terça-feira, maio 08, 2018

Turismo militar em Guimarães: um “campo” subaproveitado

Guimarães é uma cidade impregnada de um forte significado simbólico e cultural. Considerada a cidade “Berço da Nação”, por ser a cidade onde nasceu o primeiro rei de Portugal, detém uma componente histórica rica e notável. A acreditação do seu Centro Histórico como Património Cultural da Humanidade, em dezembro de 2011, pela UNESCO, veio aumentar ainda mais o seu potencial em termos turísticos. E a atribuição da menção de Cidade Europeia da Cultura, no ano de 2012, também permitiu, de forma exponencial, dar a conhecer o vasto património cultural desta cidade. Consequentemente, tem sido notório o crescimento do turismo no centro urbano de Guimarães.
O Turismo é um fenómeno global com acentuadas diferenciações e, no que concerne à cidade de Guimarães, sobressai o Turismo Cultural, que se tem vindo a revelar como uma mais-valia em termos de fatores de desenvolvimento local. Trata-se de um ato económico pois possibilita a satisfação de uma necessidade da parte do turista e, para além disso, contribui para o desenvolvimento alargado de vários setores da atividade económica, concretamente, no que se refere ao fornecimento de bens e serviços, contribuindo para a criação e manutenção de inúmeros postos de trabalho.
Porque os impactes criados pelo turismo têm uma tradução essencialmente local, importa que as diversas políticas de atuação, na área do turismo, sejam objeto de um planeamento estratégico capaz de criar cadeias de valor, e que permita a satisfação dos turistas, ou seja, que vá no sentido das suas necessidades.
Efetivamente, o turismo não é uma área estanque e as necessidades em termos de turismo vão sofrendo evoluções ao longo do tempo. Assim, não obstante a reconhecida importância da cidade de Guimarães e do seu inigualável património e valor histórico, urge refletir sobre as tendências atuais, a fim de responder às novas exigências e aspirações da parte dos turistas. 
Neste contexto, o Turismo Militar, como segmento do Turismo Cultural, criado em 2014 pelo Ministério da Defesa Nacional Português, tem-se vindo a assumir como um novo e promissor elemento que tem vindo a ser impulsionado especialmente na região centro. Descrito como um projeto cultural inovador, agregador e atrativo, tem um enorme potencial em termos de mercado interno e externo. Uma das abordagens do Turismo Militar consiste na valorização dos Campos de Batalha, nomeadamente através do “storytelling”.
No que concerne à cidade de Guimarães, esta “respira” história e no seu centro histórico existem monumentos de grande destaque, como por exemplo o Castelo de Guimarães ou o Paço dos Duques, que se tornaram locais de visita obrigatória. Contudo, a cerca de cinco quilómetros do centro, concretamente, em S. Torcato, existe um Campo de Batalha que muitos desconhecem – o Campo da Ataca. Terá sido nesse local que, em 24 de junho de 1128, D. Afonso Henriques venceu os espanhóis e conquistou a soberania do Condado, iniciando-se o processo de independência de Portugal.
Apesar de em 1996, ter sido inaugurado nesse local um arranjo artístico-monumental que celebra este importante acontecimento, com sete estátuas de cinco metros, muitos desconhecem a sua existência, situação para a qual contribuem a parca sinalização e as difíceis acessibilidades.
Inclusivamente, as festividades com cariz histórico, de que são exemplo as Festas Afonsinas e as Festas Gualterianas, circunscrevem-se sempre ao centro da cidade, deixando de parte este local tão rico de história. Parece-nos assim que o Campo da Ataca é um local promissor, mas subaproveitado, e que poderia vir a constituir um dos pontos-chave na exploração do Turismo Militar no Norte de Portugal.
Em jeito de desafio, compete aos agentes locais da cidade de Guimarães adotar uma atitude proativa face ao novo Turismo Militar, partindo dos recursos valiosos que a cidade já detém, e não só incrementar o turismo no centro histórico mas alargá-lo também à periferia.

Bruna Ferreira

Bibliografia
Coelho, J. (2011). Turismo Militar como segmento do Turismo Cultural: Memória, Acervos, Expografias e Fruição Turística. (Mestrado em em Desenvolvimento de Produtos de Turismo Cultural), Instituto Politécnico de Tomar. Disponivel em: file:///C:/Users/Asus/Downloads/Turismo%20Militar_JPCoelho.pdf

Marques, V. (2011). Turismo cultural em Guimarães : o perfil e as motivações do visitante. (Mestrado em Património e Turismo Cultural), Universidade do Minho. Disponivel em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/18041/1/Tese%20-%20Vitor%20Marques%20-%202011.pdf 

Webgrafia
http://visao.sapo.pt/exame/2016-04-14-Portugal-na-rota-do-turismo-militar


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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