Espaço de divulgação e debate de ideias relativas ao planeamento do território, à economia do turismo e ao desenvolvimento regional.
sexta-feira, dezembro 21, 2018
sexta-feira, dezembro 14, 2018
quinta-feira, novembro 29, 2018
Leiria e o Investimento Direto Estrangeiro (4ª parte)
(Continuação)
8 - O que precisaria a região de
fazer para alterar atrair outro tipo de investimento?
A região precisaria de ser capaz de ganhar muito maior audição junto do
governo central e de ter uma postura ativa no processo de captação de
investimento externo, conforme já mencionado. A primeira dimensão prende-se com
a reivindicação de novas infraestruturas e melhoria das existentes, a começar
pela linha férrea e material circulante mas, também, em constituir-se como
parceiro da mesma entidade nacional do processo de captação desse investimento.
A segunda dimensão liga-se com a promoção da imagem do território e a definição
de uma estratégia de desenvolvimento onde haja espaço para o reforço produtivo
do território pela via de captação de IDE que seja estruturante, isto é, que
permita dar força às apostas que se pretenda fazer. Neste enquadramento, mais
uma vez, será necessário garantir apoios públicos e reforçar a capacidade de
oferta de mão-de-obra qualificada e alguma capacidade endógena de inovação.
9 - O facto de não existir cá uma
universidade, mas apenas um politécnico, pode retrair a vinda de novos
investidores?
O problema não é ter-se ou não se ter uma universidade. O problema é a
qualidade e solidez da instituição de ensino superior de que se dispõe e a sua
presença no terreno, na relação com os agentes económicos e sociais, para além
das funcionalidades de que dispõe, nomeadamente na dimensão formação, investigação
e prestação de serviços à comunidade. Ora, o Instituto Politécnico de Leiria é
uma instituição relativamente recente, que encetou um processo de qualificação
dos seus quadros datado de há menos tempo e que, por força de enquadramentos
legais e financeiros, encetou o processo de criação de estruturas de
investigação ainda há menos tempo. De tudo isso resultam as fragilidades que eu
enunciava acima, que condicionam o contributo que pode dar ao sistema
socio-produtivo local, quer na dimensão formação de quadros quer na da produção
de inovações e prestação de serviços de que o sistema produtivo local possa
tirar efetiva vantagem. Estas coisas tomam tempo e é preciso assumir isso sem
complexos. Está criado espaço para que a instituição tenha no futuro um
protagonismo muito mais relevante.
J. Cadima Ribeiro
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
segunda-feira, novembro 26, 2018
Leiria e o Investimento Direto Estrangeiro (3ª parte)
(Continuação)
6 - "Leiria nunca teve uma
estratégia de desenvolvimento para atrair novos investimentos". São
palavras de mais um empresário. Pelo que conhece, pelo que lê nos jornais, se assim
for, poderá ser mais difícil atrair investimento estrangeiro?
Subscrevo a leitura de situação a que alude. Aparte a dotação de atributos,
são precisos negociadores e porta-vozes para negociar projetos e incentivos
para o território, desde logo, na frente interna, com o governo. Na captação de
IDE em volumes relevantes, direta ou indiretamente, o governo nacional está
presente. Por outro lado, quando um investidor externo equaciona fazer um
investimento em Portugal, sobretudo se for uma entrada no país, ele olha em
primeiro lugar para a atratividade do país e só depois o elemento diferencial
que lhe pode ser dado por uma localização específica. Aí entra a capacidade de
“lobby” e de negociação da “região”, que tem que ter protagonistas, sob pena de
não contar para o jogo.
7 - Que outras razões encontra para a
falta de atractividade de Leiria, apesar de existirem cá muito boas empresas,
técnicos qualificados, alguns centros de investigação com qualidade...?
Em expressão geral, a resposta já foi dada. Sublinho que, havendo
capacidade empresarial, a Região de Leiria tem ficado aquém do desejável em
matéria de construção de uma afirmação e liderança coletivas. Houve quem, no
passado recente, tivesse ensaiado esse percurso (como foi o caso do empresário
e dirigente associativo José Ribeiro Vieira, falecido prematuramente). O
projeto está por cumprir, tal qual o projeto de criação de uma liderança
política local/regional, necessariamente agregadora de vontades e interesses.
Na componente investigação, estão apenas dados os primeiros passos e não sei se
terão continuidade, isto é, se se mobilizarão os recursos, financeiros e
humanos, para lhe dar dimensão crítica, isto é, para fazer dela peça relevante da
estratégia de projeção do território a partir de produtos e serviços
inovadores, gerados internamente.
