domingo, março 30, 2008

A Crise do Comércio Tradicional

Está na moda falar do comércio tradicional.
Naturalmente que falar deste sector é falar da crise que este atravessa. Basta percorrer as ruas dos nossos centros urbanos para rapidamente tomarmos consciência da realidade. Lojas históricas fecham, dando lugares a novas, outras permanecem. Se, por um lado, os novos estabelecimentos que vão abrindo, em muitos casos, de “novo” apenas têm a referência à data de abertura, mantendo velhos problemas do comércio tradicional, não é menos verdade que a manutenção de alguns estabelecimentos apenas tem como único objectivo a manutenção dos postos de trabalho dos donos, muitas vezes também proprietários do espaço, retirando o cunho económico pelo qual se deve pautar todo e qualquer estabelecimento comercial.
Os problemas do comércio tradicional são vários, a maioria de fácil identificação mas de difícil resolução.
A eterna questão dos horários de funcionamento é algo constantemente debatido nos noticiários nacionais. Recentemente, foram autuadas algumas superfícies comerciais por se encontrarem abertas para além do período estabelecido na lei. No entanto, mais do que fazer noticia sobre as ilegalidades cometidas por estas superfícies, deve-se tentar compreender, primariamente, o porquê, quais os motivos que as levaram a praticar esta mesma ilegalidade. A identificação da resposta também aqui me parece óbvia. A abertura ao público durante este período compensa financeiramente a despesa para pagamento da coima.
Parece-me claro que este assunto está a ser analisado de um ponto de vista contrário ao que deveria de ser, isto é, é obvio que em vez do ajuste do horário tendo como ponto de referência o praticado pelo comércio tradicional, o padrão deveria de ser o horário praticado pelas grandes superfícies comerciais, o qual se prova ajustado às reais necessidades da sociedade actual, tendo em conta o ritmo de vida existente nos dias de hoje. Mais do que obrigar os consumidores a ajustarem-se a horários rígidos, inflexíveis, a solução passa por ajustar os horários de acordo com as necessidades do seu público-alvo.
No seguimento desta adaptação, surge um outro aspecto. Mais do que a simples questão dos horários, a percepção das necessidades dos consumidores, criando outras tantas pelo caminho é, sem dúvida, a grande mais-valia dos Centros Comerciais. Nestes espaços já se encontra presente a consciência de que o paradigma comercial mudou, sofreu mutações ao longo das últimas décadas. O processo de efectivamente concretizar uma compra deixou de ser a mais importante variável, descendo na hierarquia de valores, ocupando actualmente, em muitas ocasiões, um lugar secundário aquando das motivações para deslocações às superfícies comerciais.
Mais do que um lugar de compras, os novos centros comerciais são espaços de lazer e ócio, onde é possível passear, recriar-se num ambiente fechado, mas pensado ao pormenor, onde a artificialização do espaço é tal que nos transmite segurança e conforto. Actualmente, grande parte das compras são feitas “por impulso”. A criação destes espaços, dando oportunidade ao aparecimento destes impulsos, revela-se, por isso, uma grande mais-valia.
Desta forma, há que destacar as unidades de gestão dos diversos centros comerciais que, apercebendo-se da alteração de paradigma, formataram as suas estruturas, modificando-as, fazendo-as corresponder às crescentes necessidades dos consumidores. Começaram assim a ser trabalhados os aspectos relacionados com o marketing, com a comunicação interna e externa, criando diversos eventos de animação, alterando a estrutura física dos edifícios de forma a satisfazerem a necessidade de lazer, levando inerentemente a um aumento do consumo.
A solução para o comércio tradicional poderá assim passar pelo agrupamento e criação de unidades de gestão profissionalizadas, capazes de mais eficazmente, provocar as alterações necessárias para a sua revitalização comercial. Segundo documento da Câmara Municipal de Coimbra, baseado no investigador Carlos Balsas, é crucial a passagem, por parte dos responsáveis do sector, de comerciantes a empresários, orientando-se por princípios de mercado.
No entanto, é óbvio que, antes da criação de estruturas de gestão, urge a tomada de consciência da necessidade da existência desta unidade por parte dos comerciantes, não devendo este passo ser encarado com desconfiança mas com a humildade de quem reconhece os seus próprios erros, sendo capaz de dar um passo em frente.

