1. Afastado que estou do quotidiano de Leiria, tomando o conceito em acepção ampla, a ligação afectiva que mantenho com este território leva-me a olhar com curiosidade para os dados que me vão chegando sobre o respectivo desempenho, acabando amiúde surpreendido pelo contraponto que se me oferece existir entre o sucesso económico que vai alcançando e a inexistência visível de um projecto (colectivo) e de uma liderança óbvia.
2. Uma ilustração ainda recente da realidade a que aludo pode ser encontrada no “Índice Sintético de Desenvolvimento Regional”, relatório publicado em 2009 pelo INE e pelo DPP, onde, no “índice global de desenvolvimento regional”, o Pinhal Litoral, unidade estatística de nível III onde se integra Leiria, aparece numa distinta 2ª posição. Ladeando a NUT III Pinhal Litoral encontramos a Grande Lisboa (isto é, a área metropolitana de Lisboa), em expectável 1º lugar, e o Baixo Vouga, que é reconhecido como sendo um território que, nas derradeiras décadas, vem atravessando um significativo dinamismo, a que não é alheia a presença da Universidade de Aveiro.
3. O desempenho relativo que identifico é alcançado num quadro geral de estagnação do país, que fica a marcar a última década, o que acaba por reforçar o mérito do percurso percorrido. Nesta leitura, sublinha-se a capacidade adicional revelada de vencer dificuldades e procurar trilhos singulares. Não quer isso dizer que o território em causa não continue a padecer de limitações e constrangimentos vários, de que o “índice de competitividade”, presente no mesmo relatório, põe a nu, ao posicionar o Pinhal Litoral na 10ª posição. Pior é, não obstante, o retrato que lhe fica na dimensão parcial “qualidade ambiental” (reportada a dados de 2006), onde cai para a pouco ilustre 21ª posição, num total de 30 NUT III. O quadro geral de dinamismo socioeconómico de “Leiria” é documentado por outros indicadores estatísticos e estudos produzidos quer pelo INE quer por outros organismos preocupados com as questões da evolução do território.
4. A abrir o texto, referi-me a Leiria em acepção ampla, isto é, se quiserem, à “região de Leiria”. Por outro lado, na invocação de dados estatísticos, trato do Pinhal Litoral, que será, sem dúvida, um conceito estreito de região de Leiria, embora constitua o seu núcleo central, mais coeso e mais dinâmico. Se a leitura de “região” fosse feita em acessão mais ampla, as coisas complicar-se-iam, e muito. Na verdade, ao lado do Pinhal Litoral, o Pinhal Interior, Norte e Sul, e o Oeste são realidades muito diferentes em termos económicos, demográficos, etc. Por outro lado, o Distrito de Leiria é algo hoje em dia quase só referência histórica e sede de coordenação de polícias. Quer dizer, Leiria tem manifestamente como óbice em matéria de afirmação a dificuldade de convocar uma identidade regional clara, o que não é coisa de menos importância quando se trata de projecto de desenvolvimento.
5. Tenha-se claro que, na linguagem comum, se usa o termo região em muitos sentidos. Uma região é, em primeiro lugar, uma comunidade no sentido subjectivo (histórico, cultural, afectivo) do termo. Tem implícito o sentimento de pertença, de identificação com o território em causa dos membros dessa comunidade e a vontade destes de vê-la “triunfar”. É muito mais que um território delimitado por uma “fronteira”, uma estrutura de poder, uma rede de empresas, uma unidade territorial para fins estatísticos ou para gerir fundos comunitários. É nesta dimensão que a região pode ser pensada como instrumento de desenvolvimento e espaço de estruturação de legitimidades políticas e de liderança socioeconómica.
6. Quer-se com isso dizer que, pese o desempenho global positivo que a “região” de Leiria manteve na última década e meia, contra ventos e marés, é discutível que o território possa continuar a prescindir de uma clara estratégia activa, que lhe majore a valia dos projectos e lhe acrescente outros que lhe projectem o futuro. Num quadro de competição aberta e globalizada como o actual, a coordenação de acções, a parceria entre agentes de desenvolvimento, a reunião de massas críticas em variados domínios e a definição esclarecida de apostas em sectores de futuro não parece poder viver exclusivamente de inércias espontâneas. A própria economia do país teria a ganhar com os passos em frente que “Leiria” fosse capaz de dar nesse sentido.
