3 - Alguns empresários já ouvidos
pelo Jornal de Leiria dizem preferir pequenas empresas - mas boas - do que
grandes grupos. O que pensa disso, numa região onde, de facto, tem existido
menos desemprego que em outras zonas do País?
Se olharmos para o desempenho económico da NUT Região de Leiria nas últimas
décadas, temos que concordar que não é descabida a consideração que fazem os
empresários a que se refere. Olhando para os diversos índices de desempenho que
foram divulgados, incluindo uma recente, da Marktest, tratando-se de
competitividade, emprego, exportações, o território tem-se situado sempre nas
posições cimeiras em termos nacionais. A questão que se pode colocar é se não
poderia ter ido mais longe se algum grande grupo económico aí emergisse ou se
sedeasse.
Note-se que a formação de grupos económicos não acontece como a mesma
probabilidade em todos os setores. A essa luz, questiono-me se o tipo de
especialização produtiva industrial do território (moldes, vidro, cerâmica,
madeiras, plásticos) não será um óbice à instalação de tais projetos
empresariais.
4 - Considera que, por exemplo, o
facto de não existir uma boa ligação de comboio entre o aeroporto de
Lisboa e a região (Marinha Grande e Leiria, por exemplo), poderá condicionar a
vinda de um grande grupo para a região?
As infraestruturas são uma peça central da competitividade e da estratégia
de localização de muitas empresas estrangeiras, sobretudo se visam o mercado
internacional e/ou se a sua cadeia de produção depende em grande medida de
fornecimentos externos. O comboio é e será cada vez mais instrumental nesse
acesso aos mercados. Que a situação existente é má, isso é inquestionável. Sem
comboio, com o aeroporto e o porto de mar a 120 km, o transporte fica refém da
logística rodoviária. Comparativamente com outras regiões do país, por exemplo,
Porto, Aveiro, Braga, para não falar de Lisboa, nas acessibilidades, Leiria/a
região tem uma posição desfavorável.
5 - Também se fala da falta de massa
crítica. Concorda?
A massa crítica, seja pensada em termos de mão-de-obra altamente
qualificada, de estruturas e capacidade de inovação, de capitais financeiros e
arrojo empresarial, seja em termos de habilidade para construir plataformas de
concertação empresarial e entre atores económicos e sociopolíticos, é um
instrumento central na construção de estratégias mais ousadas e sólidas nos
territórios. A chegada tardia e algo fragilizada do ensino superior ao
território e o desenvolvimento muito recente de alguma capacidade de
investigação, aparte a ausência de espírito associativo empresarial e
inexistência de uma liderança política visível têm que ser presentes quando se
olha para Leiria e se confrontam potencialidades e realizações concretas.
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
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