Emerge hoje uma nova lógica sócio/económica e cultural, fortemente condicionada e sustentada na informação e nas novas tecnologias, que imprime um ritmo novo nas comunicações, criando um espaço de fluxos e de redes num cenário concorrencial regional, nacional e transnacional, a que alguns denominam de Glocal. Com efeito, as cidades, e as regiões competem entre si no mesmo país, ou entre países ou blocos. A globalização das estruturas económicas e sociais, o recuo da acção directa e controlada dos estados e uma crescente desregulamentação dos câmbios, concorrem para um rearranjo territorial, com consequências no plano económico e social.
Novos desafios aceleram as mudanças. A competição pode vir da China ou da Índia nos têxteis, ou de uma região próxima (no mesmo país) no turismo, na conquista de incentivos, na atracção de equipamentos ou de quadros qualificados.
Neste quadro, Barcelos enfrenta hoje a concorrência internacional no que confere aos têxteis e vestuário e várias concorrências locais e regionais em termos turísticos, na oferta de bens e serviços e de equipamentos culturais, sendo que nem sempre a concorrência configura algo de negativo, dependendo esta, da preparação, da análise dos mercados e da procura do modelo mais apropriado.
Numa análise rápida deduzimos alguns aspectos que condicionam a economia e o desenvolvimento do concelho, designadamente, uma mono-especialização industrial sustentada no têxtil e vestuário, modelo insistentemente adoptado ao longo das últimas décadas, resvalando inexoravelmente, culminando em encerramentos de fábricas, desemprego, baixas qualificações, emigração e claro está, com reflexos a jusante, em termos ambientais e de reorganização física do território. Estes, por sua vez, condicionam a requalificação da zona ribeirinha e consequentemente todo o centro histórico e seu potencial turístico.
Refira-se ainda, o baixo índice registado no sector terciário (em volume de emprego cerca de 7470 num universo de 27000), não apenas ao nível do comércio mas também dos serviços, o que condiciona o concelho em termos regionais com muitos Barcelenses a deslocarem-se a Braga e a estrangular ainda mais o sistema, saturando-o, e dependendo ainda mais da industria (têxtil) e de alguma construção. Acresce, um concelho com muitas freguesias (89), de carácter ainda rural, muito polarizado na cidade centro ou noutras de concelhos limítrofes.
Registe-se, por outro lado, o potencial turístico global, nomeadamente, paisagem rural envolvente, centro histórico, património etnográfico minhoto, grande tradição artesanal, hospitalidade das pequenas cidades, crescimento de infra-estruturas de apoio ao turismo, (o número de visitantes cresce todos os anos, em passagem, até pelo reduzido número de oferta hoteleira mas a crescer). Depois da certificação da Olaria e do Figurado de Barcelos em 2006, aguarda-se a certificação do Galo de Barcelos, renovando a imagem Barcelos/Portugal. Acresce, algum potencial de inovação: projecto de requalificação da frente do rio, pólo do ensino superior em crescimento, turismo vitivinícola, a (re)abertura de equipamentos culturais, Teatro Gil Vicente e do Museu do Rio.
No cenário nomeado, a intervenção não poderá ser sectorial, elaborada apenas a partir de um plano (estratégico) económico ou dirigido apenas à indústria. Impõe-se um plano global para o concelho que implique um planeamento e uma visão sistemática e sinérgica que englobe todos os actores sociais que intervêm no desenvolvimento do território (interesses e interessados) acompanhado de uma ferramenta estratégica: marketing territorial. Esta permite a definição de uma imagem corporativa de lugares e da região em função de um modelo de desenvolvimento, planeando-se a oferta de determinados produtos estratégicos “disponibilizando-os” no mercado de forma atractiva e competitiva. De outra forma, remenda-se apenas e volta-se a coser.
F. Marco Gonçalves
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
Novos desafios aceleram as mudanças. A competição pode vir da China ou da Índia nos têxteis, ou de uma região próxima (no mesmo país) no turismo, na conquista de incentivos, na atracção de equipamentos ou de quadros qualificados.
Neste quadro, Barcelos enfrenta hoje a concorrência internacional no que confere aos têxteis e vestuário e várias concorrências locais e regionais em termos turísticos, na oferta de bens e serviços e de equipamentos culturais, sendo que nem sempre a concorrência configura algo de negativo, dependendo esta, da preparação, da análise dos mercados e da procura do modelo mais apropriado.
