quarta-feira, maio 06, 2009

Estruturas de mobilidade como incentivo à urbanidade: O caso da marginal de Gaia

Quando se aborda a temática da expansão urbana, os eixos de comunicação têm um papel preponderante ao nível do planeamento, não só como propulsor de incentivo à urbanidade, mas também como ferramenta essencial à gestão de fluxos quotidianos das populações.
Fruto da dispersão urbanística residencial e da descentralização das actividades e serviços, a mobilidade nos espaços metropolitanos é hoje uma realidade muito diversificada e complexa, marcada pela utilização crescente do transporte individual em deteoramento e ineficiência do transporte colectivo.
Vila Nova de Gaia é o caso disso, em que foi alvo de uma reestruturação da sua marginal, e na óptica do planeamento territorial esta reflexão passa por perceber de que forma a implementação de uma infra-estrutura tem capacidade de alterar não só a mobilidade, mas também os hábitos das populações, não pondo em parte a componente ambiental de extrema importância nos dias de hoje. Vila Nova de Gaia é actualmente um pólo de lazer urbano, de tempos livres, recreio e ócio da Área Metropolitana do Porto, e o seu eixo litoral constitui um corredor costeiro homogéneo, numa extensão de aproximadamente 15 km, tanto ao nível de infra-estruturas e equipamentos quer ao nível das vivências quotidianas.
A expansão automóvel a par dos hábitos e práticas do dia-a-dia das populações urbanas fizeram com que surgissem problemas graves para as cidades e mais especificamente para os centros urbanos, na medida em que o aumento exponencial do tráfego levava a congestionamentos frequentes devido ao uso intensivo do veículo particular, em deteoramento do transporte colectivo (autocarro, comboio, metro), do motociclo ou bicicleta e do fluxo pedonal.
Hoje em dia o que se tem feito ao nível do planeamento da rede viária é uma tentativa de transferir o tráfego dos centros para as periferias através (p. ex.) da criação de Auto-estradas e Itinerários com nós e ramais de ligação próximos às cidades, evitando desta forma que as pessoas não necessitem passar no centro para atravessar a cidade. Estas vias de comunicação passam desta forma a ser impulsionadoras do crescimento urbano, pois torna-se propícia à expansão urbana para as áreas peri-urbanas relançando a valorização de terrenos para construção, atraindo desta forma a indústria, comércio, serviços, e claro, população.
Nas últimas três décadas as vias de comunicação na marginal da cidade de Vila Nova de Gaia começaram a ser encaradas como redes estruturantes de todo o território, para assim se conseguir a melhor integração e interacção entre território, actividades e acessibilidades.
A extensão da área litoral de Gaia, um pouco à imagem de todo o concelho e de todo o Norte do país, detém como uma das principais características de arranjos e usos do solo, a incapacidade de se perceber onde começa e acaba, quer o urbano quer o rural, devido ao facto de existir uma diversidade de usos, próximos uns dos outros, e suas devidas aplicabilidades e utilizações.
A zona marginal de Gaia “… tem vindo a sofrer alterações profundas de vária ordem, destacando-se as intervenções no domínio do urbanismo, da rede viária, do ambiente, da conservação da natureza, do turismo e do lazer urbano, conciliando valores de urbanidade e de preservação dos recursos biofísicos (PORTAS, DOMINGUES, CABRAL, 2003: 175)
No que respeita à requalificação ambiental, o município de Vila Nova de Gaia tem dado especial destaque à componente ambiental relativamente aos objectivos a que se propõe de implementação e reestruturação urbanística. Focando a área central onde esta reflexão recai, pode dizer-se que “…a área apresenta uma variedade tipológica de espaços naturais: orla costeira, estuário e margens do rio Douro, ribeiras, seus leitos de cheia e foz, e o promontório da seca do bacalhau, rótula entre o sistema costeiro e o sistema fluvial (…)”.
Em jeito de analepse, Vila Nova de Gaia remonta-nos para a década de 70 onde o espaço era caracterizado por inúmeros espaços tipicamente rurais, com habitações de arquitectura rural, uni familiares e onde a própria avenida junto às praias eram em terra batida, e que demonstravam um fraco arranjo urbanístico ao nível do planeamento. Actualmente os edifícios caracterizam-se por uma cércea elevada e de arquitectura moderna, onde a grande maioria dos pisos inferiores é ocupada por comércio, porém, pontualmente são interpoladas por habitações unifamiliares e casas em ruínas.

Telmo Cupertino da Cunha

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

1 comentário:

Anónimo disse...

É pena que as pessoas que podem decidir não oiçam o que pessoas que se importam por estes assuntos têm a dizer.

JD