segunda-feira, abril 26, 2021

“Fatores de atração do turismo no Norte de Portugal: uma abordagem exploratória”

Resumo | No Norte de Portugal e, particularmente, na cidade do Porto, no período anterior à crise sanitária COVID-19, o turismo mostrou-se uma atividade chave na promoção do desenvolvimento económico. O propósito deste estudo foi identificar os fatores que atraem ou condicionam a atratividade turística deste território, contribuindo desta forma para identificar alguns aspetos críticos a manter presentes em futuras ações de planeamento do turismo. No tratamento dos dados secundários usados nesta investigação utilizaram-se métodos estatísticos vários, como regressões lineares múltiplas, análise da variância (ANOVA) e modelos para tratamento de dados em painel. O período de análise é o que medeia entre 2003 e 2017 e as fontes principais de dados foram o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Sales Index (2018), da Marktest. No processo de investigação, partiu-se de uma pesquisa da literatura sobre a atratividade turística dos territórios. Os resultados indicam como fatores que atraem o turismo a oferta de alojamento turístico, a existência de galerias de arte e museus, o nível de rendimento dos municípios, e o facto de o município integrar determinadas rotas turísticas, como os Caminhos de Santiago ou a Rota dos Vinhos Verdes, enquanto que o índice de criminalidade contra as pessoas tinha o efeito de repelir os visitantes.

Palavra-chave | Fatores de atração do turismo, Turismo e desenvolvimento local, Planeamento da atividade turística, Municípios do Norte de Portugal.

CAIO MARTINS  [caio-gmartins@hotmail.com]

JOSÉ CADIMA RIBEIRO  [jcadima@eeg.uminho.pt]


(Resumo de artigo entretanto publicado em Revista Turismo & Desenvolvimento, N. 35, 2021, págs. 53-75 - https://proa.ua.pt/index.php/rtd/issue/view/778) 

sábado, abril 24, 2021

TURISMO NA ILHA DE PORTO SANTO, MADEIRA

O turismo é o setor mais importante da economia regional na Região Autónoma da Madeira. Em 2014, a sua contribuição para o VAB total era de quase 21% e cerca de 20% do emprego total do arquipélago, com um impacte induzido considerável nas economias gerais e efeito de transbordamento em outros setores. O meio ambiente e a paisagem, bem como a natureza distinta da região são cruciais para o turismo. O turismo na Madeira tem uma tradição centenária e o arquipélago é um dos principais destinos turísticos em Portugal.

O seu clima subtropical ameno e sua excecional variedade de fauna e flora indígenas faz da ilha um destino turístico durante todo o ano. A paisagem e o clima são os dois principais atributos das campanhas promocionais. A região é conhecida pelo Vinho Madeira, gastronomia, valor histórico e cultural, sua flora e fauna, paisagens (Floresta Laurissilva), que são classificados como Patrimônio Mundial da UNESCO, e até mesmo os bordados típicos. As celebrações anuais de Ano Novo dão lugar a um dos maiores espetáculos de fogo de artifício do mundo.

A Ilha da Madeira tem um turismo de orientação naturalista e é visitada durante todo o ano. Por sua vez, a Ilha do Porto Santo tem um turismo marítimo mais orientado para as suas praias, que representam o grande fator de atração.

O turismo é, portanto, caraterizado por uma alta sazonalidade, concentrada nos meses de junho, julho e agosto, enquanto no inverno a maioria das estruturas de alojamento estão fechadas. Para incentivar o turismo fora da temporada alta, um campo de golfe foi criado e o governo estabeleceu um subsídio para os habitantes da Ilha da Madeira que se mudassem para a Ilha do Porto Santo durante os meses de menos fluxo turístico. Portanto, durante nove meses, entre outubro e junho, é possível receber um subsídio de 25 euros para a compra de passagem de ida e volta. Esta passagem é feita pelo navio Lobo Marinho, que liga as duas ilhas diariamente, durando uma viagem de duas horas e trinta minutos para percorrer sessenta quilómetros, o que pode por vezes influenciar a quantidade de pessoas que faz a travessia devido à relação preço/duração.

A oferta de alojamento na Ilha da Madeira concentra-se no concelho do Funchal, especialmente na área do Lido. No entanto, o Porto Santo apresenta uma especialização em turismo de litoral, concentrado principalmente no período de verão.

O turismo tem ainda um enorme potencial relacionado principalmente com o turismo náutico, principalmente porque há espaço para melhorias neste setor. Atualmente, é difícil estimar o impacte económico gerado pelo turismo náutico. Além disso, um aumento na qualidade de serviços, diversificação dos produtos e  do grau de atração de turistas estrangeiros contribuiria para a diminuição da sazonalidade do turismo costeiro, principalmente na ilha de Porto Santo. 

Infelizmente, os procedimentos de licenciamento de atividades de turismo marítimo são burocráticos e geram muitos constrangimentos que impedem o desenvolvimento dessas atividades. Além disso, a partilha das mesmas infraestruturas com outras atividades dificulta o cumprimento do potencial das atividades. Ainda existem restrições tais como a falta de pessoal qualificado, principalmente no turismo recreativo e náutico e no turismo marítimo, visto que potencialmente deve ser dedicado aos turistas.

