sábado, maio 09, 2009

Jornal de Leiria: cadernos sobre o distrito de Leiria

Resposta às questões da jornalista Mª Anabela Silva, datadas de 09/04/22, encaminhadas por via electrónica

O JORNAL DE LEIRIA tem vindo a publicar vários cadernos sobre o distrito de Leiria, onde aborda temáticas como a Educação, Turismo, Desenvolvimento Regional ou Acessibilidades. O próximo caderno, a publicar no início de Maio, dará enfoque ao concelho de Leiria. Para esse trabalho, gostaria de poder contar com a sua colaboração.Para tal, envio-lhe as seguintes questões:

1 - Afirmou recentemente numa conferência sobre desenvolvimento regional, que falta a Leiria "liderança, projecto e lobby". De que forma é que isso tem condicionado o desenvolvimento do concelho e da região?
R: A ideia que pretendi sublinhar é que não basta que os territórios disponham de recursos e capacidade empresarial para que se desenvolvam, embora uma coisa e outra sejam importantes. Na actualidade, mercê da sofisticação tecnológica e da abertura das economias, há dimensões da competitividade e do desenvolvimento que passam pela capacidade de concertação de acções e projectos entre empresas e outros agentes, incluindo os responsáveis político-institucionais, que são decisivas para viabilizar certos projectos e certa escala de operação. É aí que surge a exigência de clareza na identificação de metas a prosseguir, de recursos a afectar e agentes a mobilizar e, portanto, a exigência de alguém, actor individual ou colectivo, que seja capaz de coordenar acções e agentes e mobilizá-los para o projecto de desenvolvimento colectivamente assumido. A capacidade de fazer “lobby”, promover externamente o território e reclamar investimentos públicos básicos também passa por aí.
Quando se olha para Leiria e para a sua envolvente regional, percebe-se imediatamente que há dimensões de infra-estruturação que continuam a faltar e que o poder político central olha com grande sobranceria para este território. São ilustração disso, a forma como Leiria foi/é tratada no plano do desenvolvimento turístico, na componente de infra-estrutura ferroviária disponível e, até, na forma como foi (des)considerada na negociação das contrapartidas associadas ao abandono do projecto aeroportuário da OTA. Tudo isso pesa em termos de competitividade económica e capacidade de atracção e fixação de investimento privado.

2 - Como podem essas lacunas ser combatidas?
R: O desenvolvimento é um processo, assim como a concertação entre actores de desenvolvimento também o é. Daí decorre que o primeiro passo para recuperar atrasos e reunir vontades está na tomada de consciência das lacunas do modelo de desenvolvimento prosseguida e da forma como os protagonistas se possicionaram/posicionam nesse processo. Do que vou vendo, parece existir em Leiria uma crescente sensibilidade para estas dimensões do problema e, até, o ensaiar de alguns pequenos passos no caminho que importa percorrer. Leio esses sinais nalgumas iniciativas tomadas recentemente pela ADLEI, pelo NERLEI e pelo Instituto Politécnico de Leiria, nomeadamente. São sinais de esperança, que desejaria ver confirmados.

3 - Que potencialidades deve Leiria trabalhar melhor?
Leiria, em sentido lato, tem importante tradição nas indústrias do vidro, dos plásticos, da cerâmica, das madeiras e do mobiliário, da transformação alimentar e já, também, dos moldes. À semelhança de outros territórios nacionais e europeus, tem vindo, igualmente, a desenvolver uma vocação turística. Pondo conhecimento tecnológico e organizacional, fazendo um melhor seguimento dos mercados e das suas tendências e pondo estratégia de negócio (onde devem tomar papel particular as parcerias e a operação em rede), pode dar-se uma nova vida a estas indústrias. Pensando os recursos que tem, Leiria e a região podem, claro está, desenvolver uma verdadeira indústria turística, sendo certo que o turismo é uma actividade que cruza sectores e agentes.

4 - Que importância terá para Leira a criação de uma estação de TGV?
O comboio de alta velocidade é um meio de transporte do presente e do futuro, pela respectiva velocidade a movimentar pessoas e mercadorias, pela forma como pode servir a estruturação de um verdadeiro sistema público de transportes, pelo respectivo impacte ambiental (reduzido). Se se olhar para Leiria, e tirando a componente rodoviária (relativamente condenada em função dos custos de energia, da carga poluente que acarreta e do congestionamento das vias), esta apresenta-se muito mal servida, isto é, não tem nem uma infra-estrutura ferroviária moderna, eficiente, que a sirva nem um sistema de mobilidade de pessoas e bens adequado. A criação de uma estação do comboio de alta velocidade em Leiria pode ser um começo de resposta para estas lacunas. Pode, digo, se as coisas foram pensadas de forma articulada, de uma óptica de sistema e não como projectos isolados e casuísticos.

5 - Depois de perdida a 'batalha' pela construção do aeroporto na Ota, a abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil poderá ser uma boa solução?
Em Portugal continental, a base aérea de Monte Real constitui a base aérea militar de topo em termos de equipamento e operacionalidade. Não sei se o país está em condições de/deseja encontrar uma alternativa. Também não estou seguro que, em matéria, de serviço regional de passageiros tenha a melhor localização e não haja alternativa adequada. Tanto quanto li, parece haver uma opção concorrente em Fátima/Ourém. Se, tecnicamente, essa alternativa existir, é muito duvidoso que valha sequer a pena considerar questionar a operacionalidade e vocação militar que Monte Real detém. Note-se que nem uma nem outra das opções que estou a considerar fazem sentido ser pensadas como alternativas aos aeroportos (internacionais) de Lisboa e do Porto. É aqui que entra, também, a importância da cidade e da região serem convenientemente servidas pelo comboio de alta velocidade ou, pelo menos, de altas prestações.

(Braga, 30 de Abril de 2009)

J. Cadima Ribeiro

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