segunda-feira, abril 27, 2015

Ecopista ou linha férrea? Que retorno para a população?

Ecopista foi a designação que a Rede Ferroviária Nacional, EP, vulgo REFER, adoptou para as Vias Verdes, a instalar nas linhas férreas desactivadas e que eram de sua propriedade (REFER). Com centenas de quilómetros de linhas férreas encerradas por todo o País, a empresa que tutelava todo esse espólio, com vista a reaproveitar estes troços, elaborou o denominado Plano Nacional de Ecopistas no ano de 2001 (REFER).
É desta forma que, em 14 de novembro de 2004, surge a primeira Ecopista do País denominada por Ecopista do Rio Minho - ERM - entre as vilas de Valença e Monção, aproveitando assim o ramal de Monção da linha do Minho (REFER), tendo ficado a
gestão desta infra-estrutura “… a cargo dos municípios de Valença e Monção pelo período de 25 anos” (COSTA, 2009, p.68).
Este troço de linha férrea com cerca de 16 kms de extensão foi “… desactivada em 31 de dezembro de 1989…” (ADRIANO, 2004), completando assim 74 anos (TORRES, 1958) de serviço às populações de três concelhos, Melgaço, Monção e Valença. Durante todo este tempo, era através do comboio que pessoas e bens circulavam com maior facilidade de e para este território. O estabelecimento de novas actividades económicas surge assim, em grande medida, fruto de todo o tráfego que surge junto aos locais de embarque.
Salvaguardando as devidas contextualizações, a linha férrea promoveu durante décadas a dinamização económica e social do território, permitindo não só que toda a população tivesse acesso a um meio de transporte acessível, como também que as mercadorias fossem transaccionadas com maior facilidade.
No caso da ERM, a mesma não originou a instalação de actividades económicas que de alguma forma promovessem as economias locais, ou aproveitassem os recursos endógenos em favor das populações locais.
Estudos de cariz económico, realizados na América do Norte, demonstram o potencial económico deste tipo de vias que os stakeholders locais tomaram a iniciativa de aproveitar (SOLUTIONS, 2002).
A mais-valia da existência desta infra-estrutura, para as populações locais, tem sido só ao nível do lazer, enquanto espaço para disfrutar de momentos tranquilos em contacto com a natureza. Não foi nem é considerada numa perspectiva mais abrangente, de forma a ser interpretada como ponto de abastecimento de clientes e visitantes, tanto para a dinamização de actividades económicas já existentes, como para a instalação de novas ou reconversão de outras. Desde os primeiros momentos, a ERM conseguiu atrair visitantes, no entanto, faltam motivos para a sua retenção tais como: a aposta no aproveitamento dos edifícios para a instalação de actividades de restauração e hotelaria, a dinamização de actividades outdoor cujo espaço de execução inclua a área das freguesias, a instalação de pontos de divulgação e promoção relativos a cada uma das freguesias que são abrangidas pela ERM e a realização de corredores de acesso ao interior dos aglomerados populacionais, entre outros.
Onze anos após a sua inauguração, urge definir uma estratégia que possa alavancar o desenvolvimento do território e através da qual a ERM continue a ser um dos pólos de atracção e evolua para um canal de serventia aos vários stakeholders locais. Para tal, torna-se necessário não só a promoção de estudos que aquilatem os diversos impactes desta infra-estrutura como também a recolha das várias propostas que têm vindo a ser feitas para a sua dinamização.
Tanto no caso do caminho de ferro como no da ERM, as populações ficaram com acesso a serviços que, em âmbitos distintos, as serviam, mas cujas implicações económicas para as comunidades são diametralmente opostas. Cabe a todos os interessados, públicos e privados, concertarem posições para um aproveitamento mais eficaz da infra-estrutura.

Nelson Labrujó

Bibliografia:
ADRIANO, Miranda (2004), "Valença-Monção: antiga linha de caminho de ferro reabre como ecopista”. Público, 09 de Novembro, Página consultada a 23 de Abril de 2015
COSTA, Anabela da Rocha – [Ecopista do Rio Minho: Propostas para a sua dinamização turística]. Viana do Castelo: [s.n.]. 2009. (Projecto final de Mestrado no Mestrado em Turismo, Inovação e Desenvolvimento)
REFER, [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www: http://www.refer.pt/MenuPrincipal/REFER/Patrimonio/Ecopistas.aspx?ArticleID=152#Artigo
SOLUTIONS, Trail Facts A Service of Interactive Marketing - “Heritage Rail Trail County Park 2001 User Survey and Economic Impact Analysis”. [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www http://atfiles.org/files/pdf/YorkEcon.pdf
TORRES, Carlos Manitto - “A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário”. [Em linha]. Lisboa: Gazeta dos caminhos de ferro 16-02-1958. [Em linha] . [Consult. 23 Abril.2015]. Disponível na www http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1958/N1684/N1684_master/GazetaCFN1684.pdf

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho) 

2 comentários:

Unknown disse...

Olá muito bom dia, apresenta um pequeno lapso na sua bibliografia:

COSTA, Anabela da Rocha – [Ecopista do Rio Minho: Propostas para a sua dinamização turística]. Viana do Castelo: [s.n.]. 2009. (Projecto final de Mestrado no Mestrado em Turismo, Inovação e Desenvolvimento)

Não é 2009 mas sim 2014!
Obrigado, Anabela da Rocha costa

Nelson Labrujó disse...

Cara Anabela. Antes de mais agradeço a sua atenção para o artigo de opinião e desde já peço desculpa pelo lapso ocorrido. Aproveito para a felicitar pelo trabalho produzido. Com os melhores cumprimentos, Nelson Labrujó