1. O CER, Centro de Estudos Regionais, uma associação cívica sedeada em Viana do Castelo, tem vindo a promover um ciclo de conferências que, sugestivamente, intitulou “Novas conversas sobre nós”. A última das conferências ocorreu há pouco mais de uma semana e teve como orador convidado o signatário deste texto. O tema versado foi: “Alto Minho: destino turístico cultural e criativo?”. Em boa verdade, o tema que me havia sido proposto não contemplava a forma interrogativa.
2. O elemento de amarragem da intervenção foi um levantamento que havia sido feito, via inquérito, sobre as preferências ou escolhas de visitantes reais ou potenciais do Alto-Minho. As preferências que era suposto serem explicitadas reportavam-se aos recursos turísticos ofertados pelo território em causa. Os resultados a que se chegou foram os seguintes: os recursos turísticos mais valorizados pelos inquiridos foram os Recursos Históricos, seguidos dos Recursos Naturais-Água.
3. Os resultados obtidos no âmbito do mencionado estudo revelaram-se interessantes especialmente por tornarem patente a inadequação da estratégia promocional que vinha sendo conduzida, centrada no Património Religioso e no Artesanato, atributos que se revelaram ter menor relevância no contexto da hierarquia de preferências dos inquiridos.
4. Pegando com maior detalhe nos resultados do estudo, podia adicionalmente constatar-se o seguinte: i) no âmbito dos Recursos Históricos, apareciam positivamente ponderados o Património Arqueológico e o Património Civil; ii) no âmbito dos Recursos Etnográficos, o mesmo se verificava relativamente às Festas e à Gastronomia; e iii) no contexto dos Recursos Naturais-Terra, surgiam positivamente apreciados os Parques Nacionais ou de Paisagem Protegida. Ora estes são recursos que caem no âmbito de perfis de procura turística mais recentes, onde a dimensão cultura, singularidade e ambiente natural têm lugar de destaque, e era daqui que surgia o pretexto para questionar a viabilidade de configurar o Alto-Minho como um destino de turismo cultural.
5. A problemática da criatividade a que fazia apelo o título da conferência surgia colocada mais adiante e prendia-se com a ideia que, se se pode assimilar o turismo cultural a visitas a monumentos e locais históricos, é também possível uma aproximação que considere uma fruição cultural mais activa. Esta problematização foi sendo feita por vários autores a partir do virar do século XX, confrontados que foram com o crescimento daquilo a chamaram “turismo criativo”. Defendem os ditos autores que os consumidores do turismo criativo procuram experiências interactivas para ajudar no seu desenvolvimento pessoal e aumentar o seu capital criativo. O turismo criativo envolve não apenas ver, não apenas “estar lá”, mas uma interacção reflexiva por parte dos turistas. Ora, era neste contexto que a questão sobre se o Alto-Minho seria capaz de posicionar-se nesse mercado poderia ser colocada. Era também daqui que surgia a oportunidade de dar um formato interrogativo ao tema da dita conferência.
6. A verdade é que, para lá chegar, o território em causa precisará, antes, de posicionar-se como destino de turismo cultural, dado que não o é, pese o seu potencial em recursos culturais. A verdade é que, digo, para lá chegar, o Minho-Lima precisará antes de consolidar-se como destino turístico enquanto tal, quer dizer, terá que conseguir que os agentes da actividade turística desenvolvam acções no sentido de uma utilização eficiente dos recursos endógenos, bem como definam e, consequentemente, promovam uma imagem da sub-região como destino turístico comum. E, adicionalmente, carecerá de: i) superar a ausência de uma cuidada organização e administração dos recursos turísticos; ii) ultrapassar a escassa oferta de alojamento e de restauração de qualidade; iii) resolver fragilidades ao nível das acessibilidades; iv) desenvolver um plano de oferta de eventos e actividades de animação mais regular e mais consistente; v) apostar na qualificação dos recursos humanos ao serviço do sector; vi) desenvolver uma cultura empresarial mais propensa à cooperação; vii) superar as lacunas graves existentes na promoção turística do território; e viii) enfrentar as indefinições em matéria de estratégia e organização do sector e contribuir para a construção de uma nova organização institucional (e territorial) do turismo regional e nacional.
7. Foi este o diagnóstico que propus aos participantes no fórum, procurando sublinhar a distância a que o dito território se situa daquilo que pode ser equacionado em matéria de um projecto turístico que faça apelo às dimensões culturais, perspectivadas de uma forma mais activa ou mais passiva. Trago aqui essa problemática e invoco aqui o evento porque, em se tratando da realidade do desenvolvimento turístico, o Alto-Minho e o Baixo-Minho, juntamente com várias outras parcelas do território nacional, não estão colocados perante realidades e constrangimentos muito diversos. Invoco a vivência que experimentei porque acho que o pontapé de saída para a mudança no Baixo-Minho e nesses outros territórios do país a que aludo também têm que ser “as conversas sobre nós”, que porventura não serão “novas” porque serão início de conversa.
J. Cadima Ribeiro (artigo de opinião publicado na edição de hoje do
Suplemento de Economia do
Diário do Minho, no âmbito de coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")