terça-feira, setembro 25, 2007

As preferências dos turistas que visitam o Minho-Lima

Alguns territórios procuram tirar partido da sua riqueza em recursos naturais, históricos e etnográficos para, por via do aproveitamento turístico, criarem rendimento e emprego. Contudo, sendo os recursos financeiros e humanos escassos, por norma, qualquer planeamento implica fazer apostas selectivas e, logo, proceder à avaliação de alternativas.
Estando em causa um projecto de desenvolvimento turístico, os recursos existentes podem servir como ponto de partida para a definição de alternativas e, conhecendo a opinião dos turistas sobre aqueles, é possível dispor de uma base sólida para a selecção da alternativa estratégica que melhor se adeqúe aos atributos do território e às preferências dos visitantes.
A análise dos gostos e preferências dos turistas está facilitada quando estão em causa destinos mais ou menos consolidados e recursos turísticos actuais, uma vez que estes apresentam uma procura a partir da qual se pode investigar gostos e preferências. Porém, no caso de destinos emergentes e de recursos potenciais, esta tarefa torna-se mais complicada. Para ultrapassar esse problema, podemos recorrer à análise das preferências declaradas, inquirindo os indivíduos sobre as respectivas escolhas (declaradas), face a situações hipotéticas de consumo.
Foi este tipo de abordagem que foi prosseguido há uns meses atrás, no quadro de uma investigação que, em última instância, visava avaliar até que ponto seria viável pensar a sub-região do Minho-Lima como um (novo) destino turístico. O potencial do território em causa resulta-lhe do valor inquestionável dos recursos que possui, que, entretanto, é sabido não bastarem para configurar um projecto sustentável de aproveitamento turístico.
O inquérito destinado a avaliar a estrutura de preferências dos turistas que visitam ou pretendem visitar o Minho-Lima (isto é, o Alto Minho) foi aplicado entre Maio e Dezembro de 2006. Obteve-se um total de 350 respostas, 74 de turistas estrangeiros e 276 de turistas nacionais.
Os recursos do território foram apresentados aos inquiridos sobre a forma de um conjunto de cartões que pretendiam representar os perfis de atributos/alternativas de escolha disponíveis, sendo-lhes pedido para ordenarem/hierarquizarem o(s) preferido(s). Os inquiridos podiam, assim, ter em conta combinações de níveis de atributos, onde cada possível combinação representava o perfil do destino turístico que poderiam ter em mente quando estabelecessem as suas preferências e seleccionassem o seu destino de férias. O desenho do questionário foi aperfeiçoado mediante a realização de um pré-teste.
De forma muito resumida, dos resultados foram obtidos, constatámos que os recursos a que os turistas atribuíam mais importância eram as Praias Oceânicas e os Parques Nacionais ou de Paisagem Protegida. A esta luz, numa perspectiva promocional, não estando os municípios do litoral inseridos no Parque Nacional da Peneda-Gêres, teriam toda a vantagem em referir que este se encontra enquadrado na sub-região a que pertencem. Do mesmo modo, os municípios que fazem parte deste Parque Nacional deveriam referir que se encontram a X km do litoral e, por essa via, de algum modo, incluir esse recurso na sua carteira de oferta.
Considerada a nacionalidade dos entrevistados, obtiveram-se percentagens de importância dos atributos relativamente semelhantes, salvaguardadas as diferenças que se assinalam de seguida:
i) os turistas nacionais preferem os Parques Nacionais ou de Paisagem Protegida, enquanto os turistas estrangeiros valorizam mais as Serras e Montes; e,
ii) no caso dos Recursos Etnográficos, os nacionais atribuem maior importância à Gastronomia, enquanto os estrangeiros valorizam mais as Festas.
Entre os elementos coincidentes, no que se reporta aos Recursos Naturais-Água, estão a preferência dada às Praias Oceânicas e, no que se refere aos Recursos Históricos, a preferência dada ao Património Arqueológico.
Já no caso do Património Religioso e do Artesanato, considerados os mesmos resultados, dada a pouca importância que lhes foi conferida pelos turistas nacionais e estrangeiros, seria de rever o destaque que lhes vem sendo dado nas estratégias de promoção. Partindo da perspectiva que será desejável que um destino turístico disponha de uma carteira de produtos alargada, parece fazer sentido que sejam tomados como recursos complementares, alternativamente à política actual dos apresentar como dois cartazes de visita do Minho-Lima.Conforme é bem explícito, o território que foi alvo de análise foi o Alto Minho. Posta, entretanto, a similitude de recursos turísticos e de perfil de visitantes que visitam o Alto e o Baixo Minho, crê-se que as ilações que se podem retirar deste estudo sejam em grande medida válidas para o Minho, no seu todo.
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J. Cadima Ribeiro
(reprodução integral de artigo publicado em 07/09/25 no Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna genericamente intitulada "Desde a Gallaecia" - o texto integral da comunicação que trata a matéria em título está disponível, em inglês, no sítio do NIPE, na entrada publicações, actas de conferências, 2007 - http://www3.eeg.uminho.pt/economia/nipe/index_pt.htm)

sexta-feira, setembro 21, 2007

Eurobarómetro: poluição, desemprego e saúde atiram Lisboa para a cauda da UE

Poluição, desemprego e saúde atiram Lisboa para a cauda da UE
«Eurobarómetro analisou a qualidade de vida em 75 cidades, entre as quais Lisboa e Braga: só a última teve bons resultados
As duas cidades apresentaram os mais baixos níveis de satisfação precisamente no mesmo parâmetro: os espaços verdes
As cidades europeias são "lugares cada vez melhores para viver".
Esta é a conclusão de um estudo feito pelo Eurobarómetro, que incidiu em 75 cidades dos 27 países da União Europeia, Croácia e Turquia, cujo objectivo era obter respostas quanto à qualidade de vida nas cidades europeias.
- Os países nórdicos destacamse no ranking, sobretudo no que respeita à segurança dos cidadãos, a qualidade ambiental, aos transportes públicos, aos espaços-verdes e à facilidade de encontrar alojamento de qualidade a preços razoáveis.
Desde Novembro de 2006, a equipa do Eurobarómetro inquiriu quinhentos moradores escolhidos aleatoriamente em cada uma das cidades, entre as quais se contavam duas localidades portuguesas: Lisboa e Braga.
Numa análise geral às vinte e três perguntas feitas a cada um dos inquiridos, são notórias as discrepâncias entre as duas cidades portuguesas. O resultado deu a vitória a Braga, que ficou colocada no primeiro terço na tabela, enquanto que Lisboa se ficou pelos últimos lugares
Nos vários parâmetros em análise, Lisboa apenas ultrapassou Braga em questões relacionadas com os espaços verdes, como parques e jardins públicos, embora ambas as cidades se encontrem no fundo da tabela, no 67° e no 69° lugar - a pior classificação de ambas as cidades portuguesas. No entanto, não existe uma correlação clara com a localização geográfica nem como tamanho da cidade.
Lisboa e Braga ocupam também à segunda metade da tabela no que respeita à facilidade de encontrar emprego e aos serviços de saúde dos hospitais, o que demonstra uma grande insatisfação quanto a dois dos principais factores que contribuem para a qualidade de vida.
Braga conseguiu o seu melhor resultado na facilidade de encontrar alojamentos de qualidade a preços razoáveis. A cidade minhota foi apenas ultrapassada por Leipzig, na Alemanha, e Aalborg, na Dinamarca, enquanto que Lisboa se ficou pela 57ª posição. Já a melhor classificação da capital portuguesa foi um 36° lugar, no que concerne à boa integração dos estrangeiros, embora Braga, também aqui, se tenha voltado a superiorizar claramente, alcançando o 12° lugar.
Quanto a segurança na cidade, Lisboa ficou mais uma vez aquém. Braga detém o 12° posto, enquanto Lisboa ficou novamente no fundo da lista, mais de 50 posições abaixo da cidade nortenha, com um fraco 65° lugar.
Desde a última Auditoria Urbana, realizada no ano de 2003, uma das principais melhorias na Europa prende-se com a satisfação quanto às oportunidades de emprego, que cresceu 9 por cento (para os actuais 41 por cento).»

Helga Costa

(reprodução integral de notícia, datada de 07/09/21, publicado no Jornal de Notícias)

terça-feira, setembro 18, 2007

"Poder de Compra Concelhio - 2005

Poder de compra cai 1/3 em cinco anos face à média
Disparidades da riqueza face à média nacional caíram nas maiores cidades do país

«Em 2000, um lisboeta conseguia adquirir três vezes mais bens do que a média do cidadão português e um portuense tinha capacidade financeira para comprar 2,38 vezes mais itens do que a média nacional. Cinco anos volvidos, quem habita na capital portuguesa apenas consegue comprar 2,16 vezes a média portuguesa, enquanto no Porto supera em 1,64 vezes a média nacional. Os habitantes das duas cidades continuam, ainda assim, a beneficiar de um poder de compra muito acima da generalidade dos portugueses, revela o estudo sobre o "Poder de Compra Concelhio -2005", divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística no final da semana passada.
Significa isto que o poder de compra dos habitantes das duas maiores cidades do país caiu? Não necessariamente. Na realidade, podemos estar na iminência de um aumento do poder de compra do resto do país. O estudo apresentado pelo INE não permite, contudo tirar conclusões sobre esta questão, uma vez que apenas são apresentados dados relativos face à média nacional (representada em base 100). No entanto, permite concluir que no espaço de cinco anos as disparidades de poder de compra "per capita" diminuíram no Continente (de 101,65 para 100,52) e aumentaram nas regiões autónomas, embora nas ilhas permaneça abaixo da média nacional.
Nos Açores, a capacidade de aquisição subiu de 65,51 para 81,66 e na Madeira aproximou-se vertiginosamente da média nacional, ao aumentar de 72,46 para 96,59 entre 2000 e 2005.
Fosso entre ricos e pobres permanece gritante
Se é verdade que o diferencial nos poderes de compra dos portugueses se reduziu, também é um facto que o fosso entre aqueles que têm um maior poder de compra e os que têm uma capacidade financeira muito reduzida continuava a ser muito grande.
Há dois anos, altura em que o crescimento da economia portuguesa foi particularmente frágil, com o PIB a acrescer a um ritmo de apenas 0,5%, dos 308 municípios do país, só em 43 o poder de compra era superior à média nacional. E destes, a maioria abrangia lugares com mais de 10.000 habitantes. Ou seja, o poder de compra mais elevado continua concentrado nos centros urbanos e no litoral. De acordo com a análise do INE, "metade do poder de compra nacional concentrava-se em apenas 20 municípios", em 2005, pertencendo grande parte à Grande Lisboa, Grande Porto ou ao Algarve.
A cidade de Lisboa continua a ser o local onde se encontra o poder de compra "per capita" mais elevado em todo o País, com 216. No entanto, há dois anos ainda era possível encontrar municípios onde o poder de compra se encontra mais de 50% abaixo da média nacional, como é o caso de Resende, Freixo de Espada à Cinta, Terras de Bouro ou Ribeira de Pena, as zonas de Portugal onde os cidadãos apresentam o mais baixo poder de compra.»

Susana Domingues

(reprodução integral de artigo, datado de 07/09/17, publicado em Jornal de Negócios)

quarta-feira, setembro 12, 2007

"Benefícios fiscais no interior"

"Benefícios fiscais no interior"

(título de mensagem, datada de 2007/09/10, disponível em Visto da Economia)

sexta-feira, setembro 07, 2007

quarta-feira, setembro 05, 2007

Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

Assembleia da República

Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território:
Lei n.º 58/2007, D.R. n.º 170, Série I de 2007-09-04
*
(cortesia de Eduardo Oliveira)

sexta-feira, agosto 31, 2007

“Urbanization, Productivity and Innovation: Evidence from Investment in Higher Education”

“During the past fifteen years, Swedish government policy has decentralized post-secondary education throughout the country. We investigate the economic effects of this decentralization policy on the level of productivity and innovation and their spatial distribution in the Swedish economy. We analyze productivity, measured as output per worker at the level of the locality, for 284 Swedish communities during a 14 year period, and innovation, measured by commercial patents awarded in 100 Swedish labor market areas during an 8 year period. These economic outcomes, together with data documenting the decentralization of university- based researchers, permit us to estimate the effects of exogenous changes in educational policy upon increases in productivity and the locus of innovative activity. We find important and significant effects of this policy upon economic output and the locus of knowledge production, suggesting that the decentralization has affected regional development through local innovation and increased creativity. Moreover, our evidence suggests that aggregate productivity was increased by the deliberate policy of decentralization.”

Roland Andersson (Royal Institute of Technology, Sweden)
John Quigley (University of California, Berkeley)
Mats Wilhelmsson (Royal Institute of Technology, Sweden)
Date: 2006-07-13
URL: http://d.repec.org/n?u=RePEc:cdl:bphupl:1068&r=edu

(resumo de “paper”, disponível no sítio referenciado)

segunda-feira, agosto 27, 2007

Consumer perception of Portuguese quality wine and the region-of-origin effect - II

"The main motivation for conducting this research was to bring some more light on the impact of territory information on buyers’ behaviour; in this case, Portuguese wine consumers.
Based on empirical evidence collected through a questionnaire directly implemented in a wholesaler, we could conclude that the dominant factor of influence in the acquisition of wine is the region of origin. Product intrinsic characteristics like colour, age, special references and grape, all have shown not having relevant influence in the decision of the wine consumer, in this case. Also noticeable is that, both, wine specialists and consumers use region of origin as a strong clue to their decision of purchasing or not a certain wine, while the non specialist consumer deposits more interest in the brand.
This way, the empirical research undertaken gives support to the hypothesis that the use of territorial references is a promising strategy to increase the market value of products and sustain differentiation towards competitors.
The regions of Alentejo, Douro and Verde have shown to be the most preferred by the Portuguese consumers. The results obtained through this survey are in line with those of a previous research (FREITAS SANTOS and CADIMA RIBEIRO, 2003). The differences to underline have to do with the inclusion of Verde wine region in the questionnaire, which we didn’t consider in the first study due to not being an ordinary Portuguese table wine, and with o, not valued as hypothesized by the survey respondents. Anyway, to better understand the results we got in this last study, we should keep in mind that respondents were people living in the Verde wine region itself.
The fact just mentioned can be taken as a major limitation of this empirical research, as it doesn’t allows us to generalise the results to the country, as a whole. Another limitation comes from the fact that we collected the answers in a single wholesaler. That means that supplier marketing strategy could, at least at certain level, to have influenced costumers’ choices.
A last comment we would like to add as to do with the option we took of approaching consumers’ preferences through the ones stated by the small retailers. Even if a close relationship between retailers and final consumers exists, we are aware that it is not the same thing."

J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos
[conclusão de comunicação a apresentar em 47th Congress of the European Regional Science Association (Joint Congress of ERSA and ASRDLF) Paris, August 29th – September 2nd, 2007]

quinta-feira, agosto 23, 2007

Universidade e desenvolvimento regional

Quer tomemos como ponto de partida a abordagem funcionalista quer a territorialista, instituições como a Universidade podem ser importantes instrumentos de desenvolvimento, se bem que o sejam mais quando a estratégia tenha uma matriz informadora endógena.
No primeiro caso, a Universidade será assimilável a investimento externo, eventualmente público, dotando o território de um equipamento importante pelos seus impactes em termos de criação de rendimento e de emprego, de estimulo à fixação e desenvolvimento de actividades económicas e à modernização da sociedade.
No segundo caso, a sua importância estratégica é maior já que a Instituição tende a ser vista como um agente da parceria para o desenvolvimento. Um parceiro tanto mais estratégico quanto as rupturas tecnológicas e organizacionais vêm sublinhando a componente criação e partilha de conhecimentos inerente a qualquer projecto de desenvolvimento. Isto é, o conhecimento e a acção associada ao domínio do saber tecnológico e organizacional, do saber e do saber-fazer, são os elementos portadores da diferença entre ganhadores e perdedores da batalha do progresso social do presente.
Estamos, entretanto, a invocar um modelo de Universidade que descolou daquela cujos traços caracterizadores são: i) a criação de conhecimentos, que são armazenados nas bibliotecas; ii) a transmissão de conhecimentos às novas gerações que se vão sucedendo; iii) o carácter elitista da oferta de formação que assegura, que a faz funcionar como filtro social.
Na fase de transição, a Universidade continua a formar as novas gerações mas, também, a intervir na formação continua. A oferta de formação tende a alargar-se e a equilibrar-se com a procura social. As expectativas que a sociedade coloca nas Instituições aumentam, se bem que as barreiras impostas pela estrutura produtiva (em especial, quando constituída por PMEs com restrita participação nas actividades de I&D e uma fraca dotação de técnicos qualificados) possam constituir barreiras ao desenvolvimento da relação da Universidade com o meio.
Esta fase intermédia anuncia o advento de um novo modelo cujos traços essenciais se podem já reconhecer (Massicotte, 2002): i) o conhecimento cria-se através da acção e uma nova partilha de tarefas institui-se entre investigação fundamental e aplicada, investigação e desenvolvimento, inovação e transferência; ii) a formação não está mais a montante da investigação, mas insere-se no próprio processo de criação de conhecimento; e iii) a procura social de formação ultrapassa a oferta, daí o deslocamento do acento da selecção para o sucesso.
O crescimento da procura de acesso à formação superior de que se fala é consequência da crescente proporção de actividades que requerem conhecimentos e aptidões de alto nível. Uma e outra coisa têm origem na aceleração dos avanços científicos e tecnológicos e das respectivas aplicações, numa dialéctica que a UNESCO (1998, p.26) sintetiza como segue: “o acelerar do avanço tecnológico, a obsolescência de algum conhecimento e o aparecimento de novas áreas de conhecimento e novas sínteses conduzem a um processo que, por sua vez, requer mudanças na educação superior”.
Perante esta realidade, o sucesso de uma organização ou de um território depende, cada vez mais, do conhecimento de que dispõem ou são capazes de gerar, num quadro de procura de resposta para as necessidades identificadas. Acresce que, à luz deste modelo societário e deste ritmo de transformação, os saberes dos especialistas esgotam-se rapidamente se não puderem integrar-se em equipas e em redes de criação e divulgação do conhecimento.
Para as Universidades e para os territórios, é um desafio de grande exigência este que lhes é colocado. Adicionalmente, pela natureza do projecto de construção social entrevisto, é um desafio que se vence através de uma estreita congregação de esforços com os demais parceiros do projecto colectivo de desenvolvimento.
J. Cadima Ribeiro

