas do povo do Minho. Esta celebração
tem lugar no mês de junho e, como já referi em cima, tem a duração de uma
semana, onde o seu ponto culminar são os dias 23 e 24 de junho.
Aquando
da chegada desta celebração, durante essa semana, Braga está completamente
decorada, nomeadamente no percurso que vai desde o Arco da Porta Nova até ao
parque de S. João da Ponte. Neste período de celebrações, podemos ver Braga com
uma imensidão de cor, com muita animação, muita música e muita dança, acabando
por nos levar para um mundo paralelo. É um evento que traz consigo um conjunto
de áreas diversificadas, ou seja, temos a presença da história, o turismo, a
religião, o património, a etnografia, a sociologia e a antropologia.
Em uma semana de celebrações, o programa é
bastante alargado e contém muitas recriações e exibições. Aquela que a meu ver
ganha destaque é a corrida do porco preto. Esta era, segundo referências das
atas da câmara municipal de Braga (entre os anos de 1565 e 1638), os relatos de
D. Rodrigo da Cunha (ano de 1634 e 1635) na sua “História Eclesiástica dos
Arcebispos de Braga” e o relato de Frei Manuel da Ascensão (1745), a corrida
mais original dos festejos sanjoaninos. Eram de tal forma importantes que eram
acompanhados pela bandeira municipal. A corrida consistia num conjunto de
sapateiros montados a cavalo a perseguir o porco até ao rio, onde estariam
sobre a ponte os moleiros. O grande objetivo da corrida era conquistar o
direito ao porco.
No que diz respeito à origem da sua
integração no programa das festividades sanjoaninas, esta remonta às décadas de
1520 a 1550. Esta corrida pode ser dividida em dois atos: um que se realizava
na véspera do dia de S. João após a oração de vésperas que se dava na catedral
e resumia-se no “emprazamento” do porco; e o segundo ato era a corrida
propriamente dita, que se realizava n madrugada do dia de S. João. A única
tentativa de se realizar esta corrida de forma real terá ocorrido em 1916, não
sendo mais até aos dias de hoje repetida.
Atualmente, esta corrida está retratada
através do designado cortejo histórico, onde um porco preto verdadeiro ocupa o
lugar de “rei”. Neste cortejo podemos ver uma recriação das épocas históricas e
de todas as transformações a que Braga esteve sujeita ao longo dos anos. No ano
passado tive a oportunidade de fazer parte deste grande evento, e com esta
minha pequena presença pude presenciar o tamanho rigor presente no cortejo,
quer através do vestuário utilizado, quer pela tentativa de transmitir por
pequenos pormenores a vivencia da sociedade em cada época. A quantidade de
público que se deslocou ao centro de Braga para presenciar esta recriação foi
deveras avassaladora. Nunca tinha presenciado algo assim, ficando com a impressão
que quer o povo bracarense quer os muitos turista que estavam na cidade se
mostravam fascinados e interessados em recordar o passado e fazerem parte deste
festejo.
Na minha opinião, seria deveras
interessante continuar com esta iniciativa assim como fazer uma tentativa de
recriação real da corrida do porco preto, assim como se tentou no ano de 1916,
pois, a meu ver, existiria a ocorrência de uma maior quantidade de público. Contudo,
as festividades sanjoaninas já ocupam em Portugal um lugar de destaque e, a meu
ver, o percurso para cada ano ser melhor é renovado.
Bruna
Filipa Fernandes Pereira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
Bibliografia
Ferreira, Rui Manuel Gomes. «As Festas de
São João em Braga: Raízes, História e Potencial Turístico». Tese de Mestrado,
Braga, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, 2013.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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