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
domingo, novembro 25, 2018
Leiria e o Investimento Direto Estrangeiro (2ª parte)
(Continuação)
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
3 - Alguns empresários já ouvidos
pelo Jornal de Leiria dizem preferir pequenas empresas - mas boas - do que
grandes grupos. O que pensa disso, numa região onde, de facto, tem existido
menos desemprego que em outras zonas do País?
Se olharmos para o desempenho económico da NUT Região de Leiria nas últimas
décadas, temos que concordar que não é descabida a consideração que fazem os
empresários a que se refere. Olhando para os diversos índices de desempenho que
foram divulgados, incluindo uma recente, da Marktest, tratando-se de
competitividade, emprego, exportações, o território tem-se situado sempre nas
posições cimeiras em termos nacionais. A questão que se pode colocar é se não
poderia ter ido mais longe se algum grande grupo económico aí emergisse ou se
sedeasse.
Note-se que a formação de grupos económicos não acontece como a mesma
probabilidade em todos os setores. A essa luz, questiono-me se o tipo de
especialização produtiva industrial do território (moldes, vidro, cerâmica,
madeiras, plásticos) não será um óbice à instalação de tais projetos
empresariais.
4 - Considera que, por exemplo, o
facto de não existir uma boa ligação de comboio entre o aeroporto de
Lisboa e a região (Marinha Grande e Leiria, por exemplo), poderá condicionar a
vinda de um grande grupo para a região?
As infraestruturas são uma peça central da competitividade e da estratégia
de localização de muitas empresas estrangeiras, sobretudo se visam o mercado
internacional e/ou se a sua cadeia de produção depende em grande medida de
fornecimentos externos. O comboio é e será cada vez mais instrumental nesse
acesso aos mercados. Que a situação existente é má, isso é inquestionável. Sem
comboio, com o aeroporto e o porto de mar a 120 km, o transporte fica refém da
logística rodoviária. Comparativamente com outras regiões do país, por exemplo,
Porto, Aveiro, Braga, para não falar de Lisboa, nas acessibilidades, Leiria/a
região tem uma posição desfavorável.
5 - Também se fala da falta de massa
crítica. Concorda?
A massa crítica, seja pensada em termos de mão-de-obra altamente
qualificada, de estruturas e capacidade de inovação, de capitais financeiros e
arrojo empresarial, seja em termos de habilidade para construir plataformas de
concertação empresarial e entre atores económicos e sociopolíticos, é um
instrumento central na construção de estratégias mais ousadas e sólidas nos
territórios. A chegada tardia e algo fragilizada do ensino superior ao
território e o desenvolvimento muito recente de alguma capacidade de
investigação, aparte a ausência de espírito associativo empresarial e
inexistência de uma liderança política visível têm que ser presentes quando se
olha para Leiria e se confrontam potencialidades e realizações concretas.
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
sexta-feira, novembro 23, 2018
Leiria e o Investimento Direto Estrangeiro
[Caro Professor Doutor
José Cadima Ribeiro,
Sou jornalista no Jornal
de Leiria e estou a contactá-lo pois gostaríamos muito de obter a sua opinião
relativamente a um tema que estamos a tratar.
O tema em questão
prende-se com a ausência de grandes grupos empresariais na região de Leiria,
como acontece, por exemplo, com a Bosh e a Continental Mabor, em Braga, a Amorim, a Prio e a Renault, em
Aveiro, ou a Autoeuropa e a Repsol em Setúbal, entre outras. Independentemente de ser uma vantagem ter este tipo de investimento nas regiões, haverá
certamente razões para a região de Leiria nunca os ter sabido atrair.]
-------------
Questões/tópicos.
1 - Na sua opinião, quais poderão ser
as causas desta ausência?
Como aspeto prévio à questão colocada da “ausência de grandes grupos
empresariais na região”, tenho que fazer notar que o conceito de Distrito nunca
foi adequado para caraterizar a realidade económica de Leiria, em sentido
amplo, mesmo enquanto existiu como instância de coordenação
político-administrativa. Do ponto de vista da dinâmica socioeconómica, o
conceito de região funcional oferece-se muito mais adequado. A região funcional
é aquela que é definida a partir da interação social (intensa) e das trocas
económicas que subsistem num certo território. Nessa perspetiva, as NUTS III,
neste caso, a atual NUT III Região de
Leiria, é muito mais apropriada para falar da dinâmica económica do
território que tem sede principal em Leiria.
A ausência de grupos económicos importantes e, sobretudo, de investimento
direto estrangeiro (IDE) significativo, prender-se-á com um conjunto de fatores
que usualmente estão associados à sua captação, que vão desde fatores
produtivos em abundância e a “bom preço”, infraestruturas e equipamentos
públicos de boa qualidade, incluindo aqueles que se prendem com o acesso aos mercados
internacionais, disponibilidade de espaço infraestruturado e/ou incentivos
fiscais e financeiros, existência de potencial de criação de uma rede de
fornecedores e outros agentes sociais e políticos, entre outros.
Sem desvalorizar a existência de alguns projetos empresais importantes
noutros territórios, note-se que o principal destino do Investimento Direto
Estrangeiro que tem chegado a Portugal tem sido, sempre, Lisboa, isto é, a Área
Metropolitana de Lisboa. Se quisermos inquirir o porquê disso, facilmente
identificaremos um conjunto de atributos que tem que não é replicado por mais
nenhum outro território no país.
No caso dos grupos empresariais de origem nacional, a localização das suas
sedes e estabelecimentos decorre, a maior parte das vezes, de motivações
pessoais.
2 - O que exigem dos territórios
estes grandes grupos que, na generalidade, são multinacionais?
Na sua expressão geral, a resposta a esta questão foi dada acima. Se
quisermos olhar para casos concretos, por exemplo, a Autoeuropa, sabe-se que a
sua localização ficou ligada, particularmente, às infraestruturas portuárias e
viárias existentes na área metropolitana de Lisboa (a empresa é uma das nossas
principais exportadoras), a uma mão-de-obra qualificada e relativamente barata,
com alguma tradição no setor ou afins, a fortes incentivos fiscais e
financeiros associados à implementação da unidade e à formação dos seus ativos,
ao potencial existente em termos de constituição de uma rede local de
fornecedores. A proximidade face às instâncias de poder político e económico-financeiro
pode também não ter sido despicienda.
No caso da Bosh, em Braga, esta aproveitou a existência anterior de um
complexo ligado às indústrias eletrónicas, onde se sedeou em termos físicos, e
a uma reserva de mão-de-obra igualmente associada a esse complexo industrial,
tira proveito da formação técnico-científica assegurada pela Universidade do
Minho, nomeadamente nos domínios da informática e da engenharia de sistemas, e
beneficia igualmente da proximidade física ao aeroporto Francisco Sá Carneiro,
na Maia, a 40 km de distância. Obviamente, os custos do trabalho (relativamente
baixos) não serão um fator que o grupo tenha desvalorizado.
O caso da Continental, em Famalicão, Braga, não é muito diferente do da Bosch,
posto que a Continental adquiriu e dei continuidade a um projeto empresarial
pré-existente, que era a Mabor (produção de pneus).
(Continua)
(Reprodução parcial de respostas dadas, em 2 de novembro de 2018, a questões formuladas pela jornalista do Jornal de Leiria, Lurdes Trindade, no contexto de um dossiê jornalístico que estava a elaborar)
quarta-feira, novembro 21, 2018
26th APDR Congress, 4-5 July 2019, Aveiro, Portugal
«Call for Papers and Special Session Proposals
It is our pleasure to announce the 26th APDR Congress, to be held at the University of Aveiro, Aveiro, Portugal, from July 4 to July 5, 2019.
Theme of the Conference:
Evidence-based territorial policymaking: formulation, implementation and evaluation of policy
The call for papers and Special Session Proposals are open and your participation is very welcome!
Themes of specific interest are:
RS01 - (Big) Data for regional science
RS02 - Agglomeration, clustering, and networking
RS03 - Climate change mitigation and adaptation
RS04 - Decision Support Systems
RS05 - Education and health
RS06 - Energy and environmental economics
RS07 - Financing of economic growth
RS08 - Geographic Information Systems and location modelling
RS09 - Governance and public policy
RS10 - Housing, rehabilitation and real estate
RS11 - Information and communication technology in regional sciences
RS12 - Infrastructure, transportation and accessibility
RS13 - Innovation, entrepreneurship and regional development
RS14 - Low density regions and development
RS15 - Models and methods in regional science
RS16 - Natural environment, resources and rural development
RS17 - Population, migration and labour markets
RS18 - Qualitative analysis in regional science
RS19 - Quality of life, wellbeing and happiness
RS20 - Regional and local development policies
RS21 - Regional resilience and crisis
RS22 - Services, tourism and culture
RS23 - Social innovation, integration, poverty and exclusion
RS24 - Spatial econometrics
RS25 - Sports and regional development
RS26 - Systems and General Interest Services: education, health
RS27 - Territorial Cohesion and asymmetries
RS28 - Theory in regional science
Deadline for Special Session proposals: February 29, 2019. Proposals should be sent by email to the secretariat of the Congress (apdr@apdr.pt).
