Braga é comumente associada à sua fundação romana. A sua
história fundacional e a importância que detinha como Município Romano são
aspetos fortemente exaltados no evento da “Braga Romana”. Contudo, Braga
encerra em si uma herança bem demarcada da Era Barroca, sendo ainda mais
patente a visibilidade do seu património edificado, ao contrário da carência de
edificações romanas.
A arte Barroca prima por uma confusão
agradável de elementos decorativos. Um cabal exagero cénico que nos transporta
para uma Era de teatralidade materializada nas artes. É de facto com o barroco
que assistimos a um exacerbar da arte e dos artistas. O embelezamento dos espaços
torna-se uma prioridade. O novo gosto arquitetónico propõe um espetáculo do
sensível, permitindo um modo de vivência humana focado na estética e naquilo
que é belo e sumptuoso. Braga não foi indiferente e abriu portas a tal,
deixando-se embeber por este atrativo estético da arte barroca ao ponto de hoje
ser conhecida como a Capital do Barroco,
“Portas” estas abertas graças, sobretudo, a D. José de Bragança e ao magnífico arquiteto
e artista bracarense André Soares.
Foi exatamente por este motivo que em
Setembro de 2014 a cidade decidiu, finalmente, apostar no evento “Braga
Barroca”. Tal pretende glorificar este passado de grandioso esplendor e
expressão artística, de quotidianos próprios e únicos de uma moda extravagante
e sumptuosa.
A agenda cultural da “Braga Barroca”
é promissora: o evento em si tem gerado excelentes críticas. A caraterização
dos participantes e a performance dos
atores, que encenam a vivência da época, são excelentes e com grande dignidade
de reprodução histórica. Quanto aos vários conjuntos arquitetónicos da cidade alusivos
ao barroco, estes têm sido, de forma geral, bem aproveitados sempre com o maior
dos rigores e cuidados necessários para evitar exageros descomedidos e
fantasias.
Apesar de tudo, o evento não têm
grande destaque mediático, a afluência turística e o impacto económico é
diminuto, se comparado com outros eventos da cidade. Tendo em conta a
preenchida agenda que possuí, durante os cinco dias do evento, e estando ciente
que a “Braga Barroca” sobressai pelo louvor a uma época de teatralidade,
estravagância, imponência e verdadeira sprezzatura,
seria de esperar que o evento fizesse jus a tal, contudo mantêm-se comedido,
quase abafado, por outros eventos já existentes.
Trata-se de um acontecimento bastante
recente e deve ser dado o espaço necessário para que cresça, se desenvolva e
assuma uma derradeira posição no calendário cultural da cidade. Para tal, são
necessárias algumas mudanças primordiais, que na minha opinião caso se não se
efetuarem não vão permitir a devida expansão.
A primeira mudança deve ocorrer ao
nível da sua calendarização. Setembro não me parece um período por excelência
que justifique um acontecimento como este. A meteorologia é incerta, a época um tanto baixa para o
turismo e a cidade está a meio gás - alguns ainda de férias, outros no começo
das suas atividades laborais. Sendo assim, seria mais oportuna a escolha de
outro período do ano para o posicionamento da “Braga Barroca”, de modo a atrair
os curiosos e os interessados.
Uma
segunda mudança passaria pela questão do cortejo. À semelhança da “Braga
Romana”, também aqui se faz um cortejo onde personagens históricas se passeiam
pelas ruas mostrando aos bracarenses o modo de vida e as roupas da época. No
entanto, este cortejo barroco em nada se compara à amplitude, mediatização e afluência
do público do cortejo romano, muito por culpa de uma imensa falta de divulgação.
Para muitos, o facto deste se realizar durante a tarde não é conveniente, pois
é sabido que para este tipo de atividades é mais propenso o horário noturno. Contudo,
não é possível de todo a mudança visto que tal iria contra o rigor histórico,
dado que neste momento é encenada a entrada triunfal de D. José de Bragança na
cidade, um ato de consolidação do seu cargo como Arcebispo, sendo assim
impensável essa mudança. Porém existem soluções que apaziguam aqueles que pretende
uma maior dinamização noturna, que passariam pela participação em recriações de
festas nos jardins dos palacetes ou mesmo em jardins públicos ou, quem sabe, um
pequeno cortejo noturno onde as figuras se passeiem como em jeito de se
dirigirem a um concerto ou uma festa social.
A
época em si é recheada o bastante para que se dê azo à criatividade. São
inúmeras as possibilidades de montagem de cenários da sociabilidade barroca, e
a própria arquitetura bracarense é riquíssima e permite um fácil recuo a esses
tempos excêntricos, possibilitando, assim, a todos os que
assistem uma fácil associação entre o tempo e o espaço. Apenas é necessário
exigir uma maior divulgação junto da população.
Andreia Margarida Fernandes
Pacheco de Azevedo
Bibliografia[1]
Cabrerizo, Félix
Alonso. «Braga Barroca: um evento de relevância», Correio do Minho, 8 de
Novembro, 2017.
Loureiro, Joana. «Braga Barroca, uma herança recordada em
cinco dias», Visão, 21 de Setembro, 2016.
Oliveira, Eduardo Pires de. Estudos sobre o século XVIII em
Braga. Braga: Edições APPACDM Distrital de Braga, 1993.
Pereira, José Fernandes. Arquitetura Barroca em Portugal.
Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992.
Serrão, Vítor. História da Arte em Portugal – O Barroco.
Lisboa: Editorial Presença, 2003.
Smith, Robert C. André Soares: arquitecto do Minho. Lisboa:
Livros Horizonte, 1973.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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