Pedro Guimarães
*
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional” do Mestrado em Geografia do ICS/UMinho, edição de 2007/2008)

quinta-feira, março 27, 2008

Conference on Energy, Environment, Ecosystems and Sustainable Development

«Caros Sócios,
Vimos por este meio divulgar o seguinte convite da Universidade do Algarve:
Dear Colleagues,
Please, see attached the announcement for The Special Session in RURAL SUSTAINABILITY in The 4th IASME/WSEAS International Conference on ENERGY, ENVIRONMENT, ECOSYSTEMS and SUSTAINABLE DEVELOPMENT.
We have extended the deadline for your short drafts (four pages maximum) to the 2nd April.
For more information:
Best regards,
Teresa de Noronha»
*
(reprodução de mensagem que me caiu na caixa de correio electrónico ontem, proveniente de APDR - apdr@mail.telepac.pt)

terça-feira, março 25, 2008

Estratégias de articulação e organização territorial para a região Norte

A competitividade territorial é actualmente um objectivo político de primeira ordem. A construção de um território económico competitivo implica assumir a dialéctica que resulta da confrontação entre o global e o local. Neste contexto, a forma de organização do território revela-se como um elemento de uma importância capital. A visão do território como um contentor de recursos desarticulados está actualmente desactualizada. O entendimento do espaço como uma componente neutral, com funções de suporte, não responde aos desafios da racionalidade competitiva dominante. Presentemente, o território assume-se como um factor de competitividade de grande relevância, pelas vantagens em termos de disponibilidade de recursos e de redução de custos que pode chegar a induzir. Obviamente, a dimensão dessas vantagens dependerá, em grande medida, da forma de organização territorial e, sobretudo, da adaptabilidade da estrutura resultante às necessidades internas e às exigências da competição externa.
O modelo territorial da região Norte deve, neste sentido, ser objecto de uma re-configuração, destinada a conseguir uma estrutura mais flexível e adaptativa, que permita uma aproximação directa aos recursos e serviços e uma redução dos custos externos, de acesso e mobilidade e, inclusivamente, de gestão dos serviços comuns. O sistema de planeamento e organização do território que dominou durante décadas as intervenções de política pública e que se construiu à volta do grande centro polarizador, o Porto, contribuiu para a intensificação das assimetrias espaciais, ao retro-alimentar as dinâmicas polarizadoras associadas aos intensos desequilíbrios em termos de dimensão urbana.
Actualmente o território da região Norte caracteriza-se, do ponto de vista espacial, pela existência de seis tipos de áreas: i) a Área Metropolitana do Porto (AMP), que tem o seu centro na cidade do Porto, e que é um espaço predominantemente urbano onde se constatam intensas relações de interdependência funcional interna; ii) uma malha urbano-industrial descontínua, que circunda a referida área metropolitana e que está integrada por cidades de pequena e média dimensão, com algumas funções terciárias, e por contínuos rururbanos, sem funções claramente definidas; iii) uma área de consolidação urbana, a nordeste da área metropolitana do Porto, com dinâmicas territoriais, produtivas e de prestação de serviços tendencialmente autónomas, constituída pelo quadrilátero formado pelas cidades de Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos; iv) os centros polarizadores, que emergem isolados e desarticulados em locais distantes das áreas urbanas enunciadas (nomeadamente no interior Transmontano), e que polarizam os territórios envolventes, atraindo as funções mais qualificadas e o emprego não agrário; v) as áreas de intermediação, onde prevalecem os conflitos no uso dos solos, a escassa dotação de infra-estruturas básicas e os espaços urbanos fragmentados e desqualificados; e, v) as áreas rurais, caracterizadas por uma estrutura económica frágil, cada vez mais dependente das transferências do Estado, pelos baixos níveis de prestação de serviços e pelas dificuldades de articulação com os centros urbanos mais próximos.
A multiplicidade tipológica das áreas definidas e a variedade dos espaços com características urbanas delimitados evidenciam a desadequação das políticas territoriais tradicionalmente implementadas, assentes num paradigma monocêntrico, promovido, em parte, pelo modelo político-administrativo vigente e a desconcentração de competências ao nível territorial, que, paradoxalmente, reproduz o modelo nacional e origina centralização à escala regional. Essas políticas territoriais, que promovem as dinâmicas e vínculos centrípetos e subalternizam os territórios externos ao centro, são manifestamente inapropriadas em contextos espaciais com múltiplas dinâmicas urbanas funcionalmente independentes. A necessária re-configuração territorial deve basear-se, consequentemente, num policentrismo adaptado, assumindo um conceito de centro mais vasto, retirando-lhe parte do seu conteúdo geográfico e potenciando o seu significado funcional. Esse modelo policêntrico deve definir-se, pelo menos parcialmente, por oposição aos modelos monocêntrico e difuso, dado que o primeiro estabelece uma hierarquia espacial muito rígida, que abafa as dinâmicas alheias ao centro dominante, e o segundo assume tacitamente a ausência de hierarquia espacial, reduzindo as vantagens derivadas da diferenciação dos territórios.
As estratégias territoriais para a região Norte devem combinar a coesão e a competitividade territorial. A implementação dessas estratégias implica assumir o diagnóstico anterior e definir, consequentemente, áreas funcionais consistentes em termos de dimensão, conectividade, actividade económica e atractividade, e em termos de partilha institucional e de experiência no desenvolvimento de projectos comuns. A criação de estruturas organizativas nessas áreas funcionais, para a implementação de políticas e o desenvolvimento de projectos, seria um grande avanço para a consolidação de um modelo territorial de base policêntrica. Sem dúvida, este seria muito mais adequado para potenciar a competitividade territorial de espaços como o quadrilátero de desenvolvimento Braga-Guimarães-Famalicão-Barcelos, ao permitir a definição de objectivos e estratégias territoriais mais apropriados e ao garantir uma tomada de decisões mais descentralizada e autónoma.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
*
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

