sábado, fevereiro 13, 2021

Dinâmica sociodemográfica de Braga: alguns elementos de explicação

Um dos fenómenos mais marcantes das últimas décadas em Portugal foi o envelhecimento da população, a que se adicionou recentemente um cenário de perda demográfica absoluta. Segundo dados publicitados pela PORDATA, respeitantes a 2019, o nosso país é o 3º da União Europeia com o maior rácio de idosos por jovens.

Uma das implicações mais alarmantes do envelhecimento da população é a perda de sustentabilidade do sistema de segurança social, mas há outras, como o aumento da despesa pública com cuidados de saúde e a perda de dinamismo económico, em razão de potenciais menores propensões à inovação e ao risco.

Por detrás desses fenómenos demográficos estão a redução da fertilidade, o aumento da esperança média de vida e saldos migratórios negativos. Para este último resultado muito têm contribuído as faltas de oportunidades de emprego e de realização pessoal que os jovens vêm enfrentando, que os têm levado a procurá-las fora do país. Pese isso, nem todas as cidades e municípios portugueses sofreram de igual modo as suas consequências, como é evidente conferindo a dinâmica demográfica e dinamismo económico relativos presentes na base de dados Municípios Online, da Marktest.

Daí se pode retirar que, em 2020, numa escala de 0 a 20, Braga (17,8) aparecia como o segundo município do país com maior Dinamismo Demográfico, superado por Sintra (17,9). No Minho, seguiam-se Esposende (31º), V.N. Famalicão (43º), Guimarães (51º) e Amares (79º). No que se refere ao índice Desempenho Global (Ratings Concelhios), Braga situava-se na 4ª posição nacional (13,7), surgindo igualmente nas posições seguintes Esposende (6º) e V.N. Famalicão (27º). Note-se que um melhor posicionamento no índice demográfico não equivale a dizer que um município registou saldos positivos.

Posto o caso de Braga, poder-se-á perguntar porque conseguiu um desempenho positivo. Ser capaz de responder a essa questão é relevante não só para Braga, numa perspetiva de manutenção do rumo, mas, igualmente, para o país, para encontrar políticas que deem resposta aos problemas enfrentados. Não sendo possível aqui ir longe no enunciado de razões que podem explicar esses resultados, ouso fazer as 3 observações seguintes:

i)                só é possível perceber os resultados de Braga se olharmos para a sua evolução numa ótica de longo-prazo, onde estão presentes políticas de solos, de urbanismo e de gestão social e habitacional;

ii)             a implantação na cidade da Universidade do Minho teve igualmente um papel essencial, pelas pessoas e competências que trouxe e pela forma como impactou económica, social e culturalmente a cidade; e

iii)           na conjugação de dados económicos, sociais, culturais e de estratégia urbana, na respetiva projeção em matéria de imagem, Braga foi-se convertendo num centro de acolhimento de populações migrantes, primeiramente, provindas dos territórios adjacentes, e, mais recentemente, do estrangeiro, com destaque para a comunidade brasileira, bem visível na vida da cidade hoje em dia.   


J. Cadima Ribeiro

Professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho


[Artigo de opinião produzido a convite da Revista Spot - 
https://revistaspot.pt/index.php/leia-a-revista/ ]

Sem comentários: