segunda-feira, maio 25, 2020

Valorização turística no interior: o caso de Vila Viçosa

Apostar em viagens e roteiros longe das grandes massas é a estratégia da vez para dinamizar o turismo a nível nacional e internacional. Na verdade, sempre esteve nos planos de desenvolvimento de países com forte apelo turístico como Portugal e Brasil, mas atualmente, devido às consequências causadas pelo Covid-19, os próprios consumidores estão querendo descobrir o interior. Para esse artigo, optei por exemplificar um destino turístico que possui as condições necessárias para acolher à essa nova demanda de turistas que buscam se afastar dos grandes centros urbanos: Vila Viçosa.
​Vila Viçosa é uma vila portuguesa do Alto Alentejo, apelidada de "Princesa do Alentejo". Conhecida como uma das "Cidades do Mármore", Vila Viçosa situa-se aos pés da Serra de Borba¹. Possui apenas 8871 habitantes, sendo um dos concelhos com menor taxa de densidade populacional em Portugal². É uma cidade com um rico património: o imponente paço ducal é um símbolo com grande valor histórico e cultural, e foi sede de uma das famílias mais importantes e nobres, os Braganças. Também foi uma das habitações dos reis D. Luís e D. Carlos.

Figura 1: Paço Ducal de Vila Viçosa

Esse importante facto histórico é acompanhado pela importância do mármore para a cidade, por se situar numa das mais antigas e produtivas superfícies de extração de rochas ornamentais em Portugal. As atividades relacionadas com este recurso têm um grande peso na economia deste concelho e empregam boa parte da população³.
Muitos atores locais dessa região têm percebido o potencial deste recurso endógeno desenvolvendo rotas e atividades em torno do mármore alentejano. Uma das rotas é a Rota do Mármore do Anticlinal de Estremoz, que é uma oferta de animação turística em ambiente industrial que disponibiliza aos visitantes uma experiência única no conhecimento dos diferentes patrimónios relacionados com a indústria dos mármores, sejam eles geológicos, urbanísticos, técnicos, paisagísticos ou outros.
Mas o potencial turístico da princesinha do Alentejo vai além disso. O turismo literário já precisa ser desenvolvido. Isso porque Florbela Espanca, poetisa que nasceu na cidade, atrai muitos turistas e investigadores em busca de apreciar o espólio deixado pela escritora. Outro segmento turístico que possui certa relevância para o desenvolvimento de Vila Viçosa é o turismo rural. Na vila e nos seus arredores é possível encontrar uma boa oferta de hotéis, spas, quintas e pousadas que proporcionam aos turistas um contato mais sossegado com a natureza. E este segmento é um dos vetores para a retomada do turismo de Portugal, criando estratégias para aumentar o turismo doméstico ou nacional. As pessoas estão buscando ser mais socialmente responsáveis, procurando por serviços ecologicamente mais sustentáveis.
Esses estabelecimentos devem criar políticas de forma a certificar o distanciamento social e higienização necessária para evitar riscos de contágio e garantir as condutas seguras para o andamento das atividades turísticas, sendo também possível aderir ao selo Clean & Safe, iniciativa do Turismo de Portugal que incentiva as empresas portuguesas a acolher os turistas com segurança.
Planear e estimular essas atividades e segmentos em conjunto em Vila Viçosa, de forma sustentável, nesses novos tempos é uma estratégia viável e válida para promover o turismo e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento da região, sendo necessário preparar e qualificar sua oferta para proporcionar um bom serviço e suprir as expectativas desse novo perfil de turista mais responsável.

Altamir Braga


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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