A cultura enquanto elemento básico de atracção é responsável por entre 35% e 70% de toda a actividade turística na Europa. Isto num contexto em que o turismo se tem constituído numa das actividades económicas que maior crescimento tem registado nas últimas décadas e é encarado como um dos sectores-chave do presente século. Dentro do sector, espera-se que o turismo cultural seja um dos segmentos mais dinâmicos. Tendo presente a importância económica da actividade e o crescimento acelerado que vem experimentando, os seus impactos precisam de ser antecipados, compreendidos, planeados e monitorizados, para que eventuais efeitos negativos possam ser evitados ou minimizados.
As preferências e comportamentos dos turistas têm vindo a alterar-se. Os turistas da actualidade são cada vez mais sofisticados e exigentes. A crescente valorização de destinos menos massificados, da qualidade do atendimento, de férias mais activas e personalizadas, de um contacto mais próximo com a natureza, da descoberta do desconhecido e da singularidade do produto turístico têm que ver com essa evolução da hierarquia das motivações dos turistas. Nesse contexto, a cultura, tradições e modos de vida constituem factores de atracção que assumem relevância incrementada.
O turismo actua como incentivo ao restauro e preservação do património histórico. Além disso, a actividade turística pode funcionar como um importante factor de valorização das práticas locais, do artesanato, e das festividades e cerimónias comunitárias, que, de outro modo, correriam o risco de desaparecer.
Na vertente oposta, o turismo pode ser um factor de marginalização da população e alimentar tensões sociais sempre que seja pensado sem levar em linha de conta os valores locais e não seja capaz de gerar benefício económico que possa ser apropriado pela comunidade local. Um perigo para a sustentabilidade a longo prazo de um destino turístico será também a adopção de manifestações culturais não autênticas, como festas e danças criadas em função dos turistas ou a banalização comercial das práticas culturais locais.
As primeiras pesquisas feitas sobre as percepções dos residentes dos efeitos do turismo remontam aos anos 70 do século passado. Como seria de esperar, os residentes olham com bons olhos os benefícios, mas são muito sensíveis aos impactos negativos da actividade. Concretamente, aqueles que retiram benefícios tendem a defender o desenvolvimento do sector, enquanto que os residentes que aproveitam pouco ou não tiram vantagem alguma tendem a opor-se-lhe. Desta forma, um bom entendimento do tipo de turismo que os habitantes locais estão disponíveis para acolher reduz o potencial de conflito.
Do trabalho de inquirição dos residentes de Guimarães recentemente conduzido por Laurentina Vareiro, Paula Remoaldo, Vítor Marques e pelo signatário deste texto, no quadro de um projecto de investigação com maior fôlego, entre outros, obtiveram-se os resultados que passo a apresentar.
Uma questão central do inquérito aplicado respeitava à opinião que os residentes do município mantinham sobre o turismo, isto é, em que medida entendiam ser a actividade benéfica para o desenvolvimento de Guimarães. Daí pôde concluir-se que 98,2% dos inquiridos mantinha uma opinião favorável ao desenvolvimento do sector. De notar, ainda, que não se identificaram diferenças significativas de opinião consoante os respondentes eram do sexo masculino ou feminino.
Uma outra resposta a merecer destaque é a que se obteve para a pergunta sobre se, pessoalmente, o inquirido tirava benefício do turismo. Neste caso, a informação que resultou foi que a opinião esmagadoramente positiva que se refere no parágrafo precedente não era resultado das expectativas de benefício directo, sendo os residentes mais jovens (entre os 15 e os 24 anos) aqueles que revelavam uma maior expectativa nesse domínio. Isso poderá ter que ver com a respectiva antevisão de criação de empregos, de que possam aproveitar.
Mesmo se as opiniões favoráveis foram um denominador comum a todos os níveis educacionais, a pontuação da afirmação de que o turismo é bom para o município foi mais elevada entre os residentes detentores de maiores habilitações académicas.
Um resultado que também vale a pena analisar é o que se prende com os impactos da actividade turística. Neste âmbito, apareceu como mais valorizado o que se prende com o contacto que o turismo viabiliza com outras culturas, seguido pelo do encorajamento à preservação da cultura e do artesanato locais. As percepções de que o desenvolvimento da actividade permite a conservação e restauro de edifícios históricos, cria empregos e contribui para o aumento da oferta de serviços para os residentes surgem como 3º, 4º e 5º efeitos esperados.
De um modo geral, os resultados do inquérito confirmam o que a investigação empírica realizada internacionalmente vinha evidenciando sobre as atitudes e expectativas dos residentes de lugares turísticos.
No caso de Guimarães, é verdade que o município tem feito uma importante aposta no turismo, particularmente nos derradeiros dez anos, mas, se se pretende que o sector venha a constituir um dos motores do seu desenvolvimento, a percepção mantida pela comunidade local dos seus efeitos tem que estar bem presente nas estratégias que sejam definidas. Isso é necessário mesmo que, como foi evidenciado, os residentes mantenham uma percepção muito favorável dos benefícios que se podem gerar. É que, mesmo percebendo efeitos positivos importantes, não deixam também de enunciar preocupações e receios. A isso me referirei noutro texto, logo que surja a oportunidade de retomar os resultados do estudo que invoco acima.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no âmbito de coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")