Numa economia tão inter-relacionada quanto a actual, a origem e as consequências de alguns fenómenos económicos não podem ser circunscritas ao âmbito territorial da sua manifestação inicial. O incremento da mobilidade de trabalhadores e da velocidade de circulação de mercadorias faz com que os mercados regionais de trabalho e de bens e serviços estejam sujeitos às consequências de certos fenómenos, que afectam esses mercados noutros âmbitos territoriais. A constatação deste tipo de inter-relações em certos mercados é particularmente notória entre o Minho e a Galiza (a situação é extensiva ao conjunto da região Norte).
A evolução global da economia da Galiza, as suas dinâmicas sectoriais e as tendências do seu mercado de trabalho são cada vez mais relevantes para entender a situação e evolução de alguns indicadores económicos a Sul do Minho. Esta realidade é cada vez mais evidente no caso de alguns mercados de trabalho, onde os défices de oferta de trabalho num dos lados da fronteira são compensados pelos excessos de oferta que, conjunturalmente, se produzem no outro lado da mesma. A primeira destas situações afectou o mercado dos profissionais de saúde galegos (médicos e enfermeiros) que, desde finais da década de noventa, se incorporaram ao mercado de trabalho Português. A segunda, em sentido contrário, manifestou-se no mercado da construção civil, onde o excesso de trabalhadores, resultante da crise do sector em Portugal, foi parcialmente absorvido pelo mercado da Galiza, muito dinâmico durante os últimos anos e onde a oferta de mão-de-obra em determinado tipo de artes não acompanhou a procura de trabalho induzida pela procura de bens finais.
Estas duas vagas “migratórias” tiveram um forte impacte sobre os mercados regionais de emprego. No primeiro caso, o número de médicos espanhóis (maioritariamente galegos) trabalhando na região Norte chegou a ser perto de 800, enquanto que no segundo algumas estimativas, baseadas em fontes de diversa natureza, revelaram que o número de trabalhadores Portugueses no sector da construção civil na Galiza ultrapassou nalgumas alturas os 40.000. Mais recentemente, têm-se observado outros movimentos com alguma relevância em sentido Sul-Norte, sobretudo no sector da construção naval. A grande carteira de encomendas dos estaleiros galegos para os próximos cinco anos está presentemente a atrair um número crescente de trabalhadores Portugueses.
A inter-relação entre estas economias é também muito relevante no mercado de bens transaccionáveis. Num número crescente de casos, estas trocas comerciais não podem ser categorizadas como simples transacções, esporádicas ou com um carácter mais ou menos estável, dado que incorporam uma considerável componente organizacional, que deriva do grau de integração e compromisso entre organizações independentes, onde o vínculo de fornecimento é um aspecto chave da competitividade empresarial das organizações envolvidas. Estas relações privilegiadas entre empresas de ambos os lados da fronteira são muito frequentes no sector do vestuário e na indústria automóvel e começam a ter alguma importância no sector da construção naval e na indústria alimentar.
Essa crescente inter-relação entre as duas economias regionais é uma fonte de oportunidades e gera uma série de vantagens para a economia, em geral, e para determinados agentes económicos, em particular. No caso do mercado de trabalho, contribui para colmatar a falta de emprego na região de origem e para alargar o mercado de trabalho e evitar, deste modo, as tensões sobre os preços dos factores no mercado da região de destino. No caso dos mercados de bens, por um lado, assegura a viabilidade e promove o crescimento das empresas fornecedoras e, por outro, permite às empresas compradoras garantir o controlo do processo de geração de valor, graças à proximidade geográfico-temporal, adquirir competências que podem não ter à sua disposição de forma imediata e controlar os custos de produção, em resultado do diferencial de preços industriais.
Os aspectos aqui focados justificam uma análise mais alargada das economias regionais com a finalidade de identificar oportunidades e ameaças, clarificar tendências e fluxos, escolher instrumentos de política regional e efectuar previsões a médio e longo prazo. A pseudo-integração de alguns mercados torna-se especialmente relevante quando os ciclos económicos não são coincidentes, dado que permite um melhor ajustamento entre a oferta e a procura. Esta é a situação que se tem vivido nos últimos anos, dado que o crescimento tanto no Minho como na região Norte tem sido marginalmente positivo, enquanto que na Galiza se situou nos últimos três anos no intervalo 3,5-4,1%. A desaceleração da economia da Galiza nos próximos anos parece inevitável, o que limitará as oportunidades de emprego para os trabalhadores Portugueses, sobretudo no sector da construção civil, onde, por exemplo, o número de habitações concluídas tem descido nos últimos trimestres a ritmos superiores a 10%, em termos inter-anuais. No caso da procura de bens transaccionáveis o impacte é mais incerto, dado que num número significativo de casos esses bens são posteriormente re-exportados para terceiros mercados. Em todo caso, convém que os agentes com responsabilidade neste tipo de questões estejam atentos à mudança de tendência e à potencial alteração do padrão de crescimento da economia da Galiza, dado que o impacte económico e social a Sul do Minho poderá ser, à luz do anteriormente exposto, bastante significativo, nomeadamente em termos de incremento do desemprego.
