Num mundo atual
extremamente globalizado, assolapado pelas tecnologias de informação e
comunicação e, agora, pelas redes-sociais – fatores que contribuem para a
mundialização da cultura (e, por conseguinte, a universalização do turismo), é
inevitável que o turismo se estabelecesse como atividade económica à escala
global. Entre os tipos, de turismo destaco o Turismo Criativo. Permito-me explanar/opinar
sobre o surgimento e em que consiste este fenómeno.
Um tipo de turismo
relativamente “novo” surge como Turismo Cultural 2.0 ou degeneração natural deste:
o Turismo Criativo. É pertinente definir, primeiro, turismo cultural como “atividade
económica que junta o prazer de aprender com viagens e lazer: eventos, viagens,
lazer e conhecimentos estão relacionados diretamente entre si”, considerado
estatisticamente o mais significativo a nível europeu. O Turismo Criativo é
diferente no sentido em que requer uma experiência participada na cultura.
Acredito que esta aldeia
global que habitamos, encurtadas as distâncias através de pequenos aparelhos
que carregamos religiosamente como extensão natural do nosso corpo, nos mudou,
claramente. Alterou-nos em muitos aspetos (tema que daria para desdobrar-se em
tantos outros subtemas), mas o aspeto que agora me importa é a mudança que decorreu
em nós, consumidores, enquanto turistas e consumidores de turismo.
Desde e depois de surgidas e implementadas as conceções sobre Direitos Humanos, Estado Social e, consequentemente, o (atrevo-me) revolucionário subsídio de férias (atribuindo às férias um papel e significado nunca concebido até então), cuja preocupação foi, acima de tudo, garantir e colmatar lacunas nas necessidades elementares/básicas e garantir um nível de vida digno, que o ser-humano (tendo possibilidade) se preocupa em descobrir. Descobrir para além da área que percorre todos os dias nas viagens casa-trabalho.
Desde e depois de surgidas e implementadas as conceções sobre Direitos Humanos, Estado Social e, consequentemente, o (atrevo-me) revolucionário subsídio de férias (atribuindo às férias um papel e significado nunca concebido até então), cuja preocupação foi, acima de tudo, garantir e colmatar lacunas nas necessidades elementares/básicas e garantir um nível de vida digno, que o ser-humano (tendo possibilidade) se preocupa em descobrir. Descobrir para além da área que percorre todos os dias nas viagens casa-trabalho.
Segundo dados da OCDE, em
2009, o Turismo Cultural representava 40% do mercado turístico internacional:
ora, se alguns autores consideram o turismo criativo como uma forma de turismo cultural (Carvalho 2010), outros classificam-no como a terceira vaga de turismo, seguindo o turismo de sol e praia e o turismo cultural per si. A UNESCO considera o Turismo Criativo como a nova geração de turismo.
ora, se alguns autores consideram o turismo criativo como uma forma de turismo cultural (Carvalho 2010), outros classificam-no como a terceira vaga de turismo, seguindo o turismo de sol e praia e o turismo cultural per si. A UNESCO considera o Turismo Criativo como a nova geração de turismo.
Creio que a
democratização no acesso à informação (à distância de um click), nos tornou mais informados, exigentes, atrevidos e curiosos
para explorar. Já não queremos só turismo de praia e relaxamento, ou o turismo
cultural por si só, desejamos participar ativamente numa atividade criativa
singular ao visitar um destino. Queremos misturar-nos com a especificidade
local através da autenticidade de uma experiência.
Portanto, turismo criativo pressupõe uma indústria de experiências genuínas e autênticas através de uma aprendizagem participada nas artes, património material e imaterial locais. Ou seja, a interação entre várias atividades, como indústrias criativas e culturais tradicionais e experiências ligadas ao mundo imaterial das artes e tradições endógenas.
