[Caro Professor Doutor
José Cadima Ribeiro,
Sou jornalista no Jornal
de Leiria e estou a contactá-lo pois gostaríamos muito de obter a sua opinião
relativamente a um tema que estamos a tratar.
O tema em questão
prende-se com a ausência de grandes grupos empresariais na região de Leiria,
como acontece, por exemplo, com a Bosh e a Continental Mabor, em Braga, a Amorim, a Prio e a Renault, em
Aveiro, ou a Autoeuropa e a Repsol em Setúbal, entre outras. Independentemente de ser uma vantagem ter este tipo de investimento nas regiões, haverá
certamente razões para a região de Leiria nunca os ter sabido atrair.]
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Questões/tópicos.
1 - Na sua opinião, quais poderão ser
as causas desta ausência?
Como aspeto prévio à questão colocada da “ausência de grandes grupos
empresariais na região”, tenho que fazer notar que o conceito de Distrito nunca
foi adequado para caraterizar a realidade económica de Leiria, em sentido
amplo, mesmo enquanto existiu como instância de coordenação
político-administrativa. Do ponto de vista da dinâmica socioeconómica, o
conceito de região funcional oferece-se muito mais adequado. A região funcional
é aquela que é definida a partir da interação social (intensa) e das trocas
económicas que subsistem num certo território. Nessa perspetiva, as NUTS III,
neste caso, a atual NUT III Região de
Leiria, é muito mais apropriada para falar da dinâmica económica do
território que tem sede principal em Leiria.
A ausência de grupos económicos importantes e, sobretudo, de investimento
direto estrangeiro (IDE) significativo, prender-se-á com um conjunto de fatores
que usualmente estão associados à sua captação, que vão desde fatores
produtivos em abundância e a “bom preço”, infraestruturas e equipamentos
públicos de boa qualidade, incluindo aqueles que se prendem com o acesso aos mercados
internacionais, disponibilidade de espaço infraestruturado e/ou incentivos
fiscais e financeiros, existência de potencial de criação de uma rede de
fornecedores e outros agentes sociais e políticos, entre outros.
Sem desvalorizar a existência de alguns projetos empresais importantes
noutros territórios, note-se que o principal destino do Investimento Direto
Estrangeiro que tem chegado a Portugal tem sido, sempre, Lisboa, isto é, a Área
Metropolitana de Lisboa. Se quisermos inquirir o porquê disso, facilmente
identificaremos um conjunto de atributos que tem que não é replicado por mais
nenhum outro território no país.
No caso dos grupos empresariais de origem nacional, a localização das suas
sedes e estabelecimentos decorre, a maior parte das vezes, de motivações
pessoais.
2 - O que exigem dos territórios
estes grandes grupos que, na generalidade, são multinacionais?
Na sua expressão geral, a resposta a esta questão foi dada acima. Se
quisermos olhar para casos concretos, por exemplo, a Autoeuropa, sabe-se que a
sua localização ficou ligada, particularmente, às infraestruturas portuárias e
viárias existentes na área metropolitana de Lisboa (a empresa é uma das nossas
principais exportadoras), a uma mão-de-obra qualificada e relativamente barata,
com alguma tradição no setor ou afins, a fortes incentivos fiscais e
financeiros associados à implementação da unidade e à formação dos seus ativos,
ao potencial existente em termos de constituição de uma rede local de
fornecedores. A proximidade face às instâncias de poder político e económico-financeiro
pode também não ter sido despicienda.
No caso da Bosh, em Braga, esta aproveitou a existência anterior de um
complexo ligado às indústrias eletrónicas, onde se sedeou em termos físicos, e
a uma reserva de mão-de-obra igualmente associada a esse complexo industrial,
tira proveito da formação técnico-científica assegurada pela Universidade do
Minho, nomeadamente nos domínios da informática e da engenharia de sistemas, e
beneficia igualmente da proximidade física ao aeroporto Francisco Sá Carneiro,
na Maia, a 40 km de distância. Obviamente, os custos do trabalho (relativamente
baixos) não serão um fator que o grupo tenha desvalorizado.
O caso da Continental, em Famalicão, Braga, não é muito diferente do da Bosch,
posto que a Continental adquiriu e dei continuidade a um projeto empresarial
pré-existente, que era a Mabor (produção de pneus).
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
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