segunda-feira, março 24, 2008

"Minho: Portagens Contestadas"

Portagens contestadas
"Tratando-se da única alternativa, deveria haver mais cuidado com a EN103, mas o que vemos são obras constantes. Um infindável número de pontos de estrangulamento à normal circulação. Obrigam mesmo a optar pela auto-estrada", afirma José Queirós, um dos contestatários ao modelo de portagens em vigor.
Aprofundando o estudo sobre as despesas que os minhotos têm de suportar, Pedro Morgado pegou na máquina de calcular "As contas são fáceis de fazer. Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma auto-estrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 euros. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 euros".
A aproximação de eleições deverá trazer o assunto de volta às agendas partidárias, mas para já os políticos não aprofundam a questão.
*
(reprodução de mensagem de correio electrónico recebida nesta data, proveniente de joaosousabraga@gmail.com)

sábado, março 22, 2008

Special session on the governance of rural areas and agrofood systems (48th Congress of the ERSA, Liverpool 27-31 August 2008)

«Announcement :
After Paris2007, André Torre and Jean-Baptiste Traversac are organising a special session focusing on the governance of rural areas and agrofood systems.
The renewal of the rural territories recombines their social structure. Inside these sphere bilateral agreements, agricultural markets, organizations, firms and all others significant institutions are affected and redesigned by the economic changes induced by external and internal pressures. On one side, the food systems are under constant changes on their periphery (i.e. in their relation with the other rural spheres) but also in their core activities. Labor profiles, technical changes, forward and backward partnerships are in permanent evolution involving new organizational paradigms. On the other side, the industrial, residential and transport infrastructures are generating lots of positive and negative externalities on agriculture and environment. Contributors will present theoretical and empirical findings on the new trends of the rural and regional agricultural developments.
Your communications on the following emphases are particularly welcome:
(1) Norms and rules frameworks in rural territories
(2) Networks of innovators inside the agrifood systems
(3) Food market policies at a regional scale
(4) Local supports for the renewal of agricultural practices
(5) Geographic indications, international comparisons
(5) Tools for Sustainable Development in rural areas
(6) Land use conflicts
(7) Agricultural proximities
For registration, please send your abstract to:
André Torre at torre@agroparistech.fr
and J.B. Traversac at
before April the 25th
Liverpool 2008 Special Session
Territorial Governance, Rural Areas and Agrofood Systems
48th Congress of the European Regional Science Association
Liverpool, 27 – 31 August 2008
--
Sylvie Rouleau
UMR SADAPT,
Agroparistech
16 rue Claude Bernard
75231 Paris cedex
http://www.versailles-grignon.inra.fr/sadapt/equipes/proximites »
*
(reprodução integral de mensagem de correio electrónico recebida ontem, com a origem que se identifica)

quinta-feira, março 20, 2008

IV Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional

IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

IV INTERNATIONAL SEMINAR ON REGIONAL DEVELOPMENT


Santa Cruz do Sul - Rio Grande do Sul - BRASIL

UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL - UNISC

22, 23 e 24 de Outubro de 2008

TEMA CENTRAL

GESTÃO TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: A AGENDA POLÍTICA E DE PESQUISA


