A ideia de uma interação entre a preservação do
patrimônio cultural, do desenvolvimento regional e do turismo já vem sendo
desenvolvida há tempo suficiente para demonstrar sua eficácia e os caminhos a
serem seguidos de forma a promover sua implantação com efetividade.
Nos pilares de um produto turístico está a estrutura
do setor hoteleiro, de transporte, de prestação de serviços (tais como bancos,
correios, farmácias, etc.), bem como toda a infraestrutura básica (água,
esgoto, segurança) que atenderão a população flutuante de turistas. Dentre
esses pilares, um se destaca especialmente, tendo em vista que é por meio dele
que o turista será capaz de localizar os produtos a ele destinado: a sinalização.
No âmbito da sinalização turística, existe hoje uma
recomendação de forma a internacionalizar o design
para facilitar o reconhecimento dos símbolos mais recorrentes. Entretanto, não
basta a colocação de placas com nomes de igrejas e mosteiros se o caminho para
os alcançar também não estiver sinalizado.
Portugal sofre hoje com essa realidade. Em quase todas
as principais rodovias que cortam o país é possível encontrar letreiros
indicativos de locais históricos ou culturais. Porém, sem a ajuda de um GPS (e
algumas vezes mesmo com ele) é praticamente impossível localizá-los. Não existe
uma política de facilitação de acesso ao visitante assim como nem junto aos
órgãos representantes do setor é possível encontrar qualquer normatização sobre
o assunto. Dessa forma, o turismo individual é desencorajado dando lugar àquele
feito apenas por operadoras de turismo, provocando seu encarecimento e o risco
da formação de cartéis por região.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), com
suporte nos resultados preliminares do Inquérito ao Turismo Internacional,
relativos ao período de julho de 2015 a junho de 2016, os estrangeiros que
visitaram Portugal entraram principalmente por rodovia (55,6%). Cerca de 61,1%
do total de visitantes estrangeiros que entraram em Portugal passaram pelo menos
uma noite em Portugal (turistas) e 38,9% efetuaram deslocações de um só dia
(excursionistas). Os excursionistas estrangeiros entraram em Portugal principalmente
por fronteira rodoviária (90,2). Isso significa que boa parte de uma estrutura
bem-sucedida do turismo português passa por uma sinalização eficiente nas
estradas do país.
Ainda segundo os dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE), o número de turistas nacionais e estrangeiros aumentou 8%
entre janeiro e novembro de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016, e,
entretanto, o crescimento de consumo desses turistas quase que dobrou, gerando
uma receita significativa de mais de 3,2 mil milhões de euros. De acordo com o
ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, em entrevista à imprensa, "O
nosso esforço não é fazer o turismo crescer em número e nos lugares onde há
muita intensidade turística, mas exatamente o contrário", e para que isso
seja alcançado a instrumentalização da sinalização turística é fundamental.
De acordo com os indicadores da Organização Mundial de
Turismo, o turismo português é o que mais cresce na Europa e o espaço rural é
um dos grandes desafios de desenvolvimento, visto que a maior demanda por uma
competente sinalização turística se encontra justamente neste espaço, dada sua
precariedade versus um aumento
considerável de interesse na área. A região do norte de Portugal é a maior
receptora desse tipo de turismo que já contava com uma taxa de hóspedes anuais na
faixa do 669,1 mil, em uma oferta de 1.305 estabelecimentos em funcionamento e
22,5 mil camas, pelos dados de julho de 2016.
Sendo assim, só será possível um pleno desenvolvimento
português na área turística quando forem superadas essas barreiras estruturais,
permitindo que o visitante tenha acesso por si próprio aos produtos turísticos
do país, sem a obrigatória presença dos operadores e agências. Tendo em vista
que Portugal já faz hoje uma grande recepção do turista pelo viés rodoviário, é
imprescindível que seja implementada uma sinalização eficiente, prática e
facilitadora de modo a ampliar o acesso à sua oferta turística, o que garantirá
conforto e segurança ao visitante, e o desejo incondicional de conhecer outras
áreas do país.
Maria
de Lourdes Ferreira Calainho
(Artigo de opinião produzido no
âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de
Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS,
a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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