Em termos de infraestruturas, o programa operacional da RAM apenas menciona que serão feitos investimentos para melhorar a acessibilidade rodoviária às áreas portuárias. Por outro lado, não estão previstas medidas específicas de melhoria das infraestruturas do Porto Santo para transporte via ferry e, em geral, não foram identificadas medidas que permitam melhor gerenciar áreas portuárias e para melhorar as sinergias entre as atividades.

As atividades turísticas prediletas e que se podem encontrar aquando no Porto Santo passam por explorar a ilha de bicicleta, explorar piscinas naturais e, mais recentemente, existe a aposta por parte de agências em criar a oportunidade de fazer paddle e explorar cavernas através de passeios de caiaque e atividades de snorkeling, e, por fim, explorar as rochas vulcânicas.

 

Tomás Ornelas

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

quinta-feira, abril 22, 2021

Feira de Chocolate Internacional de Óbidos sob plataforma virtual

A Feira Internacional do Chocolate acontece em Óbidos desde 2002, por volta de novembro. Não é muito tempo a nível de comparação com outros eventos desta envergadura, contudo é o tempo suficiente para atrair pessoas de vários cantos do mundo para a pequena terra de Óbidos, em Portugal. Sem dúvida que este evento estimula não só o paladar mas, também, a movimentação turística no nosso país.

A feira é composta por um conjunto de acontecimentos envolvidos no próprio chocolate. É o sonho para qualquer amante de chocolate, o verdadeiro parque atrativo, com atividades diversas para todas as idades e gostos.

Dentro das atividades que decorrem na feira estão os workshops e cursos para quem deseja aprender mais sobre as técnicas e truques do processo de criação do chocolate, atividades e momentos lúdicos para crianças, peças escultóricas feitas em… chocolate, concursos, entre outros. Tudo isto e mais algumas divertidas atividades, criam uma atmosfera envolvente, e deixa um aroma doce no ar. No passado ano, contudo, o aroma doce ficou mesmo apenas no ar, e não se fez sentir de forma “viva”.

Acontece que no ano passado de 2020, a esperada feira do chocolate teve já de ser adiada para este ano de 2021, todavia, como o clima de instabilidade e insegurança pairava sobre o pensamento coletivo da população em geral, alteraram-se os meios. Em 2021, acontece pela primeira vez, como em muitas outras situações que envolvem convívio e aglomeração de pessoas, a feira de chocolate de Óbidos pela plataforma online.

Nesse contexto, surgem muitas perguntas e ideias. Será que dá certo? Será que vale a pena investir mais tempo em frente ao ecrã? Será que satisfaz da mesma maneira? E o convívio como irá acontecer?

Sem dúvida que muitas questões pertinentes são colocadas e que nos fazem pensar, mas porque nos damos ao trabalho de realizar algo tão prazeroso: o convívio, em algo tão habitual. Obviamente que ficar em frente ao ecrã por vários períodos de tempo, para além de não ser saudável fisicamente, não é nada convidativo mentalmente. No fundo, estão a convidar-nos para fugir à rotina da mesma forma que vivenciamos a rotina: sentados em frente ao ecrã, com uma dose extra de conforto… uma manta e um sofá ao dispor.

Muitas pessoas acreditam que não vale tanto a pena realizar estes convívios online, dizem que não é a mesma coisa nem nunca irá ser, pois as pessoas querem ir a este tipo de feiras para conviver e tal não é possível via online. Outras questionam-se de como será possível realizar uma feira ligada ao sentido do paladar sendo que não há o que provar? Compreendo todos estes questionamentos e dúvidas, pois à primeira vista é impeditivo. Contudo, acho heroico e até louvável criarem esta alternativa. É a solução mais adequada dado a situação que vivemos. É o pilar que restaura e não faz com que não se perda no esquecimento das pessoas. Apesar de ser vivido de outra forma, acredito, assim como muitos, ser um meio para alcançar a população, e para fazer lembrar e acontecer a feira.

Dentro desta alternativa, o que se vai passar de facto nas sessões online é uma passagem de saberes através desta nova plataforma, com o intuito de formar e informar acerca do delicioso tema: Chocolate, de forma extra didática. Só a tentativa de se fazerem ouvir e não deixarem passar ao lado a feira, e de manterem tudo isto numa via segura para todos, já é sinal de esperança.


Márcia Sousa Silva

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Covid-19 e a nova atração pelo espaço rural

        Um ano após o início da crise sanitária em que vivemos, são várias as questões que se põem relacionadas com as mudanças do quotidiano dos portugueses, sendo uma delas o tema principal deste artigo: será que esta pandemia tem o potencial para tornar o espaço rural mais atrativo aos olhos da população?

Desde fins de março de 2020 que, preferencialmente, o povo português se tem mantido em casa. Esta mudança abrupta do modo de viver trouxe uma nova utilização da casa como local de trabalho, para os que podem, assim como trouxe uma enorme reorganização estrutural dos métodos de trabalho da maioria das empresas e instituições - mudança esta necessária face às adversidades que vivemos - transformando a vida dos portugueses numa rotina centrada nas suas próprias casas, substituindo os locais de trabalho e todos os locais de contexto social, pois foram trazidos para dentro de casa.