Referências:
- Massicotte Guy (2002), "L’enseignement supérieur et le développement des territoires", Le développement des territoires: nouveaux enjeux, Le Mouvement Territoire et Développement (Ed.), Grideq, Université du Québec, Rimouski, pp. 5-12.
- UNESCO (1998), “Higher Education in the Twenty-first Century: Challenges and Tasks Viewed in the Light of the Regional Conferences”, Word Conference on Higher Education, UNESCO, Paris.
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(artigo de opinião publicado nesta data no Jornal de Leiria, recuperando extractos de um texto já com alguns anos)

terça-feira, agosto 21, 2007

Consumer perception of Portuguese quality wine and the region-of-origin effect

"Region’s specificities such as history, geography and culture can be mobilised to qualify regions` products and confer a competitive advantage to certain products with origin in that region. The returns of a region’s resources depend upon the ability of local firms to appropriate the rents earned and whether consumers value the characteristics of the region that are associated with the product, being disposed to pay a price premium.
In a previous research, using a hedonic price function, which related the price of Portuguese regional wines to its various attributes, we found empirical support to the idea that region of origin matters to consumers, that is, the study showed that some regions of origin had a significant impact on products price. The approach taken was a supply side one, which means we collected prices from different Portuguese retail chains. In this empirical research, we intend to test the same issue questioning directly a certain kind of consumers: those who buy wine to sell it in their small retail shops, restaurants and bars (cafés). Besides the regional designation of origin, other product attributes to be tested are colour, age and special attributes, which all have shown positive effects on price in the previous research."
J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos
[resumo de comunicação a apresentar em 47th Congress of the European Regional Science Association (Joint Congress of ERSA and ASRDLF) Paris, August 29th – September 2nd, 2007]

sexta-feira, agosto 10, 2007

Competitividade territorial: o caso de Leiria (III)

«P: Pensando no forte abandono populacional que se verifica em algumas regiões do nosso País, fruto da procura de oportunidades de trabalho e do mais fácil acesso a educação, cultura, saúde, etc, como deverão posicionar-se estes territórios, alvo de abandono, para contrariarem esta situação e até para se tornarem atractivos?

R: Para se realizarem, as pessoas necessitam de ter oportunidades de trabalho, de formação, de acesso a um conjunto básico de serviços, que vão desde a educação, à saúde, à cultura e ao lazer. Não se pode exigir a ninguém que renuncie a níveis satisfatórias de provisão de tais serviços e, obviamente, ao emprego, que é condição necessária para os adquirir. Ora, sejam actividades privadas, sejam serviços públicos, sempre se impõem determinantes de rendibilidade (privada ou social, respectivamente), o que dita que haja que assegurar mercados (procura) suficientemente dimensionados que justifiquem a iniciativa da oferta. Pequenos lugares ou cidades e populações dispersas geram deseconomias significativas que afastam os operadores privados e oneram para além do comportável a provisão de bens/serviços públicos.
Qual é a saída para evitar o abandono/desertificação dos espaços rurais e para assegurar uma provisão satisfatória de serviços às populações e aos agentes económicos e a própria atractividade de certos centros urbanos e da área envolvente? A saída tem uma resposta que se materializa no conceito técnico de ordenamento, ordenamento do território, ordenamento do espaço rural; ordenamento urbano. Quer-se com isto dizer que há que trabalhar os assentamentos humanos para que certos lugares (cidades) se desenvolvam e possam servir os seus residentes e a população das vilas e aldeias vizinhas em matéria de provisão dos serviços básicos e do emprego de que falo antes, numa organização geográfica que assegure distâncias razoáveis entre os lugares de residência e de trabalho do comum dos cidadãos e os ditos centros de oferta de equipamentos e serviços.
Isto é o contrário de deixar crescer as cidades ao sabor da especulação imobiliária e de acasos de mercado; isto é o oposto de vir a correr, a seguir, dotá-las de equipamentos e serviços públicos cuja oferta se tornou, naturalmente, deficitária. Também é o oposto de transformar o espaço rural numa amálgama de área residencial, território produtivo agrícola e mancha florestal.
E que se pode fazer partindo do cenário actual, dominado pela presença de uma multiplicidade de cidades, quase nenhuma com escala crítica para acolher serviços mais qualificados e, por isso, incapazes de dar resposta a solicitações de ambiência urbana mais exigente de certos grupos sócio-profissionais? Pode-se organizar em rede núcleos urbanos vizinhos, criar conurbações urbanas ou pequenas áreas metropolitanas que, conjugando recursos/equipamentos e gerindo-os articuladamente, possam atingir uma escala de operação que lhes confira a competitividade que cada um, por isso, não terá ao seu alcance.
[...]»

J. Cadima Ribeiro

(extracto de entrevista a incluir no dossiê sobre “Competitividade Territorial”, da edição nº 29 da revista Desafios, NERLEI, a sair em meados de Agosto pf.)

terça-feira, agosto 07, 2007

Competitividade territorial: o caso de Leiria (II)

«P: Leiria é uma clara defensora da localização do novo aeroporto na Ota. Como economista especialista em Economia Regional, está convicto que esta localização vai trazer de facto vantagens competitivas a Leiria? Em que medida?

