Lutchazes, com cerca de 43
mil quilómetros quadrados de extensão, é um dos 9 municípios da província do
Moxico, por sinal a mais extensa de Angola, com 1 habitante por quilómetro
quadrado. É um dos municípios de Angola mais afectado pelas assimetrias
regionais, cujos propalados projetos/planos de desenvolvimento sustentável são
imensuráveis quanto à sua materialização.
Com cerca de 337 km de
distância de Luena (capital da província do Moxico) a Lutchazes, foi um dos
principais palcos de luta para a independência nacional e da guerra civil em
Angola (SERRA, 2000). Atualmente, é notório observar a passividade da pessoa
coletiva pública responsável pela satisfação das necessidades básicas e
essenciais da população, num contexto marcado pela ausência de equipamentos
(escolas, centros médicos, centros comerciais, etc.) e infra-estruturas
(estradas, redes de transportação de eletricidade e água potável, etc.), uma
população privada de direitos e garantias fundamentais (CRA, 2010). Importa lembrar
que o município em tempo de conflito armado, que durou quase 3 décadas, era
considerado território estratégico da força que venceu a batalha que opunha a
UNITA e o MPLA, e que conduziu ao alcance da paz efectiva a 4 de Abril de 2002
(PINTO, 2012).
Localizada numa zona
geográfica de clima tropical húmido, a região tem potencialidades de
desenvolver diversas atividades, como a agricultura, a indústria transformadora
e madeira e, com isto, propiciar rendimento local e gerar um entramado de
serviços e a consequente distribuição da renda local.
Entretanto, ao estabelecer
uma comparação superficial entre Lutchazes e os 8 municípios, notam-se
claramente assimetrias abismais no que concerne as questões de bem-estar e, de
forma geral, a aspetos socioeconómicos pois os indicadores inerentes às realizações
a nível de investimentos. A província, em si, já apenas recebe uma fasquia do
Produto Interno Bruto (PIB) bastante residual, mas ainda assim as verbas
consignadas ao município dos Lutchazes são bastante insipientes tendo em conta
a grandiosidade da província como tal. O modelo de redistribuição da mesma
riqueza no contexto do território é bastante desequilibrado, facto que resulta
na degradante situação da população de Lutchazes, com o declinar substancial
dos índices de desenvolvimento humano.
De entre as principais
causas destaca-se a má formulação de políticas públicas, que não respondem as
necessidades e prioridades reais. Aliás, a construção de aeroportos
internacionais nos municípios do Luau e Moxico, que nunca receberam voos
internacionais, a construção do aviário de Sacassaji e a vala de irrigação no
casco urbano são alguns dos investimentos mal direcionados e concomitantemente sem
retornos e reflexos percetíveis na população. O complexo da paz edificado na capital
da província, equipamento que melhor seria se fosse erguido no município de Lutchazes
por ser o território anfitrião da independência e da paz, onde efetivamente
tombou o líder de uma das forças que se opunham ao longo do conflito armado,
para que deste modo se alcançasse a paz, serviria de atrcção turística para a
região.
Um outro aspecto que faz
espécie é o facto de o município de Lutchazes possuir parte significativa dos
recursos florestais, e não só, a nível da província, cuja exploração,
nomeadamente a madeira, é feita de forma discriminada fundamentalmente pelos chineses,
país com o qual Angola tem enormes acordos de cooperação bilateral pouco
conhecidos pela população em geral, devido ao imperativo da legislação n.º
10/02, de 16 de Agosto, sobre Segredo de Estado, exploração esta que em contrapartida
pouco ou nada injeta nos cofres do estado e, em particular, do respetivo
município.
Ora, a subjugação social
que se assiste naquela região, para além de agudizar as assimetrias regionais e
fragmentar os discursos/objetivos de desenvolvimento sustentável, que de forma
geral são desígnios que os países que fazem parte da Organização das Nações Unidas
(ONU) ratificaram, acarretam enormes consequências que num futuro breve podem descambar
em conflitos étnico e político.
Em síntese, a elaboração de
estudos profícuos e a mobilização dos povos na tomada de uma postura mais
consciente e ativa na escolha de projetos governativos melhor preparados
constituem vias tendentes à inversão do paradigma de desenvolvimento do
município em referência, e é, sem sombra de dúvidas, uma das saídas do marasmo
que assola a localidade, rumo a uma agricultura mecanizada e uma indústria
transformadora moderna, por serem por excelência factores decisivos e objetos
da diversificação da economia local. O setor turístico também pode desempenhar
um papel dado o que o município representa na história de Angola.
Capalo Gabriel Katumbi
Bibliografia
Constituição da República
de Angola (2010)
Lei do Segredo de Estado
(Lei nº 10/02 de 16 de Agosto), da República de Angola
PINTO, Tatiana Pereira
Leite (2012), Dissertação de mestrado Niterói.
SERRA. Carlos (Org).
Racismo, etnicidade e poder – Um estudo em cinco cidades de Moçambique. Maputo:
Ed. Livraria Universitária, 2000.
Webgrafia
http://www.un.org/
http://www.who.int/en/
http://jornaldeangola.sapo.ao/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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