Esta mudança foi facilitada pelos meios digitais, elemento que hoje em dia nos permite estar em conferência, fazer compras, ver filmes… Ou seja, o trabalho, as compras, o lazer e todas as necessidades possíveis foram transportados para plataformas online. Como afeta isto a longo prazo o mercado de compra e arrendamento de casas é a questão que se pretende colocar na mesa.

Tendo em consideração que uma das principais dimensões que afetam a escolha de habitação é o emprego, a oferta e proximidade ao mesmo, durante a pandemia é plausível argumentar que um “êxodo citadino” seria possível, dado que o novo espaço de trabalho da maioria da população é a própria casa.  No entanto, a reformulação estrutural que a sociedade sofreu foi muito a nível de trabalho e pouco a nível de serviços.

Sim, é possível encomendar as compras para casa, quer sejam alimentares, vestuário ou para lazer, porém a rede de distribuição mantém-se a mesma. Embora haja poucas restrições em termos de distribuição de compras online de produtos que não exijam grande condicionamento, por outro lado, os frescos e produtos alimentares continuam a depender de um supermercado próximo, capaz de os distribuir. Em muitas aldeias portuguesas, esses supermercados não estão próximos, isto é, dependem da tradicional carrinha do pão (por exemplo), ou não têm capacidade para tal. Para além disso, esta realidade online só é possível com a existência de distribuição de rede internet, outro fator que não é comum a todas as aldeias e meios rurais do país.

Para além disso, outro fator muito importante nesta equação é a força do hábito urbano. As dimensões do lazer, dos serviços ou até da própria idade dos habitantes são muito pesadas quando se fala em procura de habitação, ou seja, mesmo que o emprego seja um elemento que se possa considerar neutro em tempos em que trabalhamos sem sair de casa, os restantes fatores continuam a influenciar a vida dos habitantes.

Esta restruturação da vida profissional que sofremos em 2020 torna realmente possível debater se poderia haver uma migração da cidade para o meio rural a nível teórico, mas em termos práticos teria de ser acompanhada por uma reforma das redes de distribuição de serviços, melhoramento de acessos, ou seja, apenas se houvesse uma redistribuição de ofertas entre o meio urbano e o meio rural de modo a melhorar as condições de vida maioritariamente nas zonas menos povoadas do interior do país tal poderia, de facto, efetivar-se.

Sendo este “êxodo citadino” um conceito realmente interessante, levantam-se ainda mais questões: Será que isso beneficiaria o país a nível socioeconómico? E os seus habitantes? Seria possível fazer esta reforma do quotidiano em termos práticos, de acessibilidades, ofertas e serviços? Nunca se havia pensado fazer, efetivamente, esta reforma do panorama profissional até esta crise sanitária assim o obrigar. Será viável aproveitar esta onda de mudança que se vive para alterar também outras dimensões na nossa vida?

Dado que não vamos viver em pandemia para sempre, parece ser fácil dizer que a longo prazo não afetará o mercado de compra e arrendamento de casa, contudo sendo impossível saber quando vai terminar, não deixa de ser uma questão interessante.

 

Manuel Romão

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)

quarta-feira, abril 21, 2021

Património ao abandono: o caso do Palácio D. Chica

Este artigo reflete sobre o património que se encontra ao abandono, tendo como exemplo o caso do palácio D. Chica, um imóvel de interesse público localizado em Braga, na freguesia de Palmeira.

O palácio D. Chica, construído no ano de 1915, foi projetado pelo arquiteto suíço Ernesto Korrodi. Os proprietários procuraram construir uma fortaleza apalaçada de estilo romântico. Na área exterior encontram-se diferentes plantas de origem tropical, provenientes do brasil.

Construído a mando do D. João José Ferreira Rego, com o intuito de o oferecer à sua esposa, D. Francisca Peixoto Rego, o edifício acabou por nunca ser habitado, sendo vendido a um fidalgo Inglês e posteriormente a um guarda-livros do Conde de Vizela, Alberto Torres de Figueiredo.

Na segunda metade do séc. XX, a junta de freguesia de Palmeira compra o imóvel e aluga-o ao IPALTUR, que o transformou numa discoteca. Após a falência da empresa, o edifício é adquirido pela Caixa Geral de Depósitos.

Fig. 1:  Palácio D. Chica


Fonte: https://ominho.pt/palacio-d-chica-em-braga-e-um-dos-dez-mais-belos-lugares-abandonados-do-mundo/

Durante o decorrer do séc. XIX e nos inícios do séc. XX, poucos eram os restauros que tinham em conta os elementos caraterísticos do edifício, acabando por destruir grande parte do seu valor arquitetónico. No séc. XX, começa a nascer uma preocupação tanto a nível da salvaguarda como da valorização do património, sendo no ano de 1965 criado o ICOMOS.  No caso do palácio D. Chica foram realizadas diversas obras que acabaram por destruir muito do seu valor arquitetónico, especialmente a nível dos diferentes tipos de cerâmica.