Deadline for Abstracts submissions: April 16, 2019. Abstracts should be submitted electronically, using the platform available on the Conference website:https://events.digitalpapers.org/apdr2019
All information at the congress website: http://www.apdr.pt/congresso/2019
Looking forward to meeting you in Aveiro!
The Organizing Committee and the Board of APDR
26th APDR Congress »
(reprodução de mensagem que me caiu há poucos dias na caixa de correio eletrónico)
segunda-feira, novembro 19, 2018
“Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder Local Democrático” (3ª parte)
(Continuação)
3.
Notícias de imprensa que informam sobre a reação
dos municípios à implementação da Lei nº 50/2018
No período subsequente à
aprovação da Lei da descentralização, os jornais foram dando notícia de variadas
tomadas de posição dos municípios e de agentes políticos diversos sobre esta.
Algumas das tomadas de posição surgiram no contexto formal e temporal
estabelecido pela dita Lei no que se refere à vontade/disponibilidade para
assumirem as competências a delegar já no ano de 2019.
Um exemplo disso foi o da Câmara Municipal de Cantanhede, que deliberou, por
unanimidade, que no ano de 2019 não pretendia a transferência das competências
previstas na lei. Como razões, invocou “a grande
complexidade do processo e a falta de condições para a sua implementação”
(notícia do jornal Campeão das Provincías,
de 7 de novembro de 2018). A tomada de posição do executivo camarário, a
referendar na Assembleia Municipal, aduzia as “repercussões […] imprevisíveis para as autarquias locais” da respetiva
implementação, o que, em parte, pelo menos, se prendia com conhecerem-se “em
detalhe os diplomas sectoriais de cada uma das áreas contempladas no processo
de descentralização”.
Fazia-se, igualmente, menção ao facto de “não estar ainda constituída a
comissão de acompanhamento da descentralização, com representantes dos grupos
parlamentares, do Governo, da ANMP e da ANAFRE, cuja missão será avaliar a
adequabilidade dos recursos financeiros de cada área de competências a
transferir”. Adicionalmente, em menção expressa a algumas áreas, “a saúde e a
educação“, “pela sua enorme relevância social”, sublinhava-se que era preciso “conhecer
muito bem as implicações da transferência de competências” (notícia do jornal Campeão das Provincías, de 7 de novembro
de 2018).
A invocação com algum detalhe desta tomada de posição sugere-se-me
pertinente porque, por um lado, ela faz presente a complexidade do processo de
reforma da organização do Estado que está em causa e, por outro, deixa patente
que o alcance dessa reforma é devedora de diplomas regulamentares setoriais,
que estavam por publicar na ocasião em que os municípios eram supostos fazer
uma primeira tomada de posição sobre a implementação da lei; e, finalmente,
denuncia alguma precipitação na aprovação da lei e definição de prazos de
aplicação. Porque é que tal sucedeu deste modo, tratando-se de uma reforma com
esta dimensão, escapa-me.
A dita invocação, do caso de Cantanhede, digo, justifica-se também porque,
consultando as notícias sobre outras tomadas de posição, percebe-se que as
questões de fundo são recorrentes e, portanto, não resultam, necessariamente,
de disputas ou afirmações político/partidárias, o que não quer dizer que os
termos ou as circunstâncias em que aconteceram não tenham essas dimensões
presentes.
No mesmo sentido de adiar a assunção imediata das novas
competências previstas na Lei n.º 50/2018, de 16 de Agosto, pronunciou-se a
Assembleia Municipal de Loures, outro tanto tendo acontecido com Benavente, Cuba, Évora, Grândola,
Montemor-o-Novo, Monforte, Mora, Moita, Palmela, Vidigueira, Santiago do Cacém,
Alcácer do Sal, Alpiarça, Alvito, Arraiolos, Avis, Seixal,
Sesimbra, Serpa, Setúbal, Silves, Sobral de Monte Agraço, Vila Viçosa, Espinho,
Maia, Porto, Santa Maria da Feira, Vila do Conte e Beja, conforme
foi divulgado em vários órgãos de informação. Esta listagem não pretende ser
exaustiva. Suporta-se na informação noticiosa a que acedi no contexto da
pesquisa efetuada. Na verdade, em termos formais, 31 municípios pronunciaram-se
negativamente no que respeita à disponibilidade para assumirem já em 2019 as
competências a delegar pela administração central.
Noutros casos, há notícias de tomadas de posição de forças
políticas locais reclamando debates sérios sobre a matéria nas sedes próprias
municipais, como foi o caso de Lagos e de Faro, por exemplo.
Como disse, o apanhado não pretende, de modo algum, ser exaustivo
mas, tão só, sublinhar a controvérsia gerada em torno da Lei nº 50/2018, ou
melhor, sobretudo da sua implementação a muito curto prazo e as consequências
disso decorrentes. A esse propósito, foram muitos os interpelantes que fizeram
questão de sublinhar que a sua tomada de posição
não pretendia pôr em causa a defesa da descentralização mas, antes, visava
alertar para a necessidade de se reunirem as condições mínimas para que o
processo de transferência pudesse ser assumido de forma eficaz, transparente e
responsável por todas as entidades envolvidas, ao invés de “um salto no
escuro”.
Nota final
Um processo com a complexidade e exigência deste suscitaria sempre
controvérsia e preocupação, para além de espetativa e esperança pelo seu potencial
contributo para a melhoria do serviço público prestado à população e de reforço
da democraticidade do exercício do poder. Num tempo em que se fala tanto de
reforma do Estado (ou, pelo menos, de reformas estruturais), esta é ou pode
ser, de facto, uma reforma no sentido por excelência da expressão.
Mantendo embora isso presente, tenho dificuldade em entender a
precipitação com que o processo foi conduzido, que vai desde o tempo e o modo
de produção da Lei, ao calendário da sua implementação e ao seu desenho
concreto, onde, manifestamente, falta a dimensão intermédia (a regionalização)
e todo o acento fica colocado no nível municipal. Este, com sublinhei, tem
falta de escala e, noutra dimensão, de competências para, de um ano para o
outro, ser protagonista de um Estado descentralizado. Curioso é que o modelo de
Estado descentralizado que se propõe seja descendente direto de um Estado
altamente centralizado e concentrado.
Fazendo mea culpa, o próprio governo, na pessoa do Ministro da
Administração Interna, admitiu em meados de agosto que iria ser dado mais tempo
às autarquias para decidirem o grau de envolvimento que queriam assumir no ano de
2019 no âmbito do processo de descentralização
(conforme notícia de ECO - Economia
online, de 17 de agosto de 2018), mesmo porque os diplomas de âmbito setorial, que definirão, em concreto, o
processo de transferência em causa para dar eficácia às decisões reclamadas dos
municípios até 15 de setembro deste ano estariam por produzir.
domingo, novembro 18, 2018
“Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder Local Democrático” (2ª parte)
(Continuação)
(Continua)
2.
A descentralização consagrada na Lei nº 50/2018
Sem ambiguidade, a Lei nº 50/2018, de 16 de agosto,
estabelece no seu artigo 1º que as transferências de competências que estão em
causa se fazem em favor das “autarquias locais” e das “entidades
intermunicipais”, que nesta altura são as comunidades intermunicipais existentes
e as áreas metropolitanas (Lisboa e Porto) [artigo 42º].
Também se diz (artigo 3º) que a “transferência das competências tem
caráter universal” e que essa transferência “se pode fazer de forma gradual até
1 de janeiro de 2021”, sendo que o processo de transferência é suposto
iniciar-se já em 2019 (artigo 4º), estabelecendo-se um prazo (já ultrapassado)
para que “as autarquias e comunidades intermunicipais que não pretendam a
transferência das competências no ano de 2019” comuniquem essa decisão à
Direção-Geral das Autarquias Locais (artigo 4º). O mesmo se estabelece para o
ano de 2020.
O artigo 5º refere-se ao “Financiamento das novas competências”, dando
indicação de paralelismo entre competências transferidas e o acréscimo de
recursos disponibilizar a favor das entidades que assumam as novas
competências, se bem que “a natureza e forma de afetação dos respetivos
recursos” sejam “concretizados através de diplomas legais de âmbito setorial”
(artigo 4º), daí, gerando naturais hesitações e receios da parte das entidades
a quem serão afetadas as novas competências e atribuições. Naturalmente, dado o
carater muito recente e porventura algo precipitado no tempo de produção da Lei
nº 50/2018, à presente data, quase nenhum desses diplomas reguladores foi ainda
produzido. Se não estou em erro, acabou de ser publicado o primeiro desses
diplomas: o que se refere à Educação.
As competências descentralizadas são extensas e exigentes, a maioria
delas, indo da Educação, à Ação Social, Saúde, Proteção Civil, Cultura,
Património, Habitação, Áreas Portuárias e áreas Urbanas de Desenvolvimento
Turístico, Praias Marítimas e Fluviais, à Informação Cadastral, Transportes e
Comunicações, Estruturas de Atendimento dos Cidadãos, Policiamento de
Proximidade, Proteção e Saúde Animal, Segurança de Alimentos e Segurança Contra
Incêndios, Estacionamento Público, Jogos de Fortuna e Azar.
