domingo, dezembro 17, 2023

“Residents’ attitudes toward tourism development in the Azores, Portugal: effects of tourist-to-resident interaction”

 

Abstract

This research seeks to investigate the factors influencing residents’ perceptions and attitudes towards tourism, focusing on the interaction between destination’s residents and tourists. A survey applied to residents of the Azores archipelago (Portugal) in 2018 received 451 answers. The findings follow the assumptions of the Social Exchange Theory, namely, respondents that used to keep closer contact with tourists and/or directly benefited from the tourism industry tended to express stronger support for the industry’s development. Regional and national authorities must be aware of these results when designing their policies, namely in the pursuit of a sustainable development strategy for the Azores.

Keywords: Residents’ perceptions; social exchange theory; positive and negative perceptions towards tourism; personal economic benefits; Azores Islands (Portugal).

José Cadima Ribeiro

Laurentina Vareiro

Isabel Cristina Monjardino

[“Residents’ attitudes toward tourism development in the Azores, Portugal: effects of tourist-to-resident interaction”, in Handbook on Tourism Planning, Philip Feifan Xie (Ed.), Edward Elgar Publisher, Northampton, Massachussetts, 2023, cap. 13, pp. 225-241; https://doi.org/10.4337/9781803923598.00019]

terça-feira, dezembro 12, 2023

ERSA 2024, Ilha Terceira, Açores: apêlo à submissão de comunicações

 

Special Session (S12

 

Special Session Title

“Looking to Tourism Industry as a Potential Contributor to the Development of Protected Areas: Approaching it from the Demand and the Supply Sides” 

José Cadima Ribeiro

NIPE and School of Economics and Management, University of Minho, Braga, Portugal, jcadima@eeg.uminho.pt (corresponding convener) 

Luís Filipe Silva

NIPE, University of Minho, Braga, Portugal, luissilvamkt@gmail.com

  

Abstract

The growing interest in visiting Protected Areas (Pas) has transformed these areas in important and popular nature-based tourism destinations. However, increased public visits can significantly impact those areas and turn harder their management. These impacts may affect these areas in different ways, given that some PAs have great notoriety and have established successful sustainable tourism models, while others are absent from the tourist market and in many cases are underfunded, poorly managed, and ecologically damaged.

Motivation can be seen as a driving force that impel individuals to act, which is produced by a state of tension resulting from unfulfilled needs and is at the basis of the decision-making process. Motivations are considered a key concept in the study of visitors’ behaviour, as they are behind all actions. Besides, it is well known that individuals respond differently to stimuli and engage in tourism activities for different reasons and purposes. Thus, motivation and tourists profile analyses are critical to generate better experiences while ensuring PAs sustainability.

By another side, community engagement and support are also essential elements for ensuring the long-term success of sustainable tourism development, environmental conservation, and the overall sustainability and development of territories. From both short and long-term perspectives, for destinations to achieve success and sustainability, the tourism industry must generate economic and social benefits for local residents without endangering the communities’ social and cultural heritage or the quality of the destination’s natural environment. Consequently, the sustainability and competitiveness of tourism destinations depend significantly on their ability to improve the well-being of stakeholders, including residents, while preserving endogenous resources.

Potential topics to approach in this special section are:

•     Protected areas visitors` motivations and profiles;

•     Community support and long-term success of tourism development,

environmental conservation and overall sustainability of protected areas;

•  Environmental, economic, and social impacts of tourism on protected areas destinations;

•     New governance models for PAs;

•     Visitors’ satisfaction and loyalty towards protected areas;

•     The role of non-massified tourism products in PAs tourist development;

•     Climate change and sustainable destinations;

•     Conceptual approaches to more sustainable forms of tourism.


https://ersa.eventsair.com/ersa2024/special-session-themes

terça-feira, novembro 28, 2023

Visitors’ Satisfaction and Loyalty toward Protected Areas: Exploring the Role of Motivations and Perceived Quality



