O arquipélago da Madeira é único pelas
suas extensas levadas, localizadas na ilha da Madeira e, em menor número, na
ilha do Porto Santo. As levadas são canais artificiais que permitem o transporte
de grandes quantidades de água, cuja construção na ilha da Madeira teve início
no século XVI, recuando aos primórdios da sua colonização. Muitos destes canais
foram criados ainda antes das primeiras estradas! De facto, uma das profissões
mais antigas da ilha é a do levadeiro, que é o responsável por controlar o
caudal das levadas.
Originalmente, as levadas surgiram com o propósito
de redistribuir a água das serras no Norte da ilha, onde o recurso era
abundante, para o Sul. Para alcançar esse objetivo perderam-se muitos dos homens
que arriscaram as suas vidas trabalhando em penhascos e fazendo túneis que
atravessassem as rochas, com a devida inclinação para que a água fluísse em
direção ao seu destino, ligando o mar às montanhas. Por ser de clima húmido, a
vertente Norte tinha então potencial para abastecer o soalheiro Sul da ilha,
onde não só se encontrava a maior parte da população como também das
plantações. Os canais vieram fornecer água para regar as plantações de cana-de-açúcar,
de banana e ainda de vinha, que mais tarde originaria o emblemático Vinho
Madeira. As levadas mais recentes foram construídas por volta de 1940 e, além de
cumprirem a função de sistemas de irrigação, também fornecem água para as
centrais hidroelétricas.
No presente, estes trilhos espalhados pela
ilha têm uma extensão total de cerca de 3000 km e são elementos importantes da
oferta turística da Madeira, destacando-a no setor do turismo de natureza. As
levadas podem ser percorridas a pé, resultando numa atividade relaxante e
recompensadora, que permite que os visitantes descubram paisagens incríveis ao
longo das suas caminhadas. Tais passeios são muito populares entre os
visitantes e até mesmo os residentes da ilha, por proporcionarem um contacto
direto com a natureza e por cada levada oferecer uma experiência única, dada a
diversidade de trajetos existentes. Estes trilhos são, por vezes, as únicas
vias de acesso a locais isolados, que oferecem uma beleza natural incomparável
e, sem dúvida, merecem a visita.
Por meio das levadas podemos aceder à alma
da ilha, desde as montanhas à floresta Laurissilva. Esta floresta pré-histórica
é a maior do mundo do seu género e possui uma vasta biodiversidade na sua fauna
e flora, tendo sido classificada como Património Natural da Humanidade pela
UNESCO.
As levadas estão integradas em áreas protegidas,
destacando-se o Parque Ecológico do Funchal e o Parque Natural da Madeira.
Sendo propriedade pública, encontram-se acessíveis a todos, contudo, recomenda-se
que os visitantes levem equipamentos adequados e tomem em consideração os
diferentes graus de dificuldade e de extensão associados às várias levadas, aquando
da escolha do percurso a realizar. O principal ponto fraco consiste em que, apesar
de todas as medidas de cautela transmitidas aos visitantes por diversos meios, existe
sempre algum perigo associado a estas atividades.
Outro tipo de percursos pedestres
existentes são as veredas que, embora não sejam acompanhadas por canais de
água, também oferecem o prazer de descobrir as paisagens madeirenses. Os
percursos mais desafiantes atravessam túneis e quedas de água e alguns chegam
mesmo a passar pelos picos mais altos da ilha, o Pico Ruivo e o Pico do
Areeiro, atingindo altitudes até os 1862 metros. Alguns dos percursos
preferidos e mais procurados pelos visitantes são: a levada do Rei, a levada
das 25 Fontes, a levada do Caldeirão Verde, a Vereda Pico
do Areeiro-Pico Ruivo e a Vereda Ponta de São Lourenço.
No fim de contas, tanto através das levadas
como das veredas, é possível apreciarmos o que de melhor a natureza da Madeira tem
para nos oferecer e é importante que tomemos medidas para preservar estes
patrimónios regionais, para que as gerações futuras também os possam vir a
apreciar.
Ana
Raquel Sousa de Azevedo
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
1 comentário:
Boa Raquel muito bem dito.
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