É uma enorme revolução na organização do Estado o que está em jogo. Daí
as perplexidades e as dúvidas que se têm vindo a levantar. De muito pouco descentralizado
e desconcentrado, o país (refirmo-me à parte continental), descentraliza-se
agora “tudo”, e “tudo” para instâncias administrativas da base, não se fazendo
referência a instâncias intermédias, ainda que consagradas na Constituição da
República.
Obviamente, aparte os recursos financeiros, em muitas destes domínios as
entidades “beneficiárias” da descentralização não têm quaisquer competências
técnicas, nem recursos humanos, embora em relação a estes se assuma também o
princípio da respetiva transferência (artigo 8º) da administração central,
igualmente dependente de diplomas legais de âmbito setorial. A Lei 50/2018,
também assume que esse novo quadro de competências e obrigações obrigará à
própria reorganização dos serviços das autarquias locais, bem como do estatuto
do seu pessoal dirigente (artigo 8º).
Cabe aqui assinalar que a entidade sobre que incide o essencial do
processo de descentralização que se pretende encetar é a autarquia local
(Município), tendo as Comunidades Intermunicipais um papel subsidiário. Para
estas, estão previstas competências nas áreas da Educação, Ação Social, Saúde,
Proteção Civil, Justiça, Promoção Turística, Gestão de Portos e da Rede
Hidrográfica, para além da Gestão de
Projetos Financiados com Fundos Europeus e Programas de Captação de Investimento. Ainda assim, e
consistentemente, a intervenção dessas entidades acontece em quadros supramunicipais
ou de rede de serviços e equipamentos afetos aos territórios da jurisdição da
comunidade intermunicipal.
Este papel secundário das comunidades intermunicipais, se se compreende
em razão de não serem entidades com órgãos diretamente eleitos e, portanto,
legitimados politicamente de forma direta, coloca problemas relevantes na sua
eficácia e no papel de coordenação que deveriam assumir quando estão em causa a
gestão de redes ou de equipamentos que exigem escalas de atuação
supramunicipais para serem eficientes. Daí que se possa questionar se a lógica
não resulta invertida, isto é, primeiro importaria equacionar a componente rede
e estruturas supramunicipais e só depois a dotação e gestão à escala municipal.
Na ausência de estrutura intermédia, isto é, regional, percebe-se que
seja atribuído às comunidades intermunicipais tal papel de coordenação,
planeamento e gestão de recursos, embora, em muitos casos, essa escala resulte
desadequada (sub-dimensionada) e, como sublinhado, falha de legitimidade
política direta e, daí, dependente da capacidade de concertação interna dos
municípios participantes. É melhor do que nada, obviamente.
O artigo 38º da Lei nº50/2018 estabelece as competências que são
atribuídas às Freguesias e o artigo 39º as competências que podem ser
transferidas ou delegadas pelos municípios. Dentro do princípio geral da
subsidiariedade e na perspetiva da relação com o cidadão, não parece que se
possam levantar grandes questões no que se refere a esta dimensão da Lei.
(Continua)
sábado, novembro 17, 2018
“Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder Local Democrático” (1ª parte)
Associação Intervenção Democrática – ID
Debate
“Descentralizar ou Transferir? Defender o Poder
Local Democrático”
Hotel Roma, Lisboa, 17 de Novembro de 2018.
J. Cadima Ribeiro
NIPE, Universidade do Minho, Braga
A intervenção que farei sobre a problemática em debate estrutura-se do
seguinte modo: numa primeira parte, farei algumas considerações sobre os
princípios e motivação das políticas de descentralização de
poderes/competências; referir-me-ei de seguida, brevemente, à Lei nº 50/2018,
de 16 de agosto, e enunciarei algumas preocupações de ordem geral que o diploma
legal me suscita; na última parte, darei notícia de um levantamento sumário de
notícias de imprensa que informam sobre a reação tida por diversos municípios à
respetiva implementação imediata, e razões invocadas. De permeio, farei algumas
considerações sobre a vontade e eficácia potencial do modelo de descentralizado
adotado.
1.
