domingo, abril 18, 2021

Turismo sexual

O turismo reflete as alterações que acompanham o processo de crescimento de uma sociedade, portanto à medida que o tempo passa espera-se uma evolução positiva destas alterações. Contudo, essas mudanças não estão a ser refletidas como era espectável. Neste artigo, vai ser abordado um tema pouco explorado e infelizmente, pouco falado, designado por turismo sexual.

Para a economia social e para o turismo, este tema é extremamente pertinente e remete para outros problemas socioeconómicos enraizados, como patriarcado, machismo, capitalismo, entre outros. Lamentavelmente, as mulheres constituem a grande maioria das vítimas deste “comércio” e desde sempre que a sua beleza e fisionomia foi vista como um produto que pode ser vendido e variar de preço conforme as alterações dos mercados.

A Organização Mundial do Turismo (OMT) define o turismo sexual como "viagens organizadas dentro do seio do setor turístico ou fora dele, utilizando as suas estruturas e redes, com a intenção primária de estabelecer contactos sexuais com os residentes do destino", um turismo onde "o motivo principal de pelo menos uma parte da viagem é o de se envolver em relações sexuais, normalmente de natureza comercial".

Os grandes destinos do turismo sexual encontram-se em todos os continentes, mas a Ásia é a pioneira e principal foco deste tipo de turismo, nomeadamente a Tailândia e o Sri Lanka. A prostituição começou por se tornar um fenómeno turístico neste continente, principalmente após a Guerra da Coreia e do Vietname, onde havia tropas americanas estabelecidas. Estas tropas criaram centros de prostituição/bordéis e durante a II Guerra Mundial houve inúmeras mulheres coreanas usadas como “mulheres de conforto”. Consequencialmente, após a guerra estas mulheres dedicaram-se ao comércio sexual após serem abandonadas. Neste momento, o Japão é conhecido como o maior importador de mulheres.

Na Europa, a prática de turismo sexual está bastante ligada à pedofilia, e turismo homossexual, com maior foco na Bélgica, Holanda e Reino Unido. Em Portugal, está concentrado nas grandes cidades, como Lisboa, Coimbra e Porto, e no tão famoso Algarve.

Estas mulheres quando são abandonadas pelos maridos são descartadas socialmente e não têm outra opção para além da prostituição. Na maior parte dos países onde este fenómeno ocorre, a prostituição é proibida, mas a legislação referente a este aspeto normalmente não é cumprida ou é insuficiente, logo, o turismo sexual "democratizou-se" ao longo das últimas décadas do século XX, realçando-se na Europa Ocidental, onde a exploração sexual aproveita-se da infraestrutura turística convencional. A prostituição é mais comum em sociedades onde não existem grandes alternativas industriais e a forma de fazer dinheiro passa por terem que vender o próprio corpo.

Uma das maiores consequências do turismo sexual e da prostituição inerente é a transmissão da SIDA, que não só afeta as vítimas destes atos, como contribui para a respetiva proliferação mundial.  

Em termos de conclusão, existe um provérbio tailandês que circula na rua de comércio do sexo – Patpong, que nos pode mostrar a dimensão deplorável e desumana das condições de vida destas mulheres: “ Aos 10 anos és uma jovem adulta, aos 20 uma senhora de idade e aos 30 estás morta”.

 

Patrícia Pinto

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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