sábado, maio 04, 2019

“Vender” os nossos territórios

O título deste artigo pode induzir a ideia de alienação de propriedade imobiliária. O verbo “vender” implica, na sua interpretação mais tradicional, uma mudança de proprietário, um novo dono para algo. Atualmente, este termo é utilizado em sentido mais lato, quando queremos falar de promoção. É sobre isso que me vou debruçar neste texto - vender o território, promover o território, realçar ou evidenciar as qualidades do território, despertar a atenção para o território.
É inegável o poder da comunicação, da publicidade, a forma como condiciona ou, pelo menos, influencia a perceção das populações sobre determinado assunto. A televisão, a rádio e a imprensa, há muito que tiram proveito da sua capacidade para entrar em casa das pessoas, levando as mensagens que lhes são encomendadas.
Nos dias que correm, a internet veio trazer algumas alterações e uma nova realidade. As redes sociais ocupam hoje um lugar cimeiro enquanto canal de comunicação, sendo talvez a forma mais rápida e acessível de chegar a determinados públicos-alvo.
A necessidade das organizações comunicarem de forma sistematizada, com maior eficácia, tem feito com que, ao longo dos últimos anos, tenha proliferado o número de empresas especializadas nesta matéria - as agências de comunicação. São estas empresas que, grosso modo, desenham e põem em prática as estratégias de comunicação das entidades que as contratam para esse efeito.
A esta nova realidade não ficaram alheios os políticos. Se há alguns anos o recurso a agências de comunicação, nos meios políticos, era um exclusivo dos candidatos a Presidente da República, Primeiro-ministro e, na melhor das hipóteses, aos candidatos à presidência de algumas das maiores câmaras do país, a verdade é que hoje é uma prática generalizada. Atrevo-me a dizer que serão escassos os casos de candidatos a câmaras municipais que não têm ao seu serviço uma empresa de comunicação. Diria até que os candidatos que não recorrem aos serviços destas agências, cada vez mais dificilmente conseguem ganhar eleições.
É também comum que, chegados ao poder, os eleitos mantenham os serviços dessas empresas. Agora já não contratadas para promover o candidato e as suas propostas, mas para organizar e gerir a comunicação do município com os seus munícipes e também com o exterior, promovendo o território, vendendo o território.
Defendo que é essencial a profissionalização da comunicação. Os municípios devem garantir uma boa comunicação, com capacidade de divulgar o que de melhor é feito nos nossos territórios, atraindo visitantes, turistas, investidores e mão-de-obra, contribuindo, assim, para a atração e fixação de população.


As agências de comunicação conseguem alimentar as redes sociais, influenciar os meios de comunicação social, enfatizando o que de melhor acontece e se faz no território. Replicando as notícias através dos vários canais disponíveis, criam no público uma perceção de dinâmicas muito positiva.
No entanto, não sou alheio aos perigos que isto representa. Se, por um lado, é importante esta mensagem positiva, atraindo aqueles que estão fora do território e motivando os que aí se encontram, pode também criar uma ilusão, ofuscando a realidade. Ao funcionar como uma espécie de analgésico, pode-se gerar uma sensação de alívio da dor, mas assim que seu efeito passar, porque passa, verificamos que a maleita continua lá, que o problema se mantém ou, muito provavelmente, se agravou.
O ideal e desejável é que essas empresas de comunicação tenham a capacidade de transmitir e divulgar a realidade, de uma forma positiva e construtiva, sim, mas resistindo à tentação, sua ou de quem as contrata, de criar uma ilusão de realidade.
Apenas trabalhando em cima da realidade podemos adotar medidas corretas, alicerçadas, e caminhar todos no mesmo sentido, o sentido do bem comum.

Jorge Ribeiro

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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