Que
benefícios os museus realmente fornecem às populações rurais?
Nos últimos vinte anos, muitos museus
foram criados em áreas rurais do país. A maioria deles foram criados por
iniciativa de governos locais que atuam no âmbito das políticas de
desenvolvimento rural nacionais e europeias com base na existência de uma
suposta correlação positiva entre projetos imobiliários, turismo e
desenvolvimento local. Em particular, acredita-se que os projetos de património
favorecem o desenvolvimento do turismo e que este, por sua vez, traz benefícios
potenciais para as áreas rurais.
Relativamente
à contribuição dos museus para o desenvolvimento económico de Belmonte, esta
sendo uma pequena cidade rural, tem um número relativamente grande de espaços
museológicos, especificamente seis. O turismo se tornou nos últimos anos a
principal atividade econômica de algumas entidades, em grande parte devido ao
património cultural. Belmonte tem vários monumentos classificados – incluindo,
um castelo, uma igreja e uma capela - e também vários espaços museológicos que fazem
parte do grupo de "Aldeias Históricas de Portugal". Nesta situação,
já na década de 1990, o governo municipal iniciou um processo de "museificação",
pelo qual o principal objetivo é construir polos de atracão turística e de
negócios para alcançar volume, mas também que se destina a revitalizar a
economia local.
O
surgimento de museus em Belmonte e o turismo associado ao conteúdo museológico
é o resultado da crise na indústria têxtil na década de 1980, que levou o
governo municipal a implementar esta estratégia como sendo a solução para
remediar o desequilíbrio econômico do município, o turismo e a museologia. Porquê?
Porque Belmonte teve e continua a ter património monumental e produtos rendíveis
no mercado de turismo, ou seja, Pedro Álvares Cabral e os judeus.
Encaminhados
por esta linha de ação política e pelo apoio de fundos públicos nacionais e da
União Europeia, entre 2001 e 2009, o governo municipal abriu cinco espaços
públicos museológicos em Belmonte, ou seja, o Ecomuseu Zêzere (2001), o Museu
do Petróleo (2005), o Museu judaico (2005), o Centro de Interpretação da Igreja
de Santiago (2008) e o Museum of
Discovery (2009). Através de objetos e dispositivos audiovisuais, todos os
espaços museológicos oferecem aos visitantes uma visão sobre um assunto em
particular para fins educacionais. Em 2009, também foi aberto o espaço de museu
público no Castelo de Belmonte. É um espaço com uma exposição de história
arqueológica de Belmonte, com referências à vida da família de Pedro Álvares
Cabral no castelo e ao descobrimento do Brasil.
Desde o início, optou-se pelos museus
por duas razões particulares: por um lado, porque o presidente da Câmara
Municipal de Belmonte, António Dias Rocha, que passou dez anos no governo,
acreditava que a criação de museus trazia renda para o município, fornecendo
financiamento público e também servindo os seus interesses políticos e
eleitorais, apesar dos protestos de alguns residentes; por outro lado, em 2003,
Belmonte foi integrado num programa nacional que promove a criação de projetos
turístico-patrimoniais para promover o desenvolvimento rural, nomeadamente o
Programa de Aldeias Históricas de Portugal. Além disso, através do programa
FEDER, foi possível ter financiamento para vários projetos deste tipo em
Belmonte, entre as quais a criação do Museu dos Descobrimentos, a restauração
de fachadas e telhados de alguns edifícios no centro histórico e a recuperação
do solar da família Cabral, onde os arquivos municipais foram instalados.
Em
2009, o castelo registou cerca de 39.000 visitantes. A maioria destes
visitantes do museu são portugueses, espanhóis, franceses, israelenses e
americanos. Estes indivíduos de diferentes idades e motivações incluem grupos de
amigos, casais sem filhos e, acima de tudo, os alunos em grupos escolares, e tours de idosos (turismo sénior). A
maioria, visitam museus na primavera e verão, e não comem ou pernoitam em
Belmonte. No entanto, ao longo do tempo, o turismo cultural tem promovido a
criação de novos projetos em Belmonte, principalmente restaurantes, mas também
alojamento e lojas de artesanato.
A
poucos quilômetros de Belmonte existe um hotel e uma Pousada de Portugal,
respetivamente, com 53 e 24 quartos, além de um alojamento de turismo rural,
com cinco quartos. Do ponto de vista de uma gestão responsável dos museus
municipais, eles estão a ter sucesso por várias razões. Por um lado, eles
atraem um número crescente de visitantes, atentando também a que o número
continuará a aumentar devido à atração da figura de Pedro Álvares Cabral e do
descobrimento do Brasil. Por outro lado, os museus têm promovido a criação ou
revitalização de produtos vendidos nos espaços museológicos, como potes de mel,
doces, óleo, vinho e doces, de fabricantes locais. Ao mesmo tempo, os museus
levaram à abertura de um grande número de restaurantes e, portanto, estão oferecendo
emprego direto a doze pessoas no município, e ainda trazem mais benefícios para
essas empresas através da venda de bilhetes e produtos nos seus
estabelecimentos.
Com
isto, o objetivo da câmara municipal foi atrair visitantes e aumentar as
receitas, levando a indústria do turismo de Belmonte e os seus espaços
museológicos a passarem a ser um negócio rendível. Além disso, a criação de
museus e outros recursos culturais colocaram valor, por exemplo, no castelo, na
Cidade Velha e no antigo bairro judeu, que têm promovido a criação de novos projetos
turísticos na cidade e no município, permitindo a diversificação das atividades
económicas, criando alguns empregos e aumentando a renda de alguns indivíduos e
famílias.
Mara
Vanessa Costa Barros
Bibliografia:
https://viagens.sapo.pt/planear/roteiros-planear/artigos/guia-de-viagem-belmonte-a-terra-de-pedro-alvares-cabral
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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