A partir da década de 30 surge, através da legislação, a classificação de Imóvel de Interesse Público, onde é destacado o mérito artístico, histórico e social. Atualmente, este património classificado encontra-se sob a direção da DGPC, onde é reconhecido apenas o valor patrimonial. Caso a DGPC não seja o proprietário do edifício, não possui a instrumentos para realizar qualquer tipo de intervenção, deixando o mesmo ao abandono, tornando-se perigoso para as pessoas que pretendem visitar o local. 

Quando falamos de património que carece de recuperação temos de ter em mente que os custos são elevados. Contudo, é possível identificar alguns casos que obtiveram sucesso e se transformaram num património rentável, sendo um desses casos a Torre de Gomariz, um Spa Hotel de 5 estrelas localizado na freguesia de Cervães. Este é um hotel que se centra num conceito de Boutique Hotel, isto é, um edifício com história, de pequenas dimensões, para um público com alguma capacidade económica.  

É a sociedade que deve ser responsabilizada pela recuperação dos edifícios de elevado valor histórico, destacando-se os órgãos políticos, jurídicos e administrativos, mas também os proprietários. Qualquer intervenção deve ser ponderada e enquadrada a médio e longo prazo, devendo ser acompanhada pelos respetivos especialistas na área.

Um edifício histórico transmite diferentes sensações, entre elas a da curiosidade, pois os visitantes procuram descobrir todos os segredos escondidos no local. 

Em suma, é necessário compreender que, apesar de existir uma legislação que pretende salvaguardar o património, esta não é eficaz. No caso do palácio D. Chica, que já conta com mais de 100 anos de história, pouca ou nenhuma é a preocupação de o salvaguardar, verificando-se uma constante degradação.  

 

Cristiana Silva

Referências bibliográficas:

Nascer do Sol.  (17 de novembro de 2020). “Conservação e Reabilitação do Património – Estratégias e Potencialidades (2020 – 2030)”. Disponível em:  https://sol.sapo.pt/artigo/715420/conservacao-e-reabilitacao-do-patrimonio-estrategias-e-potencialidades-2020-2030-.

Caldeira, Marta Amaral. (Braga, 2015) “É urgente salvaguardar o Palácio de D. Chica”. Disponível em: https://correiodominho.pt/noticias/ldquo-e-urgente-salvaguardar-o-palacio-de-d-chica-rdquo/88903.

Miranda, Marta Gonçalves. (10 de setembro de 2016) “Edifícios abandonados: o palácio que ficou esquecido depois do divorcio da D. Chica”. Disponível em:   https://www.nit.pt/fora-de-casa/09-10-2016-edificios-abandonados-o-palacio-que-ficou-esquecido-depois-do-divorcio-da-d-chica.

Sereno, Isabel & Santos, João. (27 de julho de 2011) “Castelo de D. Chica/Castelo de Palmeira /Castelo Villa-Rego”, SIPA, Sistema de Informação para o património Arquitetónico, forte de Sacavém.   Disponível em: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=766. 

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Alternativas e dinamizações de recursos no Vale do Ribeira, uma estratégia envolvente

Situado numa região entre o Estado do Paraná e o Estado de São Paulo, o Vale do Ribeira abrange um vasto território da Mata Atlântica, aproximadamente 21% do remanescente de mata atlântica existente no Brasil. A região do Vale do Ribeira compreende integralmente a área de 31 municípios (9 paranaenses e 22 paulistas) – existem ainda outros 21 municípios e outros 18 municípios que estão parcialmente inseridos na bacia do Ribeira.

A atividade económica da região mudou substancialmente durantes os séculos: inicialmente, no século XVI, a região era núcleo de apoio aos portugueses que faziam uso dos seus portos, facilitando a entrada e intercâmbio de mercadorias que penetravam através do Rio Ribeira de Iguape e seus afluentes. Nos séculos seguintes, a abundância e escassez de recursos da região foram determinadas pelo apogeu ou fracasso de culturas económicas como o extrativismo e a cultura do arroz.

Hoje, a região é determinada por uma estagnação econômica e baixo desenvolvimento social, num espaço físico marcado por grande diversidade ecológica, comportando biomas ameaçados e com partes de mata preservada, fato este que a configura como uma área bastante complexa e frágil para todas as modalidades de uso e ocupação. Este conjunto de áreas preservadas são habitados também por comunidades indígenas, comunidades quilombolas, comunidades caiçaras e imigrantes, tornando a região, ao mesmo tempo, local de complexa gestão, com mal aproveitamento dos recursos e com risco de ameaça ao seu próprio património natural, material e imaterial.

Figura 1: Vale do Ribeira. Fonte: Google Maps

Há algum tempo, esforços entre os setores público, privado e a sociedade civil vêm sendo despendidos para fazer conhecer e potencializar o capital social e natural para o desenvolvimento, e a consequente redução das desigualdades. Um deles, uma ação em conjunto com o instituto ISA[1],  constituiu-se em primeiro lugar num trabalho de inventário cultural com as comunidades quilombolas. Atualmente, o projeto ‘O Ribeira Vale’ estendeu-se em parcerias com outras organizações locais, apoiando 19 comunidades quilombolas num sistema integrado que “implementa projetos de desenvolvimento sustentável, geração de renda, conservação e melhoria da qualidade de vida das comunidades quilombolas da região.”