Princípios e motivação das políticas de
descentralização
Estando em causa um
qualquer processo de descentralização político-administrativa, antes que se
considerem as propostas concretas que estejam em cima da mesa, importa que se
faça presente que existem diferentes razões e intenções que lhe podem estar
subjacentes. Assim, é comum identificar três visões; a saber: a ´orgânica`; a
´funcionalista`; e a ´vitalista`. A escolha de um ou outro destes modelos de
descentralização, ou de soluções de compromisso entre eles, tem particular
acuidade quando estamos perante processos de regionalização, propriamente
ditos, mas oferece-se-me relevante invocá-los mesmo no presente contexto.
Na visão orgânica, a
partição geográfica de competências, isto é, a delegação de poder, pretende
assegurar a permanência e a viabilidade da organização. Não interessa, deste
ponto de vista, que a solução vá ao encontro das aspirações e do espaço natural
de afirmação das comunidades existentes. Numa perspetiva de controlo político e/ou
administrativo, pode mesmo pretender-se que isso não aconteça.
Na visão ´funcionalista`,
a partição do poder procura fundamento na geografia dos recursos e atividades,
e dos obstáculos físicos (naturais, acessibilidades, etc.). Trata-se de
promover uma solução de organização territorial do poder que tire partido dos
recursos e atividades para reforçar a eficiência do seu desempenho e,
porventura, desenvolver ações corretores das desfuncionalidades e ineficiências
socioeconómicas existentes.
A descentralização
informada pela visão ´vitalista` funda-se na própria ideia de comunidade
humana, isto é, procura estabelecer soluções de devolução de poder que
coincidam com o sentimento de pertença (identidade) das comunidades
estabelecidas. Nessa perspetiva, a identidade/coesão social é concebida como um
instrumento essencial da mobilização dos agentes presentes no espaço geográfico
de exercício do poder definido e, logo, de sucesso da própria solução
político/administrativa adotada.
Quer dizer, sendo os
processos de descentralização de poderes peças de estratégias de gestão dos
territórios e dos países que jogam com
i)
dimensões políticas (devolução do poder
aos territórios/comunidades locais ou regionais, isto é, aproximação do poder
dos cidadãos),
ii)
dimensões
económicas (conferir capacidade de gestão aos territórios que lhe otimizem o
desempenho e/ou viabilizem intervenções corretoras de disfuncionalidades que
questionam a respetiva eficiência socioeconómica), e
iii)
dimensões
socioculturais (que permitam exercícios do poder coincidentes com a identidade
histórico-cultural das comunidades, e, logo, também uma cidadania baseada em sentimentos
de pertença),
os
modelos que se possam adotar em cada caso podem fazer toda a diferença na
adesão que possam suscitar por parte dos agentes presentes nos territórios
(incluindo as populações, em geral) e na eficácia que daí possa derivar em
matéria de gestão de recursos, capacidade de concertação interna de atores de
diferentes áreas de atuação, mobilização das comunidades locais/regionais, e de
identificação dos eleitores com os eleitos.
Obviamente, estando em
causa uma descentralização para o nível local ou sub-regional, algumas destas
dimensões poderão afigurar-se despiciendas, nomeadamente as que se referem à
identidade das comunidades e à proximidade/identificação entre eleitores e
eleitos, em geral. Noutras escalas (regional/supramunicipal), essas
preocupações podem ter maior razão de ser.
Por contrapartida,
havendo condicionantes tecnológicos e escalas críticas de dimensionamento de
infraestruturas e equipamentos e respetiva gestão, sendo que muitos delas
servem territórios mais vastos que os municípios que temos, a descentralização
de base municipal só pode resultar insatisfatória, isto é, ineficiente do ponto
de vista social e económico.
(Continua)
sábado, novembro 10, 2018
IX Seminário Internacional sobre o Desenvolvimento Regional: Santa Cruz do Sul, Brasil
Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional - UNISC
(51) 3717-7392 - www.unisc.br/ppgdr
sexta-feira, outubro 19, 2018
quarta-feira, setembro 26, 2018
Revista Portuguesa de Estudos Regionais: N. 49 (2018)
It is a pleasure to inform you that the issue nº. 49 (2018) of our journal (Revista Portuguesa de Estudos
Regionais / Portuguese Review of Regional Studies) is now available online. You
can accede to it using the link:
Thank you for your interest in the
journal and for the contributions given to it, if it is the case.
Best
regards,
J.