Portanto, turismo criativo pressupõe uma indústria de experiências genuínas e autênticas através de uma aprendizagem participada nas artes, património material e imaterial locais. Ou seja, a interação entre várias atividades, como indústrias criativas e culturais tradicionais e experiências ligadas ao mundo imaterial das artes e tradições endógenas.
O Turismo Criativo surge,
na minha opinião, não só como consequência natural do desenvolvimento das
tecnologias de informação e redes sociais mas, principalmente (e friso), com a
sua consolidação enquanto plataformas indispensáveis ao dia-a-dia na criação de
experiências “partilháveis” e “instagramizáveis”, por parte dos consumidores
mas, também, com a sua utilização por parte de operadores turísticos, gestores
e promotores de turismo locais/nacionais – e de todos os agentes que visam o
consumo turístico. Outro fator foi a massificação do acesso à educação como
direito basilar de todo o mundo desenvolvido (a porção do mundo que, realmente,
usufrui do turismo).
Estas plataformas é que
permitiram o surgimento do turista criativo – com esta realização, a
oferta/organização/promoção do turismo mudaram mas, também, o valor da
unicidade de cada local (como trunfo!). O Turismo Criativo, no meu ponto de
vista, vem substituir – nos relatos dos turistas – o “eu vi” pelo “eu fiz”: “eu
incluí-me no local e nos locais”.
O perfil deste turista
criativo pode ser, genericamente, categorizável, é um indivíduo: com nível de
instrução acima da média; com rendimentos, também eles, acima da média; que, ele
próprio, pode estar envolvido no universo artístico; que exige qualidade e uma
experiência personalizada como workshops/ateliês;
que pretende desenvolver competências pessoais e o sentimento de autorrealização;
que não procura uma experiência estandardizada ou os pacotes turísticos típicos
– procura-se uma experiência imaterial, cultural e humana ao mesmo tempo – ativamente
e participadamente vivida (desde workshops
de pintura a cursos de dança locais, por exemplo).
Não creio que estejamos
já numa era de boom do turismo
criativo e penso que isso levará tempo, e verá o seu auge, talvez, na idade adulta/reforma
da dita geração dos Millennials
(regra geral, tendencialmente, com curso superior e crescidos por entre Ipads e outros Smart Devices), crescidos com a perfeita integração das companhias Low Cost, nunca abalados com revoluções
mas sim educados, assistindo a revoluções tecnológicas diárias que, para eles,
nunca exigiram qualquer tipo de adaptação ou consciência de transformação do statuos-quo. Esta geração gera(rá)
adultos e graúdos diferentes, obviamente, impactando o turismo – criativo neste
caso.
Este tipo de turismo está
em fase de crescimento e será crucial num futuro próximo, face à emergência e
impaciência pela procura de novas formas de lazer, novos estímulos ou novas
necessidades intelectuais.
De facto, as vantagens
deste tipo de turismo são por demais evidentes e facilmente elencáveis: de
ressalvar a importância que este tipo de turismo tem (e terá) no impacte
positivo na autoestima dos destinos e nos seus autóctones e, também, na
crescente e urgente necessidade de reinventar e potencializar as economias
locais. É um turismo com capacidade de se ajustar e complementar outros
segmentos turísticos, como o gastronómico, o ecoturismo e eno-turismo (entre
outros!). A descentralização que proporciona não sofre, regra geral, da
sazonalidade. Ainda, contribui para a perpetuação e potencialização das
tradições e património imaterial – por conseguinte, contribuindo para a
manutenção da memória histórica coletiva. Por último, releva-se os conhecidos
efeitos multiplicadores do turismo, que impactam, socialmente, a comunidade em
causa.
Em Portugal, o Turismo
Criativo cresce e posso avançar vários exemplos desse facto.
Cada vez mais localidades querem tirar partido e promover as suas diferenças e heterogeneidade.
Recentemente, Barcelos foi considerada Cidade Criativa da UNESCO e avançou com medidas inovadores no que ao turismo criativo diz respeito – tal distinção promove as artes e ofícios tradicionais – artesanato e artes populares. A par de Barcelos estão os municípios de Braga, por Artes Mediáticas, e Amarante, pela Música.
