O pastel de Tentúgal é oriundo de uma vila, a qual lhe deu o
nome, que está situada no concelho de Montemor-o-Velho. É um doce tipicamente
conventual, confeccionado desde o final do século XIX, desenvolvido pelas
freiras carmelitas do Convento de Nossa Senhora do Carmo, de Tentúgal. Os doces
conventuais caracterizam-se por serem doces confeccionados nos conventos, e por
serem compostos por grandes quantidades de açúcar e de gemas de ovos.
Há diversas variedades de massas folhadas nas receitas
tipicamente conventuais, assim como vários recheios, em grande parte feitos com
doce de ovos. As características do “Pastel de Tentúgal” encontram-se muito
ligadas com o folhado, que é muito fino e bastante estaladiço que se encontra
recheado com doce de ovos. Inicialmente, na sua confecção havia amêndoa ralada,
que dava um gosto mais apetecível ao doce, mas esta foi abandonada.
O “Pastel de Tentúgal” é um doce que é feito com uma massa
que é obtida a partir da junção de água e farinha e o seu recheio resulta da
mistura de ovo com uma calda de açúcar, em que esta tem de se encontrar em
ponto-pérola.
A receita e arte de confecção do pastel de Tentúgal foram
ensinadas à Dona Conceição Faria por parte de uma familiar que era auxiliar no convento.
Esta era dona de uma hospedaria onde iniciou a confecção e comercialização
deste doce. Embora o seu nome inicial fosse “Palitos Folhados”, o nome deste
produto foi alterado, uma vez que este era conhecido não só pelo seu aspecto e
gosto refinado mas também pela sua qualidade e divulgação, factores o levaram a
ser visto como um “pastel” em conjunto com o nome da vila, passando assim de
“Palitos Folhados” a “Pastel de Tentúgal”.
Com o desenvolvimento da construção, após a implementação da
Republica (1910), e o aparecimento das primeiras estradas, assim como dos
primeiros automóveis, a expansão do produto foi feita de uma forma mais
alargada, uma vez que vinham visitante de longe que ficavam na hospedaria e que
provavam as iguarias da região, mas principalmente o “Pastel de Tentúgal”.
O legado da receita foi passado à Dona Branca Delgado, filha
da Dona Conceição Faria, que manteve a sua confecção até aos anos 80. Nesta
altura, o produto foi fortemente divulgado, principalmente com a procura por
parte das classes mais abastadas e pelos professores e alunos da Universidade
de Coimbra, que se deslocavam propositadamente para poderem apreciar e encomendar
os “Pasteis de Tentúgal”. Posteriormente, a divulgação deste produto foi feita
a nível nacional.
O “Pastel de Tentúgal” pode apresentar-se de quatro formas
diferentes:
- Palito e palito em miniatura; tem a forma de um
cilindro ligeiramente achatado;
-- Meia-lua e meia-lua em miniatura.
A massa do “pastel de Tentúgal”, após a mistura dos
ingredientes e da sua uniformização, era colocada num estrado de madeira, onde
era esticada até à “exaustão” para se obter uma massa com uma textura muito
fina, quase transparente. A secagem da massa era feita à temperatura ambiente.
Nos dias mais húmidos a secagem da massa era feita com o uso de ventoinhas ou
de maçaricos.
Relativamente ao recheio, este é constituído por gemas, ovos,
açúcar, água e canela. Em primeiro lugar, coloca-se a água a ferver juntamente
com o açúcar, até este ficar em ponto-pérola. De seguida, juntam-se os ovos inteiros
e depois as gemas batidas. Tem de adquirir uma textura cremosa.
Com a comercialização deste produto em grande escala, foi
necessário implementar medidas para que pudesse ser comercializado em diversos
ponto do país. Uma das formas passou pela confecção do pastel, sendo depois feita
a congelação em cru, para que este pudesse ser
transportado e confeccionado.
Ana Rita Costa
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
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