segunda-feira, março 10, 2025

A pretexto de dia de aniversário da EEG/UMinho e de prémio de investigação atribuído

 


PRÉMIO DE INVESTIGAÇÃO EEG – ÁREA DE SUSTENTABILIDADE

José António Cadima Ribeiro

 

José António Cadima Ribeiro nasceu a 6 de dezembro de 1955, no lugar de Vale de Frade, Barosa, Leiria (Portugal). É Professor Catedrático aposentado do Departamento de Economia da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política (EEG) da Universidade do Minho, desde agosto de 2022. É doutorado em Ciências Económicas e Empresariais (especialidade de Desenvolvimento Económico e Social e Economia Pública) pela Universidade do Minho, desde julho de 1989. Foi Presidente da EEG entre janeiro de 1998 e abril de 2004. Atualmente, integra o Conselho Superior de Estatística, onde é Presidente da Secção Permanente de Estatísticas de Base Territorial.

 

Artigo Premiado

Silva, L. F., Carballo-Cruz, F., & Ribeiro, J. C. (2024). Residents’ perceptions of tourism development in the context of a new governance framework for Portuguese protected areas: The case of a small peripheral natural park. Journal of Rural Studies, 112, 103451.

 

Guião| Perguntas

 

1.    Quem é o cidadão Professor José António Cadima Ribeiro?

Resposta:

Respondendo à questão colocada, diria que sou um cidadão originário de Leiria, licenciado em Lisboa, e residente, desde há mais de 40 anos, no Minho. Sou, também, um académico que pretendeu não ser irrelevante em matéria de contributo para a sociedade, e informado por valores éticos.  Embora esteja aposentado nesta ocasião, preservo esses valores e vontade.

Sou, também, alguém profundamente marcado por eventos nefastos que afetaram a minha vida íntima, nomeadamente, a morte da minha filha quando tinha 7 anos.  Como ouvi de alguém há algum tempo, nenhum pai recupera da morte prematura de um filho. Sei-o de experiência própria.

2.    Em criança sonhava a carreira que obteve?

Resposta:

Não, nunca em criança imaginei vir a ser professor e investigador, e menos ainda vir a desenvolver a minha vida profissional no Minho. Aliás, depois de ter concluído a minha licenciatura em Economia, os primeiros postos de trabalho a que me candidatei eram ou em Leiria ou em territórios vizinhos.

A primeira vez que fui confrontado com a possibilidade de vir a desenvolver uma carreira como professor universitário decorreu de uma sugestão de um professor que tive na minha licenciatura, que, aliás, mais tarde, acabou por vir a ser o meu orientador de doutoramento, e também uma referência central do meu percurso académico.

3.    Como começou a explorar esta área?

Resposta:

A minha opção em termos de trabalho académico orientou-se, desde cedo, para as problemáticas do desenvolvimento regional e local, e as políticas pensadas para enfrentar os estrangulamentos e assimetrias de desenvolvimento dos territórios, a escalas sub-nacionais.

A problemática do desenvolvimento turístico e, mais do que isso, das perceções dos residentes dos impactes do desenvolvimento turístico surgiu bastante mais tarde. Na verdade, a primeira investigação em que participei com esse foco foi uma que tomou como estudo de caso Guimarães. Este foi, também, um dos primeiros estudos dessa natureza realizados em Portugal. A publicação do texto que resultou desse estudo aconteceu em 2013, e sucedeu ao acolhimento por Guimarães da Capital Europeia da Cultura (em 2012).

Falando-se de desenvolvimento de um destino turístico, o acolhimento dos visitantes pelos residentes é uma peça central da respetiva sustentabilidade, mesmo porque a qualidade da experiência turística é fortemente devedora da atitude das comunidades locais. Aliás, hoje em dia, abundam os casos de rejeição pelos residentes do desenvolvimento turístico de vários destinos.

4.    Quais são os resultados do estudo que deu origem à elaboração do artigo que agora está a ser premiado?

Resposta:

O estudo que efetuámos é uma componente de um projeto mais global, que se intitulou Climate change resilient tourism in protected areas of Northern Portugal (em português, Turismo resiliente às alterações climáticas em áreas protegidas do norte de Portugal), e que envolveu investigadores da EEG e do ICS. Os territórios abrangidos foram o Parque Nacional Peneda-Gerês, o Parque Natural do Norte Litoral e o Parque Natural do Alvão. Eu integrei a equipa que ficou encarregue de tratar o caso do Parque Natural do Alvão.

Os resultados do estudo publicado no Journal of Rural Studies foram apenas parte da investigação que foi concretizada. O que de principal se concluiu em relação à matéria da perceção dos residentes dos impactes de uma potencial aposta no desenvolvimento turístico foi o seguinte:

i)                As principais perceções que foram identificadas referem-se aos impactes negativos potenciais do turismo no ambiente e na dinâmica sociocultural da comunidade local, e, por outro lado, a efeitos benéficos na geração de rendimento e no estímulo de algumas manifestações de cultura locais;

ii)             Por outro lado, identificou-se a existência de três grupos de residentes consoante as perceções que mantinham sobre os efeitos do turismo, o que, obviamente, conduz a diferentes níveis de apoio ao projeto de desenvolvimento do turismo do parque;

iii)           O primeiro grupo, que denominámos “Guardiões da Tradição e da Ética”, é notável pelas fortes preocupações expressas sobre os impactes sociais negativos do turismo, particularmente no que respeita a potenciais mudanças culturais e éticas na comunidade;

iv)            O segundo grupo, denominado “Apoiantes Conscientes dos Impactes”, compreende residentes que estão conscientes dos potenciais impactes negativos em várias dimensões e, por contrapartida, dos efeitos positivos esperados no emprego, e que, portanto, apoiam o desenvolvimento do turismo;

v)              O terceiro grupo, denominado “Otimistas Comunitários e Económicos”, inclui residentes que valorizam os benefícios económicos do turismo e o contributo que daí pode advir para a consolidação da comunidade local, aparecendo como os mais otimistas e os que mais apoiam o desenvolvimento do turismo. 

5.    Que significa este prémio?

Resposta:

O prémio é uma forma de reconhecimento da qualidade do trabalho realizado pela equipa que foi constituída. Aliás, essa distinção secunda a própria publicação do estudo numa das revistas cientificas da área de investigação que é detentora de maior cotação.

É obviamente simpático que seja feito esse reconhecimento público, particularmente num momento em que eu me encontro já aposentado e, supostamente, desobrigado de fazer investigação e, por via desta, contribuir para a produção de conhecimento aprofundado sobre os territórios, e de continuar a contribuir para a definição de melhores políticas  públicas.

6.    Como/onde se vê daqui a 10 anos?

Resposta:

Como deixei dito a abrir esta conversa, encontro-me nesta altura já aposentado e, portanto, com uma idade relativamente avançada. Não sei se serei vivo daqui a 10 anos. Se for, gostava de continuar a ser capaz de mostrar que a aposentação formal não é, necessariamente, sinónimo de inação e incapacidade de contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor informada e mais capaz de prosseguir um projeto de desenvolvimento mais sustentável e harmonioso, socialmente.


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