A Secretaria do Desenvolvimento do Governo São Paulo lançou recentemente, em agosto de 2020, um ambicioso plano de revitalização do local, o “1º Plano Regional de Economia Criativa do Brasil - Dá gosto ser do Ribeira”. Esse plano busca valorizar o local, tirando partido da sua diversidade história, compondo com os diferentes atores e interesses da região. Para conceber esse plano, foi encomendado um estudo aprofundado a diferentes instituições. Juntamente com alguns moradores locais, este grupo de trabalho percorreu em torno de 11.00 quilômetros em dois meses, coletando saberes, fazeres e percepções locais.

Justamente, o ponto de partida desse trabalho começou com uma revisão histórica do Vale do Ribeira. Assim, foi descoberto que a riqueza do Vale ainda não é conhecida pelos próprios habitantes do local, havendo pouca troca e curiosidade entre as cidades vizinhas. Questionaram-se se a causa desta lacuna não seria a própria abundância de recursos de cada território que faz com quem os moradores se acostumem com a realidade local, ao invés de procurar entrar em relação com o município vizinho; de qualquer maneira, em consequência desse isolamento, ignoravam a riqueza que seria adquirida caso fossem somadas as potências de cada cidade.

Baseado nessa constatação, um dos direcionamentos do plano, chamado ‘o 100% Ribeira’, é uma estratégia que visa estimular o turismo interno, propondo tarifas mais acessíveis para os próprios moradores do Vale do Ribeira para que o turismo de proximidade seja cada vez mais valorizado. Tenta-se assim criar uma identidade, uma narrativa local que comece pela base, ou seja, que o próprio Ribeira se conheça a si mesmo. Dentro do programa foram também contempladas outras ações nesse sentido: ‘A Casa de Memórias e Afetos’ promete ‘contar a história do Ribeira’ aos próprios moradores do Ribeira, um arquivo público de memórias que trarão de volta a importância do local. É ignorado por muitas pessoas que o Vale do Ribeira foi palco do primeiro ciclo do Ouro e da primeira cultura de arroz, por exemplo. Recuar na história, fincar raízes e através destas raízes projetar ramos frondosos para o futuro é o norte que orienta o Plano. Após se concentrar no panorama histórico, a análise do plano se ateve aos seguintes setores econômicos: turismo, alimentação e artesanato.

Ana Carla Fonseca, mentora da empresa Garimpo de Soluções e detentora da execução do projeto, possui uma visão na qual sempre devemos ‘transformar o olhar’ e passar a valorizar pontos que outrora eram vistos como uma obstrução; nesse caso, o próprio rio Ribeira, que secciona o Vale, é apontado por muitos como causador de enchentes, será transformado em Parque Fluvial - passará a ser um ponto de encontro onde atividades lúdicas, desportivas e culturais serão sediadas, permitindo-se assim “fazer as pazes com o Rio Ribeira”. Dentro da categoria turística estão ainda previstos a criação de um Geoparque - aproveitando as exuberantes cavernas existentes no local, nos moldes pedidos pela UNESCO. Um nicho Turismo de Bem-estar já existe na região e necessita somente de ser organizado, salienta Ana Fonseca.

Com relação ao setor do artesanato, o plano preconiza uma ação inteligente que consistiria em utilizar a rodovia BR 116 - uma rodovia extensa, passagem para diversas rotas até internacionais - como porto de entrada e cartão de visita, posicionando um sítio de vendas à beira da estrada. No setor alimentício a proposta do plano insiste no incentivo à agricultura familiar e orgânica, produto com alto valor agregado e que se conecta também ao setor turístico de bem-estar; além desta medida, outras alternativas sugeridas, como a transformação de produtos alimentícios excedentes, permitem, para além de se evitar o desperdício, anexar ao produto um forte valor agregado.

Decorrem destas reflexões: a iniciativa de transformar o potencial atrativo e criativo das regiões advém da vontade política e da soma de esforços de vários setores. A tentativa de transformar o Vale do Ribeira - atualmente um lugar com baixo desenvolvimento social - em um polo único e dinâmico que proponha produtos, experiências, serviços com alto valor agregado, compartilhado e valor percebido, merece atenção como um ambicioso projeto de política pública feito sob medida para atender a uma região genuinamente única, e que justamente por este motivo é tão especial.

 

Marisol Cordeiro

Referências

Fonseca, Ana Carla Dá gosto de ser do Ribeira [livro eletrônico]: plano estratégico de economia criativa/ Ana Carla Fonseca, José Alejandro Castañé, Ricardo Peruchi – 1.ed. – São Paulo : Garimpo de Soluções : Sebrae- Sp. 2020 1Mb; PDF. Disponível em: <https://garimpodesolucoes.com.br/wp-content/uploads/2020/08/DaGostoSerDoRibeira_PlanoEstrategicoEconomiaCriativa_03082020_PaginasSeparadas.pdf?fbclid=IwAR2vaFrSgyHx6n2ixu8rsLZSJfbuciPVHKTS3f6TMdOywMoJHa7XG0vZyNo>

Orçamento 2012: Vale do Ribeira ainda tem economia com base na cultura de chá e banana disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=259094>

Socioambiental, I., 2013. Inventário Cultural de Quilombos do Vale do Ribeira. [online] Issuu. Disponível em: <https://issuu.com/instituto-socioambiental/docs/pdf-publicacao-final_inventario> [Accessed 19 April 2021].