A evolução global da economia da Galiza, as suas dinâmicas sectoriais e as tendências do seu mercado de trabalho são cada vez mais relevantes para entender a situação e evolução de alguns indicadores económicos a Sul do Minho. Esta realidade é cada vez mais evidente no caso de alguns mercados de trabalho, onde os défices de oferta de trabalho num dos lados da fronteira são compensados pelos excessos de oferta que, conjunturalmente, se produzem no outro lado da mesma. A primeira destas situações afectou o mercado dos profissionais de saúde galegos (médicos e enfermeiros) que, desde finais da década de noventa, se incorporaram ao mercado de trabalho Português. A segunda, em sentido contrário, manifestou-se no mercado da construção civil, onde o excesso de trabalhadores, resultante da crise do sector em Portugal, foi parcialmente absorvido pelo mercado da Galiza, muito dinâmico durante os últimos anos e onde a oferta de mão-de-obra em determinado tipo de artes não acompanhou a procura de trabalho induzida pela procura de bens finais.
Estas duas vagas “migratórias” tiveram um forte impacte sobre os mercados regionais de emprego. No primeiro caso, o número de médicos espanhóis (maioritariamente galegos) trabalhando na região Norte chegou a ser perto de 800, enquanto que no segundo algumas estimativas, baseadas em fontes de diversa natureza, revelaram que o número de trabalhadores Portugueses no sector da construção civil na Galiza ultrapassou nalgumas alturas os 40.000. Mais recentemente, têm-se observado outros movimentos com alguma relevância em sentido Sul-Norte, sobretudo no sector da construção naval. A grande carteira de encomendas dos estaleiros galegos para os próximos cinco anos está presentemente a atrair um número crescente de trabalhadores Portugueses.
A inter-relação entre estas economias é também muito relevante no mercado de bens transaccionáveis. Num número crescente de casos, estas trocas comerciais não podem ser categorizadas como simples transacções, esporádicas ou com um carácter mais ou menos estável, dado que incorporam uma considerável componente organizacional, que deriva do grau de integração e compromisso entre organizações independentes, onde o vínculo de fornecimento é um aspecto chave da competitividade empresarial das organizações envolvidas. Estas relações privilegiadas entre empresas de ambos os lados da fronteira são muito frequentes no sector do vestuário e na indústria automóvel e começam a ter alguma importância no sector da construção naval e na indústria alimentar.
Essa crescente inter-relação entre as duas economias regionais é uma fonte de oportunidades e gera uma série de vantagens para a economia, em geral, e para determinados agentes económicos, em particular. No caso do mercado de trabalho, contribui para colmatar a falta de emprego na região de origem e para alargar o mercado de trabalho e evitar, deste modo, as tensões sobre os preços dos factores no mercado da região de destino. No caso dos mercados de bens, por um lado, assegura a viabilidade e promove o crescimento das empresas fornecedoras e, por outro, permite às empresas compradoras garantir o controlo do processo de geração de valor, graças à proximidade geográfico-temporal, adquirir competências que podem não ter à sua disposição de forma imediata e controlar os custos de produção, em resultado do diferencial de preços industriais.
Os aspectos aqui focados justificam uma análise mais alargada das economias regionais com a finalidade de identificar oportunidades e ameaças, clarificar tendências e fluxos, escolher instrumentos de política regional e efectuar previsões a médio e longo prazo. A pseudo-integração de alguns mercados torna-se especialmente relevante quando os ciclos económicos não são coincidentes, dado que permite um melhor ajustamento entre a oferta e a procura. Esta é a situação que se tem vivido nos últimos anos, dado que o crescimento tanto no Minho como na região Norte tem sido marginalmente positivo, enquanto que na Galiza se situou nos últimos três anos no intervalo 3,5-4,1%. A desaceleração da economia da Galiza nos próximos anos parece inevitável, o que limitará as oportunidades de emprego para os trabalhadores Portugueses, sobretudo no sector da construção civil, onde, por exemplo, o número de habitações concluídas tem descido nos últimos trimestres a ritmos superiores a 10%, em termos inter-anuais. No caso da procura de bens transaccionáveis o impacte é mais incerto, dado que num número significativo de casos esses bens são posteriormente re-exportados para terceiros mercados. Em todo caso, convém que os agentes com responsabilidade neste tipo de questões estejam atentos à mudança de tendência e à potencial alteração do padrão de crescimento da economia da Galiza, dado que o impacte económico e social a Sul do Minho poderá ser, à luz do anteriormente exposto, bastante significativo, nomeadamente em termos de incremento do desemprego.
FRANCISCO CARBALLO CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")
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