PRÉMIO DE INVESTIGAÇÃO EEG – ÁREA DE SUSTENTABILIDADE
José António Cadima Ribeiro
José António Cadima
Ribeiro nasceu a 6 de dezembro de 1955, no lugar de Vale de Frade, Barosa, Leiria
(Portugal). É Professor
Catedrático aposentado do Departamento de Economia da Escola de
Economia, Gestão e Ciência Política (EEG) da Universidade do Minho, desde
agosto de 2022. É doutorado em Ciências Económicas e
Empresariais (especialidade de Desenvolvimento Económico e Social e Economia Pública)
pela Universidade do Minho, desde julho de 1989. Foi Presidente da EEG
entre janeiro de 1998 e abril de 2004. Atualmente, integra o
Conselho Superior de Estatística, onde é Presidente da Secção Permanente
de Estatísticas de Base Territorial.
Artigo Premiado
Silva,
L. F., Carballo-Cruz, F., & Ribeiro, J. C. (2024). Residents’ perceptions of tourism development in the context of a new
governance framework for Portuguese protected areas: The case of a small
peripheral natural park. Journal of
Rural Studies, 112,
103451.
Guião| Perguntas
1.
Quem é o cidadão Professor José
António Cadima Ribeiro?
Resposta:
Respondendo à questão colocada, diria que sou um
cidadão originário de Leiria, licenciado em Lisboa, e residente, desde há mais de
40 anos, no Minho. Sou, também, um académico que pretendeu não ser irrelevante
em matéria de contributo para a sociedade, e informado por valores éticos. Embora esteja aposentado nesta ocasião,
preservo esses valores e vontade.
Sou, também, alguém profundamente marcado por eventos nefastos que afetaram a minha vida íntima, nomeadamente, a morte da minha filha quando tinha 7 anos. Como ouvi de alguém há algum tempo, nenhum pai recupera da morte prematura de um filho. Sei-o de experiência própria.
2.
Em criança sonhava a carreira que
obteve?
Resposta:
Não, nunca em criança imaginei vir a ser professor e
investigador, e menos ainda vir a desenvolver a minha vida profissional no
Minho. Aliás, depois de ter concluído a minha licenciatura em Economia, os
primeiros postos de trabalho a que me candidatei eram ou em Leiria ou em territórios
vizinhos.
A primeira vez que fui confrontado com a possibilidade de vir a desenvolver uma carreira como professor universitário decorreu de uma sugestão de um professor que tive na minha licenciatura, que, aliás, mais tarde, acabou por vir a ser o meu orientador de doutoramento, e também uma referência central do meu percurso académico.
3.
Como começou a explorar esta área?
Resposta:
A minha opção em termos de trabalho académico
orientou-se, desde cedo, para as problemáticas do desenvolvimento regional e
local, e as políticas pensadas para enfrentar os estrangulamentos e assimetrias
de desenvolvimento dos territórios, a escalas sub-nacionais.
A problemática do desenvolvimento turístico e, mais
do que isso, das perceções dos residentes dos impactes do desenvolvimento
turístico surgiu bastante mais tarde. Na verdade, a primeira investigação em
que participei com esse foco foi uma que tomou como estudo de caso Guimarães.
Este foi, também, um dos primeiros estudos dessa natureza realizados em Portugal.
A publicação do texto que resultou desse estudo aconteceu em 2013, e sucedeu ao
acolhimento por Guimarães da Capital Europeia da Cultura (em 2012).
Falando-se de desenvolvimento de um destino turístico, o acolhimento dos visitantes pelos residentes é uma peça central da respetiva sustentabilidade, mesmo porque a qualidade da experiência turística é fortemente devedora da atitude das comunidades locais. Aliás, hoje em dia, abundam os casos de rejeição pelos residentes do desenvolvimento turístico de vários destinos.
4.
Quais
são os resultados do estudo que deu origem à elaboração do artigo que agora
está a ser premiado?
Resposta:
O estudo que efetuámos é uma componente de um
projeto mais global, que se intitulou Climate
change resilient tourism in protected areas of Northern Portugal (em português,
Turismo resiliente às alterações climáticas em áreas protegidas do norte de
Portugal), e que envolveu investigadores da EEG e do ICS. Os territórios
abrangidos foram o Parque Nacional Peneda-Gerês, o Parque Natural do Norte
Litoral e o Parque Natural do Alvão. Eu integrei a equipa que ficou encarregue
de tratar o caso do Parque Natural do Alvão.
Os resultados do estudo publicado no Journal of Rural Studies foram apenas
parte da investigação que foi concretizada. O que de principal se concluiu em
relação à matéria da perceção dos residentes dos impactes de uma potencial
aposta no desenvolvimento turístico foi o seguinte:
i)
As principais perceções que foram
identificadas referem-se aos impactes negativos potenciais do turismo no
ambiente e na dinâmica sociocultural da comunidade local, e, por outro lado, a efeitos
benéficos na geração de rendimento e no estímulo de algumas manifestações de
cultura locais;
ii)
Por outro lado, identificou-se a
existência de três grupos de residentes consoante as perceções que mantinham sobre
os efeitos do turismo, o que, obviamente, conduz a diferentes níveis de apoio
ao projeto de desenvolvimento do turismo do parque;
iii)
O primeiro grupo, que denominámos
“Guardiões da Tradição e da Ética”, é notável pelas fortes preocupações expressas
sobre os impactes sociais negativos do turismo, particularmente no que respeita
a potenciais mudanças culturais e éticas na comunidade;
iv)
O segundo grupo, denominado
“Apoiantes Conscientes dos Impactes”, compreende residentes que estão conscientes
dos potenciais impactes negativos em várias dimensões e, por contrapartida, dos
efeitos positivos esperados no emprego, e que, portanto, apoiam o
desenvolvimento do turismo;
v) O terceiro grupo, denominado “Otimistas Comunitários e Económicos”, inclui residentes que valorizam os benefícios económicos do turismo e o contributo que daí pode advir para a consolidação da comunidade local, aparecendo como os mais otimistas e os que mais apoiam o desenvolvimento do turismo.
5.
Que significa este prémio?
Resposta:
O prémio é uma forma de reconhecimento da qualidade
do trabalho realizado pela equipa que foi constituída. Aliás, essa distinção secunda
a própria publicação do estudo numa das revistas cientificas da área de
investigação que é detentora de maior cotação.
É obviamente simpático que seja feito esse reconhecimento público, particularmente num momento em que eu me encontro já aposentado e, supostamente, desobrigado de fazer investigação e, por via desta, contribuir para a produção de conhecimento aprofundado sobre os territórios, e de continuar a contribuir para a definição de melhores políticas públicas.
6.
Como/onde se vê daqui a 10 anos?
Resposta:
Como deixei dito a abrir esta conversa, encontro-me
nesta altura já aposentado e, portanto, com uma idade relativamente avançada.
Não sei se serei vivo daqui a 10 anos. Se for, gostava de continuar a ser capaz
de mostrar que a aposentação formal não é, necessariamente, sinónimo de inação
e incapacidade de contribuir para que tenhamos uma sociedade melhor informada e
mais capaz de prosseguir um projeto de desenvolvimento mais sustentável e
harmonioso, socialmente.
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