1º Plano Regional de Economia Criativa do Brasil - Dá gosto ser do Ribeira disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rcTob10RM1c>


[1] O Instituto Socioambiental (ISA) é uma organização da sociedade civil brasileira sem fins lucrativos. Fundado em 1994, tem a missão de propor soluções de forma a integrar questões sociais e ambientais com foco central na defesa de bens e direitos sociais relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Turismo médico – uma nova oportunidade para o setor do turismo português?

          O que é o turismo médico? Ora, para quem não for familiarizado com a expressão poderá suscitar alguma confusão a associação do termo "médico" ao turismo. No entanto, o turismo médico movimenta milhões de pessoas todos os anos, sendo assim oportuno esclarecer acerca do que constitui esta potencialmente invulgar forma de turismo.

Turismo médico é o termo usado para descrever viagens internacionais com o objetivo de receber cuidados médicos. Este tipo de turista pode procurar atendimento médico no exterior por numerosos motivos, como redução de custos, recomendação de amigos ou familiares, oportunidade de combinar atendimento médico com destino de férias ou receber um procedimento ou terapia não disponível no seu país de residência. O turismo médico é um mercado mundial multimilionário que continua a crescer ano após ano, sem dar sinais de abrandar (Centers for Disease Control and Prevention, 2021).

Portugal inspira confiança nos turistas e é cada vez mais procurado para este tipo de atividade. Para muitos, os cuidados de saúde portugueses são uma alternativa com uma excelente relação qualidade-preço: a hospitalidade, o clima, o contacto direto com a natureza e a hotelaria portuguesa são outros aspetos apontados para o caráter gratificante da experiência, assim como qualidade, inovação e modernidade, segundo o website da Medical Tourism in Portugal (2021), que permitem ao turista usufruir simultaneamente do vasto leque de serviços prestados, desde a oftalmologia à cirurgia plástica, segundo o mesmo website.

A saúde portuguesa está ao nível do que de melhor há. Por isso, falar em turismo médico em Portugal é ter a certeza que se pode confiar na oferta existente, no diagnóstico e nas aptidões dos técnicos de saúde numa moderna rede de hospitais e clínicas que abrangem todo o país (Visit Portugal, 2021). Porém, Portugal ainda tem um longo caminho até chegar ao topo mundial. O Medical Tourism Index 2020-2021 classifica as perceções americanas de 46 destinos internacionais de saúde, com o primeiro lugar a pertencer ao Canadá, seguindo-se Singapura, Japão, Espanha, Reino Unido, Dubai, Costa Rica, Israel, Abu Dhabi e India.  

               Ora, será de referir que o turismo médico não vem sem os seus riscos. Relatórios contínuos de infeções e outros eventos adversos após procedimentos médicos ou odontológicos no exterior servem como uma lembrança disso mesmo. Estes riscos são mitigados quando as instalações têm acreditação internacional, mantêm políticas formais de segurança de registos médicos, entre outros fatores. Os turistas médicos também devem estar cientes de que os medicamentos, produtos e dispositivos usados podem não estar sujeitos ao escrutínio e supervisão regulatórios efetuados no seu país de origem. Além disso, alguns medicamentos podem ser falsificados ou ineficazes (por exemplo, vencidos, contaminados ou armazenados incorretamente).

As possíveis complicações infeciosas associadas a procedimentos médicos realizados fora da Europa incluem variadíssimos tipos de infeções: feridas, infeções da corrente sanguínea, derivadas de doadores e aquisição de patogénicos transmitidos pelo sangue, incluindo hepatite B, hepatite C e HIV. O risco de ser infetado por organismos resistentes a antibióticos é mais elevado em certos países, e o tipo de patogénio mais comum varia de região para região.

Assim sendo, o turismo médico pode ter tanto vantagens como desvantagens, estando na responsabilidade do individuo, no entanto, fazer a sua investigação minuciosa sobre o tipo de serviço médico que pretende, quais os riscos associados, assim como se instituições prestadores de serviços são seguras.

Atualmente, os bloqueios decorrentes da propagação da pandemia, as restrições de viagens em todo o mundo e o cancelamento de todas as cirurgias não urgentes resultaram no adiamento dos procedimentos médicos para pacientes internacionais que chegam normalmente ao nosso país, impactando o setor. No entanto, com a flexibilização das restrições a viagens e as atividades económicas a voltar ao normal, espera-se que a recuperação setorial aconteça.

Do ponto de vista da economia portuguesa, no entanto, esta atividade mostra-se como uma alternativa favorável para promover o turismo e a imagem de Portugal como um País de Excelência em termos de capacidade de satisfazer a procura do Turismo Médico Internacional, especialmente após a violenta quebra de receitas em 2020. Muitos são os países, como é o caso da índia, que veem neste tipo de turismo o futuro do setor. Na minha opinião, Portugal deverá encarar esta atividade da mesma forma, publicitando-se com as suas forças: um serviço com o rigor, qualidade e certificação europeias, e, à boa maneira portuguesa, facilitando um período de repouso tranquilo, plantado à beira-mar.

