sexta-feira, abril 18, 2014

São Gonçalo de Amarante e o turismo nosso de cada dia (à luz de uma regra de três simples)


Pintura a Fresco - S. Gonçalo de Amarante

As expressões da linguagem matemática são muitas vezes usadas na linguagem corrente para exemplificar e simplificar a compreensão dos problemas do dia-a-dia, existindo por vezes pequenas diferenças entre o modo como são interpretadas num contexto matemático e o significado que lhes damos num contexto corrente.
Nesse sentido, este artigo procura estabelecer o paralelo entre a simplicidade de um processo matemático – a regra de três simples – e o entendimento político do Turismo Religioso, dando como exemplo prático o caso de São Gonçalo de Amarante.
A regra de três simples é um processo que resolve problemas que envolvem quatro valores dos quais conhecemos três deles e, como o próprio nome indica, é simples.
Assim, o que se quer ver resolvido, o “x da questão”, é o entendimento que tanto a Religião como a Política fazem do Turismo quando a fé se mete ao meio. A melhor “fórmula” será então aquela que resulta do “produto” da Religião com a Política e onde o “denominador comum” é o Turismo.
Se por um lado a Religião se serve do Turismo como instrumento de evangelização, a Política serve-se deste como instrumento de desenvolvimento económico, social e cultural, de acordo com os atractivos do território e os valores culturais do seu povo, que o identificam, de uma forma que deverá ser sustentável.
Até há bem pouco tempo havia algum preconceito e indiferença em relação a este tipo de turismo e confundia-se peregrinação com turismo religioso. Se o primeiro tem uma motivação exclusivamente religiosa, o segundo, para além desta, tem outras motivações normais de um turista, como o descanso, o lazer, a cultura, a gastronomia, entre outras. A consequência desta abordagem era uma negação da nossa identidade cultural e da nossa história, fortemente marcada pela religião.
Prova da mudança deste entendimento, ao nível político, é a que consta na revisão do Plano Estratégico Nacional de Turismo, para 2013-2015, onde o Turismo Religioso aparece como produto estratégico ao ser individualizado e destacado no produto “Circuitos Turísticos”.
Por outro lado, no comunicado final, da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, de 8 a 11 de abril de 2013, também encontramos referências ao turismo religioso, salientando a importância que este tipo de turismo tem hoje, não só a nível económico, mas sobretudo como meio de evangelização.
Amarante, terra do Norte de Portugal, localiza-se numa encruzilhada entre o Douro Litoral, região à qual pertence administrativamente, Trás-os-Montes e Alto Douro, cujas afinidades provêm da dureza da Serra do Marão, e a região do Minho, de onde vêm as tradições e os costumes mais alegres.
É a partir de São Gonçalo, no Séc. XIII, que Amarante adquire importância e visibilidade. Desenvolve-se, tornando-se alvo de peregrinações e aumenta a população.
Conhecer este símbolo é compreender o desenvolvimento de Amarante, é saber um pouco da história da Igreja Católica em Portugal, profundamente marcada pela ordem dominicana, pelas atitudes e virtudes da época e pelas relações culturais que ultrapassaram fronteiras.
É ainda conhecer parte da história da imigração portuguesa no Brasil e a aculturação de um povo, que, por via da “saudade” dos imigrantes amarantinos, se deixou entranhar do culto a São Gonçalo, sendo ainda hoje o símbolo religioso português de maior referência no Brasil.
Como símbolo que mais identifica Amarante aos olhos do mundo, ele manifesta-se principalmente no património construído – o Mosteiro de São Gonçalo e a ponte velha sobre o rio Tâmega – o cartão postal da cidade.
Quanto ao património imaterial, este manifesta-se nas festividades e no culto a São Gonçalo. Enquanto o culto se mantém genuíno e autêntico, já as festividades populares perderam essa autenticidade, tornando-se iguais a tantas outras espalhadas pelo país.
Com tanto material e valores por explorar, pode ser que a política local e a comunidade (da artística à religiosa) apanhe a boleia da política nacional e quebre com o preconceito do turismo religioso, dando-lhe a importância estratégica merecida para esta terra.
São Gonçalo é de uma importância fulcral no desenvolvimento de Amarante.
Foi-o ontem e assim poderia ser hoje. Simples como a regra!

Mariana Sá

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo” do curso de Mestrado em Economia Social, da EEG/UMinho]

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