R: Na entrevista que dei ao Jornal de Leiria a que faz referência numa questão anterior, creio ter invocado uma ideia central no funcionamento dos mercados actuais e que é a de que “num mundo crescentemente global, um consumidor remoto pode ser mais importante que o cliente próximo.” Daqui resulta, como dizia há algum tempo António Câmara, que a acessibilidade (e não a localização) passou a ser o factor decisivo de sucesso económico/empresarial.
Que é que isto tem que ver com Leiria e com a localização do novo aeroporto de Lisboa? Tem que ver na medida em que aquele futuro aeroporto venha a ser o centro logístico de que o país necessita para operar à escala global, de forma mais eficiente; isto é, o aeroporto é importante para Leiria na medida em que as empresas aqui sedeadas visem, preferentemente, os mercados internacionais e desenvolvam modelos de negócio onde o tempo de resposta, a assistência ao cliente e o acesso ao conhecimento e à informação se encontrem entre os principais factores de competitividade em que se amarrem? Se o aeroporto acabar por cair em Alcochete, a situação modifica-se radicalmente? Não! Não porque a acessibilidade de que se fala é capacidade de comunicação, de relação, com o cliente distante e essa capacidade decorre da habilidade de tirar partido económico das tecnologias de comunicação e informação e de “razoáveis” condições de transporte de mercadorias e pessoas, e, pelo menos em relação à segunda componente, as condições actuais já são boas e só podem melhorar (com o comboio de alta velocidade, em concreto). Definitivamente, pensando a infra-estrutura aeroportuária que está em causa, não são mais 30 ou 40 quilómetros para Norte ou para Sul que modificam radicalmente a competitividade de uma região.
[...]»

J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista a incluir no dossiê sobre “Competitividade Territorial”, da edição nº 29 da revista Desafios, NERLEI, a sair em meados de Agosto pf.)

terça-feira, julho 31, 2007

Competitividade territorial: o caso de Leiria

«P: Numa entrevista recente ao Jornal de Leiria disse que “não existe nenhum conceito histórico ou cultural de região associado a Leiria” e referiu ainda que o termo ‘região de Leiria” lhe causava algum embaraço. A muitos leirienses também, pois nunca se sabe muito bem do que se está a falar. Neste contexto, como é que Leiria define um projecto e uma estratégia de competitividade territorial?

R: A pergunta que, há tempos, me foi colocada era difícil, como resulta óbvio desta outra perante a qual estou colocado agora. As respostas só são fáceis se as perguntas feitas o forem. Que é que eu quero dizer com isto? Várias coisas; a saber:
i) primeiro, que os territórios podem ser tomados segundo diferentes escalas, o local, o regional, o nacional, o comunitário, entre outras, e as potencialidades económicas e de organização e eficácia sócio-política destes níveis são distintas, havendo funções e serviços que são mais eficientemente prosseguidos à escala local que regional ou à escala regional que nacional, e assim sucessivamente. Aliás, não é por acaso que a União Europeu inventou o conceito de subsidariedade para defender que cada atribuição em matéria de gestão de recursos comunitários deve ser desenvolvida ao nível em que melhor se garanta a adequação entre a percepção dos problemas que urge atacar e os fins que as políticas visem atingir;
ii) segundo, eu não questiono que exista uma identidade histórica de que Leiria participa, se bem que, segundo julgo saber, não se reconheça no conceito de “região de Leiria”; como disse, entretanto, os laços que tecem uma comunidade não são estáticos, precisam ser regularmente renovados e essa reafirmação faz-se enfeudada às lógicas económicas, político-institucionais, culturais que vão emergindo ao longo do tempo e que, em muitos casos, deixam para trás alguns agentes e comunidades locais. Se se atender à forma como os tecidos económicos se vão renovando e às lógicas de imbricação entre actividades que, em consequência, se vão gerando, perceber-se-á melhor o que quero dizer. Note-se, a título de ilustração, a forma como a decadência de certas actividades arrasta consigo a de certos territórios, e o fulgor que emerge noutros, não raras vezes sem história na actividade motora precedente, decorrente do desenvolvimento de um novo produto ou mercado;
iii) terceiro, as estratégias e os projectos, empresariais ou outros, não existem sem protagonistas. Quero eu dizer, Lisboa pode fazer planos de desenvolvimento para Leiria e território envolvente mas planos não são acção, acção de transformação consequente, e nunca serão desenvolvimento se não tiverem intérpretes regionais e se não responderem às aspirações e motivações desses intérpretes e, supostamente, das populações que eles representam. Isto leva-nos à questão da rede social (se se quiser, de uma elite económica, cultural, política) cuja rede de relações se teça nos limites de uma certa “região de Leiria”, qualquer que ela seja, que existirá ou não.
Endereçando directamente a último parte da questão que coloca, dir-lhe-ei que, se a elite social de que falo não existir, restará a Leiria e ao território onde se inscreve coserem o melhor que souberem os projectos “particulares” que forem capazes de gerar ou atrair, informando-os da racionalidade económica e ambiental que lhes permita assegurar a geração de riqueza, de emprego, e a sustentabilidade ambiental possíveis, buscando a consistência de projecto económico e, sobretudo, político-institucional nas parcerias(alianças) que consigam estabelecer com os espaços contíguos com que mantenham maiores afinidades.
[...]»

J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista a incluir no dossiê sobre “Competitividade Territorial”, da edição nº 29 da revista Desafios, NERLEI, a sair em meados de Agosto pf.)

quarta-feira, julho 25, 2007

Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas

MEMPP
Candidaturas
prazo: 16 de Julho a 31 de Agosto de 2007local: Divisão de Pós-Graduação da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho
documentos: Boletim de candidatura; Cópia da certidão da licenciaturacom as notas discriminadas e de outros graus obtidos; "Curriculum Vitae" detalhado; 2 fotografias tipo passe; Cópia do Bilhete de Identidade; Cópia do Cartão de Contribuinte
matrículas: 1 a 4 de Outubro de 2007
propinas: €1750/ano

domingo, julho 15, 2007

“Urbanization, Productivity and Innovation: Evidence from Investment in Higher Education”

“During the past fifteen years, Swedish government policy has decentralized post-secondary education throughout the country. We investigate the economic effects of this decentralization policy on the level of productivity and innovation and their spatial distribution in the Swedish economy. We analyze productivity, measured as output per worker at the level of the locality, for 284 Swedish communities during a 14 year period, and innovation, measured by commercial patents awarded in 100 Swedish labor market areas during an 8 year period. These economic outcomes, together with data documenting the decentralization of university-based researchers, permit us to estimate the effects of exogenous changes in educational policy upon increases in productivity and the locus of innovative activity. We find important and significant effects of this policy upon economic output and the locus of knowledge production, suggesting that the decentralization has affected regional development through local innovation and increased creativity. Moreover, our evidence suggests that aggregate productivity was increased by the deliberate policy of decentralization.”

Roland Andersson (Royal Institute of Technology, Sweden)
John Quigley (University of California, Berkeley)
Mats Wilhelmsson (Royal Institute of Technology, Sweden)
Date: 2006-07-13
URL: http://d.repec.org/n?u=RePEc:cdl:bphupl:1068&r=edu

(resumo de “paper”, disponível no sítio referenciado)

segunda-feira, julho 02, 2007

Casos de sucesso de produtos do território nos mercados externos

"[...]
A produção de produtos alimentares biológicos ou cultivados segundo métodos tradicionais tem sido a aposta de alguns produtores. Por exemplo, a produção de cerejas de qualidade superior, com um sabor específico, permitiu que um produtor do Fundão vendesse a sua cereja à Ferrero Rocher para os bombons Mon Chéri (EXPRESSO, 2005c), outro de Odemira colocasse os seus morangos à venda na cadeia de supermercados Wal-Mart (EXPRESSO, 2005d), e um outro de Ferreira do Alentejo tenha desenvolvido variedades de uva para consumo, duas delas sem grainha, para comercialização no mercado nacional e inglês (EXPRESSO, 2005e).
O saber fazer português, consubstanciado nas receitas caseiras tradicionais de culinária e doçaria, também parece oferecer algum potencial de exportação. A Chocolame está presente num segmento muito específico, o dos salames de chocolate, que respeitam integralmente as receitas e os métodos de fabrico tradicionais, sendo distribuídos em Portugal e nos Estados Unidos (SEMANÁRIO ECONÓMICO, 2005). Um empresário de Coimbra vende queijadas e pastéis de Tentúgal e de Santa Clara não só na sua rede de pastelarias Vasco da Gama, como numa loja em Salamanca (EXPRESSO, 2005a). Uma pequena empresa de Tavira produz flor do sal, um produto formado nas salinas e que tem características químicas e físicas muito diferentes do sal de cozinha, sendo usado na alta cozinha para dar um paladar requintado aos pratos, em peelings faciais e em tratamentos homeopáticos contra a malária. Os canais de distribuição preferenciais são os hotéis de luxo e as lojas de artigos gourmet de grandes superfícies em Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Suécia, Estados Unidos e Canadá (EXPRESSO, 2005b).
[...]"

J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos

(extracto de comunicação intitulada "Produtos do Território e Internacionalização Empresarial", a apresentar no 13º Congresso da APDR, que decorre na Universidade dos Açores, Angra do Heroísmo, de 5 a 7 de Julho de 2007)

terça-feira, junho 26, 2007

Produtos regionais e desenvolvimento

Desde os anos 80 do século XX que é relativamente consensual entre os estudiosos do desenvolvimento que as grandes empresas não constituem o único motor do crescimento económico. Este resultado decorre, em grande medida, da constatação de que havia/há um número crescente de pequenas empresas de iniciativa local, algumas vezes localizadas em regiões rurais, que laboram produtos regionais de elevada qualidade, que colocam nos mercados nacionais e externos. O sucesso dessas empresas tira proveito, amiúde, da preservação de certas tradições em matéria de produtos típicos desses territórios (produtos regionais), isto é, a diferenciação da sua oferta e a competitividade que conseguem vêm-lhes da singularidade dos produtos que produzem e/ou comercializam.
Quer isso dizer que as especificidades das regiões, associadas às suas histórias, geografias e culturas, podem ser mobilizadas para qualificar os bens e serviços que oferecem. Assim sendo, é expectável que as empresas locais usem as referências territoriais para incrementar o valor dos seus produtos e sustentar a respectiva diferenciação face aos competidores. Para que essa estratégia obtenha sucesso é necessário que a procura, (isto é, os consumidores) valorize(m) a qualidade desses produtos e que, a nível de oferta, haja quem perceba a oportunidade de negócio que esses bens encerram e seja capaz de estruturar o projecto empresarial que a materialize.
Tal também significa que não basta ter ideias. É preciso que as ideias sejam secundadas por capacidade de realização e de estabelecimento de uma estratégia de mercado conveniente. A este nível, note-se que estão longe de ser despiciendas aspectos aparentemente tão elementares quanto o são a embalagem, a etiqueta e a marca que se usam.
Peça basilar neste processo é a possibilidade de tirar partido de Designações de Origem Protegida ou figuras legais similares, que protegem certos produtos típicos regionais de usos abusivos. Essa protecção, aparte impedir a apropriação por operadores externos ao território do produto em causa, garante-lhes a reputação (imagem) junto dos consumidores, ao obrigar os respectivos produtores ao uso dos ingredientes e dos procedimentos de fabrico e de conservação configurados pela tradição.
Um exemplo de aproveitamento comercial de um produto típico de uma das regiões portuguesas é o da Queijos Matias. Este caso também ilustra a relevância da estratégia de negócio e do funcionamento em rede.
A empresa de cariz familiar Queijos Matias, Lda., localizada em Seia, é um pequeno produtor de queijo da Denominação de Origem Protegida (DOP) Serra da Estrela, que comercializa os seus produtos sob a marca Casa Matias, sobretudo. Esta actividade faz parte de uma tradição de família, que há mais de dois séculos se dedica à produção de queijo da Serra.
Este tipo de queijo é produzido a partir de leite de ovelha, por processos tradicionais, o que lhe confere características próprias. Além da preservação dos métodos tradicionais de fabrico do queijo, os rebanhos da empresa são constituídos exclusivamente por ovinos da raça Bordaleira, que é conhecida por ser “a raça nacional de melhor aptidão leiteira”. Todos os dias efectuam a ordenha, da qual é feita uma selecção criteriosa do leite.
O crescimento da empresa tem sido prosseguido através da conquista de pequenos nichos de mercado, baseado na aquisição, em 1992, do certificado de produto oriundo de região com Denominação de Origem Protegida. Hoje em dia, no mercado nacional, a Queijos Matias, coloca a sua produção sobretudo em super e hipermercados (Carrefour, Continente, Makro e El Corte Inglês, entre outros), sob as suas próprias marcas ou as das cadeias retalhistas com que opera. A relação mantida com o Grupo Carrefour, “que comercializa 40% da produção total”, viabilizou que a firma pudesse vender o seu queijo também nos mercados externos, nomeadamente em Espanha, França e Brasil. Actualmente, comercializa o seu produto também nos Estados Unidos, em Itália, no Luxemburgo, na Suiça e no Japão.
Em 2001, na sequência do crescimento do negócio, a Queijos Matias decidiu estabelecer uma parceria com 25 outros produtores da região DOP, por forma a ter acesso à respectiva produção leiteira, o que lhe permitiu alcançar, no ano de 2004, uma produção do queijo Serra da Estrela de 50 toneladas.
Um impulso importante para a expansão da empresa e a divulgação dos seus produtos no mercado internacional foi a participação em várias feiras e concursos internacionais. Além disso, “a Casa Matias foi a primeira empresa portuguesa a aderir ao movimento Caseus Montanus, entidade com sede em Itália e que se dedica a preservar, manter e divulgar os queijos de montanha europeus”.
A diversificação do negócio está a ter lugar através da abertura de uma casa de Turismo no Espaço Rural. Para além de albergar os turistas, a Casa Matias possibilita o contacto com a actividade pastorícia e com o processo de fabrico de queijo.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de divulgação publicado em Diario do Minho (Suplemento de Economia), em 07/06/26)

