O Parque Nacional Peneda-Gerês
(PNPG) foi criado pelo Decreto-Lei nº 187/71, de 8 de maio, com o intuito de
realizar um planeamento capaz de valorizar as atividades humanas e os recursos
naturais dessa área montanhosa do Norte de Portugal. Trata-se da primeira Área
Protegida criada no nosso país e ainda permanece como a única com o estatuto de
Parque Nacional. Mas se com esta classificação se pretendia preservar e
defender esta área das alterações provocadas pela intervenção humana direta, a
verdade é que, inusitadamente, foi também em 1971, através da construção de uma
barragem, que as águas do Rio Homem “engoliram” para sempre a aldeia de
Vilarinho da Furna, levando ao êxodo de 57 famílias.
Vilarinho da Furna era
uma aldeia comunitária milenar situada no sopé da Serra Amarela, em pleno PNPG.
Tal como é típico das populações das regiões de montanha, as suas gentes
enfrentavam o ambiente hostil promovendo diferentes estratégias adaptativas, concretamente,
o povo de Vilarinho, para além de acatar as leis vigentes no território
nacional, tinha também as suas próprias leis internas, que eram
escrupulosamente respeitadas por todos. Havia uma Junta composta por um Zelador
que era acompanhado por seis membros e realizavam-se assembleias semanais com
toda a comunidade. O Zelador era também o juiz de todos os crimes (exceto o
homicídio, por ser da competência dos tribunais) e na aldeia existia um
sentimento de solidariedade que envolvia todo o povo, o qual seguia o lema de “Todos
por Todos”.
A construção da barragem
afogou para sempre a aldeia de Vilarinho e com ela levou os pastos, os terrenos
de cultivo, a paisagem, a herança de tempos imemoriais e de uma forma de
organização comunitária rara e ímpar. Após a submersão da aldeia, que ficou
imortalizada no poema “Requiem”, de Miguel Torga, surgiu o Museu Etnográfico de
Vilarinho da Furna, construído pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, em
1981, e os seus antigos habitantes formaram a associação – AFURNA, com a missão
de defesa do património etnográfico, cultural e ambiental desta zona.
Em períodos de seca
extrema, quem por ali passa consegue vislumbrar o que resta da aldeia fantasma,
nomeadamente os muros e caminhos fortemente romanizados, recordando o preço
pago pela intervenção humana, sob os auspícios da modernidade e do progresso.
Nos últimos anos, provavelmente
fruto do crescente interesse pelo Turismo de Aventura, têm sido organizadas
atividades pontuais de Turismo de Mergulho na barragem de Vilarinho das Furnas,
por entidades especializadas. Quem teve o privilégio de fazer esta viagem no
tempo, refere que nas águas profundas do rio conseguiu sentir uma ligação à
aldeia e ao seu povo. O profundo silêncio e calma das águas, a presença das
ruas quase intactas, dos murados e das árvores outrora frondosas, permitiu
vislumbrar os tempos idos de uma aldeia como já não há mais nenhuma, vivendo
esta experiência como se se tratasse da descoberta de um tesouro.
Parece-nos que um maior
investimento neste tipo de atividade turística-recreativa poderá conformar uma
interessante estratégia de diversificação da oferta turística no PNPG, conciliando-a
com a preservação da memória cultural e etnográfica da aldeia afundada. A
atividade de mergulho, para além de aliar uma certa adrenalina pela atividade
em si, permite uma viagem no tempo e na história e o acesso a um “mundo” desconhecido
para a maioria das pessoas, o que de alguma forma pode ajudar a redimir a perda
de Vilarinho.
Bruna
Ferreira
Webgrafia:
Bibliografia:
Cunha, J. (2017). Turismo, Natureza, Património e
Memória nas comunidades de montanha. Recursos e sustentabilidade no Parque
Nacional da Peneda-Gerês. International
Journal of Scientific Management and Tourism, 3(1), 339-355.
Rodrigues, C.
(2001). Turismo de natureza - O desporto de natureza e a emergência de novos
conceitos de lazer. Disponivel em http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:8Zg0uvVIX7gJ:www.geografia.uminho.pt/uploads/carla.doc+&cd=1&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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