A paisagem singular das encostas do Vale do Douro, de
características xistosas, vem produzindo, há quase dois mil anos, um vinho
excepcional que transpassa o mero dom da natureza, transformando-se em um
patrimônio cultural português onde acumulam-se o trabalho coletivo, as experiências,
saberes e arte de muitas gerações. Além de ser um produto chave para economia
nacional, a produção do Alto Douro Vinhateiro é também uma expressão de
Portugal para o mundo.
São constantes
as descobertas arqueológicas de lagares e vasilhame vinário, como as recém reveladas
pela pesquisa no Vale de Mir, em Alijó, que remontam ao sec. I d.C., de
produção romana, testemunhando a antiguidade da cultura nessa região. No
período medieval, com a instalação de diversas ordens religiosas, principalmente
a dos monges de Cister, houve um grande avanço na qualidade, produção e venda do
vinho, que era feita exclusivamente pelo rio Douro até à foz em Gaia e no
Porto. Os mosteiros de Salzedas, S. João de Tarouca e S. Pedro das Águias são
exemplos dessa produção, que se espalhou por toda a região do Alto Douro
Vinhateiro e hoje abre-se a novas potencialidades, tais como o Enoturismo.
A oferta do Enoturismo no norte de Portugal,
nomeadamente na Região Demarcada do Douro, destacada como a mais antiga região
vinícola demarcada do mundo (a designação de vinho do Porto surgiu na segunda
metade do séc. XVII, diante da expansão da cultura e das exportações) e
reconhecida como Património Mundial pela UNESCO, vem crescendo a cada ano,
segundo dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e
de entidades internacionais tais como a World
Tourism Organization – UNWTO, órgão das Nações Unidas.
A Associação das Rotas do Vinho de Portugal elaborou
um estudo que contou com a colaboração de cerca de 260 unidades de Enoturismo, estimando
um total de 2,2 milhões de visitantes em 2016. Já no Grande Porto foram
registrados cerca de 1 milhão de visitantes/ano nas Caves do Vinho do Porto, em
Gaia, consideradas hoje uma das maiores atrações turísticas dessas cidades.
Através de estudos apresentados pelo Turismo de
Portugal, IP., ainda que não tenha havido um crescimento uniforme, 84% das
empresas de Enoturismo inquiridas nesta pesquisa afirmaram que a procura
aumentou, fazendo com que a base de recepção tenha sido ampliada não apenas no
que diz respeito uma ampla abordagem dos produtos (provas de vinho (32%),
visitas guiadas às instalações (28%) e visitas guiadas às vinhas (16%) como
também na ordenação geral da oferta gastronômica, de hospedagem e dos bens culturais.
Mais da metade dos turistas é nacional (54%), mas também houve um crescimento
dos turistas internacionais provenientes do Reino Unido, França, Brasil,
Espanha, Alemanha e EUA.
Foram identificados pelo Turismo de Portugal, IP.,
mais de 250 adegas, 850 quintas produtoras, 76 caves, 1200 produtores, além dos
museus do vinho e as aldeias vinhateiras, e é imprescindível ressaltar que boa
parte do sucesso do Enoturismo em Portugal deve-se às 11 Rotas dos Vinhos existentes
atualmente, que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento dessa
atividade turística.
Para coroar esse crescimento, a publicação norte-americana
Wine Spectator, uma das mais
prestigiadas revistas na área, considerou em seu ranking dos 10 melhores vinhos do mundo o Dow’s Vintage Porto 2011 como o melhor vinho do mundo em 2014, obtendo
um score de 99/100, além de colocar
outros dois outros vinhos da região do Alto Douro (Chryseia Tinto 2011 e o
Quinta Do Vale Meão 2011) no Top 10 mundial.
Representando um dos melhores produtos nacionais, o Enoturismo
tem todo o potencial latente para ser uma das maiores riquezas do país e
preservar sua história, tradições e patrimônios como uma força conjunta para o
desenvolvimento econômico e social de Portugal.
Maria
de Lourdes Ferreira Calainho
(Artigo de opinião produzido no
âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento
Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS, a funcionar no
2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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