 

Cecília Teixeira

Referências utilizadas:

Medical Tourism in Portugal. (2021). Disponível em:  https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/turismo-medico-em-portugal

Centers for Disease Control and Prevention. (2021). Yellow Book. Chapter 9. Travel for Work & Other Reasons. Medical Tourism. Disponível em: https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2020/travel-for-work-other-reasons/medical-tourism#:~:text=Medical%20tourists%20may%20pursue%20medical,a%20procedure%20or%20therapy%20not

Medical Tourism Index 2020-2021. (2021). Disponível em: https://www.medicaltourism.com/mti/home

Visit Portugal. (2021). Disponível em: https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/turismo-medico-em-portugal

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

Turismo de bem-estar para os mais velhos: quem são os turistas seniores?

     O envelhecimento populacional é encarado como uma das transformações sociais mais consideráveis do século XXI, com consequências transversais em todos os setores da sociedade, tais como no mercado laboral e financeiro, a procura de bens e serviços - habitação, transportes, proteção social, estruturas familiares e laços internacionais. Assim, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que o número de idosos, de idade igual ou superior a 60 anos, duplique até 2050 e, ainda, que triplique até 2100, isto é, passe de 962 milhões, em 2017, para 2,1 mil milhões, em 2050, e, posteriormente, para 3,1 mil milhões, em 2100.

      Infelizmente, nas próximas décadas, muitos países irão defrontar pressões fiscais e políticas referentes aos sistemas públicos de saúde, providência e proteção social para a população na faixa etária mais avançada. Desta forma, é fundamental que a indústria do turismo se prepare para acomodar o público mais sénior e perspetive o surgimento da tendência de destinos e programas de bem-estar voltados para os "baby boomers" mais jovens e uma fração mais velha.

O turismo da terceira idade tem a seu favor a possibilidade de viajar para qualquer lugar a qualquer momento, já que é caraterizado por reunir uma faixa etária com tempo livre para aproveitar a hospitalidade. Todavia, quando refletimos no conceito de turistas séniores, é com satisfação que recorro aos estudos de segmentação de mercado existentes, que sugerem que o gênero, a cultura e o status de emprego podem ser fatores fundamentais que influenciam e relacionam a idade para determinar os diferentes padrões de viagens para idosos. Assim, a Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco, Lda. (SAER), diferencia-os em duas tipologias: os YAS (Young Active Seniors) e os Seniors com 65 e + anos. Sendo que o segmento YAS abrange indivíduos com idades entre os 55 e os 64 anos, conhecidos por um estilo de vida saudável e ativo, com grande experiência no consumo e na exigência de qualidade de produtos e serviços turísticos. Por sua vez, o segmento Seniors com 65 e + anos, contempla pessoas maioritariamente reformadas, com enorme disponibilidade de tempo livre, “com idade psicológica inferior à idade biológica” e cuja inclinação recai sobre férias sedentárias.

De acrescentar, ainda, que é primordial ter em consideração, ao analisar a relação entre idade e comportamento turístico na terceira idade, que estes fazem viagens mais longas, de preferência no país de residência e alojam-se em alojamentos não alugados. (figura 1).

Figura 1: Relação entre preferências de viagem e os diferentes grupos de idade, UE-27, em 2018 

Ref: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Tourism_trends_and_ageing

Contudo, desafortunadamente, existem fatores que limitam a regularidade e o volume das deslocações para turistas séniores, tais como:

■ questões de segurança / proteção;

■ problemas de saúde;

■ tempo disponível;

■ custo;

■ responsabilidades familiares;

■ informações insuficientes sobre as opções adequadas.

      Por fim, estas estimativas poderão, por infelicidade, ser alteradas como consequência da situação mundial atual da COVID-19.

 

Carolina Maia

Bibliografia:

https://www.consumidormoderno.com.br/2020/01/13/5-tendencias-industria-turismo-2020/;

https://unric.org/pt/envelhecimento/;

https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Tourism_trends_and_ageing

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

Guimarães como Capital Europeia da Cultura

    A União Europeia mantém, desde 1985, uma manifestação cultural denominada por “Capital Europeia da Cultura”. Este programa pretende destacar a grande diversidade cultural europeia, sem deixar de lado os seus valores.

   Todos os anos são selecionadas uma ou mais cidades como capitais culturais da Europa que poderão beneficiar de apoio concedido no âmbito do Programa da Cultura.  Na apresentação da candidatura ao título, é essencial estarem bem definidos quais os objetivos a atingir, que mudam de cidade para cidade; um exemplo destes objetivos é a criação de novas infraestruturas.

   Quando uma cidade é escolhida, esta tem a oportunidade de mostrar à Europa, pelo período de um ano, os seus costumes e o seu desenvolvimento cultural, de maneira a permitir um melhor conhecimento mútuo entre os cidadãos da União Europeia, bem como de outros países não pertencentes à mesma.