Abstract

Visitor satisfaction and loyalty are critical for the sustainability of protected areas (PAs). However, there is a substantial knowledge gap regarding the dynamic influences of motivation and perceived quality on these variables. To address this gap, this study examines the complex relationships between visitor motivations and the perceived quality of PA attributes, and their role as contributors to satisfaction and loyalty. A survey was conducted among visitors of a Portuguese PA, yielding 316 questionnaires. The results from the PLS-SEM model indicate that only nature and relaxation motivation directly affects satisfaction. Motivations can have different effects on the perceived quality of various PA attributes, and these attributes mediate the motivation-satisfaction relationship to different degrees. Satisfaction was found to mediate the quality-loyalty relationship. These findings contribute to the underdeveloped body of knowledge regarding the antecedents of satisfaction and loyalty in PAs, while providing substantial management implications for the park under analysis.

Luís Filipe Silva

J. Cadima Ribeiro 

Francisco Carballo Cruz

[Resumo de artigo disponível em Leisure Sciences - An Interdisciplinary Journal, publicado online em 2023/11/27 (https://doi.org/10.1080/01490400.2023.2285348)]

sábado, novembro 11, 2023

Festival Literário de Braga: apresentação do livro "Regionalização e Descentralização em Portugal"

Meus senhores,

Minhas senhoras,

Caros(as) amigos(as),

 

1.    As derradeiras décadas do século XX e as primeiras do século XXI, até à crise sanitária da COVID-19, foram marcadas pela aceleração da globalização, nas suas distintas materializações (trocas de bens e serviços, movimentos de capitais, movimentos de turistas, mobilidade do trabalho, entre outras).

Um resultado porventura inesperado desse movimento foi a atenção que certos recursos e dinâmicas locais passaram a merecer da parte das autoridades públicas, incluindo a Comissão Europeia.

No caso particular da União Europeia, foram estabelecidos programas financeiros destinados a combater a acentuação das assimetrias entre regiões, e os Estados-membros foram encorajados a materializar políticas de descentralização.

Deve entender-se como descentralização a devolução pelos governos nacionais de funções específicas, a governos regionais e locais autónomos, com todas as atribuições administrativas, políticas e económicos que essa transferência de competências implica.

 

2.    Falando de descentralização, em geral, esta ocorreu em praticamente todo o mundo.

Pelo menos na intenção, muitos dos processos de descentralização visaram reformar o modelo de governo dos países, substituindo lógicas hierárquicas e burocráticas de gestão de cima para baixo por sistemas de autogoverno caraterizados pela participação, cooperação e transparência na prestação de contas.

É neste contexto que se fala de descentralização como um processo de devolução de poder aos cidadãos.

No caso de Portugal, um dado que chama particularmente a atenção, (comparativamente com os demais países do Ocidente Europeu) é a ausência de um nível intermédio entre o governo central e os governos locais (Municípios e Freguesias), excluídas as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

Acresce que o aumento das competências e responsabilidades que foi sendo atribuído aos municípios, no contexto de processos de descentralização que foram sendo implementados, nem sempre foi acompanhado pelo conveniente reforço de autonomia de decisão, de capacitação institucional e de recursos financeiros que lhes permitissem fazer face às exigências daí decorrentes.

 

3.    Tal como nos processos de descentralização, em geral, há duas dimensões que são centrais em qualquer processo de regionalização.

A primeira é a da devolução do poder aos cidadãos, isto é, aproximar o poder dos cidadãos e criar contexto para uma melhor perceção por parte dos atores políticos das realidades dos territórios.

Dessa proximidade há-de resultar a capacidade de melhor olhar para os recursos e capacidades, e desenhar políticas, e pode conseguir-se também um nível mais elevado de mobilização dos atores e das comunidades para o ataque aos problemas.

A segunda dimensão é a do desenvolvimento, na medida em que se perceba os territórios e os seus agentes como sede primeira de recursos, capacidades e iniciativas que ditarão a afirmação económica de lugares e regiões.

