segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Contributo da rede de transportes para o desenvolvimento regional

Com o presente artigo, pretendo demonstrar a importância das infra-estruturas ligadas aos transportes, bem como a sua influência na atenuação das assimetrias regionais existentes em Portugal.
As infra-estruturas condicionam o desenvolvimento regional em três pontos importantes, tais como: a actividade económica, a pobreza e o meio ambiente. Estas impulsionam o desenvolvimento regional, citando o Banco Mundial: “ a infra-estrutura representa se não o motor, pelo menos as “rodas” da actividade económica”.
Algumas infra-estruturas podem eventualmente causar impactos positivos aos mais variados níveis, nomeadamente ao nível ambiental, diminuindo a poluição, melhorando o padrão de vida dos cidadãos e simultaneamente protegendo a saúde pública. Estas podem também ser responsáveis pela diminuição da pobreza em determinadas situações.
Os transportes são um sector importante do ponto de vista económico e social das sociedades na medida em que contribuem, regra geral para um incremento do nível de vida. O seu desenvolvimento exerce, efectivamente, um forte impacto no desenvolvimento das regiões, uma vez que permite ultrapassar as barreiras físicas existentes, como por exemplo, relevos e rios, através da abertura de túneis e da construção de pontes, respectivamente. Para alem disso, a rede de transportes possibilita a intensificação das trocas comerciais com os países mais longínquos de forma mais rápida, daí o crescente uso dos transportes aéreos e marítimos.
O desenvolvimento dos transportes apresenta como principais vantagens o encurtamento das distâncias de tempo (auto-estradas, TGV e aviões) e o encurtamento das distâncias-custo (aumento da capacidade de carga, especialização de veículos, redução do consumo de energia e o aumento da segurança).
Nas sociedades antigas, como sabemos, viajava-se em animais como o boi ou o elefante, ou mesmo a pé em contacto com a natureza. No entanto, com a Revolução Industrial, em meados do século XIX, ao surgirem as primeiras ferrovias, assistimos à revolução dos transportes com a introdução da locomotiva e do barco a vapor. Desde então, com os progressivos avanços tecnológicos chegamos ao que somos hoje, uma sociedade que dispõe de diversos tipos de transporte, facilitando assim a mobilidade de pessoas, informação e mercadorias.
A rede de transportes deve garantir viabilidade social, isto é, o sistema de transportes deve garantir que as vantagens sejam repartidas de forma igualitária pelos diferentes estratos sociais, garantindo aos mais desfavorecidos o mesmo acesso à educação, saúde e emprego; a viabilidade ambiental e ecológica, é outra garantia fundamental a ser assegurada pelos transportes, no sentido de exercer um controle sobre as externalidades negativas. Finalmente, a viabilidade económica e financeira, que deverá assegurar um melhor nível de vida a todos os cidadãos.
Pelas estatísticas dos transportes de 2006 e estatísticas do comércio internacional, ambas retiradas do Instituto Nacional de Estatística (INE), procedo a uma breve análise da evolução dos diversos tipos de transporte de mercadorias.
O transporte aéreo evoluiu de forma bastante positiva entre 2005 e 2006. Verificaram-se nos aeroportos aumentos na ordem dos 3,6% no movimento de carga e correio, 7,7% no movimento de passageiros e 5% no movimento de aeronaves.
Relativamente aos transportes marítimos, podemos afirmar que em 2006 entraram 14 886 embarcações de comércio em Portugal, registando-se um aumento de 0,8% relativamente ao ano anterior.
Quanto aos portos portugueses, estes movimentaram cerca de 66,9 milhões de toneladas de mercadorias (registou-se um aumento de 2,4% face a 2005), entre os quais 1,7 milhões verificaram-se na Região Autónoma da Madeira, 2,6 milhões na Região Autónoma dos Açores e 62,6 milhões no Continente.
Destacaram-se como principais portos no movimento de mercadorias, os de Sines, Leixões e Lisboa.
