sexta-feira, março 16, 2018

As Festas de São João em Braga: em particular a corrida do Porco Preto

As festas de São João em Braga são um evento com uma dimensão excecional, evento este que assume um papel de destaque no calendário dos bracarenses. No entanto, não são só os bracarenses que conhecem esta festividade nem são os únicos que a praticam. Em todo o país se festeja o São João. No entanto, é a celebração minhota que assume destaque, uma vez que este evento tem uma semana de duração. Na realidade, são muitas as pessoas que conhecem e que já tiveram o gosto de ver uma vez na vida a celebração minhota. As festas de São João em Braga são marcadas pelas tradições e pelo “envolvimento comunitário” dos bracarenses e estas são o espelho autêntico das caraterísticas do povo do Minho. Esta celebração tem lugar no mês de junho e, como já referi em cima, tem a duração de uma semana, onde o seu ponto culminar são os dias 23 e 24 de junho.
Aquando da chegada desta celebração, durante essa semana, Braga está completamente decorada, nomeadamente no percurso que vai desde o Arco da Porta Nova até ao parque de S. João da Ponte. Neste período de celebrações, podemos ver Braga com uma imensidão de cor, com muita animação, muita música e muita dança, acabando por nos levar para um mundo paralelo. É um evento que traz consigo um conjunto de áreas diversificadas, ou seja, temos a presença da história, o turismo, a religião, o património, a etnografia, a sociologia e a antropologia.
Em uma semana de celebrações, o programa é bastante alargado e contém muitas recriações e exibições. Aquela que a meu ver ganha destaque é a corrida do porco preto. Esta era, segundo referências das atas da câmara municipal de Braga (entre os anos de 1565 e 1638), os relatos de D. Rodrigo da Cunha (ano de 1634 e 1635) na sua “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga” e o relato de Frei Manuel da Ascensão (1745), a corrida mais original dos festejos sanjoaninos. Eram de tal forma importantes que eram acompanhados pela bandeira municipal. A corrida consistia num conjunto de sapateiros montados a cavalo a perseguir o porco até ao rio, onde estariam sobre a ponte os moleiros. O grande objetivo da corrida era conquistar o direito ao porco.
No que diz respeito à origem da sua integração no programa das festividades sanjoaninas, esta remonta às décadas de 1520 a 1550. Esta corrida pode ser dividida em dois atos: um que se realizava na véspera do dia de S. João após a oração de vésperas que se dava na catedral e resumia-se no “emprazamento” do porco; e o segundo ato era a corrida propriamente dita, que se realizava n madrugada do dia de S. João. A única tentativa de se realizar esta corrida de forma real terá ocorrido em 1916, não sendo mais até aos dias de hoje repetida.
Atualmente, esta corrida está retratada através do designado cortejo histórico, onde um porco preto verdadeiro ocupa o lugar de “rei”. Neste cortejo podemos ver uma recriação das épocas históricas e de todas as transformações a que Braga esteve sujeita ao longo dos anos. No ano passado tive a oportunidade de fazer parte deste grande evento, e com esta minha pequena presença pude presenciar o tamanho rigor presente no cortejo, quer através do vestuário utilizado, quer pela tentativa de transmitir por pequenos pormenores a vivencia da sociedade em cada época. A quantidade de público que se deslocou ao centro de Braga para presenciar esta recriação foi deveras avassaladora. Nunca tinha presenciado algo assim, ficando com a impressão que quer o povo bracarense quer os muitos turista que estavam na cidade se mostravam fascinados e interessados em recordar o passado e fazerem parte deste festejo.
Na minha opinião, seria deveras interessante continuar com esta iniciativa assim como fazer uma tentativa de recriação real da corrida do porco preto, assim como se tentou no ano de 1916, pois, a meu ver, existiria a ocorrência de uma maior quantidade de público. Contudo, as festividades sanjoaninas já ocupam em Portugal um lugar de destaque e, a meu ver, o percurso para cada ano ser melhor é renovado.

Bruna Filipa Fernandes Pereira


Bibliografia

Ferreira, Rui Manuel Gomes. «As Festas de São João em Braga: Raízes, História e Potencial Turístico». Tese de Mestrado, Braga, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, 2013.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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