Cadima Ribeiro
quinta-feira, setembro 13, 2018
quarta-feira, setembro 05, 2018
"Satisfaction with Braga (Portugal) and recommendation: comparisons between information coming from relatives/friends and from other sources"
Abstract
Recommendation from family and friends is considered
to be the most credible source in the travel decision-making process. Being
relevant that studies on destination loyalty focus on this variable, this study
investigated
the tourists’ motivations, perceived attributes of the city and satisfaction
gotten from the visit performed comparing the following two groups: those who indicated that they obtained
travel information from relatives/friends (n=120); and those who
obtained information from other sources (n=186). The research methodology consists of a quantitative
approach based on a self-administered survey applied to travellers who visited
Braga (a medium
sized city located in the Northwest of Portugal), during 2017. The results indicated that there
were some significant differences across the two groups with respect to
demographic characteristics, tourists’ motivations and perceived attributes of
the city. However, the groups did not differ in their global image of the
destination and intention to recommend it to relatives and friends.
Keywords: destination
attributes; tourists’ satisfaction; word-of-mouth recommendation; Northwest of Portugal;
Braga.
Paula Remoaldo, Department of Geography and Lab2pt, University of Minho, Braga,
Portugal, cris.remoaldo@gmail.com
Laurentina Vareiro, Management School, Polytechnic Institute of Cávado and Ave and UNIAG,
Barcelos, Portugal, lvareiro@ipca.pt
J. Cadima Ribeiro, Economics and Management School and NIPE, University of Minho, Braga,
Portugal, jcadima@eeg.uminho.pt
Jessica
de Abreu,
University of Minho, Braga, Portugal, jessicaabreu93@hotmail.com
Ana M. S. Bettencourt, Department of
History and Landscapes, Heritage and Territory Laboratory – Lab2pt, University
of Minho, Braga, Portugal, anabett@uaum.uminho.pt
[Resumo de comunicação apresentada no 25º Congresso da APDR (25th APDR Congress),
genericamente subordinado ao tema ‘Circular Economy: Urban Metabolism and
Regional Development’, organizado pela Associação Portuguesa para o
Desenvolvimento Regional, que decorreu na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, a 5 e 6 de julho de 2018]
sábado, setembro 01, 2018
"The European Capitals of Culture and their Capacity to Change the Socioeconomic Profile of the Hosting Cities – the Cases of Guimarães and Košice"
Abstract
The European Capitals
of Culture (ECOC) is the most ambitious cultural collaborative programme in
Europe. During its first 15-year period (1985-2000), ECOC projects were
hosted by several national capitals and principal cultural cities in Europe. In the second phase, the programme
also began to discover smaller and less well-known cities of interest where results would be more visible and beyond
one year. Given there has been such a long period of 33 years since the first
designation of a European Capital of Culture, there is an opportunity to evaluate the whole programme as well as individual
projects in terms of their regeneration impacts. The paper is focused on the ECOC legacy of two medium-sized cities Guimarães (ECOC
in 2012, Portugal) and Košice (ECOC in 2013, Slovakia). The assessment of the ECOC impact of these two cities on tourism and urban development is based
on the same methodology, giving the possibility
of first-hand comparison and in-depth interpretation.
The cluster analysis of all European
ECOC cities identifies clusters on the basis of their mutual similarity. Thereafter, several
research questions are studied based on the
interview research in the cities
of Guimarães and Košice. Although the two cities aimed to take the hosting of
the ECOC as a significant tailored point of their development, their legacies
have revealed comparatively different in several dimensions. While Guimarães
succeeded in enhancing its tourist attraction and visibility, but less in
expanding the cultural dynamics, Košice is an example of culture-led
development overcoming the provincial cultural offer on the East-European
border. Both cities made it possible to achieve a positive impact corresponding
to the initial project goals, but reaching somewhat different effects, evident
at a distance of several years.
Keywords: European
Capital of Culture; Mega-events Impacts; Cultural Legacy; Medium Sized Cities;
Cities Socioeconomic Profile.
Oto
Hudec, Technical University of Košice, Slovak Republic (Oto.Hudec@tuke.sk)
Paula
Remoaldo, Lab2PT (Landscape, Heritage and Territory Laboratory), University of
Minho, Portugal (paularemoaldo@gmail.com)
Nataša
Urbančíková, Technical University of Košice, Slovak Republic
(natasa.urbancikova@tuke.sk)
J.
Cadima Ribeiro, NIPE, University of Minho, Portugal (jcadima@eeg.uminho.pt)
[Resumo de comunicação apresentada no 58th ERSA Congress, subordinado genericamente ao tema ´Places for People: Innovative, Inclusive and Liveable Regions`, que decorreu na University College Cork, Cork, Irlanda, entre 28 e 21 de agosto de 2018]
[Resumo de comunicação apresentada no 58th ERSA Congress, subordinado genericamente ao tema ´Places for People: Innovative, Inclusive and Liveable Regions`, que decorreu na University College Cork, Cork, Irlanda, entre 28 e 21 de agosto de 2018]
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