Os produtos petrolíferos surgem como o principal grupo de mercadorias carregadas nos portos de Sines com 84,9% do total de mercadorias carregadas em cada porto, e no porto de Leixões com uma percentagem de 27,5%. O Petróleo bruto é a principal mercadoria descarregada, com 49,2% e 37,7% do total de descargas em cada porto.
O grupo de mercadorias "Produtos agrícolas, alimentares e forragens; animais vivos; adubos; madeira e cortiça", dominou as cargas e descargas nos portos de Lisboa, Caniçal e Ponta Delgada.
No porto de Setúbal, as principais mercadorias carregadas são cimentos, cal e materiais de construção manufacturados, com uma percentagem total das cargas de 64,1%. Os produtos petrolíferos assumem-se como a mercadoria de maior peso nas descargas (30,0%).
Em Aveiro, o principal grupo de mercadoria descarregado é o conjunto dos combustíveis minerais sólidos (66,6%), ao passo que a Celulose e desperdícios se apresentam como o grupo de mercadorias com mais movimento.
O transporte rodoviário de mercadorias registou uma desaceleração no tráfego nacional (-4,7 toneladas face a 2005), ao contrário do que sucedeu no tráfego internacional em que se assistiu a uma forte aceleração das toneladas transportadas (+12,1% do que no ano anterior).
Relativamente ao transporte ferroviário, podemos afirmar que houve um aumento de 2,3% de transportados por caminho-de-ferro em relação a 2005. Comparando com o ano anterior e com o tipo de tráfego, verifica-se que o tráfego nacional registou acréscimos em 2006, quer para o longo curso (2,4%), quer para o tráfego suburbano (2,3%). Observa-se também uma variação homóloga das mercadorias transportadas de 0,9% relativamente a 2005. Em 2006 foram transportadas 11 293 mil toneladas de mercadorias por caminho-de-ferro.
Focando agora, o Comércio Internacional, podemos observar que as importações vindas da Europa são maioritariamente realizadas pelo transporte rodoviário (são transportados mercadorias no valor de 32 363 170 000 euros pelo transporte rodoviário), enquanto que as mercadorias vindas de África e Ásia chegam a Portugal principalmente por transporte marítimo (3 202 845 000 euros e 3 342 185 000 euros de mercadorias importadas pelo transporte marítimo, respectivamente). As mercadorias importadas da América são transportadas em grande parte pelo transporte aéreo, nomeadamente 464 950 000 euros de mercadorias.
Relativamente ás exportações, observamos que a maioria das mercadorias que saem de Portugal para o resto da Europa são transportadas pelo transporte rodoviário (21 690 200 000 euros de mercadorias transportadas pelo transporte rodoviário). As mercadorias exportadas para a África são feitas principalmente pelo transporte marítimo (1 779 911 000 euros). Em relação ás exportações realizadas para a Ásia, o meio de transporte mais utilizado é o aéreo, que transporta 1 103 700 000 euros de mercadorias. Para finalizar, o meio de transporte mais utilizado nas exportações para a América é o transporte marítimo, que leva cerca de 2 059 849 000 euros de mercadorias.
Em síntese, podemos afirmar que o desenvolvimento do sector dos transportes possibilita, uma maior integração das regiões nacionais, uma satisfação das necessidades básicas de toda a população, maior mobilidade dos cidadãos, mercadorias e informação, o fim do isolamento das regiões periféricas e menos desenvolvidas e a inserção do mercado nacional num mercado mundial.
No entanto, devemos todos estar conscientes de que o desenvolvimento dos transportes por si só não é sinónimo de desenvolvimento regional, é necessária a articulação deste investimento com toda a Economia Portuguesa.
Marta Fernanda Carneiro Leão Vilela
[texto produzido no âmbito da unidade curricular "Desenvolvimento e Competitividade do Território", do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas (2º ciclo), da EEG/UMinho]

Sem comentários: