terça-feira, abril 02, 2013

Produção, consumo e apreciação: Pudim Abade de Priscos, uma (in)certeza?

O Pudim Abade de Priscos é um doce conventual português do século XIX cuja autoria é
atribuída ao abade Manuel Rebelo (1834-1930), comummente conhecido por Abade de Priscos. O pudim ficou conhecido quando Pereira Júnior, director do Magistério Primário Feminino de Braga, no antigo Convento dos Congregados [São José de São Lázaro, Braga], pediu ao Abade de Priscos receitas para ensinar no Magistério (http://abadepriscos.no.sapo.pt – acedido a 09-03-2013). A origem do nome do pudim deve-se às circunstâncias de Manuel Rebelo o ter concebido quando era abade e residia na freguesia de Priscos (localizada no município de Braga, na região Minhota de Portugal Continental).
A particularidade que diferencia este pudim dos demais pudins portugueses é a inclusão na sua confecção de presunto, proveniente preferencialmente dos municípios de Chaves e Melgaço, o que o torna num produto apetecível e apreciado de Norte a Sul do país.
Em 2011, foi seleccionado entre 70 pratos como um dos 21 finalistas candidatos às 7 maravilhas portuguesas da gastronomia, na categoria dos doces. Para que fosse aceite como um dos candidatos teve de obedecer a um conjunto de critérios, que podem ser consultados no seguinte link:
Segundo Agostinho Peixoto (2011), Presidente da Confraria do Abade, o resultado obtido neste concurso levou a um acréscimo médio de 70 por cento das vendas do Pudim Abade de Priscos nos restaurantes portugueses, o que, por sua vez, contribuiu para o engrandecimento da freguesia de Priscos e da região do Minho (http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=476123&tm=4&layout=121&visual=49 - acedido a 13-03-2013).
Com base nestes pressupostos e atendendo ao simbolismo do Pudim Abade de Priscos, bem como ao facto de não existirem estudos sobre a produção, percepção e grau de satisfação relativamente a este produto, optei por aplicar a 22 e 23 de Março de 2013 um inquérito a restaurantes, a confeitarias (freguesias da Sé e de São João do Souto do município de Braga) e a residentes e a não residentes do município de Braga (freguesia de São João do Souto do município de Braga).
A opção pela aplicação dos inquéritos nestas freguesias prende-se com a seguinte ordem de razões: i) presença de um número considerável de confeitarias e restaurantes; ii) enorme afluência diária de cidadãos. Os desideratos a efectivar com a sua aplicação eram os seguintes: i) aferir a produção do Pudim Abade de Priscos nas confeitarias e restaurantes nas freguesias da Sé e de São João do Souto; ii) indagar o grau de conhecimento, consumo e de satisfação em relação ao Pudim Abade de Priscos dos residentes e não residentes do município de Braga.

Análise dos Inquéritos
Das 6 perguntas colocadas a 15 proprietários de restaurantes e confeitarias (6 micro e 4 pequenas empresas), no dia 22 de Março de 2013, entre 18h03m e as 20h41m, retiraram-se as seguintes ilações:
i) Os 15 proprietários conhecem o Pudim Abade de Priscos;
ii) 10 proprietários comercializam o Pudim Abade de Priscos;
iii) 8 proprietários declararam que o Pudim Abade de Priscos que comercializam é produzido no próprio estabelecimento; apenas 2 afirmaram que o encomendam a um outro estabelecimento; 
iv) Acorrem, diariamente, aos estabelecimentos para consumir o Pudim Abade de Priscos entre 1 a 5 clientes (2 estabelecimentos), 6 a 10 clientes (3 estabelecimentos) e 11 a 15 clientes (2 estabelecimentos); 
v) O custo associado ao consumo do Pudim Abade de Priscos varia entre estabelecimentos. O modo como estes procedem à sua comercialização é distinto, na medida em que 5 estabelecimentos dão a possibilidade de o comer fatiado, 8 estabelecimentos vendem-no ao Quilograma e 3 estabelecimentos permitem as duas opções retratadas anteriormente. O preço de uma fatia varia entre os 2 euros (preço mais baixo) e os 4 euros (preço mais elevado). O preço de uma unidade de 1 Kg varia entre os 12 euros (preço mais baixo) e os 17 euros (preço mais elevado). Os preços praticados pelos micro estabelecimentos são em média mais elevados.
Das 9 perguntas colocadas a 64 indivíduos residentes e não residentes do município de Braga, no dia 23 de Março de 2013, entre as 16h30m e as 17h26m, retiraram-se as seguintes ilações:
i) 38 residem no município de Braga, 23 residem noutro município de Portugal Continental (NW e Sul de Portugal) e 3 residem noutro país (Espanha, Brasil);
ii) A idade dos inquiridos varia entre os 10 anos e os 77 anos;
iii) 49 inquiridos (76,6%) conhecem o Pudim Abade de Priscos;
iv) 30 inquiridos (61,2%) sabem que foi um dos 21 finalistas às 7 maravilhas da gastronomia portuguesa;
iv) 31 inquiridos (63,3%) asseveraram que pelo menos por uma ocasião anterior à entrevista tinham degustado o Pudim Abade de Priscos;
v) A frequência de consumo do pudim varia entre uma vez por semana (6,5%), uma vez por mês (19,4%) e uma vez por ano (74,2%);
vi) O grau de satisfação varia entre o Razoável (45,2%), o bom (51,6%) e o muito bom (3,2%);
vii) Por último, foi requerido aos inquiridos que numa palavra descrevessem o que sentem ao comer o Pudim Abade de Priscos. As palavras que foram mais vezes repetidas são as seguintes: doce (9), bom (6).

Em suma, o Pudim Abade de Priscos é um produto regional de referência, associado invariavelmente à certeza da sua replicação em muitos restaurantes e confeitarias locais e do país, e à enorme satisfação que a generalidade das pessoas sente ao deleitar-se com este manjar dos deuses (i.e., deveras adocicada). Um doce, uma vontade, uma certeza!

Márcio Góis

Referências
Websites:
http://www.rtp.pt/ (Rádio Televisão Portuguesa).

Nota: Caso esteja interessado em aprofundar os seus conhecimentos sobre o Pudim Abade de Priscos recomendo-lhe que visite os seguintes links:
http://abadepriscos.no.sapo.pt (Origem do Pudim Abade de Priscos).
http://www.freguesia-priscos.pt (Receita do Pudim Abade de Priscos).

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

Sem comentários: