O
país lusitano está num dos períodos mais prósperos de que há memória. À
economia, que vai estabilizando, e à diminuição da taxa de desemprego, somam-se
os prémios e elogios internacionais recebidos um pouco por todas as áreas. Na
área do turismo, pela primeira vez, na cerimónia dos World Travel Awards, o país foi
distinguido como o melhor destino
turístico do mundo. Com um plano até 2020, tem sido o petróleo português. No mesmo
ano, recebeu vinte e três milhões de turistas, mais um milhão do que estava
previsto.
Não
há dúvidas, como afirmou a secretária de Estado na receção do prémio, Portugal
é o país de que se fala! Há uma
crescente procura de todo o tipo de turismo, o tradicional de sol e praia, o cultural,
o religioso, o desportivo, o enoturismo, o de natureza, entre outros. Talvez
como reação a um mundo cada vez mais frenético e à saturação dos espaços urbanos,
o turismo de natureza tem tido uma procura significativa por visitantes
estrangeiros e nacionais. Neste contexto, é no norte de Portugal que está a joia
mais preciosa, o Parque Nacional Peneda Gerês.
As paisagens verdejantes e coloridas, as
inúmeras lagoas de água límpida, o património edificado, o silêncio, o ar puro,
o elemento surpresa quando se é brindado pela presença de animais selvagens
e/ou neve nas serras, as aldeias pitorescas e a forma de ser e de estar dos
seus habitantes fazem deste território um local de eleição, que seduz quem por
lá passa. Seja inverno ou verão, milhares de turistas rumam à área protegida
para usufruir da imensidão do património natural: 115 804 é o número de visitantes,
divulgado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, que
contactaram o PNPG no ano 2017.
Criado
em 1971, o Parque Nacional português é constituído por cinco concelhos: Arcos
de Valdevez, Melgaço, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre. A sua
denominação atesta que existem espécies e ecossistemas pouco ou nada alterados
pelo Homem, visíveis em mais nenhuma região do território nacional, e tem como
principal objetivo a sua preservação. Para além deste estatuto, é ao mesmo tempo
Reserva da Biosfera, constituinte do Parque Natural Transfronteiriço
Gerês-Xurês, e integra ainda a Carta Europeia do turismo sustentável - certidão
atribuída a locais que possuam as condições necessárias para um desenvolvimento
turístico e preservação natural e cultural. O último grande projeto foi
anunciado no início deste ano e consiste na elaboração da Grande Rota Gerês,
que pretende unir todos os concelhos do parque, divulgando e aproximando as regiões
de forma a proporcionar um desenvolvimento do território. Estes elementos aliados
à publicidade que o próprio parque faz de si próprio, juntamente com os concelhos
que o constituem, mostram-nos um projeto aparentemente sólido e eficaz.
Podia
ser tudo isso caso não se verificasse uma crise de identidade. Sem rumo
concreto, o parque oscila entre a imagem de uma reserva intocável da
biodiversidade e um destino turístico sustentável exemplar, resultando em coisa
nenhuma! Uma grande máquina, com um plano muito elaborado, mas distante e incompreensível
para os visitantes, completamente insuficiente no terreno. Com 21 hectares,
Montalegre possui a maior fatia da área protegida. Nele, atuam apenas dois
vigilantes que asseguram o cumprimento das normas de conduta. Sendo por isso
habitual atravessar todo o território sem nos cruzarmos com nenhum. Também a
Porta do Parque deste concelho é obsoleta. Sediada no centro da vila,
encontra-se fora do mesmo e, por isso, não consegue estabelecer uma comunicação
com o visitante de forma eficaz. Ou seja, as medidas estão formuladas e a
divulgação realizada, mas não existem infraestruturas, nem meios capazes de certificar
que as exigências instituídas para visitar o território são respeitadas. Existe
sim um turismo desenfreado, do qual não se retira um aproveitamento
significativo. Nos últimos anos, tem não só saturado os locais, como também põe
em causa todo o património natural existente. A isto junta-se o abandono
generalizado por parte dos residentes, a quem o parque muito exige e que dele
pouco proveito retiram.
O
Parque Nacional português pode ser tudo aquilo que os agentes culturais,
turísticos, florestais e ambientais quiserem, pois nele reside uma imensidão de
potencialidades. Pode inclusive ser um dos pilares para a fixação de pessoas e
motor do desenvolvimento do território, mas para que isso seja possível é
urgente e necessário cuidar, planificar, trabalhar e instituir objetivos claros
e específicos. E, acima de tudo, envolver a população, pois nela reside grande
parte do sucesso dos projetos. De nada servem grandes e boas ideias se não
forem pensadas e implementadas desde a sua base. Infelizmente, o parque
nacional é um exemplo disso mesmo.
Inês
Lopes
Bibliografia:
Ledo,
W. (2018, 15 de fevereiro) 12,7 milhões
de estrangeiros dão ano recorde à hotelaria nacional. Jornal de negócios.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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