É por estas razões que Mozzicafreddo (em 2003) entendia que um processo de descentralização era, também, uma peça essencial de modernização politica, social e institucional, e um instrumento de desenvolvimento regional e de mobilização social e territorial.

Estas dimensões não são, de facto, problemáticas disjuntas na própria medida em que dificilmente há iniciativa e, sobretudo, projeto económico e social sem liderança e sem algum nível de institucionalização.

Os processos de descentralização e de regionalização supõem a existência de atores que possam ser o sujeito e o objeto da devolução de poder, e protagonistas das estratégias de desenvolvimento dos territórios.

 

4.    O antecedente mais remoto do livro aqui apresentado, com o título “Regionalização e Descentralização em Portugal”, foi a participação que tive num Debate sobre a temática “Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder Local Democrático”, organizado em Lisboa, a 17 de novembro de 2018.

A organização do evento prendeu-se com a implementação da Lei nº 50/2018, que estabeleceu a transferência, gradual, de um conjunto alargado de competências para as “autarquias locais” e as “entidades intermunicipais”, e prendeu-se, igualmente, com as sequelas daí derivadas. 

Na intervenção que então fiz sublinhei que a escolha das entidades sobre as quais incidia o essencial do processo de descentralização que se pretendeu concretizar ao abrigo da Lei nº 50/2018, os Municípios, e, complementarmente, as Comunidades Intermunicipais, apresentava uma dificuldade inultrapassável, que era a ausência de estrutura intermédia, isto é, regional.  

No contexto da dita Lei, percebe-se que tenha sido atribuído às comunidades intermunicipais o papel de coordenação, planeamento e gestão de recursos necessário.

Em todo o caso, em muitas situações, essa escala oferece-se inadequada (subdimensionada), para além da entidade em causa ser desprovida de legitimidade política direta, e, daí, estar dependente da capacidade de concertação interna dos municípios participantes, o que nem sempre é garantido, também.

 

5.    Uma outra razão para a produção deste livro foi o retomar do debate da regionalização do país que se esboçou entretanto, no quadro do passar dos 25 anos da realização do referendo sobre a regionalização do Continente, de 8 de novembro de 1998.

Como é sabido, os resultados do referendo significaram a criação de um bloqueio substantivo à institucionalização da instância regional de governo.

Por detrás desse retomar do debate está, igualmente, a inclusão dessa temática no Programa do XXIII Governo, definindo-se aí o objetivo de realizar um novo referendo num futuro próximo.

 

6.    Tendo presente o que enunciei, entre outras razões, entendi que importava refletir aprofundadamente sobre a oportunidade e os fundamentos para se avançar no processo de regionalização em Portugal, e sobre aquilo que pode estar em causa quando se encetam iniciativas de descentralização do poder suportadas apenas nas instâncias locais.

São essas problemáticas e este debate que este livro coletivo se propôs retomar, reclamando para tanto o contributo de um conjunto de académicos de várias formações científicas e sensibilidades político-sociais, e trabalhando em universidades de diversas regiões do país.

Os destinatários da publicação são, também, os académicos mas, igualmente, os decisores públicos, e todos aqueles que, comprometidos com o desenvolvimento do país, olham para a reforma da sua organização político-administrativo como a grande reforma estrutural de que Portugal carece.

 

7.    Deixo-vos o desafio de que leiam este livro e se assumam como agentes de cidadania. O livro não pretendeu esgotar o debate da temática.

É, antes, como é explicitado na Introdução que escrevi, um fórum de discussão envolvendo múltiplos autores, e um potenciador de um debate mais alargado e melhor informado.

Em nome dos autores do livro, quero deixar-vos a indicação de disponibilidade de todos nós para ajudarem a dinamizar outros fóruns sobre a temática que queiram organizar.

Renovo agradecimento pela vossa presença e pelo interesse expresso no livro que aqui se apresenta. 

Muito obrigado!

