quarta-feira, abril 21, 2021

“Escavar, registar, inventariar”

Há uns tempos, tive a oportunidade de visitar um espaço na freguesia de Durrães, um sítio com vestígios arqueológicos com inestimável valor patrimonial na zona do Vale do Neiva. Acabei por ficar bastante interessado na dinâmica do local e procurei obter mais informações  sobre esse local e o seu projeto de patrimonialização. Não me refiro exatamente ao património em si mas à forma como estava organizada a sua catalogação, apresentação e promoção do espaço.

A responsabilidade do espaço estava a cargo do grupo de Estudos Históricos do Vale do Neiva (GEN), que tem desenvolvido na zona um trabalho de louvável entrega e dedicação, contando já com cerca de 40 anos. Este trabalho continuado nasceu, segundo os responsáveis, por forma a dar continuidade uma tradição familiar e de continuar a promover e a proteger a região de Chã de Bustelo, região esta com um impressionante núcleo megalítico. No entanto e como mencionei acima, o foco do meu interesse principal nesse local acabou por ser a sua componente didática e educativa.

Na freguesia de Durrães, foi criado um centro interpretativo onde estariam expostas informações e documentação do património e cultura locais sobre o espaço supracitado. Achei particularmente interessante o facto de o próprio centro interpretativo ser um espaço já anteriormente existente e com a antiga função de apeadeiro. Ora, isto é interessante na medida em que, no meu entender, devemos sempre que possível, e com vista à conservação de património, proceder a uma renovação funcional. Neste caso, a mesma foi possível graças à boa vontade da REFER e a vontade da população.

Mais recentemente, esse espaço acabou por sofrer uma nova intervenção, possibilitada por uma iniciativa camarária intitulada de orçamento participativo e que possibilitou uma remodelação do espaço respeitando a sua estrutura original e sempre no respeito das diretivas do IPPAR[1]. É igualmente louvável a dedicação deste projeto à componente educativa, procurando desenvolver a educação da população local e não só a atendendo à importância dos espaços  e da sua conservação, desenvolvendo além desta componente educativa a criação, em parceria com a associação amigos da Montanha[2], de um percurso pedestre de pequena rota de Barcelos (PR1 BCL[3]). Este possibilita o acesso a vários sítios arqueológicos, juntando à vertente educativa e cultural o lazer, vertente esta tão em voga e popular nos dias que correm, onde  cada vez uma maior parte da população procura experiências de escape e inovadoras.

Figura 1- Citânia da Carmona


Para finalizar , gostava de mencionar que, na minha opinião, locais deste género são sempre bem-vindos e louváveis. A entrega desta associação à causa pública, ao que é de todos nós, é também em si uma importante mensagem para nós, na medida em que nos mostra que, com muita vontade e alguma imaginação, podemos contribuir para o desenvolvimento de uma região e a preservação patrimonial, promovendo a cultura e o interesse da população envolvente. Neste aspeto, este caso parece-me um excelente exemplo e merece, sem duvida, uma visita de todos.


Carlos Queirós


[1] Instituto português do património arquitetónico

[2] https://www.amigosdamontanha.com/

[3] https://cm-barcelos.pt/items/pelos-caminhos-da-cha-de-arefe-pr-1-bcl-durraes/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Sem comentários: