Um jornal de grande circulação no estado do Ceará - Brasil
vem publicando uma série de reportagens sobre a construção do aeroporto
internacional de Jericoacoara – Ceará. Algo que poderia ser considerado normal,
tendo em conta a importância que o equipamento terá para o desenvolvimento da
região.
Após uma consulta no sítio do próprio jornal, verificamos 41
reportagens que foram feitas desde 2008. Neste sentido, conseguimos fazer uma
espécie de retrospectiva de todo o processo de construção deste aeroporto,
desde as licitações e deliberações de órgãos fiscalizadores até a finalização
da pista de pouso e avanços em outras etapas. A obra ainda está em fase de
conclusão.
Durante todo este período, que vai de 2008 até aos dias de
hoje, tivemos a oportunidade de verificar algumas fragilidades orçamentárias,
paralisações de trabalhos, manifestações da população local e promessas de um
grande avanço para a economia local e regional. Em termos financeiros, o
Governo Estadual investiu cerca de 64 milhões de Reais (aproximadamente 25
milhões de Euros). A maior parte foi financiada pelo próprio Estado, que ao
mesmo tempo realizou parcerias com o Governo Federal através do Ministério do
Turismo.
A grande questão está em saber quem serão os maiores
beneficiados, sendo que o Governo aponta alguns setores que sairão favorecidos
com esta construção. Assim, o aeroporto será construído na cidade de Cruz,
localizada a aproximadamente 250
km de Fortaleza, no litoral oeste do estado do Ceará. O
município de Jijoca de Jericoacoara, que fica a 15 km do aeroporto, terá como
benefício um crescimento significativo na atração dos turistas, pois possui
algumas das praias mais conhecidas no cenário nacional e internacional, tanto
pelas suas belezas naturais como pela prática de esportes: o kitesurf e o windsurf. Também alguns municípios mais distantes, que ficam em um
raio de aproximadamente 300
km de Cruz, tais como, São Benedito, Tianguá, Viçosa e
Guaramiranga, por possuírem um clima mais ameno, diferenciado de todo o
restante do estado, e que realizam cultivos de grande valor comercial, como o morango
e a produção de flores, tanto para o mercado interno como para o externo, terão
no aeroporto um grande facilitador para a dinamização do transporte das
mercadorias.
Devemos pensar que por trás das benesses e seus
beneficiados, não se houve falar dos prejuízos e muito menos dos que não serão
favorecidos. Se, por um lado, o Governo quer incentivar o turismo ambiental em
Jericoacoara, por outro, ignora que com o significativo aumento do fluxo de
turistas num local que está protegida por fazer parte do Parque Nacional de
Jericoacoara, a área precisará de estar minimamente preparada para a coleta do
lixo, manutenção do esgoto sanitário, entre outras estruturas. Vale a pena
lembrar que, por fazer parte de uma rota aérea, também sofrerá com a poluição
sonora.
Do ponto de vista eleitoral, publicitar a construção de um
aeroporto com a promessa de melhorar a economia pode resultar em muitos
eleitores satisfeitos. O que muitos não sabem ou ainda não se deram conta é que
muitos produtores de frutas e flores serão excluídos do mercado de exportação.
Tudo isto porque nem todos possuem capacidade produtiva e/ou capital suficiente
para a produção em larga escala e que possa suprir as exigências do mercado
internacional. Ou seja, será vantajoso apenas para os maiores produtores, que
possuem um maior poder de investimento.
Muitas vezes, os pequenos produtores são iludidos com a
ideia de que com a implantação de um aeroporto e/ou outras infraestruturas,
irão alavancar suas vendas. Contudo, muitas vezes, não se dão conta de que
essas infraestruturas são criadas, em sua maior parte, para o beneficio de
empresários e produtores bem sucedidos, que conseguem exercer influência na
política por conta do dinheiro que será investido e que, consequentemente, gerará
riqueza para o Estado. Outra ilusão é o fato de os moradores acreditarem que os
postos de trabalho serão distribuídos igualitariamente, esquecendo-se que
muitos cargos exigem formação e experiência.
Acreditamos que os fortes investimentos em infraestruturas no
estado não devem ser cortados, mas precisamos discutir quem de fato será
beneficiado com esses investimentos. Para além da discussão econômica, como
geógrafos, não podemos nos esquecer dos fatores físicos, ambientais e sociais
que estão envolvidos. Precisamos elaborar planos de controle de visitantes,
aumentar a fiscalização nas áreas protegidas e investir em formação educacional
e profissional nestas áreas, além de campanhas educativas para a manutenção e
preservação de todo o parque nacional e suas áreas circunvizinhas, a fim de
diminuir os impactos que serão causados com o aumento das visitas. Quanto aos
pequenos produtores, o estado deve incentivar com a disponibilização de insumos
(sementes), seguro-safra e até a oferta de cursos profissionalizantes para
suprir a carência do mercado.
Ivna
Machado
Referências:
NORDESTE, Diário do. (2013) Aeroporto de Jeri facilitara turismo ambiental. [On Line].
Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1259936 Acesso em:
26 abril de 2013.
NORDESTE, Diário do. (2012) Fluxo de passageiros é o maior na década. [On Line]. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1199284 Acesso em: 25 abril de 2013.
NORDESTE, Diário do. (2009) Moradores reivindicam obras. [On Line]. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=634274 Acesso em: 25 abril de 2013.
NORDESTE, Diário do. (2012) Fluxo de passageiros é o maior na década. [On Line]. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1199284 Acesso em: 25 abril de 2013.
NORDESTE, Diário do. (2009) Moradores reivindicam obras. [On Line]. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/m/materia.asp?codigo=634274 Acesso em: 25 abril de 2013.
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
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