quinta-feira, março 15, 2018

Museus, turismo e desenvolvimento local - o caso de Belmonte, Portugal

Que benefícios os museus realmente fornecem às populações rurais?
         Nos últimos vinte anos, muitos museus foram criados em áreas rurais do país. A maioria deles foram criados por iniciativa de governos locais que atuam no âmbito das políticas de desenvolvimento rural nacionais e europeias com base na existência de uma suposta correlação positiva entre projetos imobiliários, turismo e desenvolvimento local. Em particular, acredita-se que os projetos de património favorecem o desenvolvimento do turismo e que este, por sua vez, traz benefícios potenciais para as áreas rurais.
Relativamente à contribuição dos museus para o desenvolvimento económico de Belmonte, esta sendo uma pequena cidade rural, tem um número relativamente grande de espaços museológicos, especificamente seis. O turismo se tornou nos últimos anos a principal atividade econômica de algumas entidades, em grande parte devido ao património cultural. Belmonte tem vários monumentos classificados – incluindo, um castelo, uma igreja e uma capela - e também vários espaços museológicos que fazem parte do grupo de "Aldeias Históricas de Portugal". Nesta situação, já na década de 1990, o governo municipal iniciou um processo de "museificação", pelo qual o principal objetivo é construir polos de atracão turística e de negócios para alcançar volume, mas também que se destina a revitalizar a economia local.
O surgimento de museus em Belmonte e o turismo associado ao conteúdo museológico é o resultado da crise na indústria têxtil na década de 1980, que levou o governo municipal a implementar esta estratégia como sendo a solução para remediar o desequilíbrio econômico do município, o turismo e a museologia. Porquê? Porque Belmonte teve e continua a ter património monumental e produtos rendíveis no mercado de turismo, ou seja, Pedro Álvares Cabral e os judeus.
Encaminhados por esta linha de ação política e pelo apoio de fundos públicos nacionais e da União Europeia, entre 2001 e 2009, o governo municipal abriu cinco espaços públicos museológicos em Belmonte, ou seja, o Ecomuseu Zêzere (2001), o Museu do Petróleo (2005), o Museu judaico (2005), o Centro de Interpretação da Igreja de Santiago (2008) e o Museum of Discovery (2009). Através de objetos e dispositivos audiovisuais, todos os espaços museológicos oferecem aos visitantes uma visão sobre um assunto em particular para fins educacionais. Em 2009, também foi aberto o espaço de museu público no Castelo de Belmonte. É um espaço com uma exposição de história arqueológica de Belmonte, com referências à vida da família de Pedro Álvares Cabral no castelo e ao descobrimento do Brasil.
         Desde o início, optou-se pelos museus por duas razões particulares: por um lado, porque o presidente da Câmara Municipal de Belmonte, António Dias Rocha, que passou dez anos no governo, acreditava que a criação de museus trazia renda para o município, fornecendo financiamento público e também servindo os seus interesses políticos e eleitorais, apesar dos protestos de alguns residentes; por outro lado, em 2003, Belmonte foi integrado num programa nacional que promove a criação de projetos turístico-patrimoniais para promover o desenvolvimento rural, nomeadamente o Programa de Aldeias Históricas de Portugal. Além disso, através do programa FEDER, foi possível ter financiamento para vários projetos deste tipo em Belmonte, entre as quais a criação do Museu dos Descobrimentos, a restauração de fachadas e telhados de alguns edifícios no centro histórico e a recuperação do solar da família Cabral, onde os arquivos municipais foram instalados.
Em 2009, o castelo registou cerca de 39.000 visitantes. A maioria destes visitantes do museu são portugueses, espanhóis, franceses, israelenses e americanos. Estes indivíduos de diferentes idades e motivações incluem grupos de amigos, casais sem filhos e, acima de tudo, os alunos em grupos escolares, e tours de idosos (turismo sénior). A maioria, visitam museus na primavera e verão, e não comem ou pernoitam em Belmonte. No entanto, ao longo do tempo, o turismo cultural tem promovido a criação de novos projetos em Belmonte, principalmente restaurantes, mas também alojamento e lojas de artesanato.
A poucos quilômetros de Belmonte existe um hotel e uma Pousada de Portugal, respetivamente, com 53 e 24 quartos, além de um alojamento de turismo rural, com cinco quartos. Do ponto de vista de uma gestão responsável dos museus municipais, eles estão a ter sucesso por várias razões. Por um lado, eles atraem um número crescente de visitantes, atentando também a que o número continuará a aumentar devido à atração da figura de Pedro Álvares Cabral e do descobrimento do Brasil. Por outro lado, os museus têm promovido a criação ou revitalização de produtos vendidos nos espaços museológicos, como potes de mel, doces, óleo, vinho e doces, de fabricantes locais. Ao mesmo tempo, os museus levaram à abertura de um grande número de restaurantes e, portanto, estão oferecendo emprego direto a doze pessoas no município, e ainda trazem mais benefícios para essas empresas através da venda de bilhetes e produtos nos seus estabelecimentos.
Com isto, o objetivo da câmara municipal foi atrair visitantes e aumentar as receitas, levando a indústria do turismo de Belmonte e os seus espaços museológicos a passarem a ser um negócio rendível. Além disso, a criação de museus e outros recursos culturais colocaram valor, por exemplo, no castelo, na Cidade Velha e no antigo bairro judeu, que têm promovido a criação de novos projetos turísticos na cidade e no município, permitindo a diversificação das atividades económicas, criando alguns empregos e aumentando a renda de alguns indivíduos e famílias.

Mara Vanessa Costa Barros

Bibliografia:
https://viagens.sapo.pt/planear/roteiros-planear/artigos/guia-de-viagem-belmonte-a-terra-de-pedro-alvares-cabral

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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