segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Turismo de Voluntariado: pode ajudar Portugal a renascer das cinzas?

Ninguém terá ficado indiferente às imagens que no último ano e, particularmente, as que no trágico dia 15 de outubro entraram pelas nossas casas adentro, através das televisões e dos feeds das redes sociais. Esta foi a segunda situação mais grave de incêndios, depois de Pedrógão Grande, em junho de 2017.
Segundo os dados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), os fogos em Portugal queimaram mais de 400 mil hectares de floresta e povoamentos, de janeiro a outubro, o que corresponde a quatro vezes mais do que a média registada nos dez anos anteriores.
Num ano marcado por mais de uma centena de mortes resultantes dos incêndios, a imagem de insegurança e devastação inviabiliza a dinamização dos distritos afetados enquanto destinos turísticos, uma vez que houve perdas materiais com a destruição parcial ou completa de empreendimentos turísticos e de diversas atrações turísticas, como os percursos pedestres. Por outro lado, também o receio que se fez sentir pelos turistas após estas catástrofes traduziu-se na queda das reservas hoteleiras nas zonas afetadas pelos incêndios. Logo a seguir à tragédia de 17 de junho em Pedrógão Grande, as pessoas cancelaram em massa as férias ou escapadinhas que tinham planeado para aquela zona. Perplexas com os números, impressionadas com o custo em vidas humanas, houve um trauma generalizado.
Os prejuízos dos incêndios florestais interromperam, desta forma, o ritmo de atração de turistas ou visitantes na região. Para que as repercussões sejam minimizadas, é urgente devolver aos mercados a confiança no país. Este trabalho passa pela promoção, mapeamento de áreas seguras e o desenvolvimento da arte de bem receber, permitindo acelerar a recuperação das terras e das gentes, bem como a confiança de potenciais visitantes. A devastação dos locais afetados afasta o turismo mas a criação de atrativos turísticos em torno dos desastres naturais permite potenciar de forma rápida a sua recuperação.
A realidade é que a paisagem negra que impera no centro do país impõe uma recuperação imediata e, até à sua reflorestação. O território só é possível de ser visitado caso se altere o paradigma turístico e se aposte na visita solidária.
No meu ponto de vista, apostar no turismo de voluntariado em tempo de catástrofe nacional é legítimo e necessário. Promover e incentivar o turismo de voluntariado pode ser inclusive uma forma de acelerar a recuperação das paisagens e devolver a esperança a estas populações.
Agora, passado o choque, há que pôr mãos à obra e continuar a ajudar quem precisa. É por isso que hoje, fazer turismo no centro do país, é também um ato solidário. Todos temos de contribuir para que a zona renasça das cinzas.


Cátia Margarida Pereira Caldas

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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