Numa análise rápida deduzimos alguns aspectos que condicionam a economia e o desenvolvimento do concelho, designadamente, uma mono-especialização industrial sustentada no têxtil e vestuário, modelo insistentemente adoptado ao longo das últimas décadas, resvalando inexoravelmente, culminando em encerramentos de fábricas, desemprego, baixas qualificações, emigração e claro está, com reflexos a jusante, em termos ambientais e de reorganização física do território. Estes, por sua vez, condicionam a requalificação da zona ribeirinha e consequentemente todo o centro histórico e seu potencial turístico.
Refira-se ainda, o baixo índice registado no sector terciário (em volume de emprego cerca de 7470 num universo de 27000), não apenas ao nível do comércio mas também dos serviços, o que condiciona o concelho em termos regionais com muitos Barcelenses a deslocarem-se a Braga e a estrangular ainda mais o sistema, saturando-o, e dependendo ainda mais da industria (têxtil) e de alguma construção. Acresce, um concelho com muitas freguesias (89), de carácter ainda rural, muito polarizado na cidade centro ou noutras de concelhos limítrofes.
Registe-se, por outro lado, o potencial turístico global, nomeadamente, paisagem rural envolvente, centro histórico, património etnográfico minhoto, grande tradição artesanal, hospitalidade das pequenas cidades, crescimento de infra-estruturas de apoio ao turismo, (o número de visitantes cresce todos os anos, em passagem, até pelo reduzido número de oferta hoteleira mas a crescer). Depois da certificação da Olaria e do Figurado de Barcelos em 2006, aguarda-se a certificação do Galo de Barcelos, renovando a imagem Barcelos/Portugal. Acresce, algum potencial de inovação: projecto de requalificação da frente do rio, pólo do ensino superior em crescimento, turismo vitivinícola, a (re)abertura de equipamentos culturais, Teatro Gil Vicente e do Museu do Rio.
No cenário nomeado, a intervenção não poderá ser sectorial, elaborada apenas a partir de um plano (estratégico) económico ou dirigido apenas à indústria. Impõe-se um plano global para o concelho que implique um planeamento e uma visão sistemática e sinérgica que englobe todos os actores sociais que intervêm no desenvolvimento do território (interesses e interessados) acompanhado de uma ferramenta estratégica: marketing territorial. Esta permite a definição de uma imagem corporativa de lugares e da região em função de um modelo de desenvolvimento, planeando-se a oferta de determinados produtos estratégicos “disponibilizando-os” no mercado de forma atractiva e competitiva. De outra forma, remenda-se apenas e volta-se a coser.
F. Marco Gonçalves
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
1 comentário:
REFERENCIAIS ESTRATÉGICOS PARA O TERRITÓRIO DO VALE DO CÁVADO
Este comentário pretende sintetizar os referenciais estratégicos com incidência no "Estudo de Valorização e Desenvolvimento Estratégico dos Rios Cávado e Homem" e para os quais o mesmo pode contribuir de forma directa ou indirecta.
A Associação de Municípios do Vale do Cávado (AMVC) entendeu preparar um quadro estratégico coerente para a intervenção dos agentes públicos e privados na sua área de intervenção – correspondente à NUTS III Cávado – para o período 2007-2013 (actual período de programação dos Fundos Estruturais e período definido para aplicação do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional), integrando os municípios de Esposende, Barcelos, Vila Verde, Braga, Amares e Terras de Bouro. Como base de partida para esse desafio, definiu-se o Vale do Cávado como “uma região dinâmica, de dimensão social e económica relevante no contexto nacional e mesmo internacional, com um tecido institucional diversificado e activo […] mas que apresenta um claro défice de coesão (sobretudo territorial e institucional), de planeamento (estratégico e territorial) e ainda muito dependente de uma base económica cujo processo de transição para a economia global é susceptível de gerar fenómenos de exclusão.”
Neste contexto, importa referir que o QREN estrutura-se segundo três domínios essenciais de intervenção: o potencial humano, os factores de competitividade e a valorização do território, organizados em várias agendas e programas operacionais, pretendendo assegurar-se a superação dos mais significativos constrangimentos à consolidação do desenvolvimento ambiental, económico, social do território.
A Agenda Operacional para a Valorização do Território será provavelmente o instrumento mais adequado para enquadrar as intervenções de requalificação e valorização associadas aos objectivos do presente estudo, dado que visa, entre outros aspectos, dotar as regiões e sub-regiões de melhores condições de atractividade para o investimento produtivo e para a qualidade de vida das populações, abrangendo as intervenções de natureza infra-estrutural e de dotação de equipamentos essenciais à qualificação dos territórios e ao reforço da coesão económica, social e territorial.