Cada vez mais localidades querem tirar partido e promover as suas diferenças e heterogeneidade.
Recentemente, Barcelos foi considerada Cidade Criativa da UNESCO e avançou com medidas inovadores no que ao turismo criativo diz respeito – tal distinção promove as artes e ofícios tradicionais – artesanato e artes populares. A par de Barcelos estão os municípios de Braga, por Artes Mediáticas, e Amarante, pela Música.
Por entre a
oferta de turismo criativo destaco, por exemplo, em S. João da Madeira, a
possibilidade de o turista criativo poder “envolver-se na produção de
artesanato local” ou “confeção de pratos regionais” e, ainda, participar em workshops de música e ateliês
pedagógicos. Neste circuito, é sugerido a visita ao património industrial de S.
João da Madeira, podendo aprender a fazer chapéus ou sapatos.
Outra
possibilidade exemplificativa da oferta turística criativa passa-se em
Gondomar: a rota da filigrana, criação recente dada a tradição dos ourives –
aprendendo-se, nas oficinas, a fazer a filigrana.
Outra proposta
deste tipo de turismo tem lugar no norte de Portugal – “ Os caminhos do
Contrabando”, que sugere ao turista ser contrabandista, percorrendo a passagem
para o outro lado da “raia” (fugas à guarda civil espanhola e à guarda fiscal
portuguesa, incluídas), experimentando as dificuldades de transportar tabaco,
café ou azeite. Acrescento, as vindimas no Douro Vinhateiro: a participação no
pisar das uvas com provas de vinho e aprendizagem do processo de feitura do
vinho.
Em Guimarães,
outro exemplo: o desafio de experimentarmos
as técnicas e materiais tradicionais utilizados na realização de caligrafia
medieval e, no fim, poder-mos ficar com uma recordação única: a nossa própria
obra!
O turismo criativo afigura-se, assim, como uma nova tendência/moda, em
que as pessoas não se limitam a comtemplar algo. Podem, sim, pôr as “mãos na
massa” (nos valores culturais do local visitado) – tornando tudo mais intenso e
vívido.
João Ministro, director da ProActiveTur, consegue explicar numa frase
que “em vez de olharem para um artesão a trabalhar, os turistas trabalham
conjuntamente a seu lado na construção de uma peça. Isso é muito mais rico em
termos interação com a comunidade e os seus valores”.
Loulé – um município que sofre da influência do turismo de massas da
região do Algarve, está, por outro lado (querendo contrariar a tendencial
oferta de sol e praia), a apostar numa oferta diferente, levando as pessoas
para novas opções. "As pessoas querem levar para casa experiências
marcantes, muito à base de emoções" - Graça Palma da ProActiveTur, empresa
que oferece um catálogo de experiências que pode passar por aprender a fazer
pasta de amêndoa ou papas de milho, brinquedos em cana e peças de olaria ou
cestaria.
Concluo dizendo
que, efetivamente, o Turismo Criativo é um fenómeno em crescendo, dados os
tempos que vivemos – com necessidade de proliferação de novos estímulos para
responder a novas necessidades de lazer, de fuga ao quotidiano e a exigências
dos novos consumidores, ávidos por experiencias irrepetíveis e fora do turismo
de massas, dos caminhos tantas vezes trilhados. Funciona(rá) como alternativa
sustentável para a revitalização do interior ou dos centros não-urbanos. É um
turismo que foge a uma certa homogeneidade na oferta de experiências e se
destaca e se vende como sendo uma vivência pessoal única e rica – não
materializável mas que perdura em nós, preenche e realiza.
“Creative tourism is a projection of a new tourism in which natural,
cultural and personal resources are not manipulated and exploited but valued
and enriched” (Jalincic and Zuvelva, 2012).
Mariana Barbosa
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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