J. Cadima Ribeiro
(texto de trabalho produzido no contexto da preparação da intevenção que o signatário fará na 2ª feira pf., 28 de Março, na REUNIÃO ABERTA, subordinada ao tema "O QUE FAZER PELA MINHA REGIÃO?", organizada pela ADLEI-Associação para o desenvolvimento de Leiria, no espaço MIMO, em Leiria; uma versão reduzida deste texto será publicada nessa data no Diário de Leiria)
2. Uma ilustração ainda recente da realidade a que aludo pode ser encontrada no “Índice Sintético de Desenvolvimento Regional”, relatório publicado em 2009 pelo INE e pelo DPP, onde, no “índice global de desenvolvimento regional”, o Pinhal Litoral, unidade estatística de nível III onde se integra Leiria, aparece numa distinta 2ª posição. Ladeando a NUT III Pinhal Litoral encontramos a Grande Lisboa (isto é, a área metropolitana de Lisboa), em expectável 1º lugar, e o Baixo Vouga, que é reconhecido como sendo um território que, nas derradeiras décadas, vem atravessando um significativo dinamismo, a que não é alheia a presença da Universidade de Aveiro.
3. O desempenho relativo que identifico é alcançado num quadro geral de estagnação do país, que fica a marcar a última década, o que acaba por reforçar o mérito do percurso percorrido. Nesta leitura, sublinha-se a capacidade adicional revelada de vencer dificuldades e procurar trilhos singulares. Não quer isso dizer que o território em causa não continue a padecer de limitações e constrangimentos vários, de que o “índice de competitividade”, presente no mesmo relatório, põe a nu, ao posicionar o Pinhal Litoral na 10ª posição. Pior é, não obstante, o retrato que lhe fica na dimensão parcial “qualidade ambiental” (reportada a dados de 2006), onde cai para a pouco ilustre 21ª posição, num total de 30 NUT III. O quadro geral de dinamismo socioeconómico de “Leiria” é documentado por outros indicadores estatísticos e estudos produzidos quer pelo INE quer por outros organismos preocupados com as questões da evolução do território.
4. A abrir o texto, referi-me a Leiria em acepção ampla, isto é, se quiserem, à “região de Leiria”. Por outro lado, na invocação de dados estatísticos, trato do Pinhal Litoral, que será, sem dúvida, um conceito estreito de região de Leiria, embora constitua o seu núcleo central, mais coeso e mais dinâmico. Se a leitura de “região” fosse feita em acessão mais ampla, as coisas complicar-se-iam, e muito. Na verdade, ao lado do Pinhal Litoral, o Pinhal Interior, Norte e Sul, e o Oeste são realidades muito diferentes em termos económicos, demográficos, etc. Por outro lado, o Distrito de Leiria é algo hoje em dia quase só referência histórica e sede de coordenação de polícias. Quer dizer, Leiria tem manifestamente como óbice em matéria de afirmação a dificuldade de convocar uma identidade regional clara, o que não é coisa de menos importância quando se trata de projecto de desenvolvimento.
5. Tenha-se claro que, na linguagem comum, se usa o termo região em muitos sentidos. Uma região é, em primeiro lugar, uma comunidade no sentido subjectivo (histórico, cultural, afectivo) do termo. Tem implícito o sentimento de pertença, de identificação com o território em causa dos membros dessa comunidade e a vontade destes de vê-la “triunfar”. É muito mais que um território delimitado por uma “fronteira”, uma estrutura de poder, uma rede de empresas, uma unidade territorial para fins estatísticos ou para gerir fundos comunitários. É nesta dimensão que a região pode ser pensada como instrumento de desenvolvimento e espaço de estruturação de legitimidades políticas e de liderança socioeconómica.
6. Quer-se com isso dizer que, pese o desempenho global positivo que a “região” de Leiria manteve na última década e meia, contra ventos e marés, é discutível que o território possa continuar a prescindir de uma clara estratégia activa, que lhe majore a valia dos projectos e lhe acrescente outros que lhe projectem o futuro. Num quadro de competição aberta e globalizada como o actual, a coordenação de acções, a parceria entre agentes de desenvolvimento, a reunião de massas críticas em variados domínios e a definição esclarecida de apostas em sectores de futuro não parece poder viver exclusivamente de inércias espontâneas. A própria economia do país teria a ganhar com os passos em frente que “Leiria” fosse capaz de dar nesse sentido.
J. Cadima Ribeiro
(texto de trabalho produzido no contexto da preparação da intevenção que o signatário fará na 2ª feira pf., 28 de Março, na REUNIÃO ABERTA, subordinada ao tema "O QUE FAZER PELA MINHA REGIÃO?", organizada pela ADLEI-Associação para o desenvolvimento de Leiria, no espaço MIMO, em Leiria; uma versão reduzida deste texto será publicada nessa data no Diário de Leiria)
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