Do conhecimento sobre este período de programação, pode antever-se que o acesso aos novos Fundos Estruturais será regido por maiores níveis de competitividade e selectividade dos projectos de intervenção, por um maior recurso ao planeamento estratégico como suporte da programação e por um apelo mais consistente à consolidação de parcerias no território nacional e comunitário. Nesse quadro, será expectável que o período 2007-2013 constitua uma grande oportunidade de aplicação de uma nova geração de políticas públicas, mais inovadoras, integradas (temáticas e não sectoriais) e promotoras da criação de capacidades que sustentem as dinâmicas de desenvolvimento territorial no futuro.
Neste sentido, o Plano de Acção do Cávado definiu os seus domínios de intervenção de forma concertada com as prioridades do QREN 2007-2013, integrando algumas linhas de acção estratégica que podem ser relevantes no contexto do presente estudo:
• economia e competitividade;
• capital humano e competências;
• valorização do território: ambiente, ordenamento e acessibilidades;
• desenvolvimento rural.
As apostas estratégicas no domínio da valorização do território que foram definidas no Plano de Acção, consideradas como estruturantes das dinâmicas de desenvolvimento do Vale do Cávado, foram posteriormente desenvolvidas através do Programa de Acção Intermunicipal para os Serviços Colectivos Territoriais de Proximidade 2007-2010 (PAISCTP-Cávado), que contemplou uma temática especificamente dedicada à conservação e valorização dos recursos naturais e paisagísticos. O cruzamento e a integração dos projectos estabilizados no PAISCTP-Cávado com as propostas a apresentar no presente estudo constitui um desafio e uma oportunidade para promover sinergias e contribuir para o cumprimento de algumas das metas definidas no âmbito desse instrumento de acção municipal.
Em síntese, apresentam-se de seguida as principais especificidades territoriais associadas às opções de desenvolvimento dos referenciais estratégicos do Vale do Cávado, para as quais as propostas do "Estudo de Valorização e Desenvolvimento Estratégico dos rios Cávado e Homem" (do qual fiz parte) poderão contribuir directa ou indirectamente:
Território, ambiente e infra-estruturas
- Um património natural e a biodiversidade desigualmente pressionados no território;
- Infra-estruturas ambientais com progresso acentuado, mas ainda abaixo dos padrões desejáveis;
- Grandes margens de progresso ao nível da informação, participação pública e conhecimento;
- Acessibilidades rodo e ferroviárias numa integração privilegiada nos grandes eixos;
- Infra-estruturas de acessibilidade que favorecem a consolidação de um sistema logístico à escala nacional/europeia, domínio em que a região do Cávado não tem uma oferta competitiva;
- Persistência de défices de ligação e integração nos territórios do interior.
Desenvolvimento rural
- Matriz Rural que abrange todo o Vale do Cávado, mesmo nas áreas densamente urbanizadas, mas com perspectivas diferenciadas em cada território;
- A valorização dos recursos rurais para finalidades turísticas, de recreio e conservação da natureza é um processo já em desenvolvimento no Vale do Cávado e constitui uma opção de futuro;
- A conservação da natureza para as gerações futuras passa pelo desenvolvimento sustentável da agricultura e de segmentos do turismo particularmente sensíveis aos valores e às exigências ambientais, como é o turismo de natureza e/ou ecoturismo.
Capacidade institucional e cooperação
- Um contexto de riqueza institucional, por vezes com falta de coordenação e de reconhecimento de um espaço de desenvolvimento específico.
Neste sentido, podemos concluir que estão a ser realizados esforços para desenvolver a economia do Vale do Cávado, direccionando-a para outros rumos em que é valorizado o turismo da natureza; salvaguardados os valores culturais associados quer ao património, quer à relação que desde sempre foi estabelecida entre estes concelhos e os rios que os percorrem.
Tendo também a consciência dos niveis baixos de qualidade da água a jusante do concelho de Vila Verde, os municipios envolventes estão a encetar medidas que visam a reposição da qualidade da água dos rios, bem como a reposição da galeria ripicula sériamente danificada.
Por fim, caro F. Marco Gonçalves, tenho conhecimento que vão ser feitas várias propostas para o desenvolvimento estratégico de Barcelos que vão de encontro às potencialidades que este concelho tem e que foram constactadas no seu comentário.
Susana Fernandes
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