sábado, junho 23, 2007

Experiências de internacionalização na fileira têxtil e papel do território - II

"[...]
Conclusão
[...].
Os estudos de caso apresentados serviram de pretexto para, de forma muito breve, ilustrar o papel do território de origem da empresa no seu processo de internacionalização.
Cruzando leituras, desses casos, gostaríamos de reter aqui:
i) a base originária industrial destas unidades, mesmo que o desenvolvimento do negócio comercial, com criação de lojas próprias ou em regime de franquia e a aposta na criação de marca própria, sejam, porventura, as expressões mais visíveis dessas organizações, na actualidade, salvaguardada a excepção da Confetil;
ii) a tomada de consciência verificada da estreiteza do mercado doméstico e a aposta consequente na internacionalização, na componente industrial e/ou comercial, com níveis diferentes de exposição;
iii) a crescente importância da externalização, local e internacional, da produção no volume de negócio total das empresas, fenómeno que, para o tecido empresarial do Ave, só é novo na vertente subcontratação e investimento produtivo externo;
iv) o desenvolvimento de carteiras de produtos inovadores, “inteligentes” ou não, explorando novos segmentos de mercado ou introduzindo novas funcionalidades em produtos de uso tradicional, suportado na interacção dos actores empresariais com a rede de agentes dos sistema de inovação e desenvolvimento tecnológico disponível no território e para além deste, de que é exemplo a Lousafil, recentemente, e o foi a Maconde, em particular, em período anterior; e, finalmente,
v) a aposta clara genericamente verificada na sofisticação do produto oferecido e da estrutura de negócio, tirando partido não só da já mencionada competência técnica existente mas, bem assim, da qualificação geral da mão-de-obra desta bacia de emprego."

J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos

(extracto de comunicação intitulada "Território e Internacionalização Empresarial na Fileira Têxtil", apresentada na XXXII Reunión de Estudios Regionales, que decorreu em Ourense, de 16 a 18 de Novembro de 2006)

quarta-feira, junho 13, 2007

Experiências de internacionalização na fileira têxtil e papel do território

"[...]
Criada por três irmãos e localizada em Vila Nova de Famalicão, a Irmãos Vila Nova iniciou a sua actividade na área dos acabamentos têxteis (lavandaria e tinturaria de artigos confeccionados). Tendo começado por ser uma têxtil nacional subcontratada por empresas estrangeiras, perante a consciência do reduzido valor acrescentado e estreita margem de manobra decorrentes desse estatuto, rapidamente os seus promotores decidiram empreender na área de produção de vestuário e na criação de uma marca. Assim surgiu a Salsa. Nessa altura, decidiram também deixar de produzir para intermediários, passando a operar para clientes que detinham já a sua própria carteira de clientes finais (o que ditou maiores exigências ao nível da logística e das operações).
Em 2002, a empresa optou por partir sozinha à conquista dos mercados externos. O processo abrangeu, numa primeira etapa, o mercado espanhol, a começar por Barcelona e Madrid. A preferência foi para a abertura de lojas próprias (exportação directa). Também em 2002 foi adquirida uma empresa industrial em Espanha, a SLS Espanha.
Como forma de reduzir os custos e obter uma maior flexibilidade da oferta, a subcontratação local de uma parte da produção passou entretanto a ser prática corrente. Refira-se, por outro lado, que a empresa recorreu ao apoio de capitais públicos estruturais para projectar a marca no mercado e expandir o seu negócio (JORNAL DE NEGÓCIOS, 2003). O grupo pretende autonomizar a distribuição e o comércio de vestuário (lojas próprias) na SLS Salsa e SLS Espanha. Foi entretanto criado um novo centro de logística com capacidade de envio de 20 milhões de peças/ano. A decisão de construir o novo centro de distribuição teve como objectivo expresso “dotar a empresa de infra-estruturas capazes de dar melhor resposta ao negócio presente e futuro, contribuindo para uma eficaz gestão da cadeia de abastecimentos” (JORNAL TÊXTIL, 2003).
Ao longo de 2004 e 2005, a Salsa expandiu-se para novos mercados, tendo elevado o número de lojas para 50, estando presente em Portugal, Espanha, Luxemburgo e Médio Oriente (Dubai e Qatar).
[...]"

J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos
(extracto de comunicação intitulada "Território e Internacionalização Empresarial na Fileira Têxtil", apresentada na XXXII Reunión de Estudios Regionales, que decorreu em Ourense, de 16 a 18 de Novembro de 2006)

quinta-feira, maio 31, 2007

"Desemprego e disparidades batem recordes em Portugal"

«COESÃO ECONÓMICA E SOCIAL
Desemprego e disparidades batem recordes em Portugal
Em nenhum país da UE o fosso entre ricos e pobres é tão grande

Não obstante ser um dos países mais beneficiados pelos fundos estruturais, orientados para a modernização do País e para a melhoria das condições de empregabilidade, Portugal é o Estado-membro da União Europeia (UE) onde a taxa de desemprego mais se agravou nos últimos cinco anos. Simultaneamente, é o país europeu onde as disparidades sociais são mais acentuadas.
Esta é uma das principais conclusões que se podem retirar do mais recente balanço, ontem apresentado em Bruxelas, sobre o impacto no "terreno" da política de coesão económica e social que tem vindo a ser financiada pelos cofres comunitários nos diferentes países da União.
Numa frase: a política de coesão tem tido um impacto muito mitigado em Portugal, mas a situação no país seria bem pior não fossem os fundos estruturais e de coesão que "inflacionaram" em 2% a taxa de crescimento do PIB - sem eles, a economia teria voltado a contrair-se em 2006 eque geraram, por si, mais de 70 mil postos de trabalho (ver tabela).
De acordo com dados que integram o 4o relatório da Coesão, entre os actuais 27 Estados-membros, metade (14) viram as respectivas taxas de desemprego subir entre o ano 2000 e 2005, mas em nenhum caso a amplitude é comparável à observada em Portugal. Enquanto a taxa de desemprego nos 27 países da UE subiu em média uma décima durante o período em análise, em Portugal o grau de deterioração deste indicador - que Bruxelas assume ser "o sinal mais visível dos desequilíbrios do mercado de trabalho e dos riscos que tal coloca à coesão social" - foi quase quatro vezes superior.
A região Norte, que caiu a pique na tabela europeia de riqueza, é aliás alvo de uma chamada de atenção especial, com Bruxelas a sinalizar que se trata ainda da região europeia mais dependente de emprego nos têxteis (13%) e que, sendo este um sector especialmente vulnerável à concorrência, designadamente da China, é fundamental avançar com "profundas reformas" para evitar uma contínua sangria de emprego.
Esta tendência de agravamento do desemprego não se traduziu, porém, num aumento da população em risco de pobreza (definida como sendo a que aufere menos de 60% do rendimento médio nacional), que se manteve em Portugal em torno de 20%, quando a média europeia é de 16%. Mas, como explica a Comissão, este dado (que, de resto, é também observável em Espanha e na Grécia) resulta do facto de muitos desempregados viverem num agregado familiar onde alguém tem trabalho remunerado, e da circunstância de muitos empregados terem níveis de rendimento modestos, comparáveis ao subsídio de desemprego.
Contas feitas, "na Grécia e em Portugal, ter um emprego é uma garantia mais frágil contra o risco de pobreza do que em todos os outros Estadosmembros, à excepção da Polónia", conclui a Comissão Europeia.
O relatório aponta ainda para o profundo fosso que permanece - e que foi acentuado, ainda que "moderadamente" nos últimos anos entreos mais ricos e os mais pobres: em Portugal, os 20% mais ricos têm rendimentos mais de oito vezes superiores aos 20% que estão no fundo da tabela, ao passo que, em média, na Europa essa medida de disparidade social é de quase metade - 4,9. Segundo Bruxelas, só a Lituânia, Letónia e Polónia apresentam uma distribuição do rendimento comparável, mas, ainda assim, com um grau de disparidade menor do que o observado em Portugal. Política europeia de coesão está a funcionar, mas...
As disparidades de rendimento e de emprego nos países da UE reduziram-se ao longo da última década, mas persistem "importantes défices" entre as franjas menos favorecidas da população e as restantes. Portugal, a par da Suécia e Holanda, são apontados como os países onde as disparidades se acentuaram, ainda que moderadamente, entre 1995 e 2004.
As políticas europeias de coesão têm desempenhado um papel importante na redução da exclusão social e da pobreza ao financiarem, designadamente, a formação de nove milhões de europeus cada ano. Ainda assim, cerca de 16% da população da UE (75 milhões) vive em risco de pobreza, percentagem que sobe para 20% em Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha.
O investimento público tem vindo a cair (de uma média de 2,9% do PIB em 1993 para 2,4% em 2005), em resultado dos processos de consolidação orçamental que estão a ser desenvolvidos em toda a UE. É uma tendência saudável, tendo em conta o desafio do envelhecimento da população, mas tem deixado a política de coesão europeia menos alavancada.
Os fundos comunitários têm ajudado diversos países a melhorar a sua "capacidade administrativa e institucional". Bom exemplo disso, refere a Comissão, é a reforma dos serviços públicos em curso em Portugal que permitiu uma redução, de 60 dias para 24 horas, do tempo necessário para a constituição de uma empresa, e desenvolver a rede de "Lojas do cidadão".

"Torneira" prestes a fechar-se
A comissária da Política Regional, Danuta Hubner, aproveitou ontem a divulgação das conclusões do 4o relatório para lançar o debate sobre o rumo que deverá ser seguido pela política europeia de coesão após 2013, ano em que terminam os "pacotes" comunitários-os QREN - que entrarão este ano em vigor.
O arranque oficial das discussões ficou marcado para um Fórum a realizar em Bruxelas a 27 e 28 de Setembro.
A convicção generalizada é a de que dificilmente será possível manter os actuais níveis de apoio, e que as ajudas terão de passar a concentrar-se nas regiões mais pobres dos países mais pobres - ou seja no Leste, o que significa que a "torneira" dos fundos será muito substancialmente reduzida para Portugal.»

Eva Gaspar

(reprodução de artigo, intitulado "Desemprego e disparidades batem recordes em Portugal", pulicado no Jornal Negócios, em 07/05/31)