Naturalmente que falar deste sector é falar da crise que este atravessa. Basta percorrer as ruas dos nossos centros urbanos para rapidamente tomarmos consciência da realidade. Lojas históricas fecham, dando lugares a novas, outras permanecem. Se, por um lado, os novos estabelecimentos que vão abrindo, em muitos casos, de “novo” apenas têm a referência à data de abertura, mantendo velhos problemas do comércio tradicional, não é menos verdade que a manutenção de alguns estabelecimentos apenas tem como único objectivo a manutenção dos postos de trabalho dos donos, muitas vezes também proprietários do espaço, retirando o cunho económico pelo qual se deve pautar todo e qualquer estabelecimento comercial.
Os problemas do comércio tradicional são vários, a maioria de fácil identificação mas de difícil resolução.
A eterna questão dos horários de funcionamento é algo constantemente debatido nos noticiários nacionais. Recentemente, foram autuadas algumas superfícies comerciais por se encontrarem abertas para além do período estabelecido na lei. No entanto, mais do que fazer noticia sobre as ilegalidades cometidas por estas superfícies, deve-se tentar compreender, primariamente, o porquê, quais os motivos que as levaram a praticar esta mesma ilegalidade. A identificação da resposta também aqui me parece óbvia. A abertura ao público durante este período compensa financeiramente a despesa para pagamento da coima.
Parece-me claro que este assunto está a ser analisado de um ponto de vista contrário ao que deveria de ser, isto é, é obvio que em vez do ajuste do horário tendo como ponto de referência o praticado pelo comércio tradicional, o padrão deveria de ser o horário praticado pelas grandes superfícies comerciais, o qual se prova ajustado às reais necessidades da sociedade actual, tendo em conta o ritmo de vida existente nos dias de hoje. Mais do que obrigar os consumidores a ajustarem-se a horários rígidos, inflexíveis, a solução passa por ajustar os horários de acordo com as necessidades do seu público-alvo.
No seguimento desta adaptação, surge um outro aspecto. Mais do que a simples questão dos horários, a percepção das necessidades dos consumidores, criando outras tantas pelo caminho é, sem dúvida, a grande mais-valia dos Centros Comerciais. Nestes espaços já se encontra presente a consciência de que o paradigma comercial mudou, sofreu mutações ao longo das últimas décadas. O processo de efectivamente concretizar uma compra deixou de ser a mais importante variável, descendo na hierarquia de valores, ocupando actualmente, em muitas ocasiões, um lugar secundário aquando das motivações para deslocações às superfícies comerciais.
Mais do que um lugar de compras, os novos centros comerciais são espaços de lazer e ócio, onde é possível passear, recriar-se num ambiente fechado, mas pensado ao pormenor, onde a artificialização do espaço é tal que nos transmite segurança e conforto. Actualmente, grande parte das compras são feitas “por impulso”. A criação destes espaços, dando oportunidade ao aparecimento destes impulsos, revela-se, por isso, uma grande mais-valia.
Desta forma, há que destacar as unidades de gestão dos diversos centros comerciais que, apercebendo-se da alteração de paradigma, formataram as suas estruturas, modificando-as, fazendo-as corresponder às crescentes necessidades dos consumidores. Começaram assim a ser trabalhados os aspectos relacionados com o marketing, com a comunicação interna e externa, criando diversos eventos de animação, alterando a estrutura física dos edifícios de forma a satisfazerem a necessidade de lazer, levando inerentemente a um aumento do consumo.
A solução para o comércio tradicional poderá assim passar pelo agrupamento e criação de unidades de gestão profissionalizadas, capazes de mais eficazmente, provocar as alterações necessárias para a sua revitalização comercial. Segundo documento da Câmara Municipal de Coimbra, baseado no investigador Carlos Balsas, é crucial a passagem, por parte dos responsáveis do sector, de comerciantes a empresários, orientando-se por princípios de mercado.
No entanto, é óbvio que, antes da criação de estruturas de gestão, urge a tomada de consciência da necessidade da existência desta unidade por parte dos comerciantes, não devendo este passo ser encarado com desconfiança mas com a humildade de quem reconhece os seus próprios erros, sendo capaz de dar um passo em frente.
Pedro Guimarães
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia e Política Regional” do Mestrado em Geografia do ICS/UMinho, edição de 2007/2008)