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“Economia do Esquecimento: rasgando o Estreito de Magalhães” (Paulo Reis Mourão, 2020, UMinho Editora, Braga)
Nota de apresentação
O estatuto da carreira docente universitária estabelece que os professores e investigadores universitários devem estruturar a sua ação em 3 dimensões: o ensino; a investigação científica; e a extensão universitária. Na sua progressão na carreira, estas 3 dimensões estão presentes, se bem que se admita que cada sujeito possa dar maior atenção a alguma ou algumas delas, por razões de perfil ou de estratégia pessoal.
Subscrevo essa exigência legal, que, obviamente, encontra suporte na ideia de que só pode transmitir conhecimento de forma eficaz quem, por força da investigação realizada ou da vivência associada à prestação de serviços à Comunidade, ganhou um certo domínio de uma área de saber e/ou competências técnicas específicas. Isso é particularmente válido quando nos situemos no ensino a nível de pós-graduação.
Eu, particularmente, tenho muita dificuldade em falar ou comentar uma realidade que me seja relativamente alheia, e rejeito fazer recomendações de planeamento ou de política sobre territórios que não conheço. No contexto dos projetos de extensão universitária de que fui encarregue ao longo da minha vida profissional, sempre rejeitei produzir relatórios e propostas de suporte de decisão política que não fossem suportados numa relação direta com os territórios concretos objeto de atenção e os seus principais atores, que obviamente têm que se identificar com elas e ser os protagonistas das ações projetadas.
Acresce que o professor e investigador universitário deve ser, também, um promotor de uma cidadania mais ativa e mais esclarecida, isto é, deve ser um exemplo de agente de desenvolvimento social e económico mais eficaz do que, porventura, outros agentes de desenvolvimento. Mais eficaz, digo, porque mais desapegado de motivações associadas a benefícios económicos e/ou políticos diretos. A minha noção de compromisso com a formação de cidadãos e com a extensão universitária que é reclamada ao professor universitário integra essa aceção de exercício de cidadania. Fui buscá-la a outros que me serviram de modelo.
Deixo estas considerações, já longas no contexto dos minutos que me estão reservados, para situar as considerações que farei de seguida, invocando o que escrevi e foi incluído na contracapa do livro do Colega e Professor Paulo Reis Mourão, que aqui está a ser apresentado publicamente hoje. Disse eu nessa contracapa, o seguinte:
´Economia do Esquecimento` é um livro que se lê num folgo não tanto por ser contido no número de páginas mas, antes, em razão das temáticas que endereça (desde logo, o desenvolvimento, percebido enquanto acesso das pessoas, nos seus lugares de residência, ao emprego e bem-estar social), e da fluidez da escrita e do compromisso que se percebe do autor com a sua região, Trás-os-Montes.
Não se tratando de um romance, embora a forma como nos prende à leitura o pudesse sugerir, nem por isso deixa de nele haver espaço para a invocação de paradoxos, heróis e vilões, lamentando-se que não termine com um voto de esperança no futuro. [Se descremos do futuro que nos está reservado, que motivação vamos encontrar para lutar pela transformação do presente? Se descremos, como vamos transmitir ânimo, esperança às novas gerações?]
Embora devesse esperá-lo, acabei amiúde surpreendido pelo enunciar de “realidades” para as quais fui despertado há muitos anos, entre elas as de que “os custos de concentração” (no litoral) devem ser somados aos “custos do esquecimento” (do interior Transmontano, e não só), do que resulta óbvio que a superação ou mitigação de uns e outros só se conseguirá quando as atuações de política olharem, articuladamente, para uns e outros [os custos, pesados, da concentração no litoral, nas principais cidades, versus os custos do esquecimento, da desertificação humana, do interior, dos meios rurais. Usando palavras não muito diferentes, ouvi isso pela primeira vez há mais de 40 anos de um dos meus professores de licenciatura, o saudoso Professor António Simões Lopes].
Endereçando a problemática dos “caminhos do futuro”, concordo com o autor [Paulo Mourão] na necessidade dos atores do território se congregarem no estabelecimento de uma “estratégia de desenvolvimento”, ficando-me a dúvida se não devia também ter sublinhado que não há estratégia (de desenvolvimento) sem liderança, singular ou coletiva [quer dizer, lideranças regionais e locais efetivas].
J. Cadima Ribeiro
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