quarta-feira, abril 29, 2015

“The Environmental Impacts of Hosting the ´2012 Guimarães European Capital of Culture` as Perceived by the Local Community”

"This paper presents the results of an evaluation of the perceptions of the environmental impacts of the 2012 European Capital of Culture (ECOC) on the hosting community of Guimarães, a World Heritage Site. Data was obtained through a self-administered survey of 510 residents in the Guimarães municipality at the end of 2011. The primary results indicate that the residents acknowledged that hosting the event brought benefits to the city, but it also had negative impacts. The impacts perceived by residents were classified as socio-cultural, economic and environmental. The negative environmental impacts were the most pronounced."

(reprodução de resumo de artigo entretanto publicado em Ambiente y Desarrollo, Vol. 19, Nº 36, 2015, págs. 25-38 (trabalho em co-autoria com Paula Cristina Remoaldo e Eduardo Duque)

segunda-feira, abril 27, 2015

A motivação dos visitantes e a promoção dos recursos endógenos no VI Festival de Pão-de-Ló em Felgueiras

Nos últimos anos, os festivais tornaram-se práticas comuns nos diversos territórios e têm sido comummente utilizados em estratégias de marketing territorial, bem como para a construção de novas atrações turísticas.
Pelo sexto ano consecutivo, a Câmara Municipal de Felgueiras organizou o Festival do Pão de Ló – Mostra Anual de Pão-de-ló e Doces Tradicionais, durante os dias 28 e 29 de Março de 2015, tendo em vista a promoção e a divulgação dos recursos endógenos do município. Segundo dados da organização, o número de visitantes, em 2015, cifrou-se em 30000 pessoas, quando em 2014 se tinham registado 40000 visitantes, o que contribuiu para uma quebra na ordem dos 25,0%. Ainda assim, entre 2010 e 2014, o evento registou uma taxa de crescimento média anual de visitantes na ordem dos 18,9%.
A crescente importância da organização de festivais para o desenvolvimento regional e local e a ausência de um estudo sobre a motivação dos visitantes para a participação no festival do pão-de-ló está na origem do presente ensaio. A opção de aplicação do inquérito durante a realização do evento prende-se com: i) a importância assumida pelo festival para a promoção dos produtos locais e regionais e ii) a enorme afluência registada ao festival. Os principais objetivos inerentes à sua aplicação são: i) aferir os padrões dos visitantes do evento e ii) avaliar as principais motivações que estão na origem da visita ao festival.
Tendo em conta os pressupostos enunciados, após ter sido executado um pré-teste a 4 indivíduos, que permitiu eliminar certos enviesamentos, foi aplicado um inquérito estruturado em 13 questões a 71 indivíduos, nos dias 28 de Março, entre as 10h21m e as 12h15m, e 29 de Março, entre as 15h05m e as 17h11m, cujo período de resposta se estimou, em média, de 4 minutos. Além disso, trata-se de uma amostra não probabilística e que seguiu um critério de conveniência. Os dados foram tratados através da utilização do pacote estatístico para as ciências sociais (SPSS, versão 21.0).
De uma forma geral, os respondentes são representativos do sexo feminino (53,5%) e do sexo masculino (46,5%). Uma grande parte dos visitantes reside no município de Felgueiras (63,4%), ao passo que 31,0% residem noutro município de Portugal e 5,6% vivem noutro país (Espanha e França, designadamente). No que respeita ao nível de qualificação, 70,5% possuem nível de ensino igual ou superior ao 3º ciclo do ensino básico, dos quais 28,2% têm o nível básico concluído, 26,8% o nível de ensino secundário e 15,5% apresentam nível de qualificação superior.
Os principais meios de conhecimento da realização do festival utilizados foram as redes sociais (30,3%), os amigos e familiares (29,2%) e o jornal/rádio (24,7%). Acrescenta-se ao exposto que os visitantes participaram, em média, em 2 edições do festival, sendo que 31,0% participavam pela primeira vez no evento quando foram inquiridos.
Entre os produtos promovidos pelos expositores, o pão-de-ló assume-se como o elemento de preferência de 52,1% dos inquiridos. A par disso, 73,2% consumiram pão-de-ló em período igual ou inferior a seis meses. Tal facto contribui para que uma das motivações de visita ao festival de pão-de-ló esteja intrínseco à degustação dos produtos, embora existam outras motivações significativas para a visita.
Através da utilização da análise de clusters de agrupamento não-hierárquico com recurso ao algoritmo k-means cluster para 11 itens sobre a motivação para a visita ao festival, que variava numa escala de likert de 1= discordo completamente até 5= concordo completamente, permitiu-nos subdividir a amostra em três grupos (k=3). A comparação dos diferentes grupos revelou diferenças estatísticas significativas, que motivaram a designação dos diferentes grupos do seguinte modo:
i)     Os ‘Culturalistas’ (25,4%), que visitam com o intuito não só de participar no festival, mas também de visitar o Mosteiro de Pombeiro e outras atrações do município durante o fim-de-semana (55,6%). Trata-se, essencialmente, de indivíduos com níveis de qualificação mais elevados que os restantes segmentos [com nível de ensino secundário (38,9%) e curso superior (22,2%)], com idades inferiores (escalão etário dos 25 aos 44 anos= 44,4%) e de indivíduos não residentes no município de Felgueiras (83,3%).
ii)   Os ‘Experiencialistas’ (35,2%), que embora tenham vários fins associados à sua participação no festival, a motivação fundamental prende-se com a pretensão de experimentar os produtos locais (72,0%), experienciar algo diferente (60,0%), aprender algumas tradições e costumes (60,0%) e que estão, fundamentalmente, associados a indivíduos do sexo masculino (64,0%).
iii)  Os ’Consumistas’ (39,4%), que vão ao festival com a principal motivação de adquirirem produtos endógenos (78,6%); trata-se sobretudo de indivíduos do sexo feminino (67,9%).
Refira-se, a propósito, que a segmentação através das motivações permite que a organização, deste e de outros eventos, identifique as potencialidades e as oportunidades de mercado e, em última estância, garanta a satisfação dos públicos-alvo. É, pois, fundamental que se faça uma análise criteriosa das motivações de participação dos visitantes, de modo a que seja possível criarem-se ferramentas de marketing poderosíssimas, assentes em festivais e feiras locais que ajudem a potenciar os territórios.

Hélder Lopes

Notas: 1 Fotografias do VI Festival do Pão de Ló de Margaride, tiradas pelo autor, em 29.03.2015.
2 Se tiver interesse em saber mais sobre o Festival do Pão-de-Ló, consultar a página oficial do evento em: www.festivaldopaodelo.pt.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional” do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

Ecopista ou linha férrea? Que retorno para a população?

Ecopista foi a designação que a Rede Ferroviária Nacional, EP, vulgo REFER, adoptou para as Vias Verdes, a instalar nas linhas férreas desactivadas e que eram de sua propriedade (REFER). Com centenas de quilómetros de linhas férreas encerradas por todo o País, a empresa que tutelava todo esse espólio, com vista a reaproveitar estes troços, elaborou o denominado Plano Nacional de Ecopistas no ano de 2001 (REFER).
É desta forma que, em 14 de novembro de 2004, surge a primeira Ecopista do País denominada por Ecopista do Rio Minho - ERM - entre as vilas de Valença e Monção, aproveitando assim o ramal de Monção da linha do Minho (REFER), tendo ficado a
gestão desta infra-estrutura “… a cargo dos municípios de Valença e Monção pelo período de 25 anos” (COSTA, 2009, p.68).
Este troço de linha férrea com cerca de 16 kms de extensão foi “… desactivada em 31 de dezembro de 1989…” (ADRIANO, 2004), completando assim 74 anos (TORRES, 1958) de serviço às populações de três concelhos, Melgaço, Monção e Valença. Durante todo este tempo, era através do comboio que pessoas e bens circulavam com maior facilidade de e para este território. O estabelecimento de novas actividades económicas surge assim, em grande medida, fruto de todo o tráfego que surge junto aos locais de embarque.
Salvaguardando as devidas contextualizações, a linha férrea promoveu durante décadas a dinamização económica e social do território, permitindo não só que toda a população tivesse acesso a um meio de transporte acessível, como também que as mercadorias fossem transaccionadas com maior facilidade.
No caso da ERM, a mesma não originou a instalação de actividades económicas que de alguma forma promovessem as economias locais, ou aproveitassem os recursos endógenos em favor das populações locais.
Estudos de cariz económico, realizados na América do Norte, demonstram o potencial económico deste tipo de vias que os stakeholders locais tomaram a iniciativa de aproveitar (SOLUTIONS, 2002).
A mais-valia da existência desta infra-estrutura, para as populações locais, tem sido só ao nível do lazer, enquanto espaço para disfrutar de momentos tranquilos em contacto com a natureza. Não foi nem é considerada numa perspectiva mais abrangente, de forma a ser interpretada como ponto de abastecimento de clientes e visitantes, tanto para a dinamização de actividades económicas já existentes, como para a instalação de novas ou reconversão de outras. Desde os primeiros momentos, a ERM conseguiu atrair visitantes, no entanto, faltam motivos para a sua retenção tais como: a aposta no aproveitamento dos edifícios para a instalação de actividades de restauração e hotelaria, a dinamização de actividades outdoor cujo espaço de execução inclua a área das freguesias, a instalação de pontos de divulgação e promoção relativos a cada uma das freguesias que são abrangidas pela ERM e a realização de corredores de acesso ao interior dos aglomerados populacionais, entre outros.
Onze anos após a sua inauguração, urge definir uma estratégia que possa alavancar o desenvolvimento do território e através da qual a ERM continue a ser um dos pólos de atracção e evolua para um canal de serventia aos vários stakeholders locais. Para tal, torna-se necessário não só a promoção de estudos que aquilatem os diversos impactes desta infra-estrutura como também a recolha das várias propostas que têm vindo a ser feitas para a sua dinamização.
Tanto no caso do caminho de ferro como no da ERM, as populações ficaram com acesso a serviços que, em âmbitos distintos, as serviam, mas cujas implicações económicas para as comunidades são diametralmente opostas. Cabe a todos os interessados, públicos e privados, concertarem posições para um aproveitamento mais eficaz da infra-estrutura.

Nelson Labrujó

Bibliografia:
ADRIANO, Miranda (2004), "Valença-Monção: antiga linha de caminho de ferro reabre como ecopista”. Público, 09 de Novembro, Página consultada a 23 de Abril de 2015
COSTA, Anabela da Rocha – [Ecopista do Rio Minho: Propostas para a sua dinamização turística]. Viana do Castelo: [s.n.]. 2009. (Projecto final de Mestrado no Mestrado em Turismo, Inovação e Desenvolvimento)
REFER, [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www: http://www.refer.pt/MenuPrincipal/REFER/Patrimonio/Ecopistas.aspx?ArticleID=152#Artigo
SOLUTIONS, Trail Facts A Service of Interactive Marketing - “Heritage Rail Trail County Park 2001 User Survey and Economic Impact Analysis”. [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www http://atfiles.org/files/pdf/YorkEcon.pdf
TORRES, Carlos Manitto - “A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário”. [Em linha]. Lisboa: Gazeta dos caminhos de ferro 16-02-1958. [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1958/N1684/N1684_master/GazetaCFN1684.pdf

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)