quarta-feira, maio 01, 2013

Pastel de Tentúgal

O pastel de Tentúgal é oriundo de uma vila, a qual lhe deu o nome, que está situada no concelho de Montemor-o-Velho. É um doce tipicamente conventual, confeccionado desde o final do século XIX, desenvolvido pelas freiras carmelitas do Convento de Nossa Senhora do Carmo, de Tentúgal. Os doces conventuais caracterizam-se por serem doces confeccionados nos conventos, e por serem compostos por grandes quantidades de açúcar e de gemas de ovos.
Há diversas variedades de massas folhadas nas receitas tipicamente conventuais, assim como vários recheios, em grande parte feitos com doce de ovos. As características do “Pastel de Tentúgal” encontram-se muito ligadas com o folhado, que é muito fino e bastante estaladiço que se encontra recheado com doce de ovos. Inicialmente, na sua confecção havia amêndoa ralada, que dava um gosto mais apetecível ao doce, mas esta foi abandonada.
O “Pastel de Tentúgal” é um doce que é feito com uma massa que é obtida a partir da junção de água e farinha e o seu recheio resulta da mistura de ovo com uma calda de açúcar, em que esta tem de se encontrar em ponto-pérola.
A receita e arte de confecção do pastel de Tentúgal foram ensinadas à Dona Conceição Faria por parte de uma familiar que era auxiliar no convento. Esta era dona de uma hospedaria onde iniciou a confecção e comercialização deste doce. Embora o seu nome inicial fosse “Palitos Folhados”, o nome deste produto foi alterado, uma vez que este era conhecido não só pelo seu aspecto e gosto refinado mas também pela sua qualidade e divulgação, factores o levaram a ser visto como um “pastel” em conjunto com o nome da vila, passando assim de “Palitos Folhados” a “Pastel de Tentúgal”.
Com o desenvolvimento da construção, após a implementação da Republica (1910), e o aparecimento das primeiras estradas, assim como dos primeiros automóveis, a expansão do produto foi feita de uma forma mais alargada, uma vez que vinham visitante de longe que ficavam na hospedaria e que provavam as iguarias da região, mas principalmente o “Pastel de Tentúgal”.
O legado da receita foi passado à Dona Branca Delgado, filha da Dona Conceição Faria, que manteve a sua confecção até aos anos 80. Nesta altura, o produto foi fortemente divulgado, principalmente com a procura por parte das classes mais abastadas e pelos professores e alunos da Universidade de Coimbra, que se deslocavam propositadamente para poderem apreciar e encomendar os “Pasteis de Tentúgal”. Posteriormente, a divulgação deste produto foi feita a nível nacional. 
O “Pastel de Tentúgal” pode apresentar-se de quatro formas diferentes:
- Palito e palito em miniatura; tem a forma de um cilindro ligeiramente achatado;
--  Meia-lua e meia-lua em miniatura.
A massa do “pastel de Tentúgal”, após a mistura dos ingredientes e da sua uniformização, era colocada num estrado de madeira, onde era esticada até à “exaustão” para se obter uma massa com uma textura muito fina, quase transparente. A secagem da massa era feita à temperatura ambiente. Nos dias mais húmidos a secagem da massa era feita com o uso de ventoinhas ou de maçaricos.
Relativamente ao recheio, este é constituído por gemas, ovos, açúcar, água e canela. Em primeiro lugar, coloca-se a água a ferver juntamente com o açúcar, até este ficar em ponto-pérola. De seguida, juntam-se os ovos inteiros e depois as gemas batidas. Tem de adquirir uma textura cremosa.
Com a comercialização deste produto em grande escala, foi necessário implementar medidas para que pudesse ser comercializado em diversos ponto do país. Uma das formas passou pela confecção do pastel, sendo depois feita a congelação em cru, para que este pudesse ser transportado e confeccionado.

Ana Rita Costa

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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