Um dos fenómenos mais
marcantes das últimas décadas em Portugal foi o envelhecimento da população, a
que se adicionou recentemente um cenário de perda demográfica absoluta. Segundo
dados publicitados pela PORDATA, respeitantes a 2019, o nosso país é o 3º da
União Europeia com o maior rácio de idosos por jovens.
Uma das implicações
mais alarmantes do envelhecimento da população é a perda de sustentabilidade do
sistema de segurança social, mas há outras, como o aumento da despesa pública
com cuidados de saúde e a perda de dinamismo económico, em razão de potenciais menores
propensões à inovação e ao risco.
Por detrás desses
fenómenos demográficos estão a redução da fertilidade, o aumento da esperança
média de vida e saldos migratórios negativos. Para este último resultado muito
têm contribuído as faltas de oportunidades de emprego e de realização pessoal que
os jovens vêm enfrentando, que os têm levado a procurá-las fora do país. Pese
isso, nem todas as cidades e municípios portugueses sofreram de igual modo as suas
consequências, como é evidente conferindo a dinâmica demográfica e dinamismo
económico relativos presentes na base de dados Municípios Online, da Marktest.
Daí se pode retirar
que, em 2020, numa escala de 0 a 20, Braga (17,8) aparecia como o segundo
município do país com maior Dinamismo
Demográfico, superado por Sintra (17,9). No Minho, seguiam-se Esposende
(31º), V.N. Famalicão (43º), Guimarães (51º) e Amares (79º). No que se refere
ao índice Desempenho Global (Ratings
Concelhios), Braga situava-se na 4ª posição nacional (13,7), surgindo
igualmente nas posições seguintes Esposende (6º) e V.N. Famalicão (27º).
Note-se que um melhor posicionamento no índice demográfico não equivale a dizer
que um município registou saldos positivos.
Posto o caso de Braga,
poder-se-á perguntar porque conseguiu um desempenho positivo. Ser capaz de
responder a essa questão é relevante não só para Braga, numa perspetiva de
manutenção do rumo, mas, igualmente, para o país, para encontrar políticas que
deem resposta aos problemas enfrentados. Não sendo possível aqui ir longe no
enunciado de razões que podem explicar esses resultados, ouso fazer as 3
observações seguintes:
i)
só é possível perceber os resultados de Braga se olharmos para a sua
evolução numa ótica de longo-prazo, onde estão presentes políticas de solos, de
urbanismo e de gestão social e habitacional;
ii)
a implantação na cidade da Universidade do Minho teve igualmente um papel essencial,
pelas pessoas e competências que trouxe e pela forma como impactou económica,
social e culturalmente a cidade; e
iii) na conjugação de dados económicos, sociais, culturais e de estratégia urbana, na respetiva projeção em matéria de imagem, Braga foi-se convertendo num centro de acolhimento de populações migrantes, primeiramente, provindas dos territórios adjacentes, e, mais recentemente, do estrangeiro, com destaque para a comunidade brasileira, bem visível na vida da cidade hoje em dia.
J. Cadima Ribeiro
Professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho
[Artigo de opinião produzido a convite da Revista Spot - https://revistaspot.pt/index.php/leia-a-revista/ ]
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