 

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, novembro 09, 2023

Apresentação do livro '𝗥𝗲𝗴𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗲 𝗗𝗲𝘀𝗰𝗲𝗻𝘁𝗿𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗲𝗺 𝗣𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝗮𝗹'

Relembra-se o próximo encontro integrado no Festival Literário Utopia, e renova-se convite aos interessados para participarem no evento.

 

Dia 11 de novembro, sábado, às 17h, na Casa do Conhecimento, Largo do Paço, Braga, a Fundação Mestre Casais e a UMinho Editora convidam para a apresentação de '𝗥𝗲𝗴𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗲 𝗗𝗲𝘀𝗰𝗲𝗻𝘁𝗿𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗲𝗺 𝗣𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝗮𝗹', de José Cadima Ribeiro (ed.), com a presença do autor e de José Gomes Mendes, Presidente Executivo da Fundação.



https://festival-utopia.pt/
 

quarta-feira, outubro 25, 2023

Towards Sustainable Tourism Development in a Small Protected Area: Mapping Stakeholders' Perceptions in the Alvão Natural Park, Portugal

 

ABSTRACT

The Alvão Natural Park (PNAL) is the smallest natural park in Portugal. The PNAL is currently in the process of implementing its co-management model, abandoning the old centralized top-down model, and aiming for a more sustainable development of the protected area. Recognizing the key role of stakeholders in sustainable tourism development in protected areas, this study examines how PNAL stakeholders perceive various topics related to sustainable tourism and local development. To this end, 19 PNAL stakeholders participated in two focus groups that were conducted to collect the primary data. NVivo software was used for content analysis and mapping stakeholders’ perceptions. The results indicate that even though the stakeholders believe that the protected area has great tourism potential and that the park’s residents are open to tourism, public authority conflicts and the lack of infrastructure and services to support tourism present obstacles to a sustainable tourism development.

segunda-feira, outubro 16, 2023

“Regional Development and Forgotten Spaces: Global Policy Implications and Experiences”

(Edited by María Sánchez-Carreira, Paulo Reis Mourão and Bruno Branco-Varela; 2023, Routledge, London and New York)



I will make a brief presentation of the book on “Regional Development and Forgotten Spaces: Global Policy Implications and Experiences”


In the introduction to the book published, the editors make mention to the technical progress and advances occurred lately in transports and communications, which, according to them, are facilitating global connections and networks.  

Paradoxically, as they also claim, territory has not lost importance, but, rather, has become an important actor in the development processes. Adding that the global, regional or local spheres coexist, “showing uniformatization at the macro-level and more differentions at the micro level”.

This general context and the opportunities it seems to offer to lager or forgotten territories, as named in this book, are the backward motivation for producing this book, together with learning from several experiences around the world.

A few of those experiences are successful but there is mention to unsuccessfull ones, as one can learn from both, the well succeeded and the failed ones. 

This book, in particular, refers to regional development experiences from Africa, Brazil and other Latin America countries, in general (namely, Colombia and Mexico). In another book edited by the same editors we can find cases referred to the European reality.

I welcome both books and congratulate the editors for being able to accomplishing this quite hard working task of editing those two books.

In the book on “Regional Development and Forgotten Spaces: Global Policy Implications and Experiences”, mention is made to another book from Paulo Reis Mourão, ´Economia do Esquecimento`(Forgotten Economies or Forgotten Spaces), which looks to have inspired these broad approach to regional development around the world.

Following Mourão (2020), as cited, “those are regions (spaces) neglected/forgotten by most of the citizens of a country, rarely visited by tourists, with serious difficulties to attract investment, and with a threat of reduction of well-being perceived by residents”.  

“These Spaces tend to exhibit low levels of population density and a low level of income per capita and tend to be located in peripheral areas”.

Keeping in mind the link claimed between those two books, the one which is being now published and the one previously produced by Paulo Reis Mourão, since I could read it and participate in its public presenting a few years ago, I would like to reproduce some of the thoughts I have expressed on it then.