EIXOS TEMÁTICOS

    1. Refletindo sobre a agenda de pesquisa em gestão territorial e desenvolvimento regional
    2. Gestão territorial, conflitos ambientais e desenvolvimento

3. Gestão territorial e desenvolvimento urbano e regional: Exigências e obstáculos da governança multinível

Evento “A Internacional” Qualis CAPES - Comitê Planejamento Urbano e Regional/Demografia

Contatos: sidr4@unisc.br / marcos.ferreira@pq.cnpq.br

*

(reprodução integral de mensagem de correio electrónico recebida hoje, proveniente de danielac@unisc.br)

quarta-feira, março 19, 2008

"Minho: As Portagens Mais Caras do País"


Os minhotos que diariamente se deslocam pela A11 entre Braga e Guimarães para trabalhar pagam mais 120 euros/ano em portagens do que os residentes da área de Lisboa.
As contas são fáceis de fazer: Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma autoestrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 €. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 €.
Em cada viagem de idêntica distância, os habitantes das duas maiores cidades do Minho desembolsam mais 0,20 € por cada 14 quilómetros de viagem. Assim, se um minhoto trabalhar 300 dias por ano na cidade vizinha, terá que pagar às Concessionárias e ao Estado Português mais 120 euros do que um lisboeta em idêntica situação.
-
Retirado do blogue Avenida Central
É esta a coesão nacional do nosso Governo?
Vamos continuar a pagar mais do que os outros?»
*
(mensagem que me caiu na caixa de correio electrónico ontem, proveniente de joaosousabraga@gmail.com)

terça-feira, março 18, 2008

Conference Announcement: The Right to the City: New Challenges, New Issues. 11.10 - 15.10 2008

«ESF-LiU Conference
The Right to the City: New Challenges, New Issues
Chaired by Prof. Bernard Jouve, University of Lyon
Dates: 11.10 - 15.10 2008
Location: Vadstena, Sweden
Some grants are available for young researchers to cover the conference fee and travel costs.
Further information: www.esf.org/conferences/08264
or Ms. Anne Blondeel-Oman (ablondeel@esf.org
*
(reprodução integral de mensagem de correio electrónico recebida nesta data, com a proveniência que se identifica)

sexta-feira, março 14, 2008

RPER: memória

Revista Portuguesa de Estudos Regionais N.º 03

"Um Contributo para a Delimitação da Área Metropolitana do Noroeste de Portugal"
Autor: Rui António Rodrigues Santos ; António Nelson Rodrigues Silva - Resumo
"Política de Inovação: Filiação Histórica e Relação com as Políticas de Desenvolvimento Territorial"
Autor: Domingos Santos - Resumo
"Matriz Input-Output e Comércio Inter-Regional da Região Centro (Portugal)"
Autor: Ana Lúcia Marto Sargento ; Pedro Nogueira Ramos - Resumo
"Factores de Macrolocalização dos Centros Comerciais em Portugal"
Autor: J. Cadima Ribeiro ; J. Freitas Santos - Resumo

terça-feira, março 11, 2008

Turismo no espaço rural e desenvolvimento local

Num dos trabalhos académicos que foram pioneiros em Portugal no tratamento da temática do Turismo no Espaço Rural (TER), escrevia eu em Outubro de 1991 que era usual esperar-se do desenvolvimento desta actividade contributos em termos de: i) redução de excedentes (agrícolas) de produção; ii) retenção da população rural; iii) incremento do rendimento das famílias rurais; iv) obtenção de uma economia mais diversificada; e v) protecção do meio rural.
Alguns destes contributos antecipados mereceriam tratamento mais detalhado. Deixemos essa análise para futura oportunidade para, sumariamente, nos concentrarmos no enunciado das dificuldades que subsistem. Antes, porém, talvez valha a pena voltar ao estudo de há 17 anos para reter duas das suas conclusões: uma primeira que sublinhava “a redescoberta operada ao longo das décadas mais recentes da atracção pela natureza por parte das populações citadinas”; e uma segunda onde se enunciava “a confirmação da existência de potencialidades a aproveitar e de um mercado que se vem alargando”.
Que o turismo é hoje em dia um dos sectores que mais forte impulso vem dando ao crescimento económico em muitos lugares, da Europa ao Norte de África, do Sudeste Asiático à América do Sul e Central, disso não restam dúvidas. Entretanto, ao mesmo tempo que movimenta anualmente milhões de pessoas e de euros, o turismo surge, amiúde, como fortemente delapidador de recursos naturais e de património e identidade dos territórios.
Pela sua natureza de produto ligado à valorização económica de patrimónios culturais, arquitectónicos e paisagístico-ambientais, o TER tem que tomar particular cuidado com a preservação dos recursos que lhe dão o seu potencial. Dito de outro modo, no turismo existe um paradoxo que é necessário levar em devida conta: quanto mais atractivo é um produto e um destino turístico maior é a probabilidade de sofrerem impactes negativos pela respectiva excessiva exploração. Isto que é válido para qualquer manifestação do fenómeno turístico, é-o ainda mais para o produto turístico aqui em análise.
Em Portugal, o Turismo no Espaço Rural surgiu em termos experimentais no ano de 1979, em dois ou três locais, ente os quais Ponte de Lima. Foi regulado em 1986 através do Decreto-Lei n.º 256/86, de 27 de Agosto. As modalidades que passaram então a compor o TER eram: o Turismo de Habitação; o Turismo Rural e o Agroturismo. Mais tarde, a estas modalidades vieram juntar-se as Casas de Campo e os Hotéis Rurais.
O recente desenvolvimento deste produto encontra explicação na necessidade de retorno a vivências mais naturais, mais humanizadas das populações urbanas, assim como na procura de recreação e lazer por parte daquelas. O primeiro problema é que, nesta nova definição da função do espaço rural, as actividades agrárias quase não cabem, e essa é uma dimensão essencial para preservar o ambiente, a paisagem típica e a identidade rural desses espaços. A incapacidade do sector agrícola de oferecer níveis de rendimento satisfatórios a quem dele vive, se, por um lado, leva a que as populações procurem fontes de rendimento complementares e/ou alternativas, como é o TER, representa, por outro lado, um enorme risco.
Ao disponibilizar alojamento em pequenas localidades, o TER permite que os turistas deixem de ser aí, necessariamente, turistas de passagem, mas o turista dificilmente abandonará tal estatuto se não encontrar nesses lugares outros produtos e serviços, como a gastronomia, o artesanato, as belezas naturais e manifestações culturais de diversa índole, incluindo as tradicionais. Ora estes recursos e serviços podem não existir ou não serem oferecidos de modo permanente. Se assim for, importa assegurar a oferta dos produtos e serviços que se revelem necessários para dar sustentabilidade à vocação turística do território por via da cooperação entre operadores turísticos ou entre estes e outras entidades, públicas e privadas.
As problemáticas antes enunciadas são apenas amostra da dificuldade do projecto de elevação de alguns espaços rurais a destinos turísticos; são amostra de dificuldades vividas por lugares bem próximos daqui. Se quisermos pôr nomes, podemos chamar-lhes Povoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Arcos de Valdevez, Paredes de Coura, Caminha, etc., para não mencionar já Ponte de Lima.
Seguindo Francisco Diniz (1999), são (eram) quatro as fraquezas maiores do turismo rural; a saber: i) ao turismo rural são afectadas funções anti-económicas, como a função de solidariedade e de protecção do património, ao invés da função de redistribuição de possíveis mais-valias económicas; ii) subsiste uma relativa indefinição das tendências do mercado; iii) persiste uma evidente inexistência de estruturas de suporte à comercialização e distribuição do produto; e, do mesmo modo, iv) é inquestionável a falta de profissionalismo de muitos dos operadores existentes (e dos actores que intervêm na promoção do produto).
Padecendo de todos esses males e dificuldades, porque alguns ainda persistem, o TER permanece mais promessa que realidade em termos de resultados em matéria de desenvolvimento local.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

sexta-feira, março 07, 2008

Sítio do 14º Congresso da APDR - Tomar, Julho de 2008

«Caríssimos Sócios:
Vimos informar que se encontra on-line o site do 14º Congresso da APDR/2º Congresso de Conservação e Gestão da Natureza.
Poderão visitar-nos em http://www.apdr.pt/congresso/2008/

Com os nossos melhores cumprimentos,
Rita Azevedo
*****************************************************
Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regional
Praça D. Dinis - Colégio S. Jerónimo Apartado 3010
3001-401 COIMBRA
telf.:239 836 068 / fax:239 820 750
e-mail:apdr@mail.telepac.pt
web:www.apdr.pt»


(reprodução integral de mensagem recebida entretanto, com a proveniência que se identifica)

quinta-feira, março 06, 2008

Produtos regionais e desenvolvimento

Desde os anos 80 do século XX que é relativamente consensual entre os estudiosos do desenvolvimento que as grandes empresas não constituem o único motor do crescimento económico. Este resultado decorre da constatação de que há um número crescente de pequenas empresas de iniciativa local, algumas vezes localizadas em regiões rurais, que laboram produtos regionais de elevada qualidade, que colocam nos mercados nacionais e externos. O sucesso dessas empresas tira proveito, amiúde, da preservação de certas tradições em matéria de produtos típicos desses territórios (produtos regionais).
Quer isso dizer que as especificidades das regiões, associadas às suas histórias, geografias e culturas, podem ser mobilizadas para qualificar os bens e serviços que oferecem. Assim sendo, é expectável que as empresas locais usem as referências territoriais para incrementar o valor dos seus produtos e sustentar a diferenciação face a competidores. Para que essa estratégia obtenha sucesso é necessário que os consumidores valorizem a qualidade desses produtos e que, a nível de oferta, haja quem perceba a oportunidade de negócio que esses bens encerram.
Tal também significa que não basta ter ideias. É preciso que as ideias sejam secundadas por capacidade de realização e de estabelecimento de uma estratégia de mercado conveniente. A este nível, note-se que estão longe de ser despiciendas aspectos aparentemente tão elementares quanto o são a embalagem, a etiqueta e a marca que se usam.
Peça basilar neste processo é a possibilidade de tirar partido de Designações de Origem Protegida ou figuras legais similares, que protegem certos produtos típicos regionais. Essa protecção, aparte impedir a apropriação por operadores externos ao território do produto em causa, garante-lhes a reputação junto dos consumidores, ao obrigar os respectivos produtores ao uso dos ingredientes e dos procedimentos de fabrico e de conservação configurados pela tradição.
Um exemplo de aproveitamento comercial de um produto típico de uma das regiões portuguesas é o da Queijos Matias. Este caso também ilustra a relevância da estratégia de negócio e do funcionamento em rede.
A empresa de cariz familiar Queijos Matias, Lda., localizada em Seia, é um pequeno produtor de queijo da Denominação de Origem Protegida (DOP) Serra da Estrela, que comercializa os seus produtos sob a marca Casa Matias, sobretudo. Esta actividade faz parte de uma tradição de família, que há mais de dois séculos se dedica à produção de queijo da Serra.
Este tipo de queijo é produzido a partir de leite de ovelha, por processos tradicionais. Além da preservação dos métodos tradicionais de fabrico do queijo, os rebanhos da empresa são constituídos exclusivamente por ovinos da raça Bordaleira, que é conhecida por ser “a raça nacional de melhor aptidão leiteira”. Todos os dias efectuam a ordenha, da qual é feita uma selecção criteriosa do leite.
O crescimento da empresa tem sido prosseguido através da conquista de pequenos nichos de mercado, baseado na aquisição, em 1992, do certificado de produto oriundo de região com Denominação de Origem Protegida. Hoje em dia, no mercado nacional, a Queijos Matias, coloca a sua produção sobretudo em super e hipermercados (Continente, Makro e El Corte Inglês, entre outros), sob as suas próprias marcas ou as das cadeias de distribuição com que opera. A relação mantida com o Grupo Carrefour, que até há pouco tempo comercializava 40% da produção total, viabilizou que a firma pudesse vender o seu queijo também nos mercados externos, nomeadamente em Espanha, França e Brasil. Comercializa o seu produto, ainda, nos Estados Unidos, em Itália, no Luxemburgo, na Suiça e no Japão.
Em 2001, na sequência do crescimento do negócio, a Queijos Matias decidiu estabelecer uma parceria com 25 outros produtores da região DOP, por forma a ter acesso à respectiva produção leiteira, o que lhe permitiu alcançar, no ano de 2004, uma produção de 50 toneladas.
Um impulso importante para a expansão da empresa e a divulgação dos seus produtos no mercado internacional foi a participação em várias feiras e concursos internacionais. Além disso, “a Casa Matias foi a primeira empresa portuguesa a aderir ao movimento Caseus Montanus, entidade com sede em Itália e que se dedica a preservar, manter e divulgar os queijos de montanha europeus”.
J. Cadima Ribeiro
*
(artigo publicado na edição de hoje do Jornal de Leiria)

sábado, março 01, 2008

The vision must be followed by the venture

"The vision must be followed by the venture. It is not enough to stare up the steps - we must step up the stairs."

Vance Havne

(citação extraída de SBANC Newsletter, February 26, Issue 508-2008, http://www.sbaer.uca.edu)