Desde
sempre, Veneza foi um dos principais destinos turísticos do mundo devido às
suas obras de arte e arquitetura singular, e ao seu rico património cultural,
musical e artístico. Uma parte da cidade está listada como um Património
Mundial, juntamente com a sua lagoa.
Assim,
o turismo é um setor importante da economia veneziana desde o século XVIII,
quando a cidade era um importante centro para o Grand Tour (tradicional viagem luxuosa pela Europa), tornando-se um
centro de moda para os ricos e famosos desde o século XIX. Na década de 1980, o
Carnaval de Veneza foi reavivado e a cidade tornada um grande centro de
conferências e festivais internacionais, como a prestigiada Bienal de Veneza e
o Festival de Veneza, que atraem visitantes de todo o mundo pelas suas
produções teatrais, culturais, cinematográficas, artísticas e musicais. As
principais atrações são o Campanário e Basílica da Praça de São Marcos, o
Grande Canal e os famosos passeios de Gôndola veneziana. Também estão incluídas
algumas atrações de luxo, como o Hotel Danieli, o Caffè Florian e o Lido di
Venezia, atraindo milhares de atores, críticos, celebridades e principalmente
pessoas da indústria cinematográfica. A cidade também depende muito do negócio
de navios de cruzeiro: o Comité de Cruzeiros de Veneza estimou que os
passageiros de navio de cruzeiro gastam mais de 150 milhões de euros anualmente
na cidade.
No
entanto, a popularidade da Cidade dos Canais aumentou o número de turistas para
valores alarmantes: 5,5 milhões, segundo a Euromonitor,
24 milhões, de acordo com El País, e
27 milhões segundo a Euronews.
Qualquer que seja o número certo, de uma coisa temos a certeza: é a cidade mais
visitada, comparando com a sua área ou os 50 mil habitantes que têm que lidar
com uma média de 70 mil turistas diferentes diariamente, ficando superpovoada
na maioria parte do ano. A competição entre estrangeiros para comprar casas em
Veneza tem feito os preços subirem de tal forma que vários habitantes da cidade
foram forçados a deslocar-se para áreas mais acessíveis da Itália. Estima-se
que a sua população diminuiu dois terços desde a década de 1950, perdendo
atualmente mil habitantes anualmente. Além disso, estima-se que até 2030 a
população local possa desaparecer, o que tem originado vários protestos (Generazione ’90) e até atos de
turismofobia. Esse é apenas um dos problemas levantados pela superexploração turística.
Segundo
o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), os cinco
grandes riscos que as cidades enfrentam quando a popularidade se transforma em
sobrelotação são: habitantes empurrados para fora das cidades, experiência turística
desvirtuada, infraestruturas sobrecarregadas, impactos negativos sobre a
natureza e ameaças à herança cultural. Esses últimos riscos são postos em causa
pelo tráfego
de cruzeiros, que quintuplicou em Veneza nos últimos 15 anos, transformando o
encanto da sua laguna em um grotesco postal com barcos gigantes a poucos metros
do Palácio Ducal.
Assim,
a pedido de Italia Nostra, o
Governo aprovou, para entrar em vigor em janeiro de 2018, a redução gradual do
tráfego dessas mega embarcações, ficando aberto aos navios com menos de 55.000
toneladas. A medida responde a uma das condições impostas pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para evitar que
Veneza fosse eliminada da lista de cidades património da humanidade. Um plano
para que o frágil ecossistema urbano de 455 pontes que unem as 118 ilhas da
cidade não fique à deriva. Também chegou-se a ponderar a possibilidade de frear
o fluxo de turistas em toda a cidade, colocando obstáculos ou cobrando à entrada.
O que não seria estranho, uma vez que os italianos têm que pagar para ter
acesso à maioria das praias. Outra medida que vai ser replicada em Veneza é o
plano especial para acomodação de turistas, que limita o número de camas em
hotéis e apartamentos, que foi iniciada em Barcelona em janeiro de 2017.
Assim, espera-se que estas medidas, ou outras mais
criativas, façam face aos riscos em causa e tornem o turismo mais sustentável.
Lucian Cristian Lipciuc
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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