Namely, I would like to say that the book worth being read due to the issues it addresses, the one of Development, approached as access from people, in their places of residence, to employment and social well-being.

The author was taking as focus of analysis Trás-os-Montes, in Portugal, but, of course, he could refer to many other places around the world, from Africa to Latin America and Asia, even if the level of well-being could be sharply different.    

There, in the before mentioned book, Mourão (2020) underlines a lot the “concentration costs” in coastal areas or in the metropolitan areas, which he claims should be added to the “costs of being forgotten” of the inland regions of the country, Trás-os-Montes, among them.

And relates those costs with the kind of public policies adopted, and, following his approach, there is no solution to the “concentration costs” and the ones derived from “forgotten spaces” if they are not taken together in the policies implemented.

That is not an original claim but to insist on it goes on being a necessity as public authorities seem have learned little from past failed policy experiences. 

The statement that the future of those territories, including the forgotten ones, has to be build based on the commitment of the local/regional actors (local/regional stakeholders) and territories` endogenous resources is also present in his speech.

This drives me to some of the major ideas enounced on the book “Regional Development and Forgotten Spaces: Global Policy Implications and Experiences”, namely the one that, taking the socioeconomic, cultural and historical specificities of each territory, there is no alternative regarding polices to design and implement but approaching them taking those singularities as their starting point.

This means, as well, that, when dealing with the design of policies aiming to enhance the regional or local development, there is not such thing as one (policy/strategy) fits it all.

And, of course, surpassing underdevelopment and leaving the condition of being a forgotten space cannot be achieved without changing the priority given to regions and social and economic cohesion.

National and economic and social cohesion only can be achieved if the priority in the design of policies is given to people and the use of the regional endogenous resources, which often clashes with the short-term interests of the politic actors and their willingness to win the next election.

Development is a long-term goal, and for walking successfully that path sustained and hard effort must be pursued.

This is an idea clearly enounced by the editors of this book, which rely, of course, in the case studies included in the book, as book chapters.        

 

J. Cadima Ribeiro

Braga, 16th October 2023



sábado, setembro 30, 2023

Repescando um texto de 10/12/2020 que antecipa um outro (sobre um livro editado pelo mesmo autor) a apresentar nos próximos dias

 

https://ebooks.uminho.pt/index.php/uminho/catalog/book/12


“Economia do Esquecimento: rasgando o Estreito de Magalhães” (Paulo Reis Mourão, 2020, UMinho Editora, Braga)

Nota de apresentação

O estatuto da carreira docente universitária estabelece que os professores e investigadores universitários devem estruturar a sua ação em 3 dimensões: o ensino; a investigação científica; e a extensão universitária. Na sua progressão na carreira, estas 3 dimensões estão presentes, se bem que se admita que cada sujeito possa dar maior atenção a alguma ou algumas delas, por razões de perfil ou de estratégia pessoal.

Subscrevo essa exigência legal, que, obviamente, encontra suporte na ideia de que só pode transmitir conhecimento de forma eficaz quem, por força da investigação realizada ou da vivência associada à prestação de serviços à Comunidade, ganhou um certo domínio de uma área de saber e/ou competências técnicas específicas. Isso é particularmente válido quando nos situemos no ensino a nível de pós-graduação.

Eu, particularmente, tenho muita dificuldade em falar ou comentar uma realidade que me seja relativamente alheia, e rejeito fazer recomendações de planeamento ou de política sobre territórios que não conheço. No contexto dos projetos de extensão universitária de que fui encarregue ao longo da minha vida profissional, sempre rejeitei produzir relatórios e propostas de suporte de decisão política que não fossem suportados numa relação direta com os territórios concretos objeto de atenção e os seus principais atores, que obviamente têm que se identificar com elas e ser os protagonistas das ações projetadas.

Acresce que o professor e investigador universitário deve ser, também, um promotor de uma cidadania mais ativa e mais esclarecida, isto é, deve ser um exemplo de agente de desenvolvimento social e económico mais eficaz do que, porventura, outros agentes de desenvolvimento. Mais eficaz, digo, porque mais desapegado de motivações associadas a benefícios económicos e/ou políticos diretos. A minha noção de compromisso com a formação de cidadãos e com a extensão universitária que é reclamada ao professor universitário integra essa aceção de exercício de cidadania. Fui buscá-la a outros que me serviram de modelo.

Deixo estas considerações, já longas no contexto dos minutos que me estão reservados, para situar as considerações que farei de seguida, invocando o que escrevi e foi incluído na contracapa do livro do Colega e Professor Paulo Reis Mourão, que aqui está a ser apresentado publicamente hoje. Disse eu nessa contracapa, o seguinte:

´Economia do Esquecimento` é um livro que se lê num folgo não tanto por ser contido no número de páginas mas, antes, em razão das temáticas que endereça (desde logo, o desenvolvimento, percebido enquanto acesso das pessoas, nos seus lugares de residência, ao emprego e bem-estar social), e da fluidez da escrita e do compromisso que se percebe do autor com a sua região, Trás-os-Montes. 

Não se tratando de um romance, embora a forma como nos prende à leitura o pudesse sugerir, nem por isso deixa de nele haver espaço para a invocação de paradoxos, heróis e vilões, lamentando-se que não termine com um voto de esperança no futuro. [Se descremos do futuro que nos está reservado, que motivação vamos encontrar para lutar pela transformação do presente? Se descremos, como vamos transmitir ânimo, esperança às novas gerações?]

Embora devesse esperá-lo, acabei amiúde surpreendido pelo enunciar de “realidades” para as quais fui despertado há muitos anos, entre elas as de que “os custos de concentração” (no litoral) devem ser somados aos “custos do esquecimento” (do interior Transmontano, e não só), do que resulta óbvio que a superação ou mitigação de uns e outros só se conseguirá quando as atuações de política olharem, articuladamente, para uns e outros [os custos, pesados, da concentração no litoral, nas principais cidades, versus os custos do esquecimento, da desertificação humana, do interior, dos meios rurais. Usando palavras não muito diferentes, ouvi isso pela primeira vez há mais de 40 anos de um dos meus professores de licenciatura, o saudoso Professor António Simões Lopes].

Endereçando a problemática dos “caminhos do futuro”, concordo com o autor [Paulo Mourão] na necessidade dos atores do território se congregarem no estabelecimento de uma “estratégia de desenvolvimento”, ficando-me a dúvida se não devia também ter sublinhado que não há estratégia (de desenvolvimento) sem liderança, singular ou coletiva [quer dizer, lideranças regionais e locais efetivas].


J. Cadima Ribeiro


PASOS - Revista de Turismo y Patrimonio Cultural: Vol. 21 Núm. 4 (2023)

 


https://ojsull.webs.ull.es/index.php/Revista/issue/view/105


quarta-feira, setembro 27, 2023

Regionalização e Descentralização em Portugal: guião da intervenção na apresentação do livro

Meus senhores,

Minhas senhoras,

Caros(as) amigos(as),

 

1.           O antecedente mais remoto do livro agora apresentado, com o título “Regionalização e Descentralização em Portugal”, foi a participação que tive num Debate sobre a temática “Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder Local Democrático”, organizado em Lisboa, a 17 de novembro de 2018.

A organização do evento prendeu-se, proximamente, com a implementação da Lei nº 50/2018, de 16 de agosto, que estabeleceu a transferência, gradual, de um conjunto alargado de competências para as “autarquias locais” e as “entidades intermunicipais”, e as respetivas sequelas. 

Na intervenção que então realizei no Hotel Roma sublinhei que a escolha das entidades sobre as quais incidia o essencial do processo de descentralização que se pretendeu concretizar ao abrigo da Lei nº 50/2018, os Municípios, e, complementarmente, as Comunidades Intermunicipais, apresentava uma dificuldade inultrapassável, que era a ausência de estrutura intermédia, isto é, regional.  No contexto da Lei nº 50/2018, percebe-se que tenha sido atribuída às comunidades intermunicipais o papel de coordenação, planeamento e gestão de recursos necessário.

