domingo, novembro 25, 2018

Leiria e o Investimento Direto Estrangeiro (2ª parte)

(Continuação)

3 - Alguns empresários já ouvidos pelo Jornal de Leiria dizem preferir pequenas empresas - mas boas - do que grandes grupos. O que pensa disso, numa região onde, de facto, tem existido menos desemprego que em outras zonas do País?
Se olharmos para o desempenho económico da NUT Região de Leiria nas últimas décadas, temos que concordar que não é descabida a consideração que fazem os empresários a que se refere. Olhando para os diversos índices de desempenho que foram divulgados, incluindo uma recente, da Marktest, tratando-se de competitividade, emprego, exportações, o território tem-se situado sempre nas posições cimeiras em termos nacionais. A questão que se pode colocar é se não poderia ter ido mais longe se algum grande grupo económico aí emergisse ou se sedeasse.
Note-se que a formação de grupos económicos não acontece como a mesma probabilidade em todos os setores. A essa luz, questiono-me se o tipo de especialização produtiva industrial do território (moldes, vidro, cerâmica, madeiras, plásticos) não será um óbice à instalação de tais projetos empresariais.

4 - Considera que, por exemplo, o facto de não existir uma boa ligação de comboio entre o aeroporto de Lisboa e a região (Marinha Grande e Leiria, por exemplo), poderá condicionar a vinda de um grande grupo para a região?
As infraestruturas são uma peça central da competitividade e da estratégia de localização de muitas empresas estrangeiras, sobretudo se visam o mercado internacional e/ou se a sua cadeia de produção depende em grande medida de fornecimentos externos. O comboio é e será cada vez mais instrumental nesse acesso aos mercados. Que a situação existente é má, isso é inquestionável. Sem comboio, com o aeroporto e o porto de mar a 120 km, o transporte fica refém da logística rodoviária. Comparativamente com outras regiões do país, por exemplo, Porto, Aveiro, Braga, para não falar de Lisboa, nas acessibilidades, Leiria/a região tem uma posição desfavorável.

5 - Também se fala da falta de massa crítica. Concorda? 
A massa crítica, seja pensada em termos de mão-de-obra altamente qualificada, de estruturas e capacidade de inovação, de capitais financeiros e arrojo empresarial, seja em termos de habilidade para construir plataformas de concertação empresarial e entre atores económicos e sociopolíticos, é um instrumento central na construção de estratégias mais ousadas e sólidas nos territórios. A chegada tardia e algo fragilizada do ensino superior ao território e o desenvolvimento muito recente de alguma capacidade de investigação, aparte a ausência de espírito associativo empresarial e inexistência de uma liderança política visível têm que ser presentes quando se olha para Leiria e se confrontam potencialidades e realizações concretas.

(Continua)

(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)

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