segunda-feira, abril 12, 2021

Uma Serenata ao Turismo Cultural Português

       É impossível um turista visitar Portugal, especialmente cidades como Porto, Coimbra e Lisboa, e não se deparar com um grupo de estudantes vestidos de negro, animando as ruas com música e alegria. As Tunas Académicas são grupos musicais, com organização e regras próprias, constituídos por estudantes universitários. Facilmente identificadas pelos seus trajes, apesar das diferenças entre cidades e universidades, as Tunas auxiliam na difusão da língua e cultura portuguesas, através dos seus instrumentos (entre os quais braguesa, guitarra portuguesa, cavaquinho, bombo ou adufe), da interpretação de músicas populares portuguesas e fado, e ainda referências a tradições académicas.

Em festivais de Tunas ou atuações de rua, é comum assistir-se a interpretações de músicas portuguesas conhecidas, como “Senhora do Mar” de Vânia Fernandes, música popular portuguesa, como “Laurindinha” ou “Mulher Gorda”, serenatas, e, claro, Fado, não tivesse este sido declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No entanto, os turistas são também atraídos por adaptações de músicas espanholas, como “Fuego Lento” e “Adelito”, e brasileiras.

Assim que se deparam com uma Tuna, os turistas não resistem a parar, ouvir e inclusive filmar ou tirar fotografias, mais tarde partilhadas online. Dado o seu encanto com o Fado, não são raras as ocasiões em que os estudantes colocam uma capa sobre os ombros do turista, permitindo uma experiência única ao visitante. Para além disso, é também frequente Tunas serem convidadas a atuar em viagens de barco, restaurantes ou nas Caves do Vinho do Porto, acrescentando valor a uma outra experiência turística tipicamente portuguesa.

Curiosamente, o trabalho de propagação da cultura portuguesa através das Tunas Académicas é também realizado além-fronteiras. Alguns grupos têm o costume de realizar “Retiros” (viagens nas quais se deslocam para outras cidades ou países, com o intuito de levar a música e tradição académica a mais pessoas), tendo algumas Tunas já viajado para cidades como Paris ou Santiago de Compostela. Outra Tuna teve também a oportunidade de realizar uma tour pela Ásia, patrocinada pela organização governamental “Tourism of Macau”, que incluiu paragens em Tóquio, Macau, Coreia do Sul, entre outros.

Adicionalmente, e oferecida pela Câmara Municipal de Paris, a Association Cap Magellan convida anualmente uma Tuna de Portugal para uma atuação, de forma a perpetuar esta tradição junto dos lusodescendentes de França, o que poderá potencializar o interesse numa visita futura.

 Finalmente, os estudantes internacionais são também cruciais na divulgação da cultura portuguesa. Após terem vivenciado a vida académica numa Tuna durante um ou dois semestres, regressarão ao seu país de origem, onde partilharão com os seus familiares e amigos a tradição académica, a música, a cultura e a língua portuguesa, incentivando o desejo de retorno a Portugal para uma outra visita.

Fig. 1 – Tuna Feminina da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em atuação de rua no seu Retiro em Sintra, Portugal, no verão de 2019. Retirado de: https://www.instagram.com/p/B0MObTmloqS/.

A divulgação da cultura portuguesa através das Tunas Académicas permite suscitar o interesse por parte do turista em saber mais acerca da música portuguesa e dos seus instrumentos caraterísticos, já que muitos estão apenas familiarizados com o Fado, que podem também apreciar nas ruas da cidade. Os turistas aproveitam um momento único e inesquecível, levando consigo recordações em formato digital ou CDs contendo tanto músicas originais como adaptações das Tunas a que assistiram, e partilhando a experiência aquando do seu regresso a casa.

As Tunas Académicas revelam-se, então, promotoras do turismo cultural português, uma vez que são rapidamente associadas à tradição académica portuguesa. O desejo de se depararem com uma Tuna encontra-se cada vez mais na checklist turística de muitos visitantes, pelo que estas devem ser valorizadas e apoiadas, inclusivamente por Câmaras Municipais e associações e empresas associadas a turismo local.

 

Marta Maia da Costa

Referências Bibliográficas

·       Fado é Património Imaterial da Humanidade. (28 de novembro de 2011). Obtido de Museu do Fado: https://www.museudofado.pt/noticias/fado-e-patrimonio-imaterial-da-humanidade, acedido em 06/04/2021

·        Retour sur la queima 2021. (23 de fevereiro de 2021). Obtido de Cap Magellan: https://capmagellan.com/retour-sur-la-queima-2021/, acedido em 06/04/2021

·        Uma Breve História das Tunas. (24 de setembro de 2019). Obtido de Salão Musical: https://www.salaomusical.com/pt/blog-instrumentos-musicais/238_uma-breve-historia-das-tunas.html, acedido em 06/04/2021

·        Uma Nova Noite de Gala! (24 de setembro de 2019). Obtido de Cap Magellan: https://capmagellan.com/uma-nova-noite-de-gala/, acedido em 06/04/2021

·        TFFLUP. (21 de julho de 2019). Obtido de Instagram: https://www.instagram.com/p/B0MObTmloqS/, acedido em 06/04/2019


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2020/2021)

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