Em todo o caso, em muitas situações, essa escala oferece-se inadequada (subdimensionada), para além da entidade em causa ser desprovida de legitimidade política direta, e, daí, estar dependente da capacidade de concertação interna dos municípios participantes, o que nem sempre é garantido, também.

 

2.           Um segundo momento no processo que antecede a produção deste livro é subsequente à morte, prematura, de um colega e amigo, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (Professor José Costa).

Na sequência da sua morte, e como forma do homenagear, alguns colegas da faculdade convidaram-me para produzir um texto para um livro em sua memória, que foi publicado em maio pp. O livro intitula-se “Estudos de Homenagem a José da Silva Costa” [Teixeira, A., Delgado, A. P., Carvalho, L., Mota, M. I. e Castro e Silva, M. M. (Eds.), Edição Faculdade de Economia da Universidade do Porto e U.Porto Press, Porto, 2023] e o meu contributo foi intitulado “Regionalização em Portugal: o Retorno do Debate”.

Nesse texto faz-se referência à proposta de alteração das NUTS II apresentada pelo Governo Português a Bruxelas no início de 2022, de que eu tive notícia pouco depois no quadro da minha qualidade de membro do Conselho Superior de Estatística (Secção Permanente de Estatísticas de Base Territorial), e que eu entendia que ia mais ao encontro das comunidades socioculturais existentes, e podia, portanto, ser um elemento informação importante  da organização territorial das regiões político-administrativas a instituir no Continente.

Isto, na medida em que essa nova divisão territorial, para já para fins estatísticos, podia dar corpo à recusa de uma regionalização remetendo para um fundamento orgânico de partição do poder, a reboque de inércias que se foram instalando, e, daí, constituir um esboço de resposta de política para atacar com eficácia os múltiplos problemas e desafios com que diferentes parcelas do território nacional se confrontam e, genericamente, potenciar o desenvolvimento do país.

Acrescente-se que a nova divisão NUTS II foi aprovada por Bruxelas, entrando em vigor em 2024 (NUTS II 2024). Daí resulta que o Continente Português passará a estar organizado em 7 NUTS II; a saber:

Norte; Centro; Oeste e Vale do Tejo; Grande Lisboa; Península de Setúbal; Alentejo; e Algarve.

Como disse, parece-me ser esta uma divisão do território bastante mais consistente em matéria de coerência interna das unidades definidas e de equilíbrio potencial na gestão dos recursos provenientes de Bruxelas e não só e, logo, também, um melhor ponto de partida para a necessária reorganização administrativa do território.

Lamento que, por coerência e, também, por respeito das regras de Bruxelas em matéria de limiares máximos populacionais que estão definidos, não tenha sido feita a redefinição da NUTS II norte. Note-se que as regras Comunitárias definem como limiar máximo de população das NUTS II os 3 milhões de habitantes, nomeadamente quando as NUTS II não correspondem a entidades administrativas existentes. Acrescente-se que não é apenas a dimensão população que releva aqui mas, sobretudo e particularmente, a identidade socioeconómica e cultural dos territórios, que importa prosseguir.

     

3.           Um terceiro aspeto que levou à génese deste livro foi o retomar do debate da regionalização do país que se esboçou entretanto, no quadro do passar dos 25 da realização do referendo sobre a regionalização do Continente, de 8 de novembro de 1998. Como é sabido, os resultados do referendo significaram a criação de um bloqueio substantivo à institucionalização da instância regional de governo.

Por detrás desse retomar do debate está, igualmente, a inclusão dessa temática no Programa do XXIII Governo, definindo-se aí o objetivo de realizar um novo referendo em 2024.

 

4.           Tendo presente o contexto que enunciei, entendi que importava refletir aprofundadamente sobre a oportunidade e os fundamentos para se avançar no processo de regionalização em Portugal, e sobre aquilo que pode estar em causa quando se encetam iniciativas de descentralização do poder suportados apenas nas instâncias locais.

São essas problemáticas e este debate que este livro coletivo se propôs retomar, reclamando para tanto o contributo de um conjunto de académicos de várias formações científicas e sensibilidades político-sociais. Os destinatários da publicação são, também, os académicos mas, igualmente, os decisores públicos e todos aqueles que, comprometidos com o desenvolvimento do país, olham para a reforma da sua organização político-administrativo como a grande reforma estrutural de que Portugal realmente carece.

Notem que o livro tem por título completo “Regionalização e Descentralização em Portugal: Reforma doEstado, Aprofundamento da Democracia e Desenvolvimento”, pretendendo-se com isso sublinhar as dimensões Reforma do Estado, Aprofundamento da Democracia e Desenvolvimento que estão na génese dos processos de Regionalização e Descentralização dos países, e podem por essa via ser potenciados.

 

5.           Deixo-vos o desafio de que leiam este livro e se assumam como agentes de cidadania. O livro não fecha nem pretendeu esgotar o debate da temática. É, antes, como é explicitado na Introdução que escrevi, um fórum de discussão envolvendo múltiplos autores, e um potenciador de um debate mais alargado e melhor informado. Em nome dos autores do livro, quero deixar-vos desde já a indicação de disponibilidade de todos nós para ajudarem a dinamizar outros fóruns sobre a temática que queiram organizar.

Renovo agradecimento pela vossa presença e pelo interesse expresso no livro que aqui se apresenta.  Muito obrigado!

 

J. Cadima Ribeiro

(Pousada de S. Teotónio, Valença, 26 de setembro de 2023)



terça-feira, setembro 19, 2023

"The Portuguese St. James Way: pilgrims` profile, motivations and assessment of the route"

Abstract

There is a relevant number of studies about the St. James Way, but lesser attention has been paid to the pilgrims` perceptions towards the Way and motivations to perform it, especially from those who take the Portuguese Way. Motivations to do it can be related to landscape, the spiritual dimension, seeking well-being and self-therapy, or getting answers to several issues of daily life. This research was carried out aiming to identify the motivations, profile and satisfaction of pilgrims towards the Portuguese St. James Way. Related to the satisfaction provided, the lack of the supply of services or goods along the Way was also analysed. For getting data, a questionnaire was applied to 351 pilgrims, complemented by participant observation. The results attained tell us that pilgrims were mostly motivated by spiritual and cultural reasons. Regarding the pilgrims` profile, we could conclude that most of them are within the 25 and 64 age group, have high levels of education and a formal job and are making the Way on foot. Besides nationality, the time needed to travel to start the Caminho and the organization of the trip, little differentiates one pilgrim from another. 57.3% of them have shown to be very satisfied with the Portuguese Way to Santiago (Central route), following their initial expectations on it. Based on the assessment produced by the pilgrims and the researchers, a few policy recommendations to local authorities envisaging to maximize the pilgrims’ well-being are enounced.

Keywords: Portuguese St. James Way; Pilgrims` Profile and Motivations; Landscape; Well-Being.

Paula Remoaldo

Lab2PT – Landscape, Heritage and Territory Laboratory, University of Minho, Braga, Portugal, cris.remoaldo@gmail.com

Hélder Lopes

Lab2PT – Landscape, Heritage and Territory Laboratory, University of Minho, Guimarães, Portugal, htsltiago@gmail.com

José Cadima Ribeiro

NIPE, University of Minho, Braga, Portugal, jcadima@eeg.uminho.pt


(Resumo de comunicação apresentada no 31st Nordic Symposium on Tourism & Hospitality Research, que decorreu na 
Mid Sweden University, Östersund, Suécia, de 19 a 21 de Setembro de 2023)