    Esta redação foca-se na cidade de Guimarães e tem como intuito perceber como esta se tornou capital europeia da cultura, qual foi a sua preparação, as intervenções que foram necessárias realizar, e que recursos é que esta possuía para lhe ter sido atribuído tal título, etc.

 A preparação de Guimarães para a Capital Europeia da Cultura começou em 2006, quando a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou que a cidade tinha sido eleita para este título, no ano de 2012.

   No que toca à candidatura ao evento, deve ser primeiramente elaborado um programa que valorize a cultura e o património da cidade. De seguida, a Comissão Europeia convoca um júri que analisa as candidaturas apresentadas e, mediante os seus objetivos e caraterísticas, realiza um relatório que será posteriormente entregue aos membros responsáveis pelo projeto. Após a seleção, a União Europeia apoia financeiramente o projeto. De acordo com o Jornal Oficial da União Europeia (2005), o programa deverá incluir os seguintes pontos:

1.    Promover manifestações/criações artísticas que se associem a agentes culturais de outras cidades e dos estados-membros;

2.    Assegurar a participação da população no projeto;

3.    Assegurar o acolhimento de cidadãos da União Europeia e garantir a divulgação através dos meios de comunicação social;

4.     Promover o diálogo entre as culturas da Europa e as outras culturas do mundo;

5.     Valorizar o património histórico e a arquitetura urbana e a qualidade de vida na cidade.

   A candidatura da cidade de Guimarães foi então submetida em outubro de 2006 e ficou concluída apenas em maio de 2009. Para a implementação do seu programa foi criada a Fundação Cidade de Guimarães, que foi um fracasso, acabando a sua primeira presidente por sair em rutura com a estrutura depois das críticas das associações da cidade, que achavam que estavam a ser postas de lado.

   Criou-se então o projeto “Tu fazes parte”, que se baseou em três objetivos indispensáveis: envolver a comunidade no evento, transformar Guimarães numa economia competitiva e proporcionar experiências culturais e criativas. Este projeto conseguiu unir a cidade, as associações cívicas, as instituições e a população à volta do projeto, fazendo com que este se tornasse um êxito. 

     No que toca à programação cultural do evento, esta baseou-se em quatro áreas distintas, cada uma com objetivos diferentes:

·      
Comunidade            Integrar a comunidade no projeto;

·      
Cidade              Criação e valorização dos recursos territoriais;

·      
Pensamento          Reflexão sobre temas da atualidade;

·      
Arte           Promoção de consumidores críticos e participativos.

 

   Já nos investimentos, Guimarães gastou um total de 41 milhões de euros para a criação, renovação e requalificação de inúmeros edifícios e infraestruturas, que trouxeram à cidade novos símbolos únicos. Nasceu a Plataforma das Artes e a Casa da Memória, deu-se a reabilitação do Campo de São Mamede, do Largo do Carmo, do Largo do Toural, da Alameda e da Rua de Santo António; instalou-se o Instituto de Design em Couros, que permitiu o trabalho conjunto de designers, empresas e investigadores, bem como a requalificação desta zona.

   Depois de realizadas todas estas mudanças, o turismo e o comércio foram as áreas mais beneficiadas, tendo-se dado um crescimento exponencial das dormidas na cidade, que aumentaram 43%. Nasceram lojas e negócios e foram criados mais de 2.100 empregos.

   A inauguração da CEC Guimarães 2012 deu-se em 21 de janeiro de 2012 e o seu encerramento a 23 de dezembro. Durante este ano, foram realizadas inúmeras atividades nas áreas da música, teatro, dança, arquitetura, cinema, fotografia, etc., que mudaram a cidade, tornando-a mais rica em vários aspetos e lançando-a internacionalmente.

   A nomeação de Guimarães como Capital Europeia da Cultura veio trazer à mesma impactes positivos a curto e longo prazos, como o desenvolvimento cultural, o aumento do emprego e do turismo, benefícios nos espaços culturais, melhoria da imagem da cidade (por residentes e não residentes), entre outros.

   Com isto, é possível afirmar que as Capitais Europeias da Cultura assumem um papel significativo no desenvolvimento das cidades, dado o investimento proporcionado nesse âmbito. As cidades eleitas beneficiam não apenas a nível económico como também no ponto de vista social, cultural e ambiental, sendo importante que Portugal volte a concorrer com uma das muitas cidades maravilhosas que possui, de maneira a desenvolvê-la e projetá-la internacionalmente.

 

Sofia Marques

Referências Bibliográficas

Capital da Cultura 2012 fez de Guimarães um "oásis" em época de crise. (2020). Cultura ao Minuto. Obtido de https://www.noticiasaominuto.com/cultura/1403154/capital-da-cultura-2012-fez-de-guimaraes-um-oasis-em-epoca-de-crise

Ferreira, C. (2018/2019). IMPACTO A LONGO PRAZO DE GUIMARÃES CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA - A PERCEÇÃO DOS RESIDENTES.

Lusa, A. (2012). Guimarães 2012. UM ANO PARA REDESCOBRIR A CIDADE, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA. Obtido